087
Duas batidas ecoaram na porta dos aposentos de Rhaenys, mas a princesa permaneceu em silêncio, deitada em sua cama enquanto brincava com os fios de cabelo para se distrair. Não era algo que de fato ajudava a distraí-la, mas a deixava mais calma porque a fazia lembrar do carinho de sua mãe.
Mais duas batidas leves foram ouvidas na madeira, e a Velaryon suspirou alto ao se sentar na cama para olhar na direção do som.
— Eu não desejo falar com ninguém! — ela exclamou em voz alta, soltando outro suspiro, sem querer ter conhecimento de quem estava do lado de fora do quarto, preparando-se para se deitar na cama novamente.
Depois de alguns segundos, ouve-se uma resposta do outro lado da porta.
— Sou eu, querida. — uma voz familiar falou, doce como mel.
Rhaenys voltou sua atenção para a porta quando ouviu a voz de sua mãe, mas hesitou por vários minutos antes de decidir abrir a porta. Ela suspirou e se levantou da cama, caminhando descalça até a pesada porta de madeira, apoiando a mão na maçaneta.
Lentamente, a princesa abriu a porta para ver sua mãe, oferecendo um sorriso pequeno e triste.
— Mãe. — ela disse em um sussurro, sem saber como iniciar uma conversa com sua mãe após a revelação do jantar.
Rhaenyra suspirou aliviada quando viu a filha abrir a porta, entrando na sala e caminhando lentamente em direção à jovem. Ao passar por Rhaenys, ela depositou um leve beijo em sua testa, pegando sua mão e afastando-a da porta, enquanto as duas se sentavam juntas na cama.
Ela se sentou na beirada da cama, com as mãos no colo, olhando para o rosto triste da filha com olhos de compaixão.
Rhaenys sentou-se ao lado de Rhaenyra e ficou em silêncio enquanto mexia com os dedos ansiosamente, a mesma coisa que sua mãe fazia. A princesa estava envergonhada e sentia que havia decepcionado profundamente a mãe, mas não sabia como iniciar uma conversa sobre a situação.
— Não tenha medo de me dizer o que a está incomodando. — Rhaenyra quebrou o silêncio. Ela havia adivinhado o que poderia estar na mente de sua filha.
Não querendo tornar as coisas mais difíceis, ela decidiu que era melhor esperar que a filha falasse, esperando que ela se sentisse à vontade para compartilhar o que tinha em mente com ela.
A princesa mordeu o lábio inferior e levantou a cabeça, olhando para Rhaenyra com uma expressão neutra, mas com os olhos cheios de tristeza.
Mas ela acabou sorrindo, pois a presença de sua mãe sempre causava isso.
— Sinto muito, mãe. Por favor, eu... — Rhaenys começou o diálogo e depois parou, tentando torná-lo mais simples. — Eu não sei, apenas... me desculpe.
— Não há nada para perdoar, querida. — sua mãe disse tranquilizadora, levou a mão de Rhaenys à boca gentilmente, beijando as costas da mão dela. Rhaenyra não parecia estar brava com a filha, mas depois voltou a falar com um tom mais sério. — Mas eu preciso saber, você entende? Isso é verdade?
Rhaenys permaneceu em silêncio, não querendo responder à pergunta diretamente, mas acenando com a cabeça, ela confirmou que sim, a relação incestuosa era verdadeira.
O problema não era o relacionamento incestuoso, eram apenas as mentiras e a situação muito complicada de ser Aemond quem estava tendo um caso com ela.
— Não pareça tão envergonhada. — Rhaenyra disse, percebendo a expressão de constrangimento e tristeza no rosto da filha.
Sua afeição maternal a fez querer confortar a filha como fazia quando ela era mais jovem.
Não houve nenhum julgamento ou repulsa.
— Não estou. — ela negou, apesar da aparência de seu rosto.
O carinho de sua mãe a fez se sentir como se fosse pequena novamente, seu coração estava tão leve em seus braços. Rhaenys se virou para a mãe e encostou a testa em seu ombro.
Rhaenyra acariciou gentilmente os cabelos e as costas de Rhaenys, seu toque suave era algo que sempre ajudava a acalmá-la.
— Venha, minha menina, conte-me tudo... você o ama? — ela perguntou com um tom leve, o que só a deixou preocupada com o que dizer, depois que a confissão do relacionamento incestuoso foi verdadeira.
— Eu o amo, sim. Infelizmente, sim, mãe. — ela sussurrou para a mãe e se aconchegou nos abraços da mãe, algo que ela tanto amava. — Eu poderia ter me apaixonado por outra pessoa, mas meu coração não estava disposto a ser racional.
Rhaenyra ficou em silêncio por alguns segundos, mas depois abraçou a filha com força, fazendo com que ela se sentisse confortável em seu abraço.
— Eu entendo. — a mãe acariciou seu cabelo. — Mas... o Aemond está apaixonado por você? Você é o amor dele, assim ele é o seu? — ela tentou usar um tom mais sério, embora o carinho de mãe ainda estivesse presente, apesar da dificuldade do assunto.
A princesa Rhaenys acabou soltando uma risada baixa, sentindo suas bochechas corarem com as confissões que estava fazendo. Ela levantou um pouco o rosto e olhou para a mãe com um brilho tão grande nos olhos, que respondeu a qualquer pergunta sobre a qual Rhaenyra ainda tinha dúvidas.
O que não faltava ali era amor.
Rhaenys cruzou os braços e se desvencilhou do abraço da mãe, levantando-se da cama enquanto caminhava para se sentar perto da lua, apreciando a luz natural pela qual sempre foi apaixonada desde pequena. Seus dígitos alcançaram o colar de lua que ela havia recebido de Aemond e brincaram com o pingente de safira azul.
— Ele disse que me ama, mãe. — ela acenou para a mãe com um grande sorriso. — Eu não acho que ele está mentindo.
Quando sua filha levantou a cabeça, ela viu que seus olhos estavam brilhando intensamente, o que fez seu coração derreter completamente, a mesma sensação que teve quando sua filha nasceu.
Rhaenyra continuou observando atentamente os movimentos da filha, até mesmo sentindo seu coração bater um pouco mais rápido.
— Diga-me, quando tudo isso começou? — Rhaenyra finalmente voltou a falar, não conseguindo esperar mais para saber.
A garota olhou para a mãe e parou para pensar um pouco, tentando recapitular todos os momentos que compartilhou com Aemond.
Eram muitos, cada qual com um cenário diferente.
— Não tenho certeza, acredito que foi depois do casamento de Jacaerys, algumas semanas depois. — Rhaenys disse e mordeu o lábio inferior, balançando a cabeça para si mesma ao confirmar a lembrança.
— E você e ele tiveram algum... — a herdeira perguntou e fez uma pausa no meio da frase, pensando um pouco em como colocar isso em palavras sem dizer algo inapropriado. — Algum encontro inapropriado durante o período em que vocês estiveram juntos, assim como Aegon disse?
A relutância de Rhaenys em falar com a mãe foi suficiente para que Rhaenyra soubesse a resposta à pergunta dela, mas ela não estava ali para julgar. Ela estava ali para ajudar e entender o lado de sua filha.
Rhaenyra era exatamente como Rhaenys no passado, em situações muito semelhantes. Por isso, ela queria lhe dar conselhos, não apenas como mãe, mas como amiga, como irmã, como mulher. A herdeira do trono se levantou da cama e foi até a filha, pousando as duas mãos em seus ombros e deixando um beijo no topo da cabeça da menina.
As duas mulheres soltaram um suspiro alto.
— Sabe, quando eu tinha sua idade, fiz algo muito parecido. — ela começou, querendo contar à filha sobre seu passado com Daemon.
— Você fez? — perguntou, virando a cabeça para a mãe, intrigada com essa história que ela não conhecia.
Ela olhou para Rhaenyra com olhos brilhantes, interessada em saber como ela era em sua idade e o que fazia.
— Sim, eu fiz. Mas não tive uma situação tão... difícil como a sua, minha querida.
Quando Rhaenyra era mais jovem, ela teve um breve caso com Daemon, algo de que não se orgulhava porque ele era seu tio, mais velho que ela e casado.
Mas a afeição de uma garota de sua idade a fez não querer notar o que estava errado, era apenas a sensação de se apaixonar.
— Mas vocês dois se casaram depois de anos. — ela comentou com um pequeno sorriso nos lábios, cruzando os braços mais uma vez. — Eu sei que não deveria estar apaixonada pelo Aemond, mãe. Sei que ele é a favor de Alicent e de todos os pensamentos dela, mas... ele é tão difícil e tão maravilhoso ao mesmo tempo, que me traz uma sensação de alegria e conforto.
Era engraçado como aquilo era quase uma repetição da mesma situação pela qual ela havia passado quando era mais jovem, um momento de paixão e um sentimento de se apaixonar.
Um ciclo.
Rhaenyra podia sentir seu coração se encher de felicidade toda vez que via sua filha sorrir, por um curto período de tempo ela parou de se importar com o relacionamento e era apenas uma mãe, orgulhosa de ver sua filhinha feliz.
— E você o ama, certo? Apesar de todos os defeitos dele e de sua posição, você o ama. — ela sussurrou, tocando a mão da filha com carinho e preocupação.
Ela olhou de volta para a mãe e sorriu amplamente enquanto pensava no que dizer.
— Eu amo! — Rhaenys respondeu com uma risada, mas alguns segundos depois ela ficou séria. — Daemon está com raiva de mim?
— Daemon a ama muito, querida. Ele ficará com raiva de Aemond e da mãe dele, com certeza. Mas é só uma questão de tempo até que eles resolvam as coisas. — Rhaenyra explicou, ela sabia muito bem como era o temperamento de Daemon, mas, ao mesmo tempo, sabia que ele nunca faria nada com sua filha.
Rhaenys ficou em silêncio por um tempo enquanto tentava manter as lágrimas nos olhos, tentando não deixá-las cair. Ela respirou fundo e desviou o olhar, voltando a brincar ansiosamente com os dedos.
Ela queria contar tudo e mais um pouco para a mãe, mas estava tão decepcionada consigo mesma que nada saiu de sua boca.
Então, ela permaneceu em silêncio quando se virou para olhar a lua novamente, e sua mente se acalmou por alguns momentos. Seus olhos tinham pupilas tão dilatadas que escondiam o azul escuro da íris e era quase impossível enxergar se não fosse de perto. A princesa pensou mais, querendo pedir à mãe que a ajudasse nessa situação.
A mãe notou a maneira como a filha estava agindo com os dedos, a maneira como ela olhava para nada em particular, apenas tentando se acalmar e manter as emoções sob controle.
Rhaenyra estava tão ocupada olhando para o olhar triste da filha que não percebeu que Rhaenys queria perguntar mais sobre a situação, pois a mãe estava esperando que a filha dissesse o que queria.
Em vez de perguntar diretamente, ela continuou a observá-la e a esperar.
Mas Rhaenys não queria dizer nada que pudesse deixar sua mãe furiosa ou desapontá-la, ela queria apenas compreensão, algo que ela sabia que poderia encontrar se tivesse coragem de falar sobre isso, sua necessidade de sentir algum conforto, ela queria algum conselho com essa situação tão difícil.
— A senhora pode me perdoar por isso, mãe? — perguntou ela.
Rhaenyra sorriu e acariciou a mão de sua filha com afeto, seu toque era terno e muito amoroso.
— Perdoar você? — ela perguntou, parecendo surpresa com a pergunta. — Minha filha, eu a perdoo por qualquer coisa, você sabe disso, mas acho que você não tem nada pelo que se desculpar.
— Mas eu a desapontei. — Rhaenys disse e olhou para baixo. Ela não queria pensar que havia decepcionado a mãe, pois sua necessidade de receber afeto e aprovação de Rhaenyra era muito forte, então a ideia de não ser perfeita, de não seguir o exemplo da mãe a deixava triste. — Por favor, não me odeie, mãe. — ela estava prestes a explodir em lágrimas, mas lutou naquele momento para não parecer fraca na frente de sua própria mãe.
— Eu não a odeio, eu a amo mais do que qualquer coisa neste mundo, você sabe disso... você acha que eu sou uma mãe ruim? — a herdeira perguntou, olhando para ela com preocupação. Ela percebeu como a filha havia interpretado sua reação anteriormente e queria garantir que sempre a amou, apesar de não aprovar sua escolha.
Rhaenys levantou a cabeça e olhou para a mãe indignada com a pergunta, ficando tão surpresa que mal conseguiu conter o riso que saiu de seus lábios.
Ela segurou as duas mãos da mãe com força e apertou cada uma delas, beijando-as em agradecimento.
— Você é a melhor mãe do mundo inteiro, não há ninguém como você.
Assim que a filha apertou suas mãos, Rhaenyra riu e a puxou para um abraço apertado. Ela a amava muito, nada poderia abalar seu amor por sua querida garotinha.
— Eu amo muito você. — disse ela e beijou a testa de sua filha, como sempre fazia quando ela era pequena. — Acredito que a fruta não cai tão longe da árvore, não é?
O comentário da mãe fez com que Rhaenys soltasse uma risada alta e abafada enquanto se abraçava com força a Rhaenyra, sentindo o cheiro reconfortante da mãe. Era como um calmante natural.
Rhaenyra manteve as mãos nas costas de Rhaenys, sua filha era tão parecida com ela e ela adorava o fato de que muitos dos traços e gestos de sua filha eram os mesmos.
Ela não se arrependia de ter tido essa menina, ela era perfeita do jeito que era, apesar de ter se apaixonado por seu meio-irmão e estar confusa sobre isso, o que poderia ser tão ruim em se sentir assim?
Era amor, puro amor.
Rhaenys ficou assim por vários minutos, olhou para a mãe e ficou pensando na questão se os dois teriam alguma chance de ficar juntos ou se o relacionamento incestuoso seria apenas temporário. Mas, por enquanto, ela só queria ficar nos braços da mãe, aproveitando o momento.
Sem falar sobre Aemond.
— Você deve descansar, meu amor. — disse a princesa à filha, quebrando o abraço e lançando-lhe um olhar tão amoroso que faria qualquer um se derreter. — Foi uma noite cansativa, e amanhã será ainda mais.
A filha assentiu para a mãe com um pequeno sorriso e um suspiro que escapou de seus lábios, passando pela mãe e sentando-se na beirada da cama. Rhaenys estava se sentindo menos culpada agora, apesar de ainda sentir decepção e raiva.
Mas sua mãe estava certa, ela deveria descansar.
— Certo, é claro. — concordou ela, enquanto Rhaenyra se aproximava da filha e se agachava na frente dela, oferecendo outro sorriso e um beijo de boa noite.
— Durma bem. — ela desejou, levantando-se do chão e caminhando com passos elegantes até a porta do quarto da filha. Antes de sair, ela deu um último olhar afirmativo para a filha. — Tentarei ajudá-la amanhã, minha querida. — com isso, a mulher fechou a porta com um suspiro alto, tentando manter a calma diante da situação pela qual estava passando.
Rhaenyra estava se sentindo exausta, ainda em seus meses de recuperação do parto e com os tornozelos doloridos, mas não podia deixar de vir e confortar a filha, pelo menos um pouco.
Ela gostaria de ir para a cama, não discutir com Daemon e apenas dormir o máximo que pudesse.
Mas a herdeira ainda não podia ir para a cama, não sem antes falar com mais uma pessoa.
Os passos da futura rainha ecoavam pelos vastos e intermináveis corredores e escadas do castelo, e o farfalhar de seu vestido atraía ratos que procuravam comida, mas só encontravam os passos da mulher. Quando Rhaenyra chegou ao local onde queria estar, respirou calmamente enquanto se preparava para uma situação que nunca havia imaginado antes, nem mesmo em seus sonhos mais profundos.
Seu punho se ergueu e ela bateu na porta dos aposentos de seu meio-irmão, esperando que ele não fosse tão rancoroso a ponto de nem mesmo abrir a porta para falar com ela.
Ela tinha muito o que falar para simplesmente ir embora e dormir.
Bang! Bang! Bang! As batidas soavam como um tambor nos ouvidos de Aemond, um eco interminável de seu erro.
Depois de ouvir algumas batidas por alguns minutos, ele suspirou, notando que ela não iria parar até que ele abrisse a maldita porta e a deixasse entrar.
Ele tinha a sensação de que era Rhaenyra do lado de fora de sua porta, quem mais poderia estar ali além de sua mãe? A mesma que já havia vindo anteriormente em seu quarto e feito uma confusão ainda maior, o humilhando diversas vezes enquanto tentava mostrar o filho a realidade da situação.
— Entre. — disse ele finalmente.
Talvez fosse hora de encarar sua meia-irmã.
Rhaenyra respirou fundo enquanto abaixava a mão até a maçaneta e a girava, a velha porta de madeira fazendo um rangido baixo ao ser totalmente aberta, revelando a Targaryen de cabelos platinados e roupas elegantes como sempre, um vestido vermelho com dourado para representar a Casa Targaryen.
— Aemond. — disse ela em um tom baixo, com o queixo erguido e as mãos cruzadas na frente do corpo, depois de fechar a porta e entrar mais profundamente no quarto do garoto.
Essa era provavelmente, em todos os vinte e um anos de Aemond, a quinta vez que eles trocavam uma palavra.
— O que é que você quer? — Aemond disse claramente enquanto observava sua meia-irmã com um olhar frio. Ele estava obviamente infeliz por vê-la e não fez nenhum esforço para esconder isso. — Por que veio ao meu quarto para falar comigo? Esta é uma hora da noite muito estranha para conversar.
Rhaenyra ergueu as sobrancelhas com surpresa pela audácia dele e observou seu meio-irmão por um tempo antes de falar.
— Você sabe por que estou aqui, Aemond.
— Então, deixe de lado as gentilezas e venha logo com isso. — disse Aemond. Ele cruzou os braços sobre o peito, com seu único olho visível olhando para a mulher diante dele.
Em alguns aspectos, Aemond e Rhaenyra eram muito parecidos, não apenas na aparência, mas também em alguns aspectos da personalidade.
Embora eles nunca fossem admitir isso um para o outro ou em voz alta, jamais.
Rhaenyra suspirou alto e se aproximou da grande janela dos aposentos de seu irmão, pensando em como deveria iniciar essa conversa, ou as conversas que surgiriam de agora em diante.
Era tudo tão complexo.
— Eu acabei de sair do quarto de Rhaenys. Estava conversando com ela sobre a... situação delicada que veio à tona há algumas horas, durante o jantar. — disse ela, virando o rosto para captar a reação dele.
Aemond acompanhou os movimentos de Rhaenyra com seu olhar penetrante enquanto ela caminhava até a janela do quarto dele. Ele permaneceu em silêncio por um momento depois que ela terminou de falar, o som dos grilos era o único som que preenchia o ar tenso de seus aposentos.
— E o que ela lhe disse? — ele perguntou sem rodeios, mantendo a voz firme.
A princesa se virou completamente para Aemond e cruzou os braços em frente ao peito, sentindo-se estranha por praticamente nunca ter falado com Aemond em nenhum momento, nem mesmo quando ele nasceu.
Talvez parte da culpa pelo relacionamento ruim que ela tinha com seus meio-irmãos e irmã fosse dela.
— Ela me contou muitas coisas, mas a principal delas você já deve saber.
Aemond soltou um pequeno suspiro ao ouvir que Rhaenys havia lhe contado muitas coisas. Obviamente, seria mais difícil evitar a situação se ela soubesse mais do que apenas o que havia acontecido no jantar.
— Tudo bem. O que ela lhe disse então, Rhaenyra? — ele tentou manter a voz nivelada e sem emoção, apesar de toda a energia tensa que estava se acumulando dentro dele.
— Ela me contou quando o caso de vocês começou e me falou sobre alguns... momentos íntimos. — começou, ainda prestando atenção às reações dele. — Mas ela também me disse algo mais importante, que ela o ama e que você também a ama.
Aemond permaneceu perfeitamente imóvel ao ouvir essa informação. Ele presumiu que Rhaenyra agora sabia a verdade sobre eles, mas ouvir a confirmação dos próprios lábios dela ainda o encheu de uma profunda sensação de desconforto.
A mandíbula de Aemond se contraiu quando ela descreveu seus momentos íntimos, embora ele tenha se contido.
A menção sobre o amor fez com que sua sobrancelha se contraísse levemente e sua respiração ficasse presa na garganta por um momento. Ele foi definitivamente pego de surpresa por isso, mas não expressou sua surpresa.
— E o que você disse quando ela lhe contou isso? — ele perguntou calmamente.
Rhaenyra ficou em silêncio por um longo tempo enquanto analisava a situação e assentiu levemente com a cabeça. Um sorriso reconfortante surgiu nos lábios da princesa, e ela teve que se impedir de se aproximar de Aemond e segurar a mão de seu meio-irmão entre as suas.
Não havia nenhum tipo de relacionamento entre eles para que ela fizesse tal coisa, mas era apenas seu instinto maternal.
— Rhaenys é minha filha, Aemond, e eu a amo de todo o coração e faria loucuras por ela. — ela sussurrou, começando a brincar com as pontas dos dedos. — Eu a aconselhei que o amor é uma armadilha, que nossos corações nos pregam peças. Podemos ter a melhor pessoa do mundo à nossa frente, mas nosso coração pode escolher a pessoa errada, porque o amor não é racional.
Ele foi definitivamente pego de surpresa. Rhaenyra estava dizendo coisas que ele tinha certeza de que nunca imaginou que ela diria a ele.
Ela estava falando com ele sobre os sentimentos e emoções que ele sempre evitou durante a vida.
— Nossa situação não é muito racional. — ele finalmente admitiu.
Rhaenyra soltou uma risada baixa e deu alguns passos à frente para se aproximar de Aemond, mas ainda havia uma distância segura entre os dois Targaryens. Ela olhou para o garoto por um tempo, observando o tapa-olho que cobria parte da cicatriz e depois suspirou alto.
— Mas eu dei esse conselho como mulher. Mas, como mãe, meu maior objetivo é mantê-la segura. — ela fez uma pausa, balançando a cabeça mais uma vez. — Então, Aemond, eu preciso ouvir você e preciso que seja honesto, mesmo que nosso relacionamento de irmãos seja terrível e quase inexistente. Você a ama? Você me confirma que não é um perigo para ela, para o coração dela?
Aemond olhou para Rhaenyra por alguns instantes com seu olho singular, enquanto pensava profundamente nas palavras dela.
Por fim, assentiu sutilmente com a cabeça.
Alguns meses atrás, ele provavelmente teria respondido a essa pergunta de forma bem diferente. Mas agora, as coisas haviam mudado.
— Eu a amo. — ele confirmou. — Eu nunca a machucaria. Ela é a única pessoa com quem sinto uma conexão. Eu não suportaria a ideia de machucá-la ou deixá-la chateada, eu faria qualquer coisa por ela. — ele admitiu novamente.
A princesa manteve o sorriso nos lábios e respirou fundo, aliviada, como se estivesse tirando um peso dos ombros. Embora a desconfiança ainda estivesse presente, ela sentiu que as palavras do rapaz eram genuínas, puras.
Rhaenyra se aproximou, sentando-se cuidadosamente ao lado de Aemond, o que o fez recuar um pouco, mas ele permaneceu ao lado dela. Ele não estava acostumado a uma situação como essa, ainda mais com Rhaenyra, a irmã para quem ele mal olhava ou falava.
Ele até a insultou várias vezes. Não apenas ela, mas também seus filhos.
A expressão do príncipe ficou pálida quando ele sentiu Rhaenyra tocar seu braço, e ele congelou. Havia algo no jeito carinhoso de Rhaenyra, independentemente da circunstância, era algo maternal e doce.
O olhar do príncipe permaneceu fixo na mão cheia de anéis de sua meia-irmã, tentando decidir se deveria se afastar dela ou se deveria deixar transparecer alguma vulnerabilidade, pelo menos um pouco. No final, havia algo reconfortante no jeito dela.
Era uma mulher com quem ele mal tinha falado e agora estava sentada ao lado dele, falando sobre um caso que ele estava tendo com a filha dela.
Ele não sabia o que fazer com suas emoções, então, em vez disso, fez algo que era mais natural para ele.
— Eu não imaginava que me apaixonaria por Rhaenys, não poderia ser ela. — disse ele em voz baixa.
Rhaenyra confirmou tudo o que ele disse e manteve a mão levemente pressionada contra o braço de seu meio-irmão, tentando ver se poderia consertar seu relacionamento com ele, agora que ele não era mais uma criança. Afinal de contas, ele poderia ser seu genro, em vez de apenas seu meio-irmão.
— Sabe, Aemond. Sempre ouço meus filhos me dizerem que sou a melhor mãe do mundo, mas nunca ouvi dizer que sou a melhor irmã para alguém. E, de fato, não sou. — ela comentou com uma risadinha, mas pôde notar claramente como o irmão estava tenso perto dela. Eles eram como estranhos, embora compartilhassem o mesmo sangue. — Nunca fui uma irmã de verdade, e sei que você tem muitos motivos para me odiar, especialmente por causa do que Lucerys fez. Mas eu sempre tentei me aproximar, pelo menos quando eu era mais jovem e vocês eram crianças, mas Alicent sempre encontrou uma maneira de afastá-los de alguma forma, sua mãe não queria você e os outros perto de mim.
Aemond permaneceu em silêncio enquanto ouvia as palavras de sua meia-irmã, e seu rosto mostrou que ele estava ouvindo, apesar da falta de expressão.
Ela sempre foi tão distante, e isso foi uma fonte de ressentimento por muito tempo.
Portanto, foi uma surpresa para ele quando ela de repente se abriu como estava fazendo.
E ela também havia falado sobre coisas que ele tinha certeza de que outros, além dele, nunca haviam sabido.
Ele não tinha certeza se conseguia se lembrar de alguma vez, durante a infância, em que tivesse conversado com a irmã dessa maneira.
E tudo isso por causa da mãe deles. Alicent realmente havia envenenado o relacionamento deles por tantos anos, e era só ele que podia ver isso agora.
— Eu também nunca tive permissão para me aproximar de você, Rhaenyra. — ele finalmente disse em voz baixa, quebrando o longo silêncio.
Rhaenyra assentiu e sorriu levemente para Aemond, sua voz ficando mais calma à medida que o assunto avançava, assim como Aemond, ela nunca pensou que falaria sobre isso com seu irmão. Nunca.
A princesa se levantou da cama e olhou para Aemond de longe, aproximando-se da porta. O olhar dele estava calmo, mas havia um enorme tumulto dentro do peito dela, fazendo seu coração disparar em um ritmo inacreditável.
— Tentei muitas vezes. — ela confessou. — Quando Aegon ainda era um bebê, conversei com ele em momentos a sós, tentando ajudá-lo a falar... talvez algo tenha funcionado, porque ele fala muito hoje em dia. E Helaena, minha doce irmã, eu lhe dei todos os meus vestidos de quando eu tinha a idade dela, várias joias e uma pintura de insetos, eu sabia o quanto ela gostava e ainda gosta.
O sorriso ainda era grande em seu rosto, como se as lembranças antigas realmente a fizessem feliz, e não apenas uma desculpa e manipulação.
Aemond ouviu atentamente as palavras de Rhaenyra, sentindo-se um pouco culpado enquanto ela falava.
Ela era certamente diferente do que ele havia imaginado quando era criança. A princesa não era apenas uma mulher bonita, mas aparentemente também uma boa pessoa.
Rhaenyra respirou fundo e continuou seu discurso.
— Daeron era apaixonado por livros, então deixei uma pilha de livros novos e recém-escritos em seu quarto, sem anotações para que ele não soubesse de quem era e Alicent descobrisse. — eu olhar baixou para o chão, brincando ansiosamente com os dedos. — E para você, Aemond, eu ofereci muitos e muitos ovos de Syrax para que você pudesse ter um dragão, mas sua mãe nunca aceitou as ofertas que eu fiz.
Aemond nunca havia pensado que sua irmã tentaria ajudá-lo a ter um dragão, apesar do fato de que isso quase certamente irritaria a mãe deles.
Ele se perguntou como seria sua vida agora se tivesse tido permissão para passar mais tempo com Rhaenyra.
— Tenho certeza de que você teria sido muito mais gentil do que ela jamais foi. Você certamente parece ser. — ele ofereceu com um pequeno sorriso.
Rhaenyra assentiu com a cabeça.
— Pretendo participar de suas vidas como uma irmã. — disse ela ao abrir a maçaneta da porta. — Aemond, não magoe a minha filha e prometo que tentarei ajudá-lo amanhã no conselho.
— Eu não vou machucá-la. — Aemond disse sem hesitar. Ele nunca prejudicaria a única pessoa com quem sentia uma conexão genuína. — Eu a manterei feliz e segura, e não se engane, eu a protegerei. — acrescentou, dando um sorriso reconfortante para a irmã antes de sair de seus aposentos.
A princesa sentiu seu coração se aquecer com a promessa do irmão, e ela pretendia deixá-los juntos, se era isso que eles queriam. Rhaenyra podia ver que havia amor dos dois lados, e era um amor genuíno, o primeiro amor de cada um deles.
Ela não podia menosprezar a felicidade de sua filha dessa forma, ela queria valorizá-la.
— Tenha uma boa noite, meu irmão.
— Você também, irmã. — Aemond disse com um pequeno sorriso, o que era raro para alguém com tão pouca emoção.
A conversa com sua irmã tinha sido muito melhor do que ele esperava. De fato, essa pode ter sido a conversa mais íntima que ele já teve com qualquer membro de sua família.
Talvez uma nova página tivesse sido iniciada em seu relacionamento entre irmãos.
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