083

Aegon estava batendo na porta dos aposentos do irmão há minutos, mas não obteve resposta alguma. No entanto, insistente como o príncipe sempre foi, ele continuou incessantemente batendo na porta, martelando a madeira e com os sons ecoando pelo corredor até que Aemond não aguentasse mais o barulho constante, dando um suspiro irritado, relutantemente caminhando até a porta e abrindo a maçaneta.

— Oh, irmão! Finalmente, achei que ia acabar apodrecendo na porta, por um momento fiquei com medo. — disse Aegon, animado e bêbado enquanto passava pelo irmão e ia direto para uma das cadeiras do quarto, sentando-se e cruzando as pernas.

Aemond suspirou novamente, olhando para o irmão com uma expressão carrancuda. Ele achava que seu dia não poderia ficar pior do que já estava, mas se enganou no momento em que abriu a porta.

Aegon, em seu estado de embriaguez, veio para importuná-lo ainda mais.

— Do que você precisa agora? Eu já não lhe disse, Aegon, que estou muito ocupado e não quero participar de suas atividades habituais? — respondeu ao irmão, sentando-se na borda da grande cama dele.

Aegon sorriu ironicamente e olhou para o irmão mais novo com uma expressão de provocação. Ele foi até a mesa próxima e serviu-se da taça de vinho que estava sobre ela, dando um bom gole antes de colocá-la de volta na mesa.

— Você sabe muito bem que esse não é o motivo de eu estar aqui, irmão. Quero falar sobre nossa sobrinha, Rhaenys. — disse o príncipe, juntando as mãos e colocando-as sobre o estômago. — E sobre a sua decisão de se casar com uma Baratheon, mesmo tendo um caso escondido com nossa doce sobrinha.

Apesar de o irmão ter mencionado o nome da sobrinha, Aemond não pareceu recuar ou reagir ao assunto, em vez disso, ele apenas revirou o olho e fez uma careta um pouco mais para si mesmo.

— Não vejo o que isso tem a ver com você. A decisão é minha e somente minha, escolhi me casar com a mulher mais adequada para mim e não pretendo mudar isso.

— Você não pretende, ou nossa mãe não pretende mudar de ideia? — perguntou Aegon, inclinando-se para encher mais a taça com o vinho que estava sobre a mesa de Aemond.

O olho de Aemond se estreitou ainda mais e ele dirigiu seu olhar para Aegon.

— Você sabe que ela não sabe nada sobre meu relacionamento com Rhaenys, e eu pretendo manter isso assim. — disse o príncipe mais jovem com um suspiro. — Além disso, você, mais do que ninguém, não pode falar sobre mulheres. Na maior parte do tempo, você está tão bêbado que me pergunto se sabe quem é sua amante da vez.

Aegon deu uma risadinha, parecendo não se incomodar com o comentário. Ele o ignorou com um gesto indiferente diante do assunto falado.

— Você está apenas com ciúmes, irmão. — seus olhos brilharam por um segundo enquanto ele tomava um gole do vinho. — Ciúmes por eu estar me divertindo com todas as festas, cama e tudo o mais, enquanto você passa o tempo todo trancado no seu quarto.

— Você não sabe o que eu faço aqui, Aegon. — a voz de Aemond estava ficando mais frustrada. — Não é só papelada e cartas. Estou planejando e aprendendo, coisas que você não entenderia.

Aegon sorriu, recostando-se em sua cadeira com os braços cruzados, enquanto continuava a provocar o irmão mais novo com seu sorriso malicioso.

— Diga-me, Aemond... você manchou seu lençol branco com o sangue de Rhaenys, não foi? — perguntou Aegon, curioso e com as sobrancelhas levantadas. — Ou foi Cregan quem tirou a virgindade de Rhaenys primeiro?

Aemond congelou e seus lábios se fecharam enquanto ele olhava diretamente nos olhos do irmão. Era óbvio que a provocação de Aegon havia tocado o nervo de uma lembrança tão boa que ele tinha. Ele não respondeu, seus lábios se apertaram ainda mais, seu punho estava cerrado com força suficiente para que algumas unhas começassem a se cravar em suas palmas.

— Como você sabe? — sua voz era baixa e ameaçadora, enquanto seu olhar ainda não se desviava do irmão mais velho.

Aegon apenas riu ao ver o temperamento de seu irmão se exaltar.

— É tão difícil assim juntar dois mais dois, Aemond? Não sou tão alheio quanto pareço, sabia? A maneira como vocês dois trocam olhares em festas e casamentos, a maneira como vocês dois fogem sempre que podem e a quantidade de vezes que você volta com arranhões nas costas e ombros, todos machucados. — disse de forma indiferente e uma risada acompanhou seu discurso. — Sou mais velho do que você, Aemond, não sou o tolo que você pensa que sou.

Aemond ainda mantinha a mesma expressão, mas seu aperto nas próprias mãos se afrouxou o suficiente para não esticar completamente os nós dos dedos.

Então, era verdade. Aegon sabia.

Ele não ficou surpreso, mas, de qualquer forma, sentiu-se afundado dentro dele. Apesar de sua idade, Aegon era um festeiro que bebia muito e dormia com várias mulheres.

Aegon manteve os olhos fixos no irmão e depois se levantou da cadeira e, com passos lentos, caminhou em direção de Aemond com um pequeno sorriso nos lábios. O príncipe colocou as duas mãos nos ombros do irmão e olhou para ele com as sobrancelhas erguidas e uma expressão divertida no rosto.

— E agora eu me pergunto: por que você se casaria com outra mulher, se nós dois sabemos que você ama Rhaenys? E não tente negar o óbvio, irmão.

Sua expressão ficou levemente pálida, pois o comentário de Aegon de repente o fez lembrar de tudo o que ele e Rhaenys haviam feito juntos.

— Porque eu não posso me casar com ela! — gritou Aemond, com raiva. — Você sabe por quê, Aegon. Tenho certos deveres e obrigações que preciso cumprir, não posso quebrá-los em nome da minha própria felicidade. E você sabe que nunca poderei me casar com ela. Preciso de uma esposa que possa me dar um herdeiro, e preciso trazer algum sangue bom com boas relações para a família, não... — ele não conseguiu terminar a frase.

— Não a nossa sobrinha? Não uma princesa Targaryen como nós, não uma Velaryon. — Aegon disse, os papéis se inverteram enquanto ele, mesmo bêbado, tentava convencer Aemond a ter juízo. — Se você se casasse com ela, manteria o sangue forte ou algo assim. Ou você simplesmente não quer se casar com ela porque ela é filha de Rhaenyra?

— Ambos.

Sua resposta foi dura e direta. Ele estava começando a perceber que estava começando a ser um pouco expressivo demais, mesmo que estivesse com raiva e sob a influência da provocação de Aegon.

Não muito longe dali, a Princesa Rhaenys se aproximava da porta da passagem secreta para os aposentos de Aemond. A princesa queria falar com ele, talvez até lutar, e por isso estava em seu caminho para isso.

Rhaenys parou atrás da porta de pedra e respirou fundo enquanto se preparava para abri-la, mas hesitou segundos antes de ouvir a voz de Aegon ecoar pelas pedras, como se fosse uma briga entre ele e Aemond. Curiosa como sempre foi, a princesa apoiou as mãos na porta e colocou o ouvido para escutar o que os dois homens estavam falando, embora estivesse abafado, ela ainda ouvia um pouco.

Estava claro que a conversa era sobre o repentino noivado de Aemond com a Lady Baratheon, e o envolvimento de Rhaenys no assunto chamou ainda mais a sua atenção.

— Nossa mãe nunca permitiria isso! — Aemond gritou, olhando para o irmão com o olho apertado. — Além disso, nossa casa já está cheia de incesto dos Targaryen, não há necessidade de mais um. — completou o príncipe. — Por que eu escolheria Rhaenys para ser minha esposa? Afinal, ela é minha sobrinha.

Sua voz se arrastou quando ele percebeu o que tinha acabado de dizer, e seu rosto ficou profundamente vermelho, não apenas de raiva, mas também de vergonha.

O príncipe Aegon acabou soltando uma risada altíssima quando ouviu isso, quase uma gargalhada pois havia achado hilário o que o irmão estava dizendo. O próprio Aegon era casado com a irmã deles e tinha filhos nascidos de incesto.

Rhaenyra era casada com seu próprio tio, Jacaerys era casado com a prima, assim como Lucerys com Rhaena e assim por diante.

— Não me faça rir, irmão! Esse é o menor dos problemas, portanto, diga-o em voz alta para mim. — ele disse enquanto se afastava de seu irmão com outra risada bêbada. — Você ama Rhaenys, não é? Você ama a "bastarda" e protegida de Rhaenyra, o que faz de você um hipócrita, na verdade.

Quando Aemond ouviu a verdade ser dita dessa forma, sentiu como se fosse um punhal direto em seu coração.

Aegon tinha razão, ele era um hipócrita. Ele não queria admitir, mas seu amor pela sobrinha era verdadeiro.

Ele não podia mais negar isso. Aemond nunca havia olhado para uma mulher da mesma forma que olhava para Rhaenys.

— Chega! — sua voz era aguda e penetrante agora. — Chega, Aegon.

Então, de repente, ele se lembrou; Se Aegon sabia tão bem o quanto ele e Rhaenys se sentiam atraídos um pelo outro, será que eles realmente tinham sido tão cuidadosos quanto ele pensava?

Talvez não.

Rhaenys continuou a ouvir a conversa entre os dois príncipes e seu coração se afundava a cada palavra dita, a cada verdade revelada e a cada grito. Ela queria falar, mas não queria que Aegon estivesse presente na situação, então tudo o que fez foi continuar ouvindo atrás da porta secreta, esperando o momento em que seu tio fosse embora e ela pudesse falar com Aemond, sozinha.

E, no entanto, ela não pôde deixar de sentir uma leve tristeza percorrer seu corpo mais uma vez quando não ouviu Aemond admitir seus sentimentos por ela. Mas ela não o culpava, pois da última vez que a princesa conversou com o príncipe, ela negou de todo o coração os sentimentos que ele dizia ela ter por ele.

Mas talvez fosse uma mentira, talvez no fundo ela sentisse algo. Ela simplesmente não conseguia admitir tal coisa, por medo ou nervosismo. Era uma situação muito complexa e, de qualquer forma, Rhaenys partiria para Dragonstone em apenas três dias, acompanhada por Jacaerys e Baela.

E o bebê que estava na barriga de Baela, além dos dragões, é claro.

A conversa entre Aegon e Aemond começou a se tornar mais lenta. Aegon continuava tentando levar os assuntos ainda mais longe, mas Aemond estava se esforçando ao máximo para ignorar as perguntas do irmão mais velho.

— Você vai se casar apenas porque nossa mãe disse, você parece quase um servo que faz tudo o que ela diz quando ela quer.

— Cale a boca, Aegon. — Aemond estalou, com as mãos apertando com mais força a borda da cama. Suas palavras foram rápidas e afiadas enquanto ele olhava para o irmão mais velho, tentando mostrar o mínimo de emoção possível em seu rosto. — Não ouse falar assim comigo de novo. Está me ouvindo? Para mim não é a mesma coisa que foi para você, eu não faço o que todo mundo me diz porque eu gosto. Estou cumprindo meu dever aqui, e estou fazendo isso pela família.

Aegon manteve uma expressão bêbada e divertida no rosto enquanto olhava para o irmão e bebia os últimos goles de vinho da taça. Ele soltou um suspiro alto com uma risada misturada, revirando os olhos diante da teimosia e do orgulho do irmão em admitir apenas algumas palavras.

— Apenas diga, Aemond. — ele disse, virando-se para olhar para o irmão mais uma vez. — Você a ama, não ama?

Quando Aegon terminou a frase, a porta de pedra do outro lado do quarto de repente fez um barulho suave e se abriu com força e rápidez, revelando um par de olhos azuis brilhantes, olhando para os meninos.

A princesa tinha se inclinado tanto sobre a porta para ouvir o que eles estavam dizendo que ela se abriu e Rhaenys quase caiu no chão do quarto, xingando em voz alta antes de associar a situação.

— Mas que merda... — disse ela, franzindo a testa com irritação.

Rhaenys respirou fundo, antes de olhar para a cena à sua frente. Seus lábios estavam ligeiramente entreabertos em choque e ela podia sentir o coração batendo no peito.

Aemond imediatamente voltou seu olhar para a sobrinha em resposta, o olhar em seu rosto estava cheio de constrangimento e surpresa.

— Rhaenys. — o príncipe Aemond exclamou baixo.

A princesa tinha ouvido uma boa parte da conversa, inclusive os comentários de provocação de Aegon. Ela ficou congelada, mas imediatamente um calor em seu âmago começou a aumentar quando os dois irmãos a encararam, Aegon com uma risada zombeteira e Aemond com constrangimento.

— Sobrinha! Como é bom vê-la aqui. — Aegon disse com uma risada irônica e olhou para ela, indo em direção a Rhaenys enquanto abria os braços para aproximá-la da situação.

A princesa não se divertiu tanto quanto o seu tio, pois ainda estava processando o choque de ter feito o que ela fez. A situação também estava ficando cada vez mais embaraçosa, e ela não conseguia olhar o tio nos olhos, pois ele estava se aproximando dela.

Ela apenas olhava Aemond.

A cada momento que passava, Rhaenys sentia seu coração acelerar enquanto mantinha um foco inabalável em Aemond. Ela malmente percebeu a aproximação do tio mais velho, e seu único desejo era conversar com seu antigo amante.

Naquele momento, o olhar de Aemond encontrou o dela, e eles compartilharam uma conexão breve e sem palavras. Ambos ficaram parados, absorvendo o peso dos acontecimentos que se desenrolaram diante deles.

Era evidente que uma sensação de constrangimento também permanecia dentro de Aemond.

De repente, ele pareceu perceber que precisava dizer algo, pois agora era o centro das atenções. O príncipe decidiu engolir seu orgulho quando começou a falar.

— Aegon, vá. — disse ele, e antes que seu irmão pudesse protestar ou fazer qualquer coisa, Aemond o agarrou pelos ombros e começou a empurrá-lo em direção à porta. Quando Aegon abriu a boca para dizer alguma coisa, seu irmão mais novo o empurrou para fora e fechou a porta com força, trancando-a por dentro para que ele não tentasse entrar novamente.

Ele queria ficar sozinho com Rhaenys, nesse momento.

A presença dela fez seu coração pular, seu estômago se agitar e sua boca ficar seca. Ela era simplesmente maravilhosa, e já havia roubado seu coração como se fosse amor a primeira vista.

Mas eles nunca poderiam ficar juntos, Alicent nunca deveria saber desse caso.

Ela ficou quieta enquanto olhava para Aemond, tentando pensar nas palavras que queria dizer. Tentando decidir se gostaria de brigar com ele primeiro ou de iniciar uma conversa civilizada.

De qualquer forma, ela tinha vontade de bater nele. Por raiva dele, das decisões dele e das decisões dela.

Porque ambos eram orgulhosos demais para admitir algo.

— Aemond. — ela começou.

Quando ela disse o nome dele, sua respiração ficou presa na garganta, seu coração acelerou de excitação, apesar das circunstâncias amargas.

— Sim? — respondeu ele. Uma parte dele queria desesperadamente que ela declarasse seu amor por ele, que revelasse a ele que abriria mão de tudo por ele.

Mas isso acabaria com os dois.

Rhaenys manteve o silêncio entre eles por um longo tempo enquanto caminhava pelo quarto tão familiar para ela e, lentamente parou perto da cama, onde ele estava sentado.

Mas manteve uma distância segura dele.

Ela ergueu as sobrancelhas para Aemond e olhou para o príncipe com muitos sentimentos percorrendo seu corpo e a sua mente.

— Parabéns por seu noivado, com... a Baratheon, ou algo coisa assim. — ela disse, mas com um toque de sarcasmo. — Estou impressionada com sua escolha repentina de se casar, realmente interessante.

Ele sentiu que ia se engasgar, o príncipe estava tão feliz por vê-la que poderia explodir de energia. A conexão deles era como um raio que o atravessava, e se ao menos ele tivesse a força para romper o noivado.

— Isso não é nada repentino. — disse ele. — Está sendo planejado há algum tempo, e você sabe por que estou fazendo isso.

Rhaenys mordeu o lábio para se manter calma e assentiu retoricamente para Aemond, puxando e mexendo com os dedos, girando os anéis como o costume que ela sempre fazia quando estava muito ansiosa ou nervosa com algo.

— Não, não tenho certeza do motivo, Aemond. Mas também não seria algo com que eu me importasse, apenas o fato de você ter mentido para mim. — ela mentiu de forma indiferente. Mas era óbvio o quanto ela estava chateada e incomodada com o novo noivado de Aemond.

As palavras cortaram Aemond como uma faca. Ele se levantou e deu vários passos para perto dela, mas ele sabia que uma briga era a última coisa de que precisavam no momento. Aemond sabia que tinham que chegar a algum tipo de acordo, mas se sentia como se estivesse entre a espada e a parede.

— Eu não tinha escolha. Você sabe exatamente por que eu tive que fazer esse casamento acontecer.

A princesa deu alguns passos para trás quando ele se aproximou dela, com as mãos fechadas atrás das costas e um longo suspiro saindo de seus lábios. Seus olhos percorreram todo o corpo de Aemond, da cabeça aos pés, enquanto ela analisava a situação para ver o que responderia.

— Eu não... não me importo mais com suas escolhas, Aemond. Apenas acho curioso que em seus vinte e um anos você não tenha pensado em casamento e, de repente, depois da nossa briga, você decide se casar.

As palavras o cortaram mais do que uma lâmina poderia cortar. Ele não queria dizer as palavras, mas isso precisava ser resolvido.

— Nosso caso era para ser temporário. — ele cuspiu as palavras, e imediatamente se arrependeu. — Eu sempre ia seguir em frente com outra pessoa. Você deixou claro que nunca poderíamos ficar juntos, então, encontrei alguém com quem eu poderia ficar. Uma mulher que me dará filhos e um relacionamento estável.

— E amor? Ela o dará a você? — disse Rhaenys enquanto olhava para Aemond e deu mais um passo para trás, antes de limpar a garganta diante da pergunta que fez. — Quero dizer, um casamento como esse raramente tem amor envolvido, e isso é a base de um relacionamento estável.

— Não estou esperando amor desse casamento. — disse ele com firmeza. — Mas ela vai me dar filhos e uma aliança com uma das casas mais poderosas do reino após a nossa. O que você espera que eu faça, Rhaenys? Espera que eu fique sozinho para sempre, só para você? — ele deu mais um passo à frente, fazendo-a recuar até a parede, parando a apenas alguns centímetros dela.

As costas de Rhaenys foram pressionadas contra a parede e ela ficou imóvel enquanto olhava para Aemond, mas baixou o olhar quando ele se aproximou muito e manteve os olhos fixos para atrás dos ombros dele. Ela não queria manter nenhum tipo de contato visual com Aemond, especialmente depois de ele ter atingido um nervo com o comentário que fez.

— Eu não preciso que você faça nada por mim.

Ele podia sentir a raiva e a dor que irradiavam dela, mesmo enquanto ela mantinha os olhos baixos, o que só fazia com que ele quisesse forçá-la a encarar seu olhar severo.

— Não? — ele perguntou, com a voz mais suave. O príncipe deu um único passo para mais perto, de modo que agora estava a centímetros dela, então se inclinou e passou a parte de trás do polegar em sua bochecha. — Diga-me.

Ela ficava absolutamente adorável quando estava nervosa, e estava exatamente assim agora, com o olhar fixo no chão de pedra.

Rhaenys revirou os olhos e afastou a mão de Aemond, mas gostava muito da audácia que ele tinha em momentos como esse. Especialmente depois da briga deles.

— Não há nada para falar, Aemond. Eu fico feliz que você vá se casar com alguém, e em alguns dias eu voltarei para Dragonstone. — respondeu ela enquanto levantava os ombros e se afastava de Aemond, indo para o lado oposto do quarto dele. Havia um certo olhar de raiva e ciúme em seus olhos, com uma mistura de tristeza e saudade.

— Você não vai nem lutar contra isso? Você vai simplesmente me deixar ir embora, deixar que eu me case com outra mulher e deixá-lo à sua própria sorte? — sua voz estava cheia de mágoa, como se ela o estivesse abandonando. Mas ele tinha que se lembrar de que estava fazendo o mesmo, e seu coração não permitiria que ele desistisse de tudo por ela, pelo menos por enquanto.

— Por que eu lutaria? Eu não me importo. — ela mentiu novamente, cruzando os braços e olhando para ele com uma das sobrancelhas erguidas, uma carranca nos lábios. — Eu não quero...

Mas antes da princesa terminar de falar, Aemond a interrompeu.

— Você não quer o quê? — ele deu um passo em direção a ela, fechando a distância novamente, de modo que estava mais uma vez perto dela, com seus rostos a poucos centímetros de distância. Ele sabia que ela não estava falando sério, não quando ele podia ver tão claramente suas emoções escritas em seu rosto. — Admita.

Quando Aemond chegou tão perto dela, ela cambaleou um pouco para trás e segurou os braços de Aemond instintivamente, olhando de volta para Aemond. Ainda havia raiva em seus olhos, mas também havia algo mais neles.

— Eu não vou admitir nada.

— É tão óbvio. — murmurou ele, inclinando-se para mais perto. O ar entre eles parecia crepitar à medida que a tensão aumentava. As mãos dele desceram até os quadris dela, os polegares traçando o formato deles. — Você ainda se importa, sua tola. Você ainda quer ser minha. Quer que eu esqueça o casamento e fuja com você, não é?

— Eu não quero fugir! — disse ela, com os dentes cerrados e olhou para Aemond com olhos estreitos, ódio ou talvez outra coisa. Ela manteve as mãos segurando firmemente os braços dele enquanto respirava fundo. — Eu já lhe disse que não preciso que você faça nada por mim, eu não preciso de um homem para qualquer coisa em minha vida.

— Mas você gostaria, não é? — a voz de Aemond era um sussurro. Ele não desviou o olhar dela e apertou os quadris dela, forçando-a a ficar quieta. — Você adoraria, a mim.

Rhaenys ficou em silêncio quando Aemond disse essas palavras, e sua mente ficou confusa por alguns segundos. Ela não tinha certeza do que queria, mas, por algum motivo, teve vontade de chorar quando levantou a cabeça e olhou para Aemond novamente.

As mãos dela deslizaram pelos braços de Aemond e finalmente pararam perto dos quadris dele, enquanto ela o apertava com a mesma força que ele a segurava. Então, ela finalmente decidiu deixar o orgulho de lado, suspirando suavemente.

— Por que você vai se casar com outra mulher, se quando você olha para mim parece... — ela começou, mas parou de falar e mudou o rumo da frase. — Por quê?

Pela primeira vez em sua vida, Aemond ficou completamente sem palavras. As palavras que ela disse o atingiram como uma lâmina, e seu rosto se contorceu em uma confusão dolorosa.

Ele não tinha uma resposta para ela.

Aemond sentiu um lampejo de esperança em seu coração quando ela finalmente admitiu que ainda o queria, embora a súbita mudança de rumo tenha feito seu coração pular uma batida.

— Como eu olho? Parece o quê? — ele perguntou. Era como se cada palavra que ela dissesse fosse um punhal que estava lentamente penetrando cada vez mais fundo em seu peito.

A princesa abriu a boca para responder a Aemond, mas nada saiu e ela permaneceu em silêncio, olhando nos olhos do príncipe.

— Nada. — ela disse e então soltou os quadris de Aemond, afastando-se lentamente dele novamente enquanto tentava acalmar a respiração e voltava a brincar ansiosamente com os dedos. Seus olhos seguiram seus próprios sapatos enquanto ela caminhava e, depois de longos minutos, ela decidiu falar novamente. — Eu odeio você, sabia?

— O que mais há de novo? — ele respondeu, com um tom sarcástico e incisivo. Era por isso que ele nunca poderia ser vulnerável perto dela. — Por que você me odeia agora? Por que meu noivado finalmente é concreto?

Rhaenys franziu a testa diante do sarcasmo de Aemond e cruzou os braços, bufando alto o suficiente para que ele percebesse o quanto ela estava irritada com ele.

— Eu o odeio porque... — ela continuou a falar, mas, na verdade, não tinha nenhum motivo para odiar Aemond, não no peito dela. O silêncio entre os dois foi ensurdecedor, antes que ele continuasse a falar. — Você disse que faria coisas por mim, mas o que seria? — perguntou ela, curiosa, mas em um sussurro.

O fato de Rhaenys estar perguntando algo em um sussurro fez com que ele tivesse certeza de que ela não queria que alguém ouvisse a conversa. Ele sabia o que isso significava, as palavras dela só reforçavam suas esperanças, esperanças de que ela ainda pudesse amá-lo da mesma forma que ele a amava.

— Como você pode esperar mais de mim quando você sabe, que sem questionamentos, eu mataria qualquer um e me manteria em frente as chamas de um dragão por você? Eu daria minha carne e os meus ossos para te manter ao meu lado. — ele respondeu sem hesitar, com o olhar ainda fixo no dela. Ele não desviou o olhar dela, mesmo que ela supostamente o odiasse, ela ainda era a mulher mais bonita do mundo para ele.

Rhaenys sentiu sua respiração aumentar para níveis preocupantes quando ele lhe disse o que faria, talvez fosse uma metáfora, mas ainda assim era uma coisa bonita de se dizer a uma mulher. Ela quase lhe ofereceu um pequeno sorriso, e seus dedos queriam alcançar a nuca de Aemond e trazê-lo para mais perto dela, mas não o fizeram, ainda não.

— Mas você acabaria com sua sede de vingança pelo olho do meu irmão e aceitaria a minha mãe no trono, Aemond? — ela perguntou cautelosamente.

— Eu aceitaria. — ele respondeu rapidamente, olhando para ela com um aceno de cabeça. — Se você voltasse para mim, apenas se eu tiver você. — ele disse em voz baixa, deixando que suas palavras ficassem no ar enquanto pairavam entre eles, cada palavra como um tijolo batendo em uma parede, quebrando-a.

Aemond nunca havia se sentido tão vulnerável com ela. Ele não conseguia se controlar quando ela o olhava daquela forma, e o fato de ela o odiar tornava as emoções ainda mais intensas.

— Por quê? — disse ela, ainda levemente desconfiada.

— Porque não consigo resistir a você. — respondeu ele. Não era a resposta que ela esperava, mas era a verdade. Ele não conseguia mais conter todas as suas frustrações e desejo, isso o inundou. Ele precisava dela da maneira que somente ela poderia preencher, e mais nenhuma mulher consegueria fazer o que ela fazia. — Apenas venha para mim. Encoste sua boca na minha e me diga que sente o mesmo. Você diz me odiar, mas eu sei que você me quer tanto quanto eu quero você.

O coração da princesa nunca esteve tão acelerado como agora, com uma sensação tão boa subindo em sua barriga e apertando seu estômago, com mil borboletas brincando ali. Ela respirou fundo e levantou o queixo enquanto se preparava para lhe contar uma confissão, ou talvez uma meia confissão.

O orgulho e a teimosia haviam saído de sua mente, e ela não sentia mais medo de dizer o que queria dizer a ele.

— Eu sei que você está apaixonado por mim, Aemond. — sussurrou para ele e olhou para baixo novamente.

Já o coração do príncipe pareceu parar em seu peito, mas da melhor maneira possível. As palavras que ele estava ansioso para ouvir há tanto tempo finalmente saíram dela.

Aemond congelou no lugar enquanto ela falava, não era a confissão que ele estava esperando, mas o que ela disse foi ainda melhor. Ele sorriu suavemente, com uma expressão calma, e deu um passo para mais perto dela e colocou as duas mãos em sua cintura, puxando-a para si.

— Se eu lhe dissesse que não posso viver sem você, isso seria motivo suficiente para que você voltasse para mim, Rhaenys?

Os olhos dela não encontraram o dele e isso foi o que causou um súbito lampejo de medo dentro do príncipe.

Uma nova sensação floresceu dentro de Rhaenys, uma sensação que ela nunca havia sentido antes, e era tão genuína que a fez querer sorrir com as palavras de Aemond. Os dedos dela se apertaram ao redor dos braços de Aemond enquanto o peito dela subia e descia rapidamente, as bochechas começando a corar tão intensamente que mesmo no escuro era perceptível.

Ela respirou fundo e levantou a cabeça para olhar para o tio, ou agora para o amor dela

Ou futuro marido, ou qualquer coisa que o mantivesse perto dela. A princesa assentiu levemente com a cabeça e mordeu o lábio, prestes a terminar a confissão.

— E o que você quer que eu diga, Aemond?

A respiração dele se acelerou quando as bochechas dela começaram a corar sob suas feições delicadas. Ela parecia tão bela quanto uma deusa, enquanto as emoções brincavam em seu rosto pálido, como se ela fosse feita de porcelana.

Não havia nada que ele mais desejasse no mundo do que tocar seus cabelos, beijar seus lábios e acariciar seu rosto.

Ele estendeu a mão e roçou a bochecha dela com a mão, a pele dele contra a dela enviando uma onda de eletricidade através da pele dela. A confissão dela era mais do que ele poderia esperar, mas isso não significava que ele estava satisfeito.

— Uma confissão. — disse ele, com o olho azul claro fixo nos azuis escuros dela. — Diga-me que você também me ama.

As duas mãos de Rhaenys estavam segurando as laterais do rosto de Aemond, olhando profundamente para ele com um novo sentimento, com amor. Ela não estava mais negando, seja com palavras ou ações, ela não estava mais negando absolutamente nada na direção dele.

Portanto só agora Aemond percebeu o brilho nos olhos dela, cheios de lágrimas que não caíam e apenas se acumulavam, mas não eram lágrimas de tristeza ou frustração como normalmente acontecia. Eram lágrimas de emoção, de amor e carinho por ele.

Tudo o que ele desejava dela.

— Você quer que eu lhe diga isso? Porque quando eu falar, não haverá mentiras. — ela sussurrou para ele e soltou uma risada ao aproximar seu rosto do dele, com os narizes quase se tocando e os batimentos cardíacos sincronizados um com o outro, de alguma forma.

— Sim, diga para mim. — ele sussurrou de volta, deixando um pequeno sorriso aparecer nos lábios dele. — Por favor.

Uma última respirada e um último encorajamento de Aemond foi o que era necessário para ela dizer as palavras para ele, dizer com vontade e com significado.

— Eu amo você, Aemond.

Sua respiração ficou presa ao ver a luz dos olhos dela mudar de desespero para algo tão radiante. A visão quase o dominou, quase o cegou. Ele quase podia sentir o calor das lágrimas dela em seu rosto, podia sentir o gosto da respiração dela contra sua pele.

Ela era a visão mais deslumbrante que existia.

E ela acabara de confessar seu amor por ele de uma forma que ele desejava ouvir.

Quando suas palavras se espalharam no ar, o príncipe não esperou pela permissão de Rhaenys. Suas mãos se apertaram ao redor da cintura dela e ele a trouxe para si.

Ele se aproximou mais e mais, a distância entre os dois diminuindo a cada centímetro. E, finalmente, seus lábios tocaram os dela, e a paixão que compartilhavam era palpável, o tempo congelou e seus lábios se fecharam em um beijo longo.

Seus lábios cobriram os dela com fervor, e apesar de suas lágrimas, eles nunca pareceram amargos. Ele sentiu tudo se dissolver, não se importando com o que os aguardava, desde que ela estivesse ao seu lado. Suas línguas se encontraram de forma apaixonada, como se o mundo fosse parar se esse gesto íntimo fosse interrompido.

Não era a primeira vez, mas era a primeira vez que ele se sentia assim. Seus lábios estavam desesperados pelos dela de uma forma que nunca tinham estado antes, e ele não deixaria que ela se afastasse dessa vez.

Era tudo o que os dois precisavam para selar a confissão deles.

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