077
Rhaenys sentou-se na cadeira ao lado de Rhaenyra na pequena sala do conselho. A princesa manteve sua aparência séria e calma e, sob a mesa, apertou com força a mão da mãe.
Alicent e Otto entraram na sala pouco depois, usando seus trajes esverdeados típicos que representavam a Casa Hightower.
O motivo era simples: de acordo com Sor. Criston Cole, ele afirmou ter visto Rhaenys com uma adaga cravada no estômago de Larys pouco antes de ele cair no chão, e afirmou ter mais algumas testemunhas.
Era a verdade, sim. Mas ninguém além da princesa precisava saber de tal fato.
Rhaenys olhou lentamente para cima e viu Alicent olhando para ela atentamente. Ela teve que se conter para não deixar transparecer o medo que estava sentindo e, em vez disso, manteve um comportamento calmo e controlado. Isso não era algo que ela poderia evitar.
Ela acenou levemente com a cabeça para Rhaenyra, ainda apertando sua mão com força, e se acalmou.
— Alicent, Otto. Qual parece ser o problema aqui? — Rhaenyra perguntou, mantendo a voz firme e direta, porém educada.
Daemon, sentado ao lado de Rhaenyra, observava Otto e Alicent, esperando que eles falassem.
Alicent estreitou os olhos, observando a presença de Daemon e Rhaenys.
— Sor Criston me trouxe a informação de que Rhaenys estava presente no assassinato de Lorde Larys Strong. Também há testemunhas do evento. — disse Alicent com severidade, voltando sua atenção para Rhaenys.
Otto ficou sentado em silêncio, observando Rhaenys para ver se ela diria alguma coisa que a incriminaria.
Rhaenys permaneceu calma e calma, apesar de ter sido pega de surpresa pela situação. Alicent não gostou do fato de Rhaenys estar demonstrando um pouco de atitude, mas tentou ignorar isso.
— Sor Criston diz que ele mesmo testemunhou o fato. Ele também afirma que dois servos do castelo também assistiram. — explicou Otto Hightower e olhou para Rhaenys novamente. — Você está negando isso?
Rhaenys olhou para a mãe e para Daemon, ainda apertando a mão sob a mesa. Sua expressão era a mais leve já vista antes, nervosismo ou culpa alguma parecia preencher o corpo da princesa naquele momento.
— Eu nego, sim. Eu estava no meio daquela grande confusão que estourou no meio do casamento, tentando me arrastar pelo chão sem me machucar. — a princesa se defendeu, olhando para a mãe e depois para Alicent. — Somente Criston Cole é sua testemunha? Curioso, não é? Seu fiel escudeiro será a testemunha.
Rhaenyra assentiu levemente com a cabeça, e Daemon apertou a outra mão de Rhaenys.
— Essa é a minha garota. — sussurrou Daemon para Rhaenys.
Alicent continuou olhando para Rhaenyra, não satisfeita, mas também não querendo agir de acordo com suas suspeitas. A rainha estreitou os olhos novamente, mas não disse nada por mais um momento.
— Mesmo que isso fosse verdade, você ainda estava lá. Você ainda poderia ter cometido o crime. — ela disse, descansando os punhos em cima da mesa do conselho.
Rhaenys percebeu que havia sido descoberta, mas não podia deixar o medo transparecer. Sua mãe e Daemon ainda estavam presentes e não sabiam a verdadeira história.
— Por que eu teria algum motivo para matar o Lorde Strong? — perguntou ela, tentando se fazer de desentendida. — Do meu conhecimento, Larys Strong era um Mestre dos Sussurros aqui no conselho, e qualquer um de seus informantes poderia tê-lo matado. Devo lhe lembrar que o casamento teve centenas de convidados, por que especificamente teria sido eu quem o matou?
— Por que outra pessoa teria um motivo para matá-lo? — Alicent perguntou, seu tom mudando de curioso, mas sério, para agressivo. Ela se levantou, aproximando-se de Rhaenys. — Ele era um conhecido manipulador e informante, como você disse. Não acha que alguém que estava tentando manter seus segredos em segurança poderia assassinar alguém que poderia arruiná-los?
Rhaenyra fez exatamente a mesma ação que Alicent, se levantando de sua cadeira para defender a palavra da filha. A herdeira apoiou ambas mãos e olhou para Alicent com um leve desdém, um ódio que estava percorrendo por suas veias.
A essa altura, ela não estava nem mesmo fazendo perguntas. Ela estava fazendo acusações e tinha confiança para sustentá-las.
— Não está fazendo perguntas, Vossa Graça. Está apenas fazendo suposições e acusando minha filha sem provas. Suas únicas testemunhas são o seu escudeiro real? Engraçado como só ele viu o assassinato.
Alicent também estava ficando irritada agora, olhando para Rhaenyra com uma expressão de desdém e ódio.
— Sua filha estava no local do assassinato. — ela sibilou. — Isso não é prova suficiente para você?
Otto se levantou de repente, tentando dissipar a tensão crescente na sala.
— Alicent, Rhaenyra. Vamos ser sensatos aqui. Rhaenys estava no local do assassinato de Lorde Strong. Embora isso não signifique necessariamente que ela tenha cometido o assassinato, é suspeito.
Daemon ergueu as sobrancelhas, de alguma forma encontrando diversão no meio de toda essa confusão.
— Deixe-me pegar essas suspeitas e enfiá-las na sua garganta, junto com esse seu pau murcho que você carrega na calça. — Daemon disse enquanto cruzava as mãos em seu colo, encarando Otto e Alicent Hightower ao mesmo tempo.
Otto pareceu chocado com as palavras de Daemon, e Alicent ficou igualmente surpresa, mas de uma forma diferente.
— Não teremos mais esse tipo de linguagem. — respondeu ela rapidamente, esforçando-se muito para não ter medo do príncipe, mas lutando da mesma forma.
Rhaenys soltou uma risada quando Daemon fez a piada para Otto, e ela a escondeu sob a palma da mão. A princesa se recompôs e olhou de volta para Alicent, ainda curiosa e esperando pelas outras duas testemunhas.
— Então? Onde estão os dois servos testemunhas, além de seu fiel escudeiro Criston Cole? — Rhaenys perguntou, erguendo as sobrancelhas para Alicent quase como um desafio.
Rhaenyra e Daemon sentiram uma ponta de orgulho.
Otto ainda estava lutando para manter a situação calma, mas até ele estava ficando um pouco frustrado com Rhaenys agora.
Alicent a encarou com o fogo de mil sóis, e isso foi o suficiente para calar a princesa por um momento. Ela pensou por um segundo, antes de responder à pergunta.
— Se você continuar me desrespeitando, então talvez eu deva prender você. Não há nada que me impeça de fazer isso, minha princesa. — sibilou Alicent.
Rhaenyra ergueu as duas sobrancelhas para Alicent e sua expressão se transformou em uma impaciência total. Após compartilhar um olhar com o marido, a herdeira do trono se levantou de sua cadeira mais uma vez, ligeiramente alterada diante da situação que se escalou rápido demais.
— Só a prenderia quando eu estivesse morta, Vossa Graça. A senhora não tem o poder de prender pessoas sem testemunhas suficientes e sem provas. — disse ela, olhando para a mulher de cabelos vermelhos com uma aura protetora irradiando de seu corpo para proteger Rhaenys, sua filha.
Alicent estreitou os olhos para Rhaenyra, encarando-a intensamente. Ela não estava acostumada a ser contrariada, e era um pouco perturbador ver Rhaenyra ser tão firme com ela após os antigos anos de amizade das duas mukheres.
Mas eram apenas lembranças.
— Você não tem nenhuma prova real aqui. — disse o príncipe Daemon com confiança. — E nós o enfrentaremos com unhas e dentes. Você está cometendo um grave erro se tentar prender Rhaenys.
Otto continuou a tentar ser o mediador da situação, olhando para Daemon e se esforçando para mantê-lo calmo. Alicent continuava a encarar Rhaenys, enquanto Rhaenyra se movia na frente de Rhaenys, protegendo sua filha de qualquer má vontade que Alicent estivesse emitindo.
— Quem são suas testemunhas, Vossa Graça? Seu fiel escudeiro, sua dama de compainha e um servo fiel a você? Me pergunto por qual razão você está tão estressada pela morte desse homem. — disse Rhaenys calmamente, olhando para Alicent através da lateral do corpo de Rhaenyra. — Ouvi dizer que Larys Strong tinha um certo fetiche por pés, ele se tocava quando olhava para algum, exposto por informações em troca. Quem o matou fez um favor à corte, não acha, minha rainha? — ela comentou, com uma leve insinuação para a rainha, e depois ergueu as sobrancelhas mais uma vez.
Otto olhou para Rhaenys, chocado com sua ousadia. Até Alicent parecia estar surpresa com o comentário de Rhaenys, e o fato de que ela realmente sabia sobre o fetiche por pés era um pouco perturbador, para dizer o mínimo.
Sabia demais, Rhaenys tinha conhecimento demais.
— Pare de falar. — disse Alicent calmamente, com um toque de medo em sua voz. — Apenas... pare. Temo que não chegaremos a lugar algum a essa altura se ficarmos aqui discutindo sobre isso. — a majestade disse com um tom levemente trêmula, uma vergonha e humilhação subindo pelas suas veias e fazendo-a se sentir tão baixa e nojenta.
O rosto de Alicent ficou levemente rosado quando Rhaenys mencionou o fetiche por pés, mas ela tentou esconder. Ela não ia confirmar ou negar a afirmação.
Ela não gostou da maneira como a situação estava se desenrolando agora, pois parecia que Rhaenyra estava realmente começando a afetá-la, e ela não estava feliz com isso.
— Não importa o que eu fiz, importa o que você pode provar. — Rhaenys disse por último e encostou as costas na cadeira, cruzando os braços. — E eu tenho uma testemunha.
Alicent estreitou os olhos, e um silêncio ensurdecedor caiu sobre a sala por alguns segundos.
— Quem é essa testemunha, exatamente? — perguntou ela, soando tão agressiva quanto parecia.
— Seu filho, Aemond Targaryen. Eu estava dançando com ele quando a confusão começou e... ele estava comigo o tempo todo até me levar para minha mãe quando fui machucado. — disse a princesa, de uma maneira que não deixaria suspeita de conversa extraconjugal.
Alicent e Otto olharam um para o outro, chocados com essa informação.
Rhaenys apertou uma das mãos na própria coxa, sua pulsação acelerando gradualmente. Se Aemond fosse chamado para confirmar a palavra de Rhaenys, ela apenas torcia que o príncipe tentasse a defender pelo menos dessa vez, e que mentisse por ela.
Uma vez, apenas.
— Onde está Aemond, neste momento? — Otto perguntou, seu tom mudando repentinamente. — Vá buscá-lo. Preciso que ele testemunhe. — disse a mão do rei, fazendo uma breve indicação para um dos guardas da porta.
Alicent e Otto suspiraram, percebendo que haviam chegado a um impasse em suas acusações. Daemon olhou para Rhaenys, um pouco impressionado com sua jogada inteligente.
— Bem jogado. — ele comentou.
Rhaenyra continuou a ficar na frente de Rhaenys, esforçando-se para protegê-la e tentando não colocá-la em mais problemas.
Na verdade, Aemond não estava muito longe da pequena câmara do conselho, pois estava observando de um esconderijo por curiosidade.
Quando descobriu o que estava acontecendo, decidiu ir até seu próprio quarto com agilidade. Ele estava do lado de fora das portas quando o guarda o alcançou, puxando-o para o lado. O guarda se aproximou de Aemond, e Aemond parecia irritado por ter sido encontrado.
Ele também tinha uma expressão presunçosa no rosto, pois sabia para que precisavam dele.
— Príncipe Aemond. Eles pedem que você se dirija à sala do pequeno conselho imediatamente. Você é necessário para um interrogatório. — disse o guarda a Aemond.
— Está bem. Vou ver o que eles precisam de mim. — respondeu ele, parecendo irritado.
Aemond se dirigiu à pequena sala do conselho, parecendo não se incomodar, embora se sentisse bastante nervoso por dentro. Ele tentou esconder sua ansiedade, mas não foi tão fácil como ele imaginou que seria.
Ele passou pelas portas, com o rosto estoico, enquanto olhava para o grupo na sala. Ele acenou com a cabeça para a mãe, e malmente olhou para o outro lado da sala onde Rhaenys estava sentada.
Precisava manter as aparências.
— O que todos querem? — ele finalmente perguntou.
— Sente-se, Aemond. — a mão do rei sibilou do outro lado da mesa. — E, por favor, fale a verdade. Qualquer coisa menos que isso não será tolerada.
Aemond piscou o olho diversas vezes com um alto suspirando saindo de seus lábios, mas decidiu não dizer nada e, em vez disso, sentou-se à mesa.
— Ótimo. — disse Alicent, parecendo relaxar na presença do fllho. — Agora, sua presença foi solicitada devido a um evento específico no casamento. Larys Strong foi assassinado e sua sobrinha Rhaenys está sendo acusada disso. — Alicent olhou para Rhaenys, que tentava manter a calma. — Foi alegado que você estava com Rhaenys durante todo o evento. Isso é verdade, filho?
Rhaenys girou a cabeça para a direção de Aemond, olhando para ele com as sobrancelhas juntas e os dedos tamborilando na borda da grande mesa. Sua respiração estava pesada e acelerada, olhos fixos no príncipe e fiel amante.
Enquanto olhava para Aemond, ela esperava que ele mentisse por ela. Só dessa vez, pois ela sabia que o príncipe sabia que ela havia assassinado Larys Strong.
Ele havia visto.
Aemond tinha duas opções. Ele poderia mentir para Rhaenys ou ficar com sua mãe.
Ele decidiu optar pela primeira opção, enquanto olhava para frente, para Rhaenys e Rhaenyra. Aemond tentou manter a voz calma, mas tinha quase certeza de que Rhaenys sabia que ele havia testemunhado a ação dela. Alicent não iria lhe dar uma saída e, por isso, Aemond decidiu ajudar Rhaenys com sua situação.
— Sim. Rhaenys estava comigo o tempo todo enquanto a confusão estava acontecendo. — ele mentiu, — Ela não poderia ter assassinado o Lorde Strong. Rhaenys ficou agarrada em mim depois que foi machucada no nariz, e depois disso eu a entreguei para Rhaenyra.
Rhaenys soltou a respiração que estava segurando nos últimos segundos até Aemond falar, o olhar da princesa suavizou quando o príncipe mentiu por ela. Mas, mesmo se forçando, Rhaenys não foi capaz de esconder a surpresa que ela sentiu quando ele realmente mentiu, seu coração estava palpitando no peito.
Aemond permaneceu sentado, com o olho fixo em Rhaenys, sem demonstrar um único lampejo de emoção em seu rosto. Otto sabia que Aemond não estava dizendo a verdade, mas decidiu deixar o assunto de lado por enquanto.
Alicent não pôde deixar de olhar para ele em choque, ela estreitou os olhos para Aemond, mas não podia mais insistir no assunto, pois eles não tinham nenhuma prova.
Um leve silêncio encheu a sala, com Rhaenys olhando para Otto e Alicent em silêncio.
Rhaenyra e Daemon seguravam a mão da princesa.
— Então, acredito que minha inocência está provada. — disse a princesa, levantando-se lentamente da cadeira com um suspiro alto, as mãos apoiadas em cada lado do corpo. — Minha Majestade, talvez da próxima vez seja mais sensato se você tiver uma linha de acusação com significado, provas e testemunhas.
A Hightower continuou a olhar para os três Targaryens em silêncio, com um suspiro também escapando de seus lábios. Ela se sentiu envergonhada, pois tinha certeza de que Rhaenys sabia algo sobre Larys Strong e ela. A ruiva assentiu com a cabeça, mantendo uma expressão cansada no rosto.
— É claro, princesa. Obrigada por sua... dica. — a rainha acenou, levantando-se da cadeira na ponta da mesa logo em seguida, acompanhada pelo resto do grupo. — Agora, seria melhor se todos nós nos retirássemos para se arrumar para o torneio que ocorrerá esta tarde em homenagem ao casamento de Lucerys e Rhaena.
Um assento coletivo foi oferecido e, pouco a pouco, todos deixaram a pequena sala do conselho.
[...]
A princesa estava se preparando para o torneio em frente ao seu espelho de corpo inteiro. Ela escolheu um belo vestido vermelho com detalhes dourados e perolados na gola, acentuando suas curvas com perfeição, e combinou-o com um colar de ouro e rubi.
O colar de lua estava acompanhando, como sempre.
Seu cabelo loiro platinado foi escovado e colocado sobre os ombros em um penteado sofisticado, adornado com delicados grampos de ouro. Com um sorriso nos lábios, ela se observou com prazer, sabendo que seria o assunto do torneio.
O sol entrava pelas janelas altas, trazendo seu calor enquanto ela se olhava no espelho e sorria para si mesma. Pronta para assistir ao torneio, ela deu uma última olhada no espelho enquanto sua serva dava os últimos retoques.
A princesa dispensou sua serva com grande agradecimento e pagou-lhe moedas douradas extra. Rhaenys suspirou baixinho enquanto marchava em rumo à saída secreta de seu quarto. Seus passos ecoavam pelo quarto por causa dos saltos que ela usava, e o farfalhar da vestimenta dela seguiu logo atrás.
Seguindo pela trilha que já estava mais do que acostumada, a princesa entrou em uma rápida, porém cuidadosa caminhada em direção ao aposento do príncipe Aemond. Alguns assuntos em aberto ainda persistiam entre eles, e ela desconhecia quando teria a chance de encontrar o príncipe solitário para dialogar.
Quando finalmente chegou à porta secreta dos aposentos do Príncipe Aemond, ela fez uma pausa. Ela parou um momento para respirar e se recompor, depois estendeu a mão e bateu com força uma vez. O som era alto dentro de sua cabeça, mas através da porta era quase inaudível.
Depois de esperar alguns instantes, ela ouviu um farfalhar por trás e uma voz baixa respondeu.
— Entre. — disse o príncipe, sabendo que apenas uma pessoa usava essa entrada para chegar ao quarto dele.
Respirando fundo, a princesa entrou no quarto. Seu coração batia forte nos ouvidos quando ela deu uma olhada em Aemond. Ele estava sentado em sua mesa, quieto e solene como sempre.
O cômodo estava escuro com as cortinas fechadas, embora a luz do sol fosse filtrada e iluminasse as áreas principais.
O cabelo platinado de Aemond estava solto, não preso em um meio, caindo sobre seus ombros como uma grande cascata de prata derretida. Rhaenys não estava acostumada a vê-lo com esse penteado, mas ele ainda parecia bonito.
Rhaenys caminhou vagarosamente em direção a Aemond, então ficou ao lado dele com um meio sorriso nos lábios. Observando mais perto, ela notou que Aemond parecia se arrumar para participar do torneio, o que a deixou levemente surpresa.
— Achei que havia dito que não dava a mínima para torneios. — comentou ela com uma pequena risada, mexendo com as pontas dos dedos no couro cabeludo dele.
Enquanto os dedos dela passavam pelos cabelos dele, bagunçando-os bem, ele não pôde deixar de relaxar e aproveitar a sensação.
— Você está certa, mas existe algumas excessões. Com tantos nobres vindo aqui para o torneio, eu tinha que aparecer ao menos um pouco. — ele disse baixo e levantou o olhar para a sobrinha, tomando conta do estilo dela.
A voz dele era baixa, suave e melódica para os ouvidos dela, mesmo que as palavras dele não fossem exatamente agradáveis.
— É mesmo? — ela disse em uma forma descontraída, com outra risada saindo de seus lábios.
Aemond por outro lado, jamais admitiria que estava participando do torneio apenas porque soube que Cregan Stark estaria participando também.
— Você está maravilhosa, Rhaenys. — ele fez uma pausa e deu uma risada. — Embora, normalmente, você esteja mesmo sem tentar.
— Bem... — ela olhou para si mesma, com o vestido balançando levemente conforme ela se movia. O sol das janelas iluminava o padrão vermelho com dourado, fazendo-o brilhar. Ela riu baixinho e mudou de posição, de modo que eles estavam sentados juntos na enorme e confortável cama. — Sempre tento o meu melhor.
Um silêncio confortável prevaleceu entre os dois valirianos antes de Rhaenys decidir puxar o assunto mais uma vez.
— Eu sei que viu o que eu fiz, Aemond. — ela disse baixo e levantou o queixo para olhar o príncipe novamente, seu olhar era quase como se estivesse silenciosamente agradecendo a ele. — Significou muito que você tenha mentido por mim, embora eu não veja quais as razões você teria para fazer.
Aemond a estudou por um momento. Sua expressão, seu tom. Ele sabia exatamente do que ela estava falando, mas a apreciação dela por sua mentira foi inesperada.
— Você está errada, Rhaenys. Eu não menti porque tinha algum motivo para querer protegê-la, ou algo assim. Eu menti por você porque... — ele fez uma pausa e continuou. — A verdade é que... eu não sei por que fiz isso. — ele suspirou e ficou olhando para ela por mais um momento. Ele soltou um longo suspiro e se inclinou ligeiramente para trás, ainda de frente para ela, mas em um leve ângulo.
Rhaenys apenas concordou com a cabeça dela, dando outro pequeno sorriso para Aemond. A princesa segurou na mão dele e deu um leve aperto antes de se levantar da cama com cuidado, olhando ao redor do tão conhecido quarto. Seus olhos pousam em um pequeno adorno dourado que estava deixado em uma das cômodas.
A princesa pega o pequeno adorno em mãos e observa de perto, logo em seguida virando a cabeça para olhar Aemond mais uma vez. Havia um sorriso quase travesso em seus lábios carmesim, suas covinhas das bochechas eram bem visíveis.
Rhaenys apenas assentiu, oferecendo outro pequeno sorriso a Aemond. A princesa segurou a mão dele e apertou-a fracamente antes de sair cuidadosamente da cama e observar ao redor do quarto familiar. Seu olhar caiu sobre a pequena joia de ouro, que foi posicionado em uma das cômodas.
A princesa pegou o pequeno enfeite nas mãos e olhou para ele com atenção, logo ele em seguida virando o pescoço para olhar para Aemond novamente. Havia um sorriso quase travesso em seus lábios rosados, as covinhas em suas bochechas eram evidentemente visíveis a essa altura.
— Eu poderia fazer uma trança em seu cabelo? — Rhaenys perguntou cuidadosamente, esticando a mão dela na direção do príncipe. — Ficaria bonito para o torneio.
"Posso fazer uma trança?" disse Rhaenys, quando ainda era mais nova.
— Não, eu não gosto de tranças. — respondeu ele com as mãos cruzadas na frente do corpo e uma sobrancelha erguida.
"Eu não gosto de tranças." disse Aemond quando era criança, enquanto conversava com Rhaenys.
— É por isso que meu cabelo é melhor, minhas tranças deixam ele mais bonito. — a princesa disse com outra risada, mexendo os ombros para cima e para baixo.
"Por isso meu cabelo é bem melhor, as tranças enfeitam ele!" respondeu Rhaenys, quando era criança.
O príncipe soltou uma risada baixa, olhando sua sobrinha de cima a baixo como se estivesse se lembrando da mesma coisa que Rhaenys. Aemond cruzou os braços e soltou um suspiro baixo, acenando positivamente para a princesa.
Quando ela chegou perto o suficiente, o príncipe a puxou pelos quadris e seu olho ficou na altura do estômago dela. Ele deixou um simples beijo por cima do tecido do vestido, e um sorriso acabou aparecendo em seu rosto.
— Faça a trança, mas não demore. — ele disse, dando um leve tapa na lateral da coxa dela.
A princesa sorriu e sentou-se atrás de Aemond. O colchão afundou quando ela se acomodou e cruzou as pernas. Rhaenys encostou suavemente nos fios prateados do príncipe, dividindo-os similarmente em três partes, começando a entrelaçá-los.
Aemond inclinou a cabeça para trás e suspirou satisfeito. Sentindo o trabalho dos dedos hábeis de Rhaenys, ele ficou hipnotizado. Sua respiração ficou superficial enquanto ela traçava os dedos para cima e para baixo no comprimento de cada mecha, dividindo e entrelaçando cuidadosamente o cabelo.
Um sorriso surgiu em seus lábios enquanto ela trabalhava. Uma sensação de calor e segurança floresceu em seu peito e ele virou a cabeça na direção dela, esperando captar seu olhar.
— Fique parado, dessa forma você vai estragar o penteado. — a princesa disse com um tapa no ombro de Aemond, colocando-o no posicionamento certo novamente.
O calor dos dedos dela roçando em seu couro cabeludo era uma sensação familiar e agradável, e ele mal podia esperar para ver a bela trança que ela criaria. Enquanto ela continuava a trançar, ele inclinou a cabeça de um lado para o outro, dando-lhe liberdade para fazer o que quisesse com o cabelo dele.
Rhaenys continuou a trançar o cabelo do príncipe, lenta e cuidadosamente. Ela tomou cuidado para não puxar com muita força, e se viu olhando para o rosto dele enquanto trabalhava, e seus dedos roçaram em sua bochecha.
Com a última curva do trançado feito, a princesa fechou a ponta da trança com o mesmo pequeno adorno dourado que havia visto antes.
— Pronto, está feito. — disse ela. Alguns dos fios da frente acabaram ficando soltos, mas davam um charme a mais. — Está lindo, Aemond.
O príncipe olhou para o próprio cabelo, e o pequeno enfeite dourado brilhava à luz do sol. Ele olhou de volta para Rhaenys, e seus olhos se encontraram.
Ele sorriu para ela e estendeu a mão para puxar gentilmente a trança. Aemond se levantou e se aproximou de Rhaenys, seus rostos estavam a centímetros de distância.
— Venha cá. — disse ele em uma voz profunda e baixa. Aemond roçou a bochecha dela com as costas da mão e, em seguida, acariciou a bochecha dela com a palma quente. — Não minta para mim, por favor.
Rhaenys sentiu sua frequência cardíaca aumentar quando o rosto dele pairou bem na frente do dela.
Com o olho ainda fixo, o príncipe se inclinou para beijá-la.
A princesa desviou o beijo de Aemond com sua risada travessa ecoando pelo quarto, a ponta de seus lábios se curvando para cima em um grande sorriso. O príncipe por sua vez, acompanhou a risada e se levantou para conseguir alcançar a sobrinha, a puxando pelo quadril, mantendo perto.
Rhaenys descansou ambas mãos nos ombros dele, suas bochechas corando em observar ele tão de perto. Aemond raramente sorria dessa forma, porém as poucas vezes que a princesa viu ele fazendo tal ato, traziam uma certa palpitação no coração.
— Mentir? Eu não estou mentindo. — ela comentou com uma careta. — Você está lindo, não há motivos para que eu minta.
Aemond franziu a testa e revirou o olho, erguendo o indicador para apontar no acessório do rosto.
— O tapa olho está aqui por uma razão, a falta de uma parte do corpo pode ser muito... ruim. — ele comentou baixo. O príncipe nunca negou a insegurança que tinha consigo mesmo, mas também nunca falou do assunto em voz alta ou com qualquer outra pessoa.
A Velaryon pendurou a cabeça para o lado, seus lábios se formando em um tipo de bico franzido. Devagar, Rhaenys tocou a parte de trás do tapa olho e removeu as amarras que prendiam o acessório, tirando-o com cuidado. Uma vez removido, Rhaenys observou o olho de safira polido e brilhante, que refletia a própria imagem dela.
Hipnotizante.
— Eu não acho que a safira estrague seu rosto, pelo contrário... acho que adiciona mais para a sua beleza valiriana. A cor azul misturado com a sua palidez faz um contraste quase único, e brilhante. — disse ela, quase sussurrando enquanto aproximava os lábios do rosto de Aemond. Ela abaixou um pouco a cabeça do príncipe e depositou um beijo exatamente na pedra precioso. — Gevie.
Gevie, Bonito.
Mais um minuto de silêncio se alastrou pelo quarto do príncipe enquanto eles se mantiveram em uma espécie de abraço, apenas olhando um para o outro como se estivessem analisando a beleza de cada um. Mas, eventualmente Rhaenys se afastou do príncipe com uma risada sem graça e limpando a garganta, seus calcanhares girando na direção contrária do príncipe.
— Onde está indo? Embora? Sem me entregar um beijo? — disse Aemond, com uma risada baixa.
Rhaenys se virou para olhar Aemond novamente e, apesar de eles ainda terem assuntos inacabados para conversar, a princesa já tinha ficado muito tempo mo quarto do príncipe e precisava estar no torneio para assistir.
— Boa sorte no torneio, meu príncipe. — a sobrinha fez uma leve reverência com sobrancelhas erguidas. — Caso ganhe, talvez eu consiga vir lhe visitar mais tarde.
Uma piscadela foi enviada para o homem, que tentou alcançar a princesa com passos largos antes que ela fosse embora, porém ela foi mais rápida.
Aemond colocou as mãos ao lado do corpo e deixou a trança cair sobre o ombro esquerdo, observando a porta que a princesa havia desaparecido. O príncipe estalou a língua na bochecha e assentiu para si mesmo um largo sorriso embelezando sua expressão que era sempre tão taciturna.
O príncipe respirou fundo e arrumou seu comportamento mais uma vez, recolocando o tapa olho para esconder o olho de safira e uma parte da cicatriz, assim seu machucado não assustaria as pessoas da corte.
Por ser príncipe da Casa Targaryen, ele seria o segundo a participar do torneio e tinha direito de escolher seu adversário.
E o Targaryen sabia exatamente quem ele escolheria.
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