074

— Então... como é esse lugar? — ele pergunta ao irmão mais velho.

Aegon leva um momento para considerar a pergunta, mexendo os ombros de forma indiferente quanto a pergunta de Daeron.

— Bem, é uma espécie de colmeia de escória e vilania, na verdade. Mas ainda é o melhor lugar que conheço para vinho barato e prostitutas.. — sua resposta tem um tom prático, como se Daeron não devesse se surpreender com a resposta.

Rhaenys, que estava logo atrás caminhando, revira os olhos dela pelo jeito de Aegon em falar do local. Não havia nada de divertido lá embaixo além de sujeira e desgraças.

As ruas como sempre, não haviam mudado absolutamente nada; ainda era sujas, ainda eram fedorentas, ainda eram cheios de jogos atrevidos e enrascadas perigosas.

— Esqueceu de comentar que esse lugar também é perigoso, cheio de maldade e malícia em um mal sentido. — disse ela, prendendo ainda mais o capuz da capa nos platinados dela.

Aegon dá de ombros com um sorriso malicioso.

— Um pouco de perigo nunca fez mal a ninguém. E nós dois sabemos como nos defender, não é mesmo? — o homem príncipe parece ter prazer em zombar da sobrinha, embora suas palavras sejam verdadeiras. No entanto, sua expressão muda para uma de falsa preocupação. — Não seja tão preocupada. Você sabe que nós a protegeremos muito bem. — ele ri, gesticulando para que Rhaenys se junte a ele enquanto começa a andar para frente.

Rhaenys por outro lado, se mantém do lado de Daeron e lança um olhar apreensivo para Aegon, soltando um suspiro de incômodo e irritação.

Algo que ela fazia constantemente quando o tio mais velho estava por perto.

— Como se você pudesse me proteger. — ela resmungou ao afinetar o tio com as palavras. — Você não sabe cuidar de si mesmo, nem seus filhos... quem dirá de mim. — respondeu, seu tom levemente sarcástico.

Aegon preenche o beco com uma risada divertida, olhando por cima do ombro e diminuindo o passo para poder caminhar ao lado de Rhaenys, pelo menos por um momento.

— Oh, por favor! Eu cuido dos meus filhos e de mim mesmo, muito obrigado. — ele gesticulou para que seu irmão mais novo o seguisse enquanto seguia os passos de um homem idoso que carregava algumas mercadorias nas costas. Uma multidão se forma atrás do velho comerciante, mas o príncipe simplesmente passa por ela como se não fosse nada. — Posso mantê-la segura se for preciso. Daeron está sempre ao meu lado, então o único fardo para mim é você, e você não é um fardo interessante.

Rhaenys se sente levemente ofendida pelas palavras dele, então empurra Daeron para o lado e segue na direção de Aegon. A princesa olha para ele por um tempo, e depois deixa um soco no braço do tio como forma de mostrar a frustação dela.

— Você cuida deles? Quando?

Aegon olha para ela com um olhar divertido enquanto Rhaenys dá um soco no braço dele. A pele dele fica levemente vermelha no local onde o punho dela se encaixa, mas tudo o que ele faz é sorrir.

— Olhe para você! Nunca a vi tão brava antes, Rhaenys. — ele ri, gesticulando para que ela o siga enquanto ele caminha atrás do velho comerciante mais uma vez, dessa vez com uma rota menos direta para o destino deles.

— Para onde estamos indo, afinal? —  perguntou Rhaenys, ignorando os julgamentos e provocações de Aegon. Então, a princesa se voltou para Daeron e o encarou por alguns segundos. — E você? Por que, pelo mal dos sete infernos, concordou em vir?

— Estamos indo a uma certa... loja. — a resposta de Aegon é mais casual enquanto eles continuam a caminhar, Daeron ao lado de Rhaenys. — Precisamos de algo lá.

Daeron fica em silêncio por um momento enquanto Rhaenys fala com ele. Ele olha para ela e depois para trás, e sua expressão se torna divertida.

— Por que você acha? Vai ser divertido. — os olhos de Daeron permanecem fixos em Rhaenys e, apesar da breve distração pela beleza dela, sua expressão neutra enquanto ele responde à pergunta. — É divertido ir às vezes e se meter em problemas. E eu sei que meu irmão mais velho sempre pode cuidar de tudo.

Eles continuam indo na direção de uma velha taberna de madeira.

— Estamos falando sobre o mesmo Aegon? — ela resmunga com os olhos estreitos e uma expressão incomodada no rosto, seus braços cruzados na frente do corpo. A capa que ela sempre usava cobria boa parte de seu corpo e mantinha a adaga da cintura em segurança, o capuz escondendo seus belos platinados.

Mas Aegon parecia não se importar em esconder, pois não havia razão alguma para isso. Porém Daeron, sendo mais cuidadosa como sempre foi, usava um capuz para esconder os prateados também.

Eles chegam a um determinado beco enquanto seguem o velho comerciante, seu progresso é retardado à medida que ele ocupa todo o caminho e força as outras pessoas nas proximidades a saírem do caminho.

— É por isso. — Aegon responde com outro sorriso, agora passando pela multidão atrás do comerciante e apontando para o outro lado da rua, para um certo prédio com uma placa do lado de fora.  — Esse é o nosso destino. Uma Casa de Especiarias e Vinhos! — ele diz com entusiasmo enquanto entra e faz um gesto para que Rhaenys e Daeron o sigam.

Ele passa pela porta, segurando-a aberta para eles.

Por um lado, Rhaenys realmente precisava entrar na casa para encontrar o que precisava, mas também não podia deixar os dois meninos descobrirem. E, por outro lado, ela logicamente não confiava no vinho e Aegon compartilhando o mesmo estabelecimento e sistema.

Enquanto Rhaenys estava com os pés fixados no chão, travando uma batalha interna consigo mesmo, Daeron já havia seguido em frente e estava entrando na casa. O príncipe mais novo parou ao lado do irmão e então ambos manteram seus olhos encarando a princesa, esperando a decisão dela.

— Isso é uma péssima idéia... — ela disse consigo mesmo, mordendo o lábio inferior.

Aegon levanta uma sobrancelha ao ouvir as palavras de Rhaenys enquanto espera para entrar na loja. Daeron, por sua vez, faz um gesto para a sobrinha.

— Vamos lá. É apenas uma casa de especiarias e vinhos, não é um bordel. — ele parece estar mais do que feliz por estar ali. — Vamos, Rhaenys. — Aegon diz com um tom mais irritado, claramente não vendo qual é o grande problema.

Rhaenys, apesar de hesitante, respira fundo enquanto murmura uma maldição em alto valiriano para Aegon e, lentamente, entra na casa de especiarias.

Aegon ergue uma sobrancelha diante do insulto de Rhaenys, mas ignora o fato e entra atrás dela, com Daeron logo em seguida. Depois que a porta se abre e eles entram, o príncipe para por um momento, olhando para cima, para baixo e ao seu redor. A Casa das Especiarias e do Vinho está repleta de especiarias, ervas, vinho e todos os tipos de outros produtos.

Enquanto Aegon guia Daeron e Rhaenys para dentro da loja, uma jovem mulher o vê e se curva na frente do grupo.

— Olá, Príncipe Aegon. _ ela diz com um sorriso que Rhaenys podia jurar ser sedutor demais. Aegon acena com a cabeça para ela antes de continuar a andar. — Eu estava olhando para esse novo carregamento de especiarias que acabamos de receber... Estou curioso para saber o que traz vocês três aqui hoje? — pergunta a comerciante do local.

Aegon se vira para olhá-la novamente, com a boca ligeiramente aberta enquanto examina as mercadorias.

— Na verdade, bem... — ele faz uma pausa por um momento, olhando para os outros dois. — Estamos procurando por essa... certa especiaria. ele diz para a mulher, que sorri curiosamente para ele.

— Acho que talvez eu saiba... de que tipo? — a mulher pergunta.

— Aquele que é usado para... temperar uma refeição, vamos dizer assim. — Aegon diz com um dos seus sorrisos maliciosos.

Rhaenys parece revirar os olhos atrás dele. Daeron olha para seu irmão com uma expressão confusa e ligeiramente preocupada.

— Hum, Aegon? — ele sussurra, com os olhos focados em Rhaenys e na expressão facial dela. Aegon, no entanto, parece completamente alheio a isso, pois acena para a comerciante novamente.

A jovem comerciante sorri amplamente para ele.

— Oh, você quer dizer aquela que eles chamam de canela? — diz ela, com o tom carregado de sarcasmo.

— É por essa que estamos aqui. — responde Aegon.

Rhaenys parecia se sentir cada vez mais incomodada a medida que oa minutos da vida dela eram desperdiçadas dentro dessa casa, a qual ela não sentia quase nenhum interesse. Daeron ri com o que o irmão diz, achando icônico.

— Canela, mesmo? — ele pergunta em tom de zombaria. A comerciante sorri e acena com a cabeça antes de voltar para sua prateleira e pegar um pote de especiarias.

— Um tempero para um jovem príncipe. — ela diz, caminhando até um balcão antes de entregar o frasco a Aegon. — São três moedas de ouro.

Daeron solta um leve risinho mais uma vez, o que lhe rende uma bronca do irmão mais velho.

Um momento de silêncio constrangedor passa quando Aegon pega sua bolsa de moedas de ouro e entrega três moedas ao comerciante.

A jovem acenou com a cabeça para o pagamento e sorriu para Aegon. Era um sorriso bastante óbvio, no qual o jovem príncipe sabia o que ela queria dizer. Seus olhos se voltam para Daeron, que estava com a cabeça inclinada para cima e os braços cruzados na frente do peito.

— Vamos dar uma olhada nos vinhos! — diz o príncipe, desviando o olhar da lojista para a sobrinha, que parece estar bastante irritada com toda a conversa, já que se afastou deles e parece estar esperando que eles saiam.

Daeron e Aegon caminham até a área onde os vários vinhos estavam sendo guardados, seus olhos examinam os rótulos e suas bocas franzem enquanto analisam.

— Este parece bom. — diz o príncipe mais novo, depois de um momento olhando para as garrafas.

— Mm, está tudo bem. — Aegon resmunga, discordando da opinião do irmão. — Já bebi esse vinho antes e não é a melhor das safras. Você deveria experimentar este.

Ele aponta para uma determinada garrafa, que chama a atenção de Daeron.

— Está bem. Vou acreditar em sua palavra dessa vez.

Enquanto os dois garotos estavam distraídos nos vinhos baratos e outras coisas, a princesa cuidadosamente começou a andar ao redor do local, observando a pequena vitrine expondo diversas especiarias que vinham de diferentes lugares de Westeros, alguns até mesmo de Essos.

Rhaenys se abaixou um pouco para olhar a sessão dos afrodisíacos, percorrendo os olhos pelas diferentes categorias. Sua curiosidade estava aguçada novamente, então a princesa se ergueu de forma ereta e andou novamente pela casa em busca da comerciante que havia acabado de atender eles.

Assim que avistou a jovem moça, ela tocou em seu ombro de forma delicada e gentil, chamando sua atenção.

A moça se virou.

— Olá, minha lady. Em que eu poderia ajudar dessa vez? — disse ela, focando toda a sua atenção em Rhaenys.

— O quanto é a variedade de vocês? Você vendem apenas especiarias comestíveis ou.. perigosas também? — perguntou ela, cautelosa para não deixar informação extra escapar da língua.

A mulher olhou ao redor delas, e então se aproximou de Rhaenys como se estivesse prestes a contar um segredo.

— Temos as especiarias perigosas, mas essas são vendidas separadamente, dentro do armazenamento. — explicou, sussurrando baixo. — Gostaria de vê-los?

Rhaenys descruzou os braços, sentindo a pulsação acelerar em ansiedade e nervosismo. Ela passou severos minutos apenas encarando a mulher em completo silêncio, enquanto decidia se deveria ou não deveria ir. Por fim, a princesa decidiu que iria ao assentir com a cabeça e esperar para que a mulher seguisse caminho.

O caminho até o armazenamento era barulhento e apertado, recheado de pessoas comprando ou se divertindo com os vinhos. A luz era pouca, apenas um mínimo de velas estavam pregadas na parede para que não fosse um escuro total dentro do armazenamento da casa. A mulher guiou Rhaenys por muitos corredores e esquinas até finalmente chegarem em uma grande mesa, com separações em vidro e fitas com escritas de tinta preta.

— O que você estaria procurando?

Ela olhou de perto, tinha uma boa variedade.

— Um veneno, vocês teriam? — a princesa perguntou devagar e baixo, sempre olhando para os cantos para ter certeza de que ninguém estava espiando.

— Depende o tipo de veneno.

— Acônito.

A comerciante pareceu pensar por um tempo, e então se inclinou para procurar em uma das separações pelo pó de envenenamento. Por conta da pouca iluminação do local, a mulher demorou um tempo para achar, mas quando achou abriu a tampa de vidro e examinou a especiaria veneno de perto. Assim que confirmado, ela pegou um pequeno saquinho com cordas e com uma colar, encheu do pó nesse mesmo saquinho preto.

Quando estava na metade, ela parou e fez um nó de laço no saquinho, entregando na mão de Rhaenys.

— Tome cuidado, se você tiver contato direto na pele, corre o perigo de ter problemas de saúde. Ao diluir esse pó com algum líquido, a pessoa perderá os movimentos do corpo e em pouco tempo cairá morta no chão. — contou a mulher, que parecia ser uma pessoa jovem demais e simpática demais. — Ficará cinco moedas de ouro.

Rhaenys assentiu para tudo que ela contou, e então pegou do bolso da capa, as cinco moedas de ouro que ela havia pedido. Ao se despediram, compartilharam sorrisos uma para a outra e ela escondeu o saquinho dentro da capa.

Logo a princesa fez seu caminho de volta para os dois Targaryen, apenas torcendo que eles não tivessem dado conta de seu temporário sumiço.

Aegon e Daeron pegam duas garrafas e vão até o lojista mais uma vez.

— Boa escolha. — Aegon diz enquanto Daeron pega o vinho e os dois rapazes se dirigem ao balcão. Rhaenys, por sua vez, parece que gostaria de desaparecer nesse momento, pois suspira levemente, e o sorriso do outro comerciante a irrita ainda mais.

Daeron parece estar mais concentrado na seleção de vinhos do que em qualquer outra coisa, enquanto Aegon está olhando para a moça do balcão.

— Gostaríamos de levar esses dois, por favor. — diz Aegon para a comerciante. A mulher acena com a cabeça e começa a colocar as jarras no balcão em frente a Aegon, que retira mais ouro para o pagamento.

O olhar da comerciante se volta imediatamente para Daeron, antes de olhar para trás e para frente entre os dois meninos.

— Mais alguma coisa, meu príncipe?

— Não, só esses dois. — diz enquanto olha para ela. Daeron balança a cabeça para confirmar a resposta do irmão, e Rhaenys se move para esperar na saída do local.

— Muito bem. Seu total é de cinco moedas de ouro. — a comerciante diz em resposta. Um momento de silêncio se passa antes que Aegon entregue o dinheiro, e o comerciante lhe faz um pequeno aceno de cabeça.

— Obrigado por seu serviço hoje. — ele diz as palavras como um hábito, mas seu olhar parece se fixar na mulher à sua frente. Uma piscadela é enviada a ela antes de deixar o balcão.

Daeron e Aegon acenam com a cabeça enquanto ele se afasta para sair da loja. Daeron abre uma das garrafas de vinho, enquanto os irmãos voltam para a rua lado a lado com Rhaenys, Daeron bebe diretamente da garrafa que está carregando em mãos.

O príncipe olha para o irmão mais novo antes de voltar sua atenção para a frente novamente, com uma risada orgulhosa escapando os lábios semi bêbados.

Rhaenys faz uma careta ao ver os dois beberem o vinho, revirando os olhos talvez pela décima vez em um curto espaço de tempo. Ela cruza os braços enquanto caminhavam pelas ruas sujas do bairro pobre, murmurando baixinho para si mesma.

— Certo, é apenas isso? Podemos voltar agora? Isso foi uma perda total de meu precioso tempo. — ela reclama, virando-se para olhar os dois irmãos.

Novamente, outra careta toma conta de seu rosto quando ela vê Aegon e Daeron colocando pitadas de canela em uma das garrafas de vinho e misturando-a antes de oferecer a ela para beber também.

— Oh, se acalme, Rhaenys. Beba e relaxe. — Aegon diz com um sorriso divertido, que se transforma em uma risada quando ele oferece a garrafa à sobrinha. — É apenas vinho, Rhaenys. Não seja tão puritana. Você provavelmente gostou daquela loja, não gostou? Vamos, só um gole, isso não vai matá-la! — provocou Aegon, com um leve empurrão na garrafa.

Ela virou a cabeça para olhar o vinho mais uma vez e suspirou baixinho. Rhaenys se aproximou e pegou a garrafa de Aegon, tomando um longo gole direto do bico, assim como Daeron fez.

A canela deu ao vinho um sabor extra, e ela limpou o canto da boca depois de beber, usando a palma da mão. Por alguma razão, o vinho parecia ser mais forte do que o normal, mas tinha um sabor extremamente bom.

Rhaenys sentiu vontade de beber mais.

— Pronto, não foi agradável? — Aegon diz com um sorriso divertido enquanto observa a expressão levemente emburrada da princesa.

Com a canela, o vinho fica levemente picante e é quase como se a canela aumentasse os efeitos do álcool. Daeron já terminou metade de seu vinho e continua oferecendo a garrafa a Rhaenys, com um tom de zombaria.

— Beba, Rhaenys, só mais um gole.

Rhaenys tomou outro grande gole da garrafa, parecendo agora estar um pouco mais afetada. Daeron parece estar rindo de seu estado, o que parece chamar a atenção de um pequeno grupo de crianças na rua próxima.

— Me dê um pouco! — grita um dos garotos mais jovens para Daeron com a mão estendida, esperando que o Príncipe lhe dê um pouco de vinho.

Com um sorriso, Daeron oferece um pouco de vinho na mão do garoto, para seu deleite, enquanto o resto das crianças começa a cochichar entre si.

— Daeron! O que você pensa que está fazendo? — Rhaenys diz, mudando totalmente a expressão dela ao tomar a garrafa de vinho da mão da criança e afastar. — São crianças, elas não devem tomar vinho!

— Oh, vamos lá, Rhaenys. — Daeron diz, rindo enquanto pega a garrafa de vinho de Rhaenys. — É apenas vinho, Rhaenys. Não vai machucá-los. — diz ele, claramente começando a ficar embriagado, fazendo um gesto para que as crianças voltem.

As crianças pequenas começam a se aproximar lentamente dos três, de forma um tanto tímida. Uma delas parece se aproximar lentamente de Rhaenys, com as bochechas ligeiramente vermelhas.

— Queremos mais um gole, por favor, Príncipe Daeron. Só mais um gole...

Rhaenys negativamente mexe a cabeça dela, não aceitando que isso fosse feito. A criança em si, parecia ser Lysana com traços de cabelo loiro platinado e olhos azuis bem claros. Mas, Rhaenys podia jurar que essa criança era parecida com outra pessoa, a qual ela não conseguia lembrar no momento.

— Onde iremos agora, Aegon? — perguntou Rhaenys, desviando o assunto para espantar as crianças. Antes do grupo ir embora, Rhaenys deu a bolsa de moedas de ouro para eles, com um pequeno sorriso.

As crianças saem com seu pequeno presente, e Daeron ri novamente do que acabou de acontecer.

— Vamos, Rhaenys, estamos indo para a Rua da Seda visitar um amigo nosso. — disse ele, acenando para Aegon. — E obrigado por pagar a eles, se eles não recebessem dinheiro, provavelmente teriam ficado e continuado a nos incomodar. — comentou Aegon com sua risada embriagada de sempre. — Sua generosidade pode lhe causar problemas um dia desses. Você levará o reino à falência se continuar presenteando todos os camponeses que encontrar.

A princesa respira fundo mais uma vez e caminha em passos largos para alcançar o tio e poder falar com ele, um pressentimento errado surgindo no peito de Rhaenys. Quando ela conseguiu alcançar o homem, ela puxa a manga do gibão de couro dele, chamando sua atenção para ela.

— Rua da Seda? Péssima idéia, Aegon.

Aegon olha para Rhaenys, sua expressão mostra uma certa compreensão do perigo.

— Eu sei... mas não vamos ficar muito tempo. — ele responde, dando um tom tranquilizador  — Vamos apenas nos divertir um pouco!

Daeron apenas dá de ombros, tomando um gole de vinho enquanto o grupo de três continua caminhando para a Rua da Seda.

Enquanto andavam, Daeron puxa o braço de Aegon para chamar a atenção dele assim como a sobrinha fez. Os dois homens Targaryen param em frente a um estabelecimento, Daeron parece fazer algumas perguntas para o irmão de forma bêbada, apontando para diversas coisas enquanto o próprio dava risada consigo mesmo.

Rhaenys estava quase ao seu limite de paciência, durante o tempo em que os dois balbuciam como dois idiotas, a princesa se apoia em uma pilastra de um beco. Olhando ao redor, percebe quantas pensões, bordéis e outros tipos de estabelecimentos haviam nessa parte da Baixada das Pulgas, quase como se fosse a parte central.

Ou melhor, como se fosse uma parte a qual ela já visitou.

Uma grande placa roxa ao lado de um dos bordéis da rua foi o que mais chamou a atenção dela. A princesa franziu as sobrancelhas e se desencostou da parede que estava apoiada, cautelosamente seguindo na direção desse mesmo beco.

Uma brisa forte de vento bateu contra o corpo dela, parecia quase como se tivesse entrado direto na espinha dela. Porém Rhaenys continuou caminhando e, a medida que se aprofundava dentro do beco, mais a sensação de negatividade aflingia a princesa. Insitintivamente suas mãos foram para a adaga escondida dentro da capa, e seguiu caminho a frente.

Não demorou praticamente nada para ela pisar em algo no chão, algo consistente e que o cheiro era extremamente desagradável. Era cheiro de algo podre, em decomposição.

Apertando com firmeza a adaga, Rhaenys respirou o ar contaminado por algum tempo para tomar coragem e olhar para baixo. Rhaenys demorou, mas finalmente teve o suficiente para abaixar rosto.

Soltou um baixo arfo de surpresa e tampou a boca com a mão livre ao ver o corpo morto de Alys no chão, seu vestido daquela noite desgatado e sua pele pálida como neve, mesmo no escuro da noite. Enquanto Rhaenys continuava a pisar no chão, um cheiro repentino e fétido de decomposição encheu suas narinas. Era tão forte, tão repulsivo, que ela teve de cobrir o rosto com as mãos para se proteger.

O corpo estava com vermes, roupas rasgadas e ainda manchadas de sangue. Olhos abertos e sem vida, se cheiro era repugnante e insuportável.

Rhaenys analisou por um tempo, sentindo uma grande vontade de vomitar com o forte cheiro em conjunto com a cena do corpo.

Mas então ela percebeu que ninguém havia tirado o corpo da mulher desse beco, ninguém se importava.

A princesa sentiu algo encostar em seu pé e soltou um grito, se afastando do corpo morto e olhando rapidamente para baixo. Por um instante, ela achou que Alys havia tocado nela, mas não... foi apenas um rato passando para ir se alimentar da carne podre e do sangue que estava sendo drenado pelos animais, ou pessoas.

Quando ela se aproximou do corpo morto mais uma vez, ela encarou os olhos agora brancos da bruxa bastarda, olhos que a atormentaram por um tempo sem descanso.

A culpada pela morte de Harwin.

Uma mão fria tocou no ombro de Rhaenys e ela deu um pulo ao sentir, empurrando quem quer que fosse a pessoa tocando-a.

— Rhaenys. — Daeron chamou baixo, erguendo as mãos como se estivesse tentando mostrar que não era alguém perigoso e sim apenas ele. — Sou eu, Daeron.

O menino disse, e intercalou o olhar dele entre o corpo morto no chão e Rhaenys.

— Daeron. — ela respondeu em um sussurro, soltando um ar quente pelo nariz e se aproximando dele.

— Essa moça não teve tanta sorte. — ele comentou, fazendo uma careta de nojo ao observar o estado morto do corpo da mulher desconhecida. Daeron voltou a focar seu olhar para Rhaenys e ofereceu a mão dele para a sobrinha, com seu sorriso torto. — Vamos, Aegon está nos esperando para continuarmos indo.

A princesa assentiu devagar, sorrindo de volta. Ao caminharem o caminho inverso do beco, Rhaenys deu uma última olhada em Alys antes de virarem a esquina desse beco, e o cheiro sumiu quase que instantaneamente.

À medida que o grupo avança pela rua, o ambiente se torna cada vez mais hostil. Eles estão sendo parados por pessoas obscuras que tentam lhes vender vários serviços.

Eles veem mulheres da noite, moças e até rapazes passeando pela rua. Todas eles estão vestidas de forma provocante, todas elas estão vestidas de uma forma que acentua uma forma de sex appeal; todos eles estão praticamente pedindo que negócios sejam feitos para elas.

— Esta é a infame rua? — Daeron pergunta de forma um tanto quanto tímida, suas bochechas corando de repente como se ele pudesse ver a coisa toda pelo que ela é.

— Acredito que sim. — Aegon responde com severidade, mas sua expressão mostrando seu sorriso com toda a situação.

O local favorito dele.

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