059

Cregan estava com os cotovelos apoiados na cama e com as costas flexionadas enquanto olhava Rhaenys abotoar as roupas de montaria dela e ao mesmo tempo tentando arrumar o cabelo platinado que estava totalmente bagunçado após a sessão de sexo deles.

Ele mordeu o lábio quando viu aquela única mecha castanha aparecer entre os outros platinados. Cregan achava um charme essa característica da Targaryen.

Embora estivesse completamente vestido, Cregan olhava abertamente para a bela Targaryen. Seus cabelos estavam bagunçados e suas roupas estavam desarrumadas. Suas bochechas estavam coradas e seus lábios estavam cheios.

Um semblante orgulhoso cruzou seu rosto. Ele a observou com um sorriso carinhoso no rosto enquanto Rhaenys se apressava em vestir suas roupas, com seus longos cabelos platinados escorrendo sobre os ombros. Cregan adorava a aparência dela, mesmo quando estava corada e desgrenhada do momento íntimo deles, ele estava maravilhado com a beleza dela sem esforço algum.

- Deuses, Rhaenys. - Ele murmurou, observando-a abotoar seu traje de montaria. - Você é uma visão para os olhos doloridos. - disse ele, olhando-a de cima a baixo. Cregan se aproximou de Rhaenys, colocando as mãos gentilmente em seus ombros. - Posso?

Ele penteou os fios de cabelos prateados dela com os dedos, separando os emaranhados e certificando-se de que caíssem corretamente. Cregan sentia prazer em ver a mulher que estava em sua frente, perfeita.

Ele poderia passar horas olhando para ela.

- Pronto, - disse ele. - Muito melhor. - Ele se inclinou um pouco para a frente, beijando-a nos lábios.

O coração de Cregan se derreteu quando os lábios vermelhos dela se abriram em resposta, convidando a língua dele a explorar sua boca.

- Obrigada, Cregan. - Rhaenys lhe agradeceu com um pequeno sorriso e um suspiro. Ela se sentou na cama ao lado e calçou as botas, amarrando os cadarços de forma concentrada.

De longe, era possível ouvir os rugidos de Tessarion, que provavelmente estava ficando impaciente por estar há tantas horas no norte e na neve.

Cregan ficou na frente dela e se abaixou, amarrando um dos cadarços da bota de Rhaenys.

- Sei que Tessarion está esperando... - ele brincou, - mas não posso deixá-la ir embora antes de a deixar adequadamente apresentável. Sua beleza é incomparável, minha doce Targaryen, e eu não quero que seus pais desconfiem de algo.

Ao fundo, o rugido do dragão continuava.

Ela olhou pela janela enquanto os rugidos de Tessarion continuavam e ficou um pouco preocupada. Rhaenys voltou seus olhos para Cregan mais uma vez e então se levantou da cama.

- Acho melhor eu ir rápido antes que Tessarion tente atacar seus homens.

- Não sem uma despedida adequada. - Cregan puxou a Targaryen para perto de si e olhou em seus olhos antes de beijá-la nos lábios. - Volte logo, Rhaenys. Os portões de Winterfell estarão sempre abertos, assim como a porta dos meus aposentos e outras coisas mais.

Ele a soltou, mas quando ela se dirigiu para a porta, ele a chamou:

- Ah, e, Rhaenys...

Rhaenys parou em seu caminho e tarefas e olhou para a direção de Cregan, esperando que ele continuasse a falar.

Cregan lhe deu um sorriso inocente, aproximando-se e pegando sua mão mais uma vez.

- Volte e eu lhe mostrarei o significado do "verdadeiro calor do Norte". - ele roçou a bochecha dela com o polegar, passando-o pela mandíbula e subindo pelo pescoço. - Farei você gritar meu nome. - Seu sussurro era quase um rosnado. Ele a beijou na clavícula antes de soltá-la de verdade dessa vez.

- Oh, certo, obrigado por me dar mais um motivo para voltar aqui, Lord Stark. - Rhaenys disse com uma risada e sorriu para Cregan, abrindo a porta novamente para sair. Mas antes, ela se virou para dizer mais uma coisa. - Enviarei uma carta em outro dia, para conversarmos.

Cregan observou quando ela partiu, mas não antes de seus olhos observarem cada centímetro de seu corpo. O cabelo platinado, as costas curvada, a forma esbelta e voluptuosa... O Stark suspirou profundamente e fechou a porta.

Seus servos iriam ter que lidar com o fato de ele estar ainda mais irritado do que o normal até que ele recebesse a próxima carta da princesa Targaryen.

Rhaenys saiu pelos portões principais do castelo sendo escoltada pelos homens do Stark e pela meia-irmã mais nova dele, Sara Snow.

Além claro, da companhia da loba gigante de Cregan.

Ela vestia as luvas nas mãos e avistava a dragão dela agitada e soltando rugidos, olhando na direção de Rhaenys como se estivesse a chamando para irem embora. Tessarion poderia ser considerada uma dragão mimada, mas tudo o que ela queria era estar em um local quente como o fosso ao invés do local gelado e cheio de neve caindo sobre suas belas escamas.

As botas de Rhaenys afundaram na neve enquanto ela andava em passos largos e rápidos para chegar até a dragão. Mas antes de subir ou fazer qualquer coisa, Rhaenys andou ao redor de Tessarion verificando parte por parte para ver se ela não tinha se machucado ou recebido algum ataque qualquer. Uma vez confirmado que estava tudo bem, ela suspirou e sorriu, oferecendo carinho nas escamas da Rainha Azul para ela se acalmar.

- Lykirī, Tessarion. Muña mastan. - Ela conversou com Tessarion para deixar ela mais calma e tentou limpar um pouco da neve que estava acumulada entre as escamas azuladas e douradas. Por fim, Rhaenys sorriu e se virou para Sara, recebendo um sorriso calmo.

Rhaenys apenas assentiu com a cabeça em forma de agradecimento pela hospitalidade e segurou nas cordas da sela do seu dragão para subir, também se apoiando nas escamas enquanto fazia tal coisa.

A neve cobria as pastagens ao redor, cobrindo a área com uma névoa invernal que subia lentamente a cada movimento do vento. Rhaenys segurou a sela de seu dragão, Tessarion, enquanto a enorme fera pairava sobre a cabeça, com as asas abertas enquanto se erguia sobre as patas traseiras. O dragão emitiu um chilreio silencioso e se moveu ligeiramente para permitir que Rhaenys continuasse sua escalada.

A princesa ajustou sua capa para se manter aquecida e olhou para Sara, que estava lá embaixo, no campo nevado, ainda sorrindo para ela.

Rhaenys se sentou na sela de seu dragão, puxando as tiras da sela com força enquanto se preparava para a longa jornada que tinha pela frente. Enquanto Rhaenys se acomodava em seu assento, uma pequena rajada de vento varreu a área, removendo parte da neve dos campos e das escamas de Tessarion. Não demorou muito para que Rhaenys sentisse seu dragão começar a se mover, e a neve começou a cair mais uma vez, cobrindo a área com um cobertor frio e silencioso.

Em pouco tempo, Rhaenys notou Sara se movendo em direção ao dragão, tentando se abrigar sob as asas da enorme fera.

- Se eu fosse você, Sara... Eu não me aproximaria de Tessarion para tocá-la. Ela é amigável, mas não deixará que você a toque sem que eu esteja ao lado dela e tentará arrancar seu braço ou comê-la. - Rhaenys disse de forma simples e com uma pequena risada, como se estivesse falando de um assunto normal.

Os olhos de Sara se arregalaram ao ouvir Rhaenys falar com tanta naturalidade sobre os perigos potenciais de Tessarion. Embora Sara nunca tivesse visto um dragão antes, ela já tinha ouvido histórias sobre eles e sua tendência a se tornarem agressivos. Após um momento de hesitação, Sara decidiu seguir o conselho de Rhaenys e ficou longe de Tessarion.

- Adeus Sara, obrigado pela sua estadia! - Rhaenys disse em voz alta acima de Tessarion e sorriu, ajustando as cordas da sela para fazer Tessarion começar a voar.

- Adeus Princesa, volte sempre que sentir vontade!

Sara acenou com a cabeça e se despediu enquanto Rhaenys e Tessarion se preparavam para voar. Ela observou enquanto o enorme dragão subia aos céus, com suas asas criando uma poderosa rajada de vento que soprou parte da neve.

À medida que o dragão continuava seu vôo, a paisagem ao redor ficava cada vez menor, transformando-se em um borrão distante de tons suaves. Enquanto o vento corria por seus cabelos, Rhaenys suspirou e se recostou na sela, desfrutando da sensação de liberdade que o vôo sempre a trazia.

Com um leve puxão nas rédeas da sela, Rhaenys conduziu Tessarion em direção ao seu destino.

Depois de horas de vôo, Rhaenys podia ver uma cidade no horizonte, sua silhueta ficando cada vez maior à medida que ela e seu dragão se aproximavam. Rhaenys se inclinou para frente em sua sela, ajustando as rédeas da sela para mudar o curso enquanto se preparava para a descida.

No entanto, Rhaenys notou que Tessarion estava mais inquieta e rugindo sem motivo para um lado das nuvens. A princesa olhou naquela direção, confusa e desconfiada, para ver se conseguia enxergar alguma coisa.

As nuvens estavam se movendo levemente, movidas por um vento forte e rápido.

Antes que Rhaenys pudesse mudar o comando de Tessarion, uma grande quantidade de vento passou pelas nuvens e uma sombra alta apareceu acima delas.

Rhaenys se abaixou um pouco e Tessarion rugiu de forma protetiva, ainda mais inquieta. Mas o semblante de Rhaenys mudou quando ela notou a grande dragão, Vhagar, voando quase junto com eles e seu cavaleiro encima.

Os batimentos cardíacos de Rhaenys se aceleraram quando Aemond voou acima dela no dorso do enorme de Vhagar. Seu coração acelerou quando os dragões voaram um ao lado do outro, Tessarion fazendo ruídos de proteção para proteger Rhaenys de uma possível ameaça. Rhaenys ajustou as rédeas e tentou desviar Tessarion do caminho de Vhagar e de seu cavaleiro, mas encontrou resistência por parte de Tessarion.

A dragão se recusou a se mover, querendo ficar perto de Rhaenys e protegê-la do perigo em potencial.

Aemond mudou o curso de Vhagar e os dois foram na direção oposta à dela, enquanto Tessarion rugia alto e descia em alta velocidade para alcançar o chão rochoso do fosso quando Rhaenys puxou as cordas.

Ela falou diversas palavras em valiriano para acalmar Tessarion, que ainda estava rosnando e sibilando para Aemond e Vhagar enquanto eles voavam para longe. Quando Rhaenys puxou as rédeas, Tessarion começou a descer em direção ao chão.

Rhaenys percebeu que as paredes e portas maciças do Fosso dos Dragões estavam se aproximando à medida que Tessarion continuava a descer. Quando o dragão finalmente aterrissou, Rhaenys desceu da sela, com o rosto ainda corado pelo encontro com o tio. Apesar de sua empolgação e da sensação de liberdade que vinha com o vôo, Rhaenys se sentia irritada novamente.

Não querendo enfrentar o conflito iminente que ela sabia que ocorreria entre ela e Aemond, mais cedo ou mais tarde.

Ela olhou para Tessarion, que inclinou a cabeça para ela e chilreou baixinho, com os olhos cheios de preocupação. Rhaenys sorriu para Tessarion e começou a caminhar em direção às enormes portas do Dragonpit e a dragão seguiu logo atrás dela, com o focinho escamoso cutucando suavemente seu ombro enquanto ela caminhava.

Poucos minutos depois, uma chuva fraca que rapidamente aumentou de intensidade se alastrou por King's Landing após meses de pouca umidade na capital.

Já era fim de tarde quando ela conseguiu chegar no castelo e encontrar com os irmãos e irmãs dela, os quais ela decidiu passar o restante de tempo que ela possuía, ajudando Rhaenyra a tomar conta dos três platinados caçulas e o pequeno Joffrey.

...

Aemond e Vhagar continuaram a voar pelas nuvens, as asas do dragão batendo firmemente enquanto os dois voavam na direção oposta à de Rhaenys. Aemond se inclinou para frente na sela, sentindo o vento bater em seu rosto. Ele olhou para Vhagar, cujas asas massivas os levavam pelos céus, e sorriu para si mesmo. Ele podia dizer que seu dragão gostava de voar e isso o deixava feliz, mesmo que fosse apenas um pequeno momento de paz em um mar de conflitos.

E mesmo que algumas vezes a velha Vhagar estivesse cansada demais para qualquer coisa, preferindo apenas se deitar na costa do mar e dormir por longas e longas horas em uma espécie de quase hibernação.

A chuva em King's Landing foi bem-vinda, depois de meses de seca. A capital recebeu um pouco do alívio tão necessário, lavando a sujeira e a fuligem e ajudando a folhagem a crescer em suas paisagens exuberantes. O tempo chuvoso trouxe uma temperatura fresca para a cidade, aliviando um pouco o calor escaldante que assolou a capital por um tempo.

Por alguma razão, Vhagar parecia voar melhor na chuva. Isso seria algo que Aemond observaria e tomaria nota, para referência futura. Ele pode descobrir que a velha dragão ficava mais calmo em tempo úmido e que era mais provável que voasse em tempo chuvoso do que em dias ensolarados.

Aemond, sabendo que a chuva forte faria com que Vhagar quisesse voar, tentaria usar isso como uma tática para o futuro. Talvez, quando encontrassem um inimigo ou um alvo que precisasse ser atacado silenciosamente, eles simplesmente esperariam por uma chuva forte e atacariam durante as condições úmidas.

Mas o Príncipe Aemond, por outro lado, não era um dos maiores fãs da chuva. Então, quando a intensidade começou a aumentar drasticamente e notavelmente, ele guiou Vhagar até o caminho anterior para que pudessem retornar à Fortaleza Vermelha.

Aemond não gostava de passar tempo fora de sua casa durante a chuva, embora Vhagar gostasse. Assim, ele se viu navegando de volta para a segurança e o conforto do castelo.

Depois de retornar ao castelo através da escolta do guardas pessoais da família, encharcado e molhado pela chuva e com uma carranca estampada em seu rosto pálido e lábios arroxeados, Aemond estava a caminho dos corredores do castelo, com a mente trabalhando em um turbilhão de pensamentos sobre as mais diversas coisas.

No caminho, ele vislumbrou sua irmã Helaena brincando com seus três filhos, os gêmeos Jaehaerys, Jaehaera e o mais novo, Maelor.

Ela parece estar satisfeita com a chuva lá fora, olhando para ela com carinho enquanto os três sobrinhos dele brincavam encima de um tapete de pele com diferentes tipos de brinquedos tais como cubos, pelúcias e até mesmo alguns livros em branco, onde desenhavam com pincéis.

Isso faz com que Aemond percebesse o contraste entre sua irmã mais velha e ele mesmo. Ele a via confortável na chuva, enquanto ele estava encharcado e desconfortável, mas também vê que os filhos de Helaena estavam feliz com a chuva forte e o clima úmido. Talvez ele pudesse aprender mais com Helaena sobre como aproveitar a chuva.

Aemond faz uma pausa para pensar por que Helaena parece tão calorosa e contente na chuva, enquanto ele estava infeliz. Ele decide ir até ela e ver se consegue descobrir o que exatamente ela acha agradável em dias chuvosos.

O Targaryen se move até a irmã e fica parado ao seu lado com as mãos dele cruzadas atrás das costas, onde Helaena e seus filhos estão brincando.

- O que você gosta tanto na chuva? - ele pergunta com curiosidade. - Sempre odiei a chuva, a maneira como ela me encharca até os ossos e deixa tudo muito úmido. Odeio ficar na chuva. Mas vejo você se divertindo, deve haver algo que estou perdendo. - ele olha para a chuva lá fora e estuda os padrões da água batendo nas grandes janelas, a maneira como ela escorre pelas vidraças.

- É porque você não tem amor por quase nada. Eu a amo porque é o jeito dos Setes de chorar, é a chuva deles também. Os Sete que são Um, sempre gostei dela por esse motivo. - ela olhou para o irmão com amor e um sorriso reconfortante em seus lábios. - Você deveria tentar amá-la, irmão. É tão maravilhoso.

Helaena se calou por alguns minutos, apenas os balbucios sem sentido de Maelor e dos gêmeos sendo ecoados pelo vazio corredor com vista para o jardim, ou então os blocos de madeira sendo batidos no chão.

- E é uma maneira de sentir os Sete sem que eles precisem falar diretamente conosco também. A presença deles nos envolve quando caminhamos por ela, e somos lembrados de que eles estão observando. - a princesa disse após o silêncio dela, olhando pela janela, vendo a chuva cair no jardim lá fora. Os filhos compartilhavam das mesmas ações, sempre tão mais semelhantes a mãe do que o pai. - Ela pode ser linda. Pode ser triste. Pode ser assustadora. A chuva é tão variada quanto o homem. É justo tentar entendê-la.

Aemond revirou o olho bom diante do discurso extendido da irmã a respeito de uma simples pergunta. Sempre tão complexa, difícil de se compreender.

Jaehaera, a gêmea mais nova, olhou para cima enquanto encarava Aemond por algum tempo antes de abrir um sorriso genuíno e se levantar do tapete para chegar mais perto do homem alto e todo molhado.

Helaena sorriu quando viu a garotinha, sua filha, indo até o irmão.

- Olá! - A menina parecia estar querendo algo dele. Talvez ela quisesse que ele brincasse com ela.

- Olá, pequena sobrinha. - Aemond disse sem nenhuma expressão no rosto, olhando para baixo para ver a sobrinha.

A pequena Targaryen não parecia se importar com a falta de entusiasmo do tio dela, ao invés disso, ela se aproximou do príncipe e começou a brincar com seu longo casaco de couro, tentando fazer com que ele brincasse com ela.

Aemond não reagiu.

- Olá, tio. - ela disse mais uma vez, com outro sorriso. - Posso lhe mostrar uma coisa? - ela estendeu um dos dedos, como se estivesse prestes a lhe oferecer algo. - Dê uma olhada! - A garota estendeu a mão novamente, mas dessa vez ela o fez para indicar que estava abrindo o punho para que ele olhasse.

Com a garota sentada ao lado dele, ela finalmente estendeu a mão aberta para revelar dois pequenos animais de madeira, cada um esculpido de forma diferente. Em uma mão, ela tinha um lobo e, na outra, um pequeno dragão.

- Veja! Fui eu que os fiz, sozinha! - disse com orgulho. Ela pegou o lobo e o colocou na mão de seu tio, como se estivesse lhe oferecendo um presente, e depois fez o mesmo com o dragão.

Helaena sorriu para a interação entre a filha e Aemond. Era raro Aemond dar tanta atenção aos sobrinhos, mas quando acontecia ele sempre acabava sendo mais gentil com as pequenas crianças.

- Elas são muito bonitos, pequena. - disse Aemond sem rodeios. Ele examinou cada um dos dois animais cuidadosamente. Ele não era um homem muito afetuoso, e isso ficou evidente na forma como ele não demonstrou nenhum afeto à sobrinha depois de admirar o presente dela, mas ainda com um pequeno sorriso para ela não ficar triste. - Muito bem feitos. - disse e esticou a mão para devolver a ela.

- Você quer ficar com eles? - Perguntou Jaehaera, esperançosa, mas não com tanta expectativa.

Ela havia dado ao tio a chance de aceitá-las e de demonstrar afeto. Uma jovem garota queria afeto e amor, ainda mais essa garota, no entanto ela sabia que algumas pessoas eram frias. Algumas pessoas simplesmente não demonstravam muito sentimento pelos outros.

A filha de Helaena ficou sentada esperando por uma resposta, esperançosa, mas cautelosa.

Aemond suspirou baixo e encarou a sobrinha por um tempo. Depois de um momento de silêncio, Aemond não retribuiu o olhar dela, mas apenas olhou para os dois animais esculpidos, ainda em suas mãos. Ele não sabia o que dizer, ou que tipo de resposta ou afeto deveria demonstrar.

Porém ele queria ficar com os presentes dela.

Mas antes que ele pudesse responder qualquer coisa, uma outra voz de criança surgiu no fim do corredor e todos os Targaryen. Helaena, Aemond, os gêmeos e Maelor, se voltaram para olhar com curiosidade.

No fim do corredor, o pequeno Aegon III sorria com poucos dentes.

- Jaehaera! - ele disse alto e deu algumas gargalhadas, puxando a mão de Rhaenys para que eles fossem até os primos.

Rhaenys, que estava segurando Viserys no colo e segurando firmemente a mão de Aegon, não teve outra escolha a não ser seguir a direção que o pequeno garota estava puxando ela para irem. De forma relutante, por conta da presença de Aemond, ela foi.

Helaena conseguiu chamar a atenção do garotinho, e ele olhou para Rhaenys com surpresa. Ele soltou a mão de sua irmã e se aproximou de Helaena.

Ele era um pouco tímido, por isso não interagiu ainda. Apenas olhou para ela e sorriu.

- Olá. - ele falou suavemente, como se não estivesse seguro de si.

Rhaenys por sua vez enquanto ainda ignorava a presença de Aemond, sentou-se ao lado da tia com um pequeno sorriso, deixando Viserys caminhar livre pelo chão e ir brincar com as demais crianças e seus brinquedos

A chuva continuava forte do lado de fora.

Rhaenys amava chuvas, o cheiro principalmente.

Aemond não desviou o olhar de Rhaenys por um minuto sequer, notando a estranha reação dela em sua presença. Era claro, ele sabia que talvez ela estivesse irritada por conta da pequena interação que tiveram entre os dragões mais cedo, ou por conta do chá da lua... mas ela estava mais arrogante do que era considerado normal para Aemond.

Foram se passando minutos dessa atmosfera mal resolvida, com Helaena entre eles sorrindo e brincando com todas as crianças.

Era como se Aemond e Rhaenys fossem as nuvens negras do céu e Helaena os raios de sol.

Helaena percebeu o desconforto do irmão ao ver Rhaenys, ou melhor, ao ver que Rhaenys o estava evitando de propósito.

Ela decidiu tentar aliviar a tensão entre os dois e, com um tom amigável, chamou seu irmão.

- Aemond, por que você não brinca com eles? As crianças, é claro. - ela disse, apontando para o grupo de primos.

Aemond olhou para sua irmã com uma expressão cética e sem graça. Estava claro que ele não queria interagir com elas, mas talvez Helaena estivesse certa e ele devesse tentar fazer um pouco de esforço de sua parte.

Mas não agora.

- Eu preciso ir. - ambos, Rhaenys e Aemond falaram ao mesmo tempo e se encararam com as sobrancelhas erguidas.

O que antes já era uma situação estranha, se tornou ainda mais com o silêncio que prevaleceu após os dois dizerem a mesma coisa ao mesmo tempo, com propósitos e motivos iguais.

Rhaenys estava com Viserys no colo dela novamente, e Aegon com os seus dedos entrelaçados nos da irmã. Em certa parte, ela não estava mentindo. Rhaenys precisava voltar com os dois caçulas para a mãe e as servas, e em outra parte ela também não estava sentindo vontade de se manter ali na presença de Aemond.

Causava formigamento na pele dela, por alguma razão.

Aemond sentia algo parecido.

Porém antes que o príncipe decidisse sair por primeiro para ter a palavra final, Rhaenys se despediu dos primos e de Helaena e seguiu no corredor seguinte para ir embora, em passos rápidos e firmes ecoando pelos corredores frios e úmidos da Fortaleza.

Helaena continuou sorrindo e brincando com seus filhos enquanto Rhaenys sumia pela escuridão fria das paredes do castelo, os olhos focados em um dos brinquedos dos gêmeos que era em formato de um dragão rosa e outro um dragão amarelo.

O olhar da Targaryen estava focado e distante, vazio.

- Oh, sim! Sonhei com um dragão jovem e um dragão orgulhoso. Suas chamas ardiam intensamente. E um estava preso, e o outro estava livre. - Helaena disse de repente, os dedos traçando rabiscos aleatórios na sujeira das pedras que formavam o chão que se sentava com os pequenos. - Sonhei que um dragão sem sorriso a olhava com preocupação e que um lobo estava nos portões da Fortaleza, onde antes só havia dragões. Uma voz furiosa gritava em seu ouvido para que ela tomasse cuidado com a bastarda, e outra sussurrava para que confiasse no sangue do dragão. Mas acho que ela não pode confiar em um dragão.

Ela disse, voltando-se para o irmão. Algo estava errado com ela, era óbvio. Seus olhos eram estranhos, como se soubessem mais do que deixavam ver, e sua voz estava cheia de preocupação.

Aemond já conhecia esse estado dela, sempre quando ela estava sussurrando suas bobeiras ou brincando com os insetos, Helaena ficava dessa forma. Era uma espécie de hiperfixação, uma característica proeminente da princesa desde que era mais nova.

Um calafrio percorreu a espinha das costas de Aemond, como se um vento frio em forma física o tivesse abraçado. Depois, ele se sacudiu como se estivesse saindo de uma tempestade de neve, seus ombros se ergueram e caíram em uma respiração profunda.

- Hel? - ele a chamou, mas ela manteve o foco no chão.

Era difícil se concentrar, com tudo o que estava errado no mundo fora de sua cabeça. Seus olhos estavam arregalados e vazios, mas ainda cheios de um sentimento de alerta. Seus movimentos eram tensos, como se ela estivesse esperando o céu cair.

- A bastarda vai tentar matar o dragão! Confie no sangue do dragão! - Helaena sussurrou novamente, mas era como se a própria Helaena não estivesse nem mesmo ciente de que a estava falando. Ela olhou de volta para o irmão, tentando manter os olhos focados em Aemond e não deixá-los escapar para aquele abismo negro que a assombrava.

Ela não sabia explicar, mas quanto mais as visões continuavam, mais alto era o sussurro. Não era a mesma voz, nem mesmo o mesmo tom, mas as frases sempre se repetiam duas vezes. Depois de alguns minutos, Helaena finalmente voltou a si e sacudiu a cabeça, olhando ao redor. Era como se as vozes tivessem desaparecido e como se nada tivesse acontecido.

Aemond parecia tão confuso quanto a própria Helaena, e estava olhando para ela com o olho arregalado e preocupado. Suas mãos se fecharam em punhos antes de voltar a tentar falae com ela.

- Helaena. Você estava falando bobagens novamente. - Ele disse baixo e colocou uma mão cuidadosa em seu ombro. Sua voz estava calma, mas ainda parecia muito séria. - Sobre o dragão e a bastarda. O que você quer dizer com isso?

- Eu não sei. - Helaena respondeu com um pequeno sorriso, parecendo assustada. Ela respirou fundo várias vezes, mas não conseguiu ficar mais calma. - Eu estava divagando sobre o céu caindo, e algo sobre um lobo nos portões. Isso não é nada, tenho certeza. Só estou cansada e lendo muitos livros ultimamente. - disse Helaena com uma risada sem graça e se levantou do chão, oferecendo um aceno para os filhos. - Isso não significa nada. - respondeu ela, tentando se acalmar. Mas ela estava visivelmente desconfortável e sua respiração estava pesada.

A voz de Helaena ainda soava tensa quando as crianças pegaram seus brinquedos e seguiram a mãe deles que saía de repente do corredor, deixando Aemond para trás.

Molhado, confuso, estressado.

Bastarda. Dragão. Lobos. Sangue.

O que isso poderia significar? Era algo que envolvia ele, ou era apenas uma metáfora de Helaena?

Aemond pensou, antes de soltar um resmungo de derrota e estresse, se virando com as botas pesadas batendo no chão para ir até um único local que ele tinha em mente e apenas uma pessoa que ele precisava ver agora.

Enquanto isso, as nuvens sobre o velho castelo são espessas e cinzentas, a chuva cai sobre ele, pesada e forte como lágrimas silenciosas de memória perdida. As nuvens escondem a lua, e a chuva cai com uma força furiosa.

É um presságio de desgraça e tristeza, alguns dizem nos livros. Avisando que qualquer castelo banhado por essa chuva por muito tempo logo cairá em pó e será levado pelos rios do tempo como um castelo na areia se colocado em mãos erradas.

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