051

Os primeiros indícios de luz do amanhecer estavam começando a aparecer no quarto do príncipe. A única coisa que se conseguia ouvir eram as respirações lentas e calmas dos dois dragões, ou então os rugidos longes que ecoavam por King's Landing vindos do fosso.

Rhaenys estava quase em cima dele, as pernas e os braço de ambos entrelaçados uns nos outros em um tipo de abraço reconfortante e puro, estavam cobertos pelo lençol da cama, escondendo os corpos nus.

Quando Aemond se remexeu em seu sono, seus sentidos voltaram gradualmente, lhe trazendo de volta ao mundo da vigília. O corpo quente de Rhaenys ao seu lado foi a primeira coisa que ele sentiu assim que seu estado de sono começou a passar. O céu azul escuro que clareava aos poucos, se tornando em um tom de rosado com vermelho se espalhava pelo quarto e chamou sua atenção, pintando a cena com uma luz suave e etérea.

O príncipe se sentou cama, movendo-se lentamente ao lado de Rhaenys, que ainda dormia curiosamente de forma profunda. Seu olhar a observava, com suas feições ilegíveis. Ele estava tentando encontrar a vontade de pedir para ela ir embora antes que amanhecesse por completo, mas não conseguia.

Aemond continuou olhando para ela.
Rhaenys era incrivelmente bela.

Ele se sentou na beirada da cama, decidindo esperar que ela acordasse.

Rhaenys se virou na cama, mexendo nas cobertas. Ela parecia um anjo, mesmo em seu sono e o coração de Aemond se agitou ao observá-la, ele estava hipnotizado pela aura dela.

Ele se aproximou dela, beijando-a gentilmente no rosto antes de se levantar da cama com o lençol enrolado envolta dos quadril, ele sentiu o ar frio do quarto causar um leve arrepio em seu corpo. Caminhando para a direção do quarto de banho, ele colocou dois baldes perto do fogo da lareira para a água esquentar e ele poder tomar banho.

Aemond olhou para trás, para a cama, onde Rhaenys ainda estava dormindo calmamente como uma criança. Depois que a água esquentou ele esvaziou os dois baldes na banheira e jogou poucas essências de cheiro. O príncipe tomou seu tempo no banho mas não tinha pressa, ele relaxou na água quente permitindo que o calor lavasse todas as suas preocupações.

Ele pensou e pensou, tentando ver se tinha feito a escolha certa. Sentiu que havia cometido um erro gravíssimo ao dormir com a sua sobrinha... mas não por ela ser a sobrinha dele, mas sim por conta da divisão familiar que permanecia entre todos eles. Além de que ele havia tomado a mocidade dela e agora qual lord aceitaria casar com Rhaenys, mesmo ela sendo uma princesa, nessas condições?

Enquanto ficava de molho na água quente, ele não conseguia deixar de se perguntar o porque ele havia iniciado essa trégua naquele fatídico dia, em primeiro lugar.

No outro lado do quarto dele, os olhos de Rhaenys se abriram lentamente e ela se mexeu novamente na cama, seus lábios macios e rosados se abriram e ela soltou um bocejo enquanto espreguiçava os braços.

Ela olhou para o lugar vazio ao seu lado, virando a cabeça ligeiramente para olhar os lençóis bagunçados ao seu lado. Seus olhos se arregalaram e ela se sentou lentamente na borda da cama mas antes que pudesse processar adequadamente o fato, virou o corpo para trás um pouco e rapidamente paralizou por alguns segundos percebendo a pequena mancha de sangue que havia aonde ela estava deitada antes.

Rhaenys franziu as sobrancelhas e voltou a olhar o corpo nu dela novamente, separando as pernas para enfim perceber o sangue seco e virginal entre as coxas.

Mas o choque foi rapidamente substituído por uma expressão diferente em seu rosto. Ela soltou um sorriso que era mais diabólico do que inocente, como se não tivesse arrependimentos. E ela de fato, não tinha nenhum, mesmo que ela devesse sentir.

Ainda sentada na cama enquanto contemplava o que havia acontecido na última noite, Rhaenys observou ao redor do quarto em busca da presença de Aemond. Depois de pensar por um momento, ela se levantou e decidiu procurá-lo nos outros cantos dos aposentos dele, o corpo coberto por um outro lençol da cama e o cabelo da princesa estava com as tranças usuais desfeitas, caidos pelos ombros e chegando até a metade das costas dela mas embaraçados pelas diversas razões da noite passada.

Rhaenys foi até a banheira e deu uma olhada para ver Aemond relaxando na água morna. Ele parecia tão despreocupado, suas preocupações pareciam estar se dissipando da mente turbulenta e inquieta que normalmente o príncipe tinha.

Dividida entre continuar apenas olhando Aemond a distância, ou se aproximar e se juntar a ele na banheira, Rhaenys permaneceu parada com os olhos bem abertos, sem piscar e respirando calmamente. Ela decidiu dar alguns passos na direção dele, mas voltou para trás no último segundo e se virou novamente para voltar ao quarto e ajustar as coisas e evidências que mais preocupavam ela.

Aemond por sua vez, ouviu um leve farfalhar em seu quarto e seus sentidos ficaram subitamente alertas.

Ele respirou fundo e saiu lentamente de seu banho, com a água pingando da pele pálida dele. Aemond pegou a toalha e colocou envolta da cintura, olhando ao redor do quarto, e lá estava ela. Rhaenys estava em pé na beirada da cama com os lençóis nas mãos, já vestida novamente no mesmo vestido que ela usou na noite passada enquanto eles iam até a baixada. Uma mancha de sangue era visível entre o branco da roupa de cama.

Aemond saiu do quarto de banho em silêncio, ele olhou para a sobrinha que estava na cama.

Ele observou os movimentos graciosos de Rhaenys, seu vestido adornando sua figura mais uma vez enquanto ela caminhava até a lareira.

Sua curiosidade ficou aguçada quando ele viu ela se abaixar na frente da lareira com os lençóis sujos de sangue nas mãos e ele se manteve longe, com o olhar fixo a cada mínimo movimento dela.

— O que está fazendo, Rhaenys? — Aemond perguntou, com a voz ainda baixa e calma, enquanto a observava. Os olhos dele rastreavam cada movimento dela, cativados pela forma como os tons do amanhecer e da lareira dançavam em sua pele tão pálida quanto a dele. — Você parece perturbada.

Rhaenys ficou em alerta pela voz repentina de Aemond entrando em seus ouvidos e ela bateu a mão no gancho da lareira, xingando o objeto pouco depois antes de se virar e olhar para Aemond como se ela tivesse sido pega pela mãe enquanto fazia algo errado.

O que, nesse caso, seria uma verdade.

— O lençol. Eu não quero que as criadas vejam o sangue, mesmo que não possam saber que pertence a.. mim. Eu iria queimá-lo. — Ela respondeu ainda para segurando firmemente o pano na mão e olhando Aemond com os olhos arregalados e fixos.

A sobrancelha de Aemond se franziu ao ouvir a explicação de Rhaenys. Ele entendia a necessidade de discrição no assunto delicado em que haviam se envolvido, sabendo muito bem das possíveis consequências que poderiam surgir de olhares curiosos e línguas abanando.

— Eu deveria ter pensado nisso antes. Peço desculpas por não ter sido mais cuidadoso, — disse ele suavemente, com a voz tingida da mesma áurea quase congelada dele. — Deixe que eu ajude, permita-me garantir que nenhum rastro permaneça.

Com um gesto determinado, Aemond assumiu a tarefa de descartar o lençol manchado. Ele pegou da mão da sobrinha e o dobrou cuidadosamente, protegendo a evidência de qualquer olhar errante, antes de levá-lo discretamente para outro cômodo, onde poderia ser descartado com segurança. Fosse queimado ou até mesmo jogado nas lixeiras externas da Fortaleza Vermelha.

Ao voltar para o lado de Rhaenys ele olhou ela outra vez, não tendo certeza do que falar. Enquanto ela, continuou na frente da lareira por um tempo.

— Eu poderia apenas ter queimado, você sempre complica qualquer situação. — ela reclamou e ficou quieta de novo.

A mente dela viajava em diversos assuntos ao mesmo tempo. Pensando nas confissões e ações de Alys, a morte de Harwin, pensando na noite passada com Aemond e entendendo que ela fez algo sem volta, e pensando no que os irmãos dela ou Daemon e Rhaenyra, até mesmo Alicent iriam dizer ou pensar sobre a situação por completo.

O rosto dela se virou na direção de Aemond, e ela falou por primeiro, quebrando o silêncio que havia ficado entre os dois Targaryen.

— Você acredita no que Alys disse sobre Harwin e Larys? — Rhaenys perguntou em voz baixa, cruzando as pernas e puxando os dedos dela.

Ao invés de responder a pergunta da princesa, ele fez outro pergunta em retorno.

— Por que Harwin é tão importante para você? — A pergunta dele parecia sincera, mas levando em conta todo o histórico de ofensa que Aemond tinha em questão da Casa Strong, Rhaenys ficou dividida entre pensar se ele estava zombando ou falando sério. Mas, de qualquer forma ela respondeu a pergunta.

— Ele foi como um segundo pai para mim. Eu gostava da forma que ele tratava a mim e meus irmãos, a forma como ele sempre foi leal e protetor diante da minha mãe antes mesmo de Jace nascer. — Rhaenys se abriu com Aemond, apenas um pouco. — Ele prometeu que iria voltar mas nunca voltou, e logo em seguida que ele morreu, meu pai também morreu.

Fazendo referência à morte de Laenor, em questão de quatro dias ela perdeu muito quando era pequena. Ela perdeu a tia Laena, depois Harwin, depois seu pai Laenor e, mesmo que ela nunca admitisse isso para ele, também havia perdido Aemond na noite de Derivamarca. Afinal, a princesa achava divertido a presença de Aemond quando era pequena.

Achava.

Aemond assentiu e tocou o joelho de Rhaenys com sua mão áspera, mas que ainda assim era um toque calmante.

— Acredito que Alys seja como um corvo. Ela é faminta como bico dos corvos. E pode ser tão generosa e mítica quanto traiçoeira, nos observando constantemente se estamos sóbrios e vigilantes. Ocasionando lixos, carniças, maus pensamentos que levam ações, que geram mortes. — Aemond disse do fundo da mente dele, uma espécie de metáfora que ele havia lido em um livro uma vez. — Quando a carniça exala pelos ares, os corvos ficam alvoroçados para devorá-la.

O olho bom de Aemond encontraram os dela, uma chama de determinação tremulando em suas pupilas. Ele entendeu que os desejos e a conexão entre eles exigiam vigilância e de forma silenciosa prometeu fazer o que fosse preciso para proteger Rhaenys de qualquer dano que pudesse ocorrer envolvendo Alys.

— Certo, uma vez você parece ter razão em algo. — E lá estava ela de novo, a irritante e teimosa Rhaenys que ele conhecia. Ele soltou uma risada baixa e se levantou do chão junto com ela, revirando o olho bom no caminho.

Rhaenys havia percebido apenas agora que ele manteve o tapa-olho o tempo todo desde a noite pasaada. Ela se perguntou como seria por baixo do acessório de couro e se algum dia ela descobriria.

— Você deveria me escutar mais vezes, então. — uma mão dele segurou firmemente na cintura de Rhaenys.

— É claro que não. Eu estaria em um dos sete infernos se decidisse seguir qualquer um dos seus avisos.

— Ou talvez estaria em um dos sete céus.

— Muito improvável. — Rhaenys respondeu cruzando os braços e se soltando do toque de Aemond para ir na direção da porta, mas ele segurou na cintura dela novamente e puxou ela outra vez para o aperto dele.

Ele estava quase tentando a levar ela para a cama novamente, e ele provavelmente faria isso se não estivesse amanhecendo e as chaces deles serem pegos fosse alta.

— Eu certamente lhe levei a pelo menos um dos sete céus ontem a noite e não perca suas palavras tentando negar, apenas vai fazer com que a minha afirmação seja mais verdadeira. — Aemond sorriu de forma arrogante e confiante, aproximando o rosto do pescoço dela e esfregando o nariz no cabelo de Rhaenys.

Ela se sentiu ofendida novamente pelas palavras de Aemond e deu um tapa no ombro dele com uma risada escapando de seus lábios. Ela sorriu, a segunda vez que ela sorriu para algo que ele fez. Olhando Aemond de cima a baixo, notando o peito nu e o cabelo molhado com leves ondas, pingando água nos braços dela e nada além de uma toalha fina impedindo o príncipe de estar vulnerável para a sobrinha.

Devagar ela saiu do aperto dele e foi mais rápida para sair de perto, dando passos largos em direção a passagem secreta do quarto, a capa que usou anteriormente grudada nos braços dela enquanto ela manteve o sorriso largo e malicioso na direção de Aemond.

Assim que ela fechou a porta falsa, ela seguiu cuidadosamente pelos becos estreitos. O corpo doía em busca de alívio, ela queria um banho quente e espumoso para retirar os vestígios, o sangue seco e o suor do corpo dela.

E Aemond, vestia as roupas pretas de couro para se preparar para os deveres diários dele como príncipe, sem treinos hoje apesar do bom humor.

Mas o pensamento dele estava a todo momento na Targaryen platinada e em como, o mais cedo possível, ele teria ela na cama dele mais uma vez.

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