048

Aemond abre a porta rangente do quarto e suspira ao entrar em seus aposentos. Os músculos de seus ombros e pescoço estavam doloridos, tensos e implorando por um banho.

Ele não planejava voar com Vhagar nesse entardecer. Ele apenas queria passar o resto da noite lendo os livros inacabados, depois da manhã que assolou a Fortaleza.

Ele caminhou até a escrivaninha do quarto, juntando a adaga e o cinto. Dando uma leve massagem em seu pulso, ele ficou satisfeito ao saber que as servas já haviam deixado a banheira com água quente e pronta, juntamente das roupas de dormir.

— Você é péssima em tentar se esconder.

Aemond sussurra, com sua típica voz calma, quando se aproxima da cama dele, e consegue ver a silhueta óbvia de Rhaenys perto da lateral da janela.

É possível escutar Rhaenys suspirar e resmungar, dando alguns passos a frente para olhar o tio.

— Eu não estava tentando me esconder, Aemond.

— Mm. Você estava planejando me ver nu, é isso?

Um passo em frente em ambas partes.

O olhar de Aemond se concentrou em Rhaenys quando ela se aproximou, vendo-a em seu vestido dourado. Seu olho traçaram as curvas do corpo dela, a forma como o tecido se agarrava à sua figura. Ele não podia negar o fascínio que ela exercia, mesmo que fosse sua sobrinha, mesmo que fosse perigoso.

Ele fez um gesto para que ela se aproximasse, com o tom baixo e cheio de uma mistura de emoções.

— Não, eu não estava planejando nenhuma indecência. — Rhaenys mexeu os ombros, um sorriso de canto nos lábios e as mãos para trás das costas, como de costume.

Um outro resmungo saiu da garganta de Aemond e, agora que Rhaenys não estava mais na parte escura do quarto, Aemond pode perceber que Rhaenys também estava com uma capa.

Exatamente a mesma capa que usou nas duas vezes que esteve na Baixada das Pulgas.

Ele ergueu uma sobrancelha e respirou fundo, encarando Rhaenys. Ela estava planejando fazer algo, disso ele tinha certeza.

— Então por qual motivo devo a honra da sua visita, tarde da noite, em meus aposentos, sobrinha? Você não me visita tem alguns dias.

Rhaenys ignorou a última frase.

— Eu quero falar sobre Alys Rivers. — Rhaenys se sentou na cama e olhou Aemond, o pergaminho em mãos e um olhar sério no semblante dela.

Aemond ergueu ambas as sobrancelhas desta vez, confuso. Ele estalou a língua e sentou ao lado de Rhaenys na cama dele.

— E quem seria essa 'Alys Rivers'?

— A mulher que estava conversando com você na caçada.

Aemond manteve a expressão confusa no rosto. Ele não se lembrava de nenhuma Alys, e tão pouco se lembrava da mulher com qual conversou na caçada, visto que não tinha dado tanto interesse na mulher quanto ela tinha mostrado a ele. Tanto que inventou uma desculpa para desviar a conversa da mulher, a qual ele não perguntou o nome também.

— Não me lembro, eu não sei o nome da mulher.

Ela inclinou a cabeça para o lado com as sobrancelhas franzidas, tentando manter a calma. Ela se levantou da cama e olhou para Aemond por alguns segundos antes de começar a falar.

Era arriscado? Sim. Perigoso? Muito mais. Ela confiava em Aemond? Não totalmente.

No entanto, ela preferia ter a ajuda de Aemond do que Jacaerys ou Daemon. Ela sabia que nessa situação, ela não podia envolver os irmãos dela e Daemon muito menos. Rhaenyra havia acabado de dar a luz, ela queria deixar eles tendo paz por pelo menos algumas semanas antes de causar confusão.

— Eu preciso que me acompanhe até a Baixada das Pulgas, e eu preciso que leve a sua adaga.

Aemond encarou ela de volta. Ele não sabia se estava pensando devagar por causa do cansaço, ou se estava realmente surpreso com a proposta e não estava conseguindo processá-la.

— Rhaenys, — Aemond disse de forma categórica — Eu normalmente não acompanho jovens mulheres, especialmente você quando elas precisam ir para aquele lugar pobre. — ele disse sarcasticamente. Embora ele pudesse dizer que Rhaenys não gostou do comentário que ele fez e estava falando muito sério sobre isso. — Além disso, eu já disse inúmeras vezes que aquele lugar me deixa atordoado... por que você quer ir lá a essa hora da noite e por que eu preciso ir com uma adaga? Em que tipo de problema você está envolvida?

Rhaenys entregou o bilhete para Aemond ler. Ela não tinha certeza se o que estava fazendo era certo, mas, novamente, ela estava curiosa e este era um assunto delicado e especial para ela.

— Aemond... — Ela chamou baixo depois que o silêncio pairou no quarto por alguns minutos. Ela segurou o ombro de Aemond e abaixou o rosto para que ele pudesse olhar para ela. —  Eu sei bem que Harwin não era e não é importante para você, que você diz não conhecer essa mulher chamada Alys. Mas eu preciso ir, e eu preciso que você vá comigo para que eu possa me sentir mais segura do que se eu fosse sozinha até o encontro dela.

Por um lado, Aemond sabia que ir a esse encontro com uma mulher desconhecida era um perigo certo, uma emboscada até. E por outro lado, ele era curioso e já conhecia os modos teimosos de Rhaenys, ele sabia que mesmo que não concordasse em ir junto, ela iria de qualquer maneira e ele temia que as chances dela voltar com vida fossem baixas.

E é claro, Aemond não negaria passar um tempo com Rhaenys, mesmo que fosse nessa situação. Afinal, já fazia alguns dias desde que os dois se encontraram pela última vez, em segredo.

E que por acaso, foram interrompidos por Aegon.

O príncipe suspirou e olhou para Rhaenys, encontrando aqueles belíssimos olhos azuis que o assombravam e criavam um nó na garganta toda vez que as íris se achavam, fosse na escuridão ou na claridade.

A expressão de Aemond se suavizou quando ele olhou nos olhos dela, vendo a seriedade e a determinação neles. Ele entendeu que ela estava determinada a se encontrar com Alys Rivers, independentemente dos riscos envolvidos. Respirando fundo, ele tomou a decisão que sabia que iria acabar se arrependendo no futuro proximo.

Porque, embora ainda tivesse suas reservas, ele não podia negar o pedido dela.

— Muito bem, Rhaenys. Eu a acompanharei até o Baixada das Pulgas, mas esteja avisada, é um lugar traiçoeiro. Fique perto de mim. — respondeu ele, com a voz carregada de seriedade. — Se você realmente acredita que é necessário, eu irei com você ao encontro de Alys Rivers. Mas seja cautelosa, Rhaenys, e confie em minha presença para mantê-la segura, não sabemos que perigos essa mulher pode nos trazer.

Aemond se levantou de seu assento, com os olhos azuis brilhando de determinação enquanto pegava sua adaga e cinto de novo. Ele a prendeu em sua cintura, certificando-se de que estava bem presa.

Pronto para acompanhá-la nessa jornada potencialmente perigosa.

— Indique o caminho.

Os dois caminharam pelas ruas escuras e becos sombrios da Baixada das Pulgas. Aemond estava tenso porque aquele lugar não lhe trazia boas lembranças, e muito menos cheiro. Um lugar de vício e pecado e todas essas coisas eram como uma segunda natureza para ele, uma desconhecida que ele sentia desgosto.

Enquanto se moviam pelo local, Aemond observava todo tipo de negócios sórdidos e pessoas obscuras e degradativas. Resumindo, era o último lugar em toda Westeros onde ele gostaria de estar.

O ar estava impregnado com o cheiro de sujeira e decadência, e o barulho de gritos e risadas enchia seus ouvidos. O único olho azulado de Aemond examinava os rostos das pessoas por quem passavam, captando sussurros e olhares direcionados a eles. Ele podia sentir a tensão aumentando, ciente de que eles não estavam seguros em meio à miséria e ao caos desse lugar. Ao menos, ele sabia que Rhaenys não seria tão facilmente reconhecida enquanto mantivesse o cabelo prateado escondido, já que ele era mais facilmente reconhecido por conta do tapa-olho que cobria o antigo olho.

— Como você pretende descobrir onde essa mulher está? A Baixada é extensa e com lugares secretos. Você confia nessa mulher? Já falou com ela antes?

Rhaenys, que estava se mantendo perto de Aemond, segurando seu braço para que não tivessem a chance de se perder, suspirou e olhou em volta.

— Não, Aemond. É por isso que eu queria você aqui.

— A última vez que precisei encontrar alguém nesse lugar, três homens tentaram me roubar. — Ele murmurou, sua mão ainda firmemente no punho de sua espada, enquanto a adaga estava do outro lado de sua cintura.

Rhaenys olhou para ele com as sobrancelhas franzidas e um meio sorriso quando ouviu as informações dele.

— É mesmo? Deve ter sido divertido... o que você fez com eles?

— Usei a minha espada.

Rhaenys assentiu, violência, morte e sangue não eram algo estranho e desconhecido para ela. Já que, seu padrasto era Daemon.

Aemond suspirou e continuou a seguir ao lado de Rhaenys. Começando a entrar em outra parte da Baixada das Pulgas, ele reconheceu ser a Rua da Seda, por conta da quantia de mulheres com nada menos que alguns pedaços de tecido ou vestido cobrindo as suas partes menos impróprias.

Um lugar ainda pior, no ponto de vista de Aemond.

Rhaenys começou a andar mais rápido e com mais urgência, também percebendo a natureza do lugar que agora haviam avançado. Ela estava mais do que cansada de vagar por tanto tempo sem uma pista de Alys. Ela olhou em volta procurando o rosto familiar, mas não encontrou nada, nenhuma mulher se parecia com ela.

Ela decidiu chegar a uma parte mais humilhante dela, onde começou a perguntar às mulheres próximas se elas conheciam a mulher, até começou a bater nas portas dos bordéis em busca da bastarda Strong.

Aemond estava aflito, não aguentando mais andar e muito menos ficar conversando com as prostitutas.

— Rhaenys. Nós estamos aqui a quase uma hora em busca dessa tirana, nós dois somos nobres da coroa camuflados em um lugar baixo como esse na esperança de encontrar essa mulher que você tanto está ansiando. — Aemond segurou o braço de Rhaenys e virou ela para que pudesse enxergar o rosto dela enquanto falava, quando estava prestes a bater em mais uma porta de bordel. — Não há porque se sujeitar a uma situação dessa por um bilhete que você não tem conhecimento de ser falso ou não.

— Aemond, eu prometo que esse é o último bordel, se eles não tiverem informações da Alys, então poderemos voltar para a Fortaleza. — Rhaenys, como sempre teimosa, puxou o braço dela do toque de Aemond e usou uma escultura de ferro para bater na porta de madeira desgastada.

Depois de alguns minutos esperando ma frente da porta, uma mulher de cabelos castanhos claros e próxima dos 40 anos, abriu a porta. Vestindo roupas leves e um colar extremamente chamativo e enfeitado, ela olhou os dois de cima a baixo com as sobrancelhas erguidas e um sorriso malicioso de canto.

No entanto, para Aemond, a situação foi diferente. Ele engoliu em seco e encarou a mulher por alguns segundos, antes de baixar a cabeça e puxar o capuz da capa dele para a frente do rosto, na falha tentativa de esconder a feição tão conhecida dele.

Rhaenys conseguiu sentir a tensão do corpo de Aemond ao lado dela de forma imediata.

Ela olhou para ele confusa, mas então focou na mulher, que curiosamente examinava Aemond com a cabeça pendurada para o lado e os olhos semi cerrados.

A situação toda era estranha para Rhaenys, mas ela continuou.

— M'lady... se eu puder fazer uma pergunta a você sobre uma pessoa? — Rhaenys perguntou, mas a mulher manteve o olhar concentrada em Aemond por minutos antes de se virar para ela.

— Sim?

— Você conheceria uma mulher chamada Alys Rivers? Ou então, pela aparência? Cabelos pretos e lisos, olhos verdes e aparência jovem, alta..?

A todo momento, a mulher continuou olhando para Aemond, até mesmo quando precisava responder a pergunta.

— Se ela foi uma cliente minha ou uma prostituta, eu não irei me lembrar... nem todos são tão memoráveis, nem todos voltam mais uma vez. — ela respondeu enquanto olhava na direção de Aemond.

Aemond levantou o olhar para a mulher mas rapidamente baixou. Ele mexia os dedos de forma nervosa, desconfortável. A mente estava borbulhando com memórias desagradáveis que ele tinha certeza ter esquecido a anos e anos atrás.

— Então você não a conhece e não a viu por aqui?

— Não, eu sinto muito, minha lady. — o olhar permaneceu em Rhaenys dessa vez, a examinando também. — Era apenas isso, ou gostaria dos nossos serviços? Posso assegurar que eles não decepcionam, apesar de que alguns experimentam uma vez e não voltam para uma segunda tentativa.

Rhaenys franziu a testa. Ela sentiu que algo estava errado entre Aemond e a mulher, apenas pelo jeito que ele ficou subitamente tenso, quieto e tentando esconder o rosto como se estivesse tentando não ser reconhecido. No entanto, ela sorriu para a mulher e agradeceu, após dar a ela duas moedas douradas.

Aemond se manteve de cabeça baixa, até Rhaenys puxar o couro do gibão dele para chamar a sua atenção, ela chamou o nome dele de forma baixa e indicou com a cabeça para que eles fossem embora.

— Como você cresceu. — a mesma mulher disse baixo enquanto olhava na direção de Aemond, e apesar de que ela acreditou que a frase era direcionada apenas para os ouvidos de Aemond, ela escutou e os olhos de Rhaenys voaram na direção de Aemond, sobrancelhas franzidas e desconfortável com uma situação a qual ela não entendia.

Sem outra palavra, Aemond virou as costas tanto para a mulher quanto para Rhaenys e liderou o caminho com passos largos e rápidos. Rhaenys olhou para a mulher uma última vez e foi atrás de Aemond, acelerando seus passos para conseguir alcançar Aemond. Ela pigarreou quando se aproximou dele e olhou para ele por um longo tempo enquanto voltavam, mas decidiu permanecer em silêncio.

Era isso.

Eles não haviam conseguido encontrar Alys e haviam apenas perdido tempo, e ela sabia que isso também tinha adicionado para a tensão e irritação que Aemond estava sentindo ao lado dela.

O silêncio era constrangedor, apenas as conversas e risadas altas ao redor deles enquanto ambos andavam de cabeça baixa e mexendo em seus dedos de forma ansiosa.

Mas, então, Alys se aproximou deles à distância, vestindo uma túnica escura com o capuz levantado. Ela observava sob a sombra do capuz. Ela silenciosamente os segue, esperando o momento certo para revelar a presença dela aos dois.

Rhaenys se virou quando teve certeza de ter ouvido alguém sussurrar seu nome. Aemond parou de andar, parando ao lado de Rhaenys e olhando em volta com ela quando ela decidiu parar de caminhar de repente, apertando o cabo da adaga de forma alerta apesar da irritação que sentia no momento.

— Eu achei que alguém tinha me chamado, — Rhaenys disse enquanto agarrava o braço de Aemond, depois de olhar em volta, ela olhou para ele de forma apreensiva.

Alys rapidamente e silenciosamente saiu das sombras, parando a uma curta distância deles. Eles não conseguiam vê-la, porque ainda estavam de costas para ela. Sua voz era suave, mas firme e com uma pitada de sotaque estrangeiro.

— Não tenham medo, pequenos dragões. Eu estava esperando para encontrar vocês. — Rhaenys e Aemond giram com agilidade quando escutam a voz, Aemond quase puxando a adaga de seu cinto. Eles veem uma mulher deslumbrante e atraente parada atrás deles, com sorriso malicioso no rosto, como se estivesse esperando por isso. Alys estava usando um vestido de veludo escuro e roxo com um decote profundo, seu cabelo preto caindo sobre os ombros e os olhos verdes encarando os dois.

Agora Aemond havia reconhecido a mulher, a mesma que falava com ele no dia da caçada.

Alys Rivers ergueu o olhar e encontrou o de Aemond. Havia um vislumbre de reconhecimento em seus olhos, uma sugestão de um sorriso em seus lábios.

— Aemond Targaryen, o dragão de um olho só. — disse ela, com uma voz rouca e sedutora. — E sua adorável sobrinha o trouxe como acompanhante, que coincidência e que maravilha. — Aemond estreitou o olho, com uma corrente de cautela e suspeita percorrendo as feições.

Rhaenys deu um passo à frente, sua voz estava cheia de uma mistura de curiosidade e apreensão.

— Alys Rivers, por que você deixou um bilhete para mim? O que você quer? — perguntou Rhaenys, com a voz firme apesar do nervosismo.

Ela apenas sorriu e acenou com a cabeça, começando a caminhar em direção a uma estrada, onde no fim havia uma taverna.

— Fique atrás de mim — Aemond instruiu Rhaenys, sua voz baixa, mas autoritária. — Eu não confio nessa mulher, então se eu precisar desembainhar minha espada, não tente me impedir.

Com pouca caminhada, eles chegaram ao ponto de encontro designado — uma taverna decadente com uma placa esfarrapada mal pendurada em suas dobradiças. Aemond empurrou a porta e o som da música alta e das conversas barulhentas inundou seus sentidos.

Lá dentro, a atmosfera era sombria e esfumaçada, o interior sujo mal iluminado pelas tochas reluzentes. O olho de Aemond se ajustaram rapidamente enquanto ele examinava a sala.

Alys Rivers se recostou em sua cadeira, seu olhar se deslocando entre Rhaenys e Aemond.

— Minha querida sobrinha, Rhaenys, há muito que precisamos discutir. Mas, primeiro, vamos tomar um drinque e ter uma conversa particular. Acredito que temos muito a aprender um com o outro, não? — Alys disse com um sorriso enfeitando o jovem e traiçoeiro rosto, com o tom carregado de intriga.

Aemond trocou um olhar rápido com Rhaenys, transmitindo silenciosamente sua preocupaçãoe suspeitas. Mesmo assim, os dois se sentaram à mesa, prontos para desvendar os segredos que os aguardavam na companhia de Alys Rivers.

A bruxa era claramente perturbada, mas Rhaenys estava desesperada para saber o que havia acontecido com Sor. Harwin. Ela queria respostas, obviamente. Mas Alys estava mais interessada em espalhar boatos sobre a morte de Harwin do que dar a ela informações reais, por enquanto.

Rhaenys estava sentada ao lado de Aemond enquanto ambos observavam Alys, esperando que ela dissesse algo, de forma impaciente.

— Você vai dizer alguma coisa ou está apenas desperdiçando nosso tempo, Alys? — Rhaenys disse enquanto se inclinava sobre a mesa. Aemond permaneceu quieto, com uma mão no punho de sua adaga, esperando por qualquer oportunidade que fosse necessário para fazer uso dela.

Alys olhou para Rhaenys com um sorriso torcido.

— Eu sei quem matou Sor. Harwin. Você realmente quer saber, ou prefere continuar acreditando que ele teve uma morte honrosa?

— Pare de brincadeiras, Alys.

Alys ignorou a demanda de Rhaenys e voltou-se para olhar Aemond.

— O príncipe Aemond é mais homem do que seu irmão mais velho jamais foi e será. — Ela baixou os olhos sedutoramente enquanto sua voz se tornava um sussurro baixo. — Talvez eu queira passar uma noite com ele em troca das informaçãos? Nunca dormi com um homem com sangue de dragão antes.

Rhaenys mordeu a bochecha e apertou a mão debaixo da mesa, olhando para Alys.

— Aemond não é uma opção, ele não é um preço. — Alys ignorou as palavras de Rhaenys novamente e continuou olhando para Aemond, movendo a mão para frente e colocando-a no joelho dele, piscando logo em seguida. — Você está tomando nosso tempo.

Aemond por sua vez, afastou o joelho do toque de Alys e colocou um punho encima da mesa, mexendo na taça que havia sido colocado para ele beber. Lançou um olhar rápido para Rhaenys, desconfortável com a situação e com a aproximação de Alys.

— Hmm, não é sempre que um homem com a força de Aemond resiste a uma beleza como a minha. Interessante, ele deve ter outra pessoa em mente, eu acredito. — Alys murmurou. Sem tirar os olhos de Aemond, Alys colocou a mão no rosto de Rhaenys e puxou a mulher mais jovem para mais perto, sussurrando em seu ouvido. — Talvez alguém da família? Posso tentar pintar meu cabelo de platinado se isso for mais adequado para você, meu príncipe.

— O que você está fazendo? Você nos chamou aqui com um falso pretexto apenas para seduzir Aemond?

Alys se manteve firme, olhando para a fúria nos olhos de Rhaenys, talvez, algum indício de ciúmes. Ela não respondeu, apenas deixou sua mão deslizar sobre a coxa de Aemond, subindo cada vez mais alto.

Rhaenys olhou para baixo e ficou extremamente irritada com as intenções de Alys. Ela apertou o braço de Aemond, chamando sua atenção e então com a outra mão ela empurrou a mão de Alys para longe da coxa do príncipe.

Aemond olhou entre os dois e apertou a mandíbula entre os dentes.

— Talvez devêssemos partir, Rhaenys. — Ele disse com firmeza, levantando-se da mesa enquanto olhava para Alys, que mantinha o sorriso no rosto. — Ela não tem nenhuma informação sobre Harwin, ela apenas fez uma perda de tempo e algum tipo de emboscada doentia contra nós. — Rhaenys, que já estava levantada e levemente chateada consigo mesmo por ser ingênua dessa forma, apenas acenou.

— Oh, mas eu sei! Eu sei exatamente quem matou Sor. Harwin — Alys respondeu presunçosamente. — Gostaria de saber, minha princesa? — Alys se levantou, se aproximando de Rhaenys e então a agarrou pela nuca.

Aemond rapidamente se moveu para proteger Rhaenys, colocando-se entre as duas mulheres, segurando o pulso de Alys.

— Alys, solte ela neste instante!

— Ou o que, meu príncipe? — Alys sorriu enquanto apertava o pescoço de Rhaenys, levemente. — Você irá me obrigar?

Alys soltou o pescoço de Rhaenys e a arrastou de volta para a mesa, empurrando ela rudemente para uma das cadeiras enquanto Aemond veio ao lado dela com sua adaga no pulso.

— Agora querida, ouça com atenção... — Alys colocou a mão na perna de Rhaenys e gentilmente acariciou sua coxa. — ...Eu sei exatamente quem matou Sor. Harwin, mas quero algo em troca da informação. — Aemond apenas ficou lá, sem saber como reagir. Ele sabia que deveria intervir, mas também sabia que as informações sobre Harwin eram importantes para Rhaenys e ela gostaria de ouvi-las.

— Apenas diga, ou eu juro, nem sua caveira vai ficar no chão se você atacá-la de novo. — Aemond ameaçou, a presença do tapa olho e a raiva que surgia deixando ele mais assustador.

Alys não ficou impressionada com a ameaça dele, em vez disso, puxou ela para perto e beijou Rhaenys nos lábios.

Rhaenys não reagiu, surpresa demais para conseguir ter qualquer reação. Até mesmo Aemond foi pego de surpresa, piscando diversas vezes diante da cena que havia acabado de presenciar diante de seu olho.

— Faça alguma coisa, Aemond, ou pegarei o que eu quero por conta própria — ela disse brincando, acariciando a coxa de Rhaenys novamente. Puxando o queixo dela para perto novamente, ela começou a sussurrar. — Seu tio é um homem e deseja o que todos os homens desejam. Tem certeza que quer negar a ele o prazer de uma bruxa?

— Rhaenys... — Aemond disse baixinho, agora andando atrás dela e colocando a mão em seu ombro. — Vamos.

Rhaenys engoliu em seco, algo sobre Alys a assustou, especialmente depois do beijo. Ela era louca, completamente psicótica.

Alys ficou furiosa com a rejeição de ambos. Ela se levantou bruscamente e se aproximou de Rhaenys novamente, tentando tirar a capa e mostrar o cabelo platinado dela, puxando-a pelo pescoço. Aemond tentou agarrar a mão de Alys, mas ela foi muito rápida e rapidamente pegou a adaga do cinto de Aemond e a segurou contra a garganta de Rhaenys.

— Eu sei quem matou o Sor. Harwin e eu estou disposta a trocar o nome dele por sua beleza, pequeno dragão.

— Isso não vai acontecer. — Aemond respondeu por Rhaenys. Alys forçou a adaga um pouco mais e Aemond apertou a mandíbula novamente, indo por trás de Alys e a puxando pela cintura para afastar ela de Rhaenys. A bruxa estava pouco abatida pela atitude de Aemond, e simplesmente sorriu para eles.

— Certo! Você quer a verdade? Aqui está... — Ela se aproximou deles e sussurrou. — Foi Daemon, Daemon Targaryen quem matou Sor. Harwin. Agora, o que você vai fazer sobre isso? — Aemond ficou totalmente estupefato e por um momento até Rhaenys ficou sem palavras.

Mas então, ela tentou falar. O medo sendo substituído pela raiva.

— Você está mentindo. Daemon estava longe quando Sor Harwin foi morto. Você está tentando colocar coisas na minha cabeça, tentando destruir nossa família mais do que já está!

Alys riu enquanto continuava falando.

— Esse é o espírito, princesa... você é inteligente. Você vê através da minha farsa! Impressionante. — Alys sorriu novamente, aquele sorri doentio que apenas ela tinha — Sor Harwin foi realmente morto por... mim.

Outra pausa.

— Você havia mencionado sobre Larys, você me disse que Harwin era seu meio irmão e Lyonel seu pai então pare de dizer mentiras, Alys.

— Sor Harwin não morreu do ferimento de adaga que Larys Strong lhe deu e nem do fogo. Ele morreu por causa do meu veneno, morreu antes do incêndio começar e eu o tranquei lá para ter certeza. — Ela deixou um beijo na testa de Rhaenys e um beijo no ombro de Aemond. — Eu sou bastarda de Lyonel Strong. E Larys estava definitivamente na trama, foi ele quem ordenou o golpe e o fogo em Sor Harwin e Lyonel... afinal, ele estava em seu caminho.

Aemond olhou para Rhaenys em completa descrença, percebendo a verdade por trás das palavras da bruxa. Porém, não estava tão surpreso quanto Rhaenys estava.

— Quem realmente matou Harwin, fui eu e essa é a verdade, princesa.

— Por que você fez isso?! Harwin era um homem bom, ele era leal e corajoso e tinha uma família! Como você conseguiu matar sua própria família dessa forma?!

— Tem razão, princesa. Ele era um bom homem e se importava com você, seus irmãos e sua mãe. Mas eu também o amava e estava cansada de ser tratada como uma peça secundária e esquecida... Então eu decidi resolver o problema com minhas próprias mãos. Você não acha que eu também mereço um pouco de felicidade? Veja, Larys é um homem ganancioso, sempre tentando acumular poder e mais poder. E ele estava disposto a fazer de tudo para conseguir o que queria, incluindo matar seu próprio pai e irmão. — Mais um passo em frente para perto de Rhaenys e Aemond. E ele conseguia sentir que a sobrinha estava perto de surtar se Alys chegasse mais perto. — A morte deles me ajudou a tomar o controle de Harrenhal, e isso me permitiu proteger o castelo contra as guerras que irão vir. Por mais que eu odeie admitir, sua morte foi necessária.

— Você é doente, bruxa. Você é baixa a ponto de precisar ganhar poder através da morte das pessoas, levantando suas saias para os homens como se isso fosse trazer qualquer tipo de alívio mas você não passa de uma bruxa que usa da feitiçaria para ter o que precisa por não ser o suficiente para nada!

Alys se levantou e puxou Rhaenys para perto dela.

— Cuidado com a língua, princesa. Lembre-se de quem é o responsável pela morte de seu amado Harwin. — Rhaenys empurrou Alys pelo ombro, com força suficiente para desequilibrar a mulher. Ela se lançou para frente mais uma vez, agarrando os quadris de Rhaeny e beijando seu pescoço novamente. — Eu sei mais do que você jamais poderia esperar saber. Você pode ser uma montadora de dragão, mas eu tenho algo que você nunca terá... e eu vou ter, seu precioso tio...

O sorriso de Alys desapareceu e ela olhou para Aemond quando ele colocou a adaga em seu pescoço, antes de olhar para Rhaenys. Ela levantou as mãos em um gesto de rendição e sorriu para ele, sua respiração lenta e calma. Alys tentou recuar, mas Aemond manteve um aperto firme em seu ombro, apertando a adaga em volta do pescoço dela, e ela olhou para Rhaenys, um olhar de súplica, como se estivesse tentando fazê-la intervir.

Mas Rhaenys simplesmente ficou ali, observando sem remorso algum enquanto a situação se tornava cada vez mais tensa.

— Aemond, deixe-a. Tal morte seria muito simples para ela, e quando chegar a hora certa... ela receberá o castigo adequado, e espero que seja feito por minhas mãos... é uma promessa, de sangue. — Aemond hesitou, mas depois de um momento, relutantemente deixou cair o braço com a adaga ao seu lado. Ele recuou e empurrou Alys com força, forçando ela a cair no chão.

— Estarei de olho nela. — ele disse baixo para Rhaenys, pegando sua adaga do chão e acenou para Rhaenys seguir ele até a parte de fora da taverna.

Rhaenys olhou uma última vez para Alys, seus olhos dilatados e seus lábios tremendo de raiva enquanto seus pulsos estavam cerrados em punhos fortes, tantos eventos em um curto espaço de tempo que ela não teve reação alguma além de seguir Aemond em completo silêncio.

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