047
A Fortaleza estava silenciosa. Era uma manhã calma, como a maioria delas.
Exceto talvez, pelo corredor oeste, onde os gritos da princesa Rhaenyra ecoavam através da porta. Gritos de dor, ou ansiedade, ou felicidade.
Faziam quase duas horas que a princesa havia entrado em trabalho de parto, Rhaenys estava dormindo quando Lucerys invadiu o quarto dela para contar a notícia de que a mãe deles estava parindo.
Então, nessa situação, Rhaenys estava no corredor e do lado de fora da porta, ainda vestindo a camisola dela. Jace, Luke, Joffrey, as gêmeas e Daemon também estavam do lado de fora.
E Alicent, por alguma razão também estava presente.
Servas dornesas cuidavam do parto e acalmavam a Princesa com sussurros e palavras positivas, mas não era o suficiente. Seus gritos de angústia eram ensurdecedores, transmitiam a ansiedade e a dor que Rhaenyra estava sentindo no momento, apertando os lençóis e xingando os servos, sem ter a intenção.
Rhaenys parou diante da porta e ouviu tudo, segurando a mão de Jace com força. Mesmo que ela já tivesse visto Rhaenyra dando à luz antes, ainda assim, sempre era tão assustador ouvir todos os gritos de dor e agonia. Ela entendia que sua mãe estava sofrendo, e a única coisa que ela tinha permissão para fazer era ouvir e rezar aos Deuses para que sua mãe e 'Visenya' ficassem bem e com saúde.
Ela se manteve parada por um tempo. Depois, começou a andar em círculos pelo corredor enquanto os gritos da mãe aumentavam a cada minuto passado. O corredor oeste estava embriagado de ansiedade de todos que ali estavam. Jace tentava manter Rhaenys calma, mas ela estava agitada demais para escutar o irmão.
— Deixe-me entrar lá. — Rhaenys pediu enquanto olhava para Alicent.
Alicent levantou o olhar para Rhaenys, a rainha estava em um canto, mordendo a carne envolta das unhas, maltratando a pele tão suave.
— Não, Rhaenys. Rhaenyra escolheu dar à luz em particular e longe da corte, você não deve perturbá-la. — Alicent disse severamente.
— Não perturbá-la? Ela é minha mãe, e eu pedirei perdão por estar contradizendo a sua palavra, Vossa Graça, mas eu realmente não lembro de minha mãe ditando essas palavras.
Alicent agarrou a mão dela e deu acariciou na tentativa de tenta acalmar Rhaenys, olhando em seus olhos azuis escuros. Seu rosto, lembrando de quando Rhaenyra era jovem, uma semelhança quase idêntica que elas tinham.
— E você a verá em breve. Por enquanto, deixe sua mãe em paz, por favor. Não deixe sua preocupação tomar conta de você.
— Não quero que me toque, Vossa Graça. Em Dragonstone, eu estava com minha mãe quando ela deu à luz Aegon, e depois à Viserys. Eu vou entrar, não me importa se posso ou não, ela é minha mãe e eu preciso estar com ela agora.
Alicent suspirou profundamente, mas sua determinação não foi dita. Ela sabia que Rhaenys queria isso, e ela queria dar isso a ela. Mas, por outro lado, Alicent ainda é a Rainha, e regras são regras. Ninguém é permitido no parto além do meistre e as parteiras ou servas.
— Minha querida... sua mãe está em boas mãos. Ela e seu filho ficarão bem. — Ainda assim, Rhaenys resistiu, mas Alicent se manteve firme e a bloqueou na porta. Eles não podiam ouvir nada além dos gritos desesperados e dolorosos de Rhaenyra.
Naquele momento, Rhaenys sentiu algo que não sentia desde seus primeiros dias em Dragonstone. Uma raiva ardente cresceu dentro dela, alimentada não apenas pelos gritos de sua mãe, mas também pela impotência e humilhação que sentiu por lhe ter sido negado o acesso ao parto. Sua mãe estava parindo, mas ela estava sendo barrada e dispensada como uma criança.
Rhaenys não aceitaria mais isso, mesmo que Alicent fosse a Rainha Consorte. Rhaenys avançou e ela parou na frente de Alicent e olhou para ela.
Daemon, que também estava queimando de raiva, olhou para Alicent. Ele estava furioso, assim como Jacaerys, que não sentia vontade alguma de intervir qualquer coisa que Rhaenys estivesse desejando fazer.
Os gritos de Rhaenyra ficavam cada vez mais insuportáveis a cada minuto que passava. Rhaenys ficou tensa e pálida, e Daemon estava perdendo a paciência, segurando firmemente o cabo da espada.
— Vossa graça... Alicent. Eu preciso ficar com minha mãe, por favor. Se você não permite como rainha, permita como mãe.
Alicent hesitou por um momento, obviamente relutante em deixar Rhaenys entrar. Mas depois de um momento de consideração, ela saiu da frente da porta, devagar.
— Seja rápida. — Alicent disse em voz baixa e calma, com um pequeno sorriso nos lábios.
Rhaenys correu para dentro e parou imediatamente ao ver Rhaenyra com uma dor tão forte. Diferente de quando deu à luz Aegon ou Viserys, parecia ainda mais doloroso e agoniante.
— Mãe? — Rhaenys caminhou em direção a Rhaenyra, sorrindo e agachando-se ao lado da cama, segurando a mão suada e trêmula.
O rosto de Rhaenyra estava vermelho de dor e suor, mas ela sorriu quando viu sua filha ao lado dela. Apesar das lágrimas e do sangue, ela ainda parecia incrivelmente bonita. Ela não disse nada além do sorriso, ela apenas apertou a mão de Rhaenys com força e, por alguns instantes, Rhaenys jurou que os olhos da mãe brilharam.
— Mãe, você está indo bem. Eu aposto que é uma menina, e vamos chamá-la de 'Visenya', igual a conquistadora.
Rhaenyra riu e olhou para sua barriga, ainda bem predominantemente, ainda acomodando a Visenya.
— Visenya... Eu gosto desse nome. — O sorriso dela sumiu um pouco e ela estremeceu com outra contração. Ainda apertando a mão de Rhaenys.
Rhaenys virou o rosto na direção do meistre.
— Quanto tempo até que o bebê consiga sair?
— Na verdade, este parto está demorando mais do que deveria, princesa. — O meistre balançou a cabeça e olhou para as parteiras. Ele caminhou até o pé da cama, onde ficou na ponta dos pés para inspecionar o bebê com o toque. — O bebê está pronto para nascer. Acredito que não teremos que forçar, mas... recomendo que não demore muito.
Rhaenys ficou um pouco apreensiva. Se o bebê já estava pronto para nascer então porque Rhaenyra sentia mais dor do que o normal?
— Está tudo bem, meistre? Nenhum deles está em risco?
O meistre acenou com um sorriso tranquilizador para Rhaenys. Ele se virou para a ama de leite, que estava ajudando a aliviar a dor da mãe.
— Devemos dar mais um ou dois empurrões, depois forçar se necessário. Seria melhor tirar o bebê o mais rápido possível.
— Preste atenção na minha mãe, ela é importante também. Vocês já deram leite de papoula para ela? Chá? Massagem? — As parteiras acenaram. Rhaenys sorriu para elas, ela confiava nas três mulheres que foram as mesmas que fizeram o parto da própria Rhaenys.
— Sim, princesa. Farei o possível para garantir a segurança dela. Agora, se você quiser ficar ao lado da cama, devemos prepará-la.
O meistre olhou para Rhaenys e ergueu uma sobrancelha. Ela entendeu e fez o que foi dito, Rhaenys se posicionou ao lado da cama novamente, segurando a mão de sua mãe com força e segurança.
Rhaenys quase não conseguiu segurar as lágrimas de emoção e o sorriso no rosto, com as bochechas coradas de nervosismo assim como Rhaenyra. Ela levou a mão para o rosto da mãe e tirou um pouco do cabelo dela da frente do rosto.
— Mãe, você está indo muito bem... tente aguentar mais um pouco, por favor. — Rhaenys tentou confortá-la de todas as maneiras possíveis. Ela se inclinou para frente para dar um beijo na testa de sua mãe. — Vamos, você está quase conseguindo!
O aperto de Rhaenyra aumentou quando ela baixou a mão, gritando de dor novamente. Ela respirou pesadamente e enxugou o suor e a lágrima que cobria seu rosto. O meistre deu um passo à frente e olhou para as duas princesas.
— É agora ou nunca, Princesa. Se não conseguirmos tirar esse bebê no próximo empurrão, você correrá um grande risco.
— Eu posso fazer isso. Eu sou forte o suficiente... Eu sou forte o suficiente. — Ela disse baixo, tentando inspirar e expirar.
Rhaenyra deu à luz seis filhos até agora, ela estava prestes a parir o sétimo. Rhaenys não conseguia imaginar outra mulher mais forte e corajosa do que a mãe dela.
Finalmente, ela deu um último empurrão forte que foi o suficiente para empurrar o bebê para fora. E com isso, o nascimento do novo bebê chegou ao fim, sinalizando o sucesso do parto.
— O bebê está aqui! — gritou o meistre. Rhaenys sorriu e apertou a mão de sua mãe animadamente.
Mas, estava em silêncio.
Rhaenys sentiu uma onda de pavor ao olhar para o bebê novamente. A serva segurava o bebê nos braços e ele não parecia se mexer.
— Faça o bebê chorar! — Rhaenys gritou para o meistre.
Rhaenyra estava confusa. Rhaenys estava confusa. Todos no quarto estavam confusos.
— O bebê não vai chorar. Você deu à luz uma menina, mas ela não está... respirando. — O meistre respondeu de forma baixa enquanto olhava Rhaenyra.
— Não, ela está bem. Você só precisa... limpar o nariz e os pulmõezinhos dela, ela vai ficar bem, você vai ver. Meu bebê está bem e vivo.
O meistre olhou para Rhaenyra com uma expressão triste no rosto.
— Minha Princesa, eu sinto muito... mas o bebê não está vivo..
Rhaenys levantou-se e pegou o bebê dos braços do meistre, levando-a para a superfície mais próxima. Rhaenys pegou alguns panos das mãos das parteiras e olhou para o bebê. Ela sorriu para a pequena Visenya.
— Você vai ficar bem, eu vou fazer você respirar meu pequeno dragão. Você esta viva, eu não vou permitir que você seja levada.
Rhaenys, apesar do fato de estar escondendo seu medo para a não assustador Rhaenyra, sorriu novamente e começou a limpar o nariz de Visenya, limpando e limpando quase desesperadamente, esperando que ela pudesse respirar.
Por quase três minutos Rhaenys ficou limpando o nariz dela, a pequena boca. A pele estava pálida demais. Rhaenys começava a chorar, Rhaenyra também.
Então, o peito minúsculo do bebê arfou e houve um pequeno gemido — e um pequeno choro. Os próprios soluços de alívio de Rhaenys se juntaram aos do bebê, ela aconchegou sua nova irmã em seus braços, a segunda garota de Rhaenyra.
O meistre foi rápido em enrolar um cobertor em volta do bebê, mas Rhaenys não permitiu que o meistre tocasse no bebê novamente. Ao invés disso, ela levou Visenya até o colo de Rhaenyra. Ela segurou sua nova filha perto e olhou em seus lindos olhos azuis e cabelos brancos, bochechas coradas e choro constante, sorriu ao ver que Rhaenys havia conseguido ajudar Visenya.
— Visenya. Ela é linda, minha filha... — Rhaenyra riu em meio às lágrimas. — Ela é linda e parece saudável e forte. — Ela não conseguiu mais segurar as lágrimas e elas voltaram a escorrer por suas bochechas, enquanto ela beijava a cabecinha do bebê. — Obrigada Rhaenys, você salvou a vida da sua irmã, você a protegeu como sempre faz com todos nós.
— Ela é um presente dos Deuses. — Rhaenys disse sorrindo e se abaixando ao lado da cama novamente para olhar Visenya, seus olhos brilhavam com lágrimas.
O meistre limpou a garganta e reverenciou para Rhaenyra e Rhaenys, chamando a atenção delas.
— Minha princesa, eu.. — O meistre tentou explicar a razão pela qual ele segurou o bebê pela coluna para extraí-la, mas Rhaenyra o interrompeu.
— Esse bebê estaria morto se não fosse pela minha filha. Agora, saia da minha visão, você já fez o bastante. — Rhaenyra estava tremendo de raiva, mas Visenya estava viva e isso era tudo que realmente importava para ela. Ela se sentou na cama novamente e gentilmente colocou a filha no peito para alimentá-la.
Rhaenys foi a próxima a ir na direção do meistre, ainda mais irritada que a mãe.
— Eu não quero ouvir desculpas para ela. Você estava tão seguro de si... não se importava se iria machucar minha mãe ou matar o bebê! — Rhaenys avançou na frente dele — Se não fosse por mim, aquele bebê estaria morto e seria sua culpa por causa de sua negligência!
As parteiras pareciam irritadas também.
— Você não fez o seu trabalho direito. Espere até Daemon souber sobre isso. Seja grato por minha mãe estar viva, caso contrário, sua cabeça estaria em uma bandeja.
O meistre recuou, sua pele pálida e de aparência doentia — ele era um homem morto andando, assim que Daemon soubesse, ele apenas sabia disso.
[...]
Mais tarde, todos estavam nos aposentos da princesa, segurando Visenya e acariciando os pequenos fios platinados e pele macia do bebê. Joffrey sentia ciúmes de tantas pessoas tocando na nova irmã, ele queria Visenya apenas para ele.
Rhaenys passou o dia inteiro ao lado da mãe e do bebê. O pressentimento dela estava certo, era uma menina.
Era a Visenya.
E apesar das complicações, ela era um bebê forte e formidável. Tinha mãos ligeiras e olhos curiosos, soluços incessantes e uma fome ainda maior. O ovo dela já havia sido posto para chocar e se estivessem certos, em menos de uma semana a casca iria chocar e um pequeno escamado nasceria para acompanhar o berço de Visenya nas noites que viriam.
Enquanto todos acabaram indo, de forma relutante, aos seus deveres, Rhaenys permaneceu ali, junto de Daemon e Rhaenyra.
Lado a Lado.
Uma batida fraca foi ouvida na porta entre aberta dos aposentos da herdeira. Os três olharam para a direção do som, uma sobrancelha erguida talvez de surpresa ou desconfiança quando viram quem era a pessoa.
Alicent ficou perto da porta, sempre vestida em verde e com enfeites no cabelo, tiaras francesas com esmeraldas para dar contraste ao ruivo cobre.
O riso da criança encheu o ar enquanto Rhaenys embalava sua irmãzinha nos braços, quando Alicent finalmente se aproximou delas, calmamente.
— Posso segurá-la? — Alicent estendeu os braços, mas fez a pergunta enquanto olhava para Rhaenyra. A princesa hesitou por um momento, mas acenou para Rhaenys, dizendo que estava tudo bem entregar Visenya no colo de Alicent.
A rainha foi cuidadosa enquanto embalava Visenya em seus braços. Ela sorriu e deu um beijo na testa do bebê, ela olhou nos olhos do bebê. Grandes olhos azuis. Então ela se voltou na direção de Rhaenyra e Daemon e, apesar da tensão, ou talvez por causa dela, sua voz era gentil, quase... amorosa.
— Ela é linda, Rhaenyra. — Daemon suspirou de forma indiscreta e revirou os olhos quando Alicent fez o comentário, segurando no ombro da esposa.
Daemon aproveitou o momento para ir na direção de Rhaenys. Ele colocou uma mão carinhosa na bochecha de Rhaenys, um ato incomum vindo de Daemon, mas não quando se tratava dos filhos dele. Fossem com Laena ou com Rhaenyra.
— Você fez um ótimo trabalho hoje. Visenya é forte e saudável, e esta viva por sua causa. — ele deu um beijo na testa de Rhaenys e assistiu a enteada ainda usando uma camisola e com vestígios de sangue do parto de Visenya. — Vá para seus aposentos descansar, poderá vir aqui amanhã.
Rhaenys não protestou, afinal ela realmente estava exausta apesar de não ter feito praticamente nada. Ela pediu licença aos três adultos e deu um beijo na cabeça de Visenya antes de partir pela porta de madeira.
Ela caminhou com um pequeno sorriso no rosto em direção aos próprios propósitos. Orgulhosa de si mesmo por ter salvo a vida da irmã e orgulhosa da mãe pelo esforço e carinho que teve durante todo o processo de gravidez.
Mas por agora, ela precisava apenas tomar um banho e descansar pelo resto da noite.
Ou não.
Quando Rhaenys entrou no quarto dela, ela foi em direção a cama dela para acender as velas ao redor da cama e perto das janelas, para iluminar um pouco. No entanto, encima de seus travesseiros havia um pedaço de pergaminho velho com escritas, como se fosse um bilhete. Rhaenys pegou cuidadosamente o pedaço de papel na mão e foi para perto da luz para conseguir ler.
"Você deveria ter mais segurança no seu quarto, minha princesa, foi fácil entrar aqui. Eu preciso que me encontre na Baixada das Pulgas ainda esta noite, são assuntos de importância sobre Sor Harwin Strong que eu acredito que você tenha grande interesse.
Parabéns pela sua nova irmã, Alys Rivers."
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