046

À medida que o dia seguinte avançava e as festividades continuavam em comemoração ao dia do nome de Aegon III, Aemond encontrou consolo na companhia de outros nobres, conversando e apreciando o banquete que estava sendo preparado para o último dia de caça.

No entanto, sua mente sempre voltava para Rhaenys e Cregan, sendo na floresta ou a dança que compartilharam envolta da fogueira na noite passada.

Apesar de estar conversando com os nobres, Aemond sentia que poderia estar tendo o momento da vida dele se estivesse voando com Vhagar nesse exato segundo, ao invés de estar escutando bobagens de aliança.

E além disso, ele queria estar compartilhando cama com Rhaenys, mesmo que não fosse de forma íntima. Por conta de seus pensamentos intrusivos, Aemond quase decidiu visitar a tenda de Rhaenys no meio da noite, mas a vila era um lugar aberto e ainda mais, ele sabia que ela estava dividindo tenda com o caçula, Joffrey.

Quando Rhaenys finalmente acordou, as servas vieram imediatamente para a tenda dela, a preparando com banhos de jasmin e baunilha, óleos no cabelo e fazendo uma trança única e com adornos dourados para decorar. Usando um vestido azul claro, ela se encheu de jóias, dos mais diversos anéis até os colares dourados e pulseiras no mesmo tom.

Como costume, ela deu um beijo na bochecha de cada um dos irmãos dela, nas duas primas e nos pais.

O olhar de Aemond a seguiu, com uma mistura de curiosidade e uma pontada de admiração percorrendo-o. Ele não conseguia se livrar da sensação de que ela era a única mulher que ele conhecia. Ele não conseguia se livrar da sensação de que a conexão entre eles era mais profunda do que o mero desejo físico, mas somente o tempo diria a verdade sobre seus desejos e a relação entre eles.

Rhaenys deu um último sorriso antes de ir em direção a mesa do café da manhã para pegar algumas frutas para comer, conversando com a tia, Helaena, no processo, indagadas em uma conversa sobre os diversos insetos que a tia havia encontrado ao redor da vila. Ela admirou por minutos enquanto escutava a voz calma de Helaena contar sobre como uma espécie específica de aranha comete suicídio para servir de alimento para os próprios filhotes, e apesar de Rhaenys achar o fato totalmente melancólica e sombrio, ela sorriu para a tia.

Há um fio vermelho invisível que une as pessoas que estão predestinadas a ficar juntas, independente do tempo, lugar ou circunstância. O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir. — Helaena disse enquanto fixava o olhar nas próprias mãos e então segundos depois olhou diretamente nos olhos de Rhaenys. — Há um fio vermelho invisível que une as pessoas que estão predestinadas a ficar juntas, independente do tempo, lugar ou circunstância. O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir.

Helaena repetiu o ditado por alguns minutos antes de sorrir e dar meia volta, indo em direção a tenda dos filhos dela. Rhaenys ficou olhando para a direção onde Helaena havia ido por bons segundos, confusa e tentando interpretar a frase da tia, até sentir uma mão gelada no ombro dela.

Aegon se aproximou de Rhaenys, com um sorriso pronto para provocar ela sobre Aemond.

Quando Aegon se aproximou, Rhaenys revirou os olhos. Ela sabia o que estava por vir. Ainda assim, ela sorriu fracamente para seu tio mais velho.

Aegon estava sempre pronto para provocar alguém, especialmente sua sobrinha. Ele sabia que a incomodava, e ele adorava fazer isso apenas o suficiente para provocar ela. Aegon sorriu para Rhaenys e cruzou os braços quando parou ao lado dela, um olhar malicioso pairando pelas orbes azuis e dilatadas do tio enquanto ela respirava pesado com apenas a presença dele a irritando.

Rhaenys virou-se para Aegon, que ainda estava sorrindo e olhando de forma presunçosa para ela.

— O que é tão engraçado, Aegon? — Ela perguntou, já sabendo a resposta da pergunta.

— Ouvi dizer que você e Aemond têm algo especial juntos, querida sobrinha. — Ele brincou. — Aemond parece confortável com sua nova lady.

Ela levantou a sobrancelha por alguns segundos e então Aegon a puxou para o outro lado da mesa, dessa forma ela não estava de costas para Aemond e a lady. Rhaenys franziu as sobrancelhas novamente, afastando a mão de Aegon do ombro dela e então olhando para frente, onde Aemond conversava com uma mulher de vestido bordô e cabelo preto como carvão, pele pálida e aparência jovem.

Era obviamente uma mulher atraente. Rhaenys não o culparia por parecer interessado nela. Ainda assim, ele realmente deveria ser mais esperto e mais discreto sobre isso. Ela observou por alguns minutos e então desviou o olhar para Aegon.

— Ela parece gostar da companhia dele. — Rhaenys disse, sua voz cheia de ironia. Ela não precisava apontar o óbvio.

— Talvez ela goste um pouco demais — Aegon completou, um sorriso malicioso surgindo em seu rosto provocador. — Aemond pode ser bem charmoso quando quer, disso você já sabe, não é sobrinha?

Rhaenys sentiu suas bochechas esquentarem de raiva e vergonha ao olhar para Aemond e a dama e depois para Aegon novamente. Ela sabia o que Aegon estava insinuando.

— E por que eu deveria me importar? — ela respondeu baixo, brincando com os anéis em seu dedo. — Ele não é meu noivo, muito menos meu marido.

Aegon riu algumas vezes e então suspirou enquanto murmurava algumas coisas em valiriano e se servia com uma taça de vinho, olhando Aemond conversar com a lady de cabelos escuros e vestido bordô. Ele levantou o olhar para Rhaenys outra vez, ainda com o mesmo sorriso que causava dor de cabeça nela.

De longe, Jacaerys fazia sinais para Rhaenys, os quais ela retribuiu dizendo que estava tudo bem, por enquanto.

— Ah, não me venha com isso, sobrinha. — Aegon zombou dela, tomando um gole do saboroso vinho dornês. — Você quer meu irmão só para você. É uma coisa mais do que óbvia... mas é claro, o que aquela lady poderia dar a Aemond que você não pudesse? — Aegon perguntou, revirando os olhos de brincadeira, gostando de ver suas bochechas corarem, ele tinha certeza de que Rhaenys estava começando a sentir ciúmes.

Ela se virou com um suspiro alto e uma carranca estampando nas expressões faciais dela.

— Novamente, tio. Aemond não é meu marido então não há razões racionais para que eu me importe com qual lady ele conversa ou então deixa de conversar...

Rhaenys discretamente lançou um olhar na direção de Aemond, observando o fato de que a lady parecia ter se aproximado mais dele desde a última vez que ela havia espiado os dois conversando. No entanto ela desviou o olhar outra vez e focou nas comidas que haviam na mesa em sua frente.

Aegon não desistiu, é claro. Amando ver como ela estava começando a ficar incomodada não apenas com ele, mas com a visão da proximidade do irmão com a mulher.

— Quem disse alguma coisa sobre ele ser seu marido, Rhaenys? — um leve toque em seu ombro para chamar sua atenção. — Ele não é seu marido, mas sim seu amante, não é, minha sobrinha? Aemond é um homem, e tenho certeza que ele tem necessidades, assim como você e quando ele não pode ter você... ele pode ter outra. — Aegon apontou com o queixo para onde Aemond ainda conversava com a mulher, agora parecendo que eles estavam flertando.

Ela observou à distância a situação entre Aemond e a lady, e a aparente necessidade da mulher em precisar estar tocando Aemond, seja no braço ou até mesmo no tapa olho, gerando uma mistura de perguntas e emoções dentro dela. Raiva, inveja e uma sensação de traição corriam em suas veias, apesar de suas tentativas de suprimi-las e sua óbvia hipocrisia.

Mantendo uma fachada de serenidade, Rhaenys revirou os olhos e olhou de canto para Aegon pela vigésima vez, tentando esconder as emoções turbulentas que se agitavam dentro dela pela primeira vez em relação a Aemond.

— Você já a viu antes? Eu nunca vi essa lady na corte antes, sabe qual é a casa dela?

— Oh? O que é isso que eu vejo aqui? Minha sobrinha favorita parecendo um pouco... ciumenta, talvez?

— Eu apenas perguntei sobre a casa que ela pertence, apenas. Não há ciúmes nenhum aqui.

Aegon levantou uma sobrancelha, um quase sorriso aparecendo nos lábios. Rhaenys havia dito a mesma coisa que Aemond disse quando viu Rhaenys e Cregan juntos no dia anterior. Interessante, no mínimo, que ambos tenham dito a mesma coisa em situações semelhantes, se não iguais.

— Infelizmente eu não posso lhe dar essa informação, sobrinha, assim como você eu também nunca vi essa mulher aoa arredores... e eu também não passo boa parte do meu tempo dentro da Fortaleza se não houver necessidade então receio que essa pergunta terá que ficar em aberto, por enquanto.

Apesar de toda a situação, a mente de Rhaenys estava repleta de emoções conflitantes. Culpa misturada com desejo, enquanto as linhas se confundiam entre seus laços familiares e seus desejos carnais. Mas, por enquanto, ela preferiu manter suas dúvidas no fundo da mente dela.

Aegon desfez o sorriso do rosto e olhou para Rhaenys mais seriamente agora, empurrando de leve ela para atrair a atenção da sobrinha para ele novamente.

— Aemond é um homem complexo, Rhaenys. — Aegon disse, rindo um pouco. — Suponho que os interesses dele possam ser... um pouco mais amplos do que esperávamos. — Ele olhou para Aemond e a mulher mais uma vez, depois para Rhaenys. — Ou ele pode estar apenas tentando lhe deixar com ciúmes. Você sabe como ele pode ser orgulhoso, sobrinha. Você pode perceber a forma como a lady está tocando o braço dele, ou 'acidentalmente' sua mão ou a adaga da cintura dele. — Aemond ainda estava falando, e talvez flertando com a lady. Seus braços se tocaram novamente quando ela lhe entregou uma taça de bebida.

— Se essa seria a intenção dele então eu posso dizer que não... não está funcionando, e além de que não há razões para ele fazer tal coisa, tio.

Aegon bufou e revirou os olhos. Ele não conseguia entender como os dois conseguiam ser tão orgulhosos em um nível idêntico de teimosia

— Claro. Você pode continuar dizendo isso a si mesma, sobrinha, mas você sabe como as coisas funcionam, e o fato de ele ter encontrado outra pessoa para flertar claramente te afetou. — Rhaenys olhou novamente, as bochechas ainda coradas com a mistura de emoções enquanto ela apertava a haste do cálice dela até os nós dos dedos se tornarem brancos. — Aemond não é como eu quand se trata de mulheres.

Rhaenys riu um pouco e olhou para Aegon com as sobrancelhas erguidas.

— Ele não é um prostituto, você diz?

Aegon também ergueu as sobrancelhas para ela mas riu logo em seguida, gostando da piada de Rhaenys sobre as atividades extracurriculares dele.

— Exatamente isso. Aemond é difícil e perturbado, e quando se trata de mulheres ele é seletivo, até mesmo com sexo. — ele se moveu um pouco mais para longe de Rhaenys. — Rhaenys, mesmo se eu fosse cego, poderia dizer que Aemond é um chato para qualquer tipo de relação, mas acredite em mim quando digo que ele não estará interessado em nenhuma outra mulher enquanto você estiver por perto. Eu até posso dizer que eu acho que ele preferia estar conversando com você, do que com ela.

Aegon deu uma piscadela a Rhaenys e então se afastou da mesa, indo em direção a algumas servas que estavam arrumando uma outra mesa.

Rhaenys deu um último olhar a Aemond antes de focar o olhar novamente nas próprias mãos e absorver um pouco das palavras de Aegon.

Que bobeira.

Ela balançou a cabeça um pouco, afastando qualquer emoção e pensamento que não fosse necessário no momento, e então deu as costas para a antiga mesa e foi em direção a Lucerys e Rhaena.

[...]

Quando o sangue vermelho se misturava com o laranja do fogo, indicando o entardecer, os estandartes e enfeites da caçada estavam sendo desarmados e as carruagens de volta preparadas. Rhaenys estava com Viserys no colo, como de costume, enquanto a mãe se ocupava com as demais coisas e frequentemente sentia chutes fortes na barriga dela, a pequena Visenya tentando adiantar sua vinda.

Rhaenys apontava com o dedo na direção de pássaros e animais ao redor da vila, chamando a atenção do irmão mais nova enquanto mexia ele no colo dela, um sorriso pequeno nos labios toda vez que Viserys tentava balbuciar algo ou formar frases.

Mas o que mais importava para Rhaenys era que ele havia aprendido a falar 'Rhae' e 'Nys'.

De forma distraida, ela andava ao redor da vila com ele no colo, mostrando ao redor enquanto tudo era organizado para a volta deles em direção a King's Landing.

Uma mulher de cabelos negros, vestes finas, olhos esmeraldas, pele pálida como neve e unhas afiadas observava Rhaenys de longe. Um meio sorriso na ponta de cada lábio e um olhar que poderia causar calafrios em qualquer homem de grande poder, como se ela tivesse um feitiço sob as duas gemas esmeraldas que enfeitavam suas íris.

— Interessante sua única mecha castanha. — A mulher disse. Rhaenys se virou quando escutou a óbvia característica ser demarcada pela suave voz.

Seu olhar caiu por alguns instantes quando ela reconheceu a mulher ser a mesma que conversava com Aemond no início da manhã, aquela que Aegon apontou diversas vezes estar mostrando interesse óbvio no príncipe.

Rhaenys sorriu de forma educada.

— Se foi um elogio, então eu agradeço, minha lady.

A mulher fez um murmurio com a garganta e sorriu novamente, olhando na direção de Jacaerys, Lucerys e Joffrey e então em Rhaenys novamente.

— Certamente, minha princesa. Eu acho interessante que de todos os filhos da princesa Rhaenyra com o primeiro marido, você seja a única a ter os cabelos platinados mas ainda sim, com essa única mecha castanha sua, assim como o cabelo de seus outros três irmãos.

— O sangue funciona de forma divertida, às vezes. — Rhaenys fechou um pouco o rosto quando percebeu as insinuações da mulher. — Perdoe-me, mas qual seu nome, lady?

A mulher olhou para Rhaenys por alguns segundos.

— Alys Rivers. — a informação chamou a atenção de Rhaenys. Rivers era o sobrenome que davam para os bastardos da Casa Strong.

— Alys Rivers. Você é...

— Uma bastarda da Casa Strong, sim. — ela acentuou a informação, dando um passo em frente para se aproximar de Rhaenys, fazendo um leve carinho nos cabelos ondulados de Viserys. Rhaenys afastou Viserys discretamente, não confiando tanto no comportamento de Alys. — A Casa Strong apesar de leal e digna, tem muitos bastardos... dos mais nobres até os indignos, como eu. — ela apontou com a cabeça na direção dos três Velaryon. — Velaryon, Targaryen, Strong, Rivers... uau, seus irmãos podem ter diversos sobrenomes, não? Impressionante.

— Minha lady, eu não acho que seja educado da sua parte tentar insinuar que meus irmãos são bastardos. Eu devo deixar claro que o Rei decretou que a língua daqueles que duvidarem da legitimidade dos filhos de Rhaenyra, seria cortada. E eu posso assegurar, ninguém aqui possui medo de arrancar uma lingua da mesma forma que fariam caso se estivessem cortando uma coxa de frango.

Alys ignorou todas as palavras que Rhaenys disse e continuou falando.

— Lyonel Strong era um homem hipócrita... você conhece o filho dele, o pé torto, Larys Strong? — Alys apontou na outra direção, onde o Lord estava sentado de costas para elas, apoiado na bengala dele.

— Vagamente.

— Bom, ele é meu irmão... ou melhor, meu meio irmão.

Rhaenys paralizou no lugar por alguns segundos enquanto dividia entre olhar para Larys e Alys. Ela piscou diversas vezes, processando as informações que ela havia acabado de receber.

— Então, espere... você é irmã de Sor Harwin Strong. — tecnicamente e possivelmente, tia dela e dos irmãos. — Qual seria a sua idade?

— Meus pêsames, Harwin era um homem forte e leal, digno demais para ter uma morte tão indigna causada pelo próprio irmão. — Alys disse de forma indiferente enquanto sorria para Rhaenys, um sorriso que trouxe arrepios na espinha dela. — 40 anos, minha princesa.

As duas novas informações deixaram Rhaenys ainda mais confusa. Alys parecia ser 30 anos mais nova do que a idade que ela havia dito.

Mas não foi isso que de fato chocou Rhaenys, mas sim o que Alys disse sobre a morte de Sor. Harwin Strong.

— Sor Harwin morreu em um incêndio no castelo de Riverlands juntamente dos servos e o pai dele, foi um acidente causado pelo acúmulo de feno e um raio que caiu da tempestade que estava tendo naquele dia.

— Minha querida... quem lhe disse tal coisa, a Rainha Alicent? Ou o pai dela, Otto Hightower? Você é ingênua demais, precisa saber sobre as aranhas que rastejavm debaixo das suas botas.

Rhaenys encarou Alys por alguns segundos antes de voltar a olhar para o irmão dela em seu colo, e então Alys olhou na direção das carruagens e sorriu de forma macabra de novo.

— King's Landing tem belas tavernas, eu espero que eu consiga lhe encontrar lá em alguma noite estrelada.

Quando Rhaenys se virou novamente para olhar Alys, ela já não estava mais ali, apenas o perfume extremamente doce dela ficou no sumiço repentino da mulher estranha que lhe trouxe tantas informações medonhas.

Ela ficou parada ali, no meio da vila, confusa e continuando a embalar Viserys nos braços enquanto ainda tentava absorver o que nos sete infernos ela havia escutado sair da boca da bastarda.

Seus pensamentos e suas dúvidas foram cortadas quando ela deu um pulo ao sentir a mão de Lucerys tocar no braço dela.

— A carruagem está pronta, vamos.

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