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— Sua mãe e Daemon foram gentis em deixar você sair para a floresta na minha companhia, princesa. — Cregan falou assim que os cavalos deles adentraram o começo da densa floresta da vila, as árvores e arbustos pareciam abrir caminho para os dois cavalgarem lado a lado. Cregan encarou Rhaenys por alguns segundos, observando as características valirianas que muitos falam sobre os Targaryen e Velaryon.

Teve um silêncio enquanto os dois cavalgavam. Rhaenys parecia contente em manter o silêncio confortável entre eles, mas Cregan não pode deixar de se perguntar se havia algo mais na mente dele.

— Princesa Rhaenys...

— Apenas Rhaenys. Se você me permite te chamar sem nenhum título nobre, é justo que o mesmo sirva para você, Cregan. — Rhaenys sorriu para ele, diminuindo um pouco a velocidade em que o cavalo dela andava.

— Rhaenys. — ele corrigiu, um sorriso de canto nos labios naturalmente rosados. — Se me permite perguntar, como é que uma mulher bonita e inteligente como você ainda permanece sem nenhum noivo?

— Nenhum lord até agora me pareceu apto o suficiente. Alguns são velhos demais, outros novos demais, e temos os interesseiros que apenas querem a minha mão por conta da casa Targaryen e todos os títulos... não é difícil não perceber. — Rhaenys respondeu olhando Cregan enquanto falava.

Cregan soltou uma de risada nasalar e depois olhou para a frente enquanto cavalgavam.

— É possível que nenhum deles tenha as características que você queira? Como? — A voz de Cregan era baixa enquanto ele evitava o contato visual com Rhaenys, olhando para frente ou para as orelhas do seu cavalo. — Você deve ter recebido pelo menos uma centena de ofertas de grandes lords do reino. Como é que ninguém conseguiu atender aos seus padrões? — A voz dele havia aumentado o tom agora, quase como se estivesse indignado.

Rhaenys mexeu os ombros e sorriu para Cregan de forma inocente, como se ela não soubesse ou não entendesse do que ele falava.

— Me fale mais sobre o Norte, Cregan. Não tivemos tanta oportunidade de conversar sobre isso na última vez que nos vimos... e eu considero essa parte de Westeros bem interessante e acredito que não há como ter melhores cenários se não do próprio lord do Norte.

Os lábios de Cregan se curvaram em um leve sorriso com as palavras de Rhaenys, sentindo sua genuína curiosidade e interesse na terra que ele chamava de lar. O Norte era um reino de vasta beleza mística, moldado por invernos rigorosos e pelo espírito indomável do povo. Ele levou um momento para absorver o ambiente sereno a volta deles, antes de começar a pintar uma imagem vívida com suas palavras.

— O Norte, Rhaenys, — Cregan começou, sua voz carregando um senso de orgulho e respeito. — É uma terra de grande contraste, onde montanhas escarpadas encontram vales extensos e florestas antigas se estendem tanto quanto os olhos podem ver. Dos picos de presas de gelo até as costas geladas da baía de gelo, sua vastidão é uma vista de beleza e resiliência.

Cregan olhou para Rhaenys mais uma vez para ver se ela estava prestando atenção, e quando notou que ela estava, ele continuou a falar.

— Nossas terras são o lar de criaturas e maravilhas raras. Os lobos gigantes vagam livremente, seu vínculo com nossa Casa Stark ligado por gerações. As árvores-coração, com suas faces antigas, cuidam de nós com a sabedoria e as memórias dos Deuses Antigos... e a Muralha lado a lado, nos protegendo contra os terrores que estão além do deserto gelado.

— Você fala com muito orgulho da sua terra, seus olhos brilham. — Rhaenys falou depois de quase um minuto de silêncio, observando as expressões de Cregan a cada palavra que ele falava, ao mesmo tempo que observava todas as características nortenhas no rosto dele. A loba de Cregan seguia atrás deles, as orelhas erguidas e atentas enquanto mostrava a aura protetiva tanto por Cregan quanto por Rhaenys, espelhando as emoções do mestre. — O Norte parece ser muito bonito, com toda a neve branca e o castelo da família Stark. Eu mesma nunca visitei Winterfell, mas da forma como você falou me fez ter uma visão vívida de como é, eu ficaria feliz em visitar... quem sabe em alguns dias um dragão aparece para derreter a neve dos gramados.

Cregan voltou seu olhar para Rhaenys, um olhar de desejo e felicidade em sua expressão.

— Eu espero, Rhaenys, que você conheça e aprecie a beleza e a força do Norte em primeira mão, com o seu dragão junto, é claro.

Depois de mais algum tempo em conpleto silêncio, mas um silêncio confortável, Rhaenys parou o cavalo dela e desceu dele, sentindo as pernas doeram por já estar a tanto tempo montada na sela. Cregan ergueu as sobrancelhas enquanto olhava Rhaenys fazer as ações repentinas dela, mas depois sorriu e fez o mesmo que ela, descendo do cavalo e guiando ele pelas rédeas.

Lado a lado, eles caminharam com os cavalos para uma parte mais densa da floresta, com mais árvores verdes e com um rio correndo por perto, um campo de flores azuladas e avermelhadas e onde o sol malmente atravessava as grandes folhas das árvores anciãs que cercavam os dois, causando apenas réstias nos rostos.

Mais alguns minutos de silêncio, e Cregan decidiu voltar ao assunto inicial.

— Minha lady, me perdoe se eu estou sendo impertinente, — Cregan começou novamente. — Mas eu diria que é natural ser exigente sobre um assunto tão importante como casamento, principalmente sendo uma princesa e uma lady de duas casas importantes como Targaryen e Velaryon. No entanto, como observador, não posso deixar de achar difícil acreditar que sequer um único lord de grande posição, nome ou casa não seja digno de sua mão.

— E você saberia me dizer ao certo quais seriam dignos? — Rhaenys se virou e começou a andar de costas enquanto falava com Cregan, olhando para os olhos acinzetados dele com um sorriso em cada ponta dos lábios dela.

Os olhos de Cregan brilharam com um misto de diversão e leve surpresa diante da pergunta de Rhaenys.

— Não exatamente princesa, mas, eu sei de um certo lobo do Norte, em Winterfell, que teve a atenção dele tomada por você.

— É mesmo? Sorte a dele, eu me arrisco dizer. Você diria que esse lobo de Winterfell, é digno de ter a minha mão? — Rhaenys sorriu um pouco mais de forma que as covinhas das bochechas apareciam e os olhos sorriam junto, com as mãos para trás enquanto continuava andando de costas pelo caminho.

O caminho pela floresta continuou a se desenrolar sob os cascos de seus cavalos e o passos barulhentos das botas deles nas folhas secas do chão, o ritmo do passeio permanecendo firme e constante. O olhar de Cregan encontrou o de Rhaenys, procurando por qualquer indício sutil das intenções dela, das motivações que a levaram a perguntar sobre dignidade.

— Mais do que digno. E, além disso, ele é um homem bonito e leal... e eu sei que ele acredita na herança da sua mãe pelo trono. — Alguns passos mais para frente, combinando o ritmo dos passos de Rhaenys para se manter mais perto dela, a loba dele seguindo os dois. — Você é a mulher muito bonita, Rhaenys, com os olhos azuis escuros e as bochechas rosadas dando contraste com o pálido da sua pele e do cabelo, como a neve que cai sobre os ombros dos Nortenhos.

— Eu aprecio seus elogios, M'lord.

Cregan acabará de descobrir que podia corar, pois suas bochechas coraram e esquentaram um pouco com as palavras de gratidão de Rhaenys por seus elogios direcionados a ela.

Não era o que ele esperava fazer quando convidou Rhaenys para cavalgar na floresta algumas horas atrás e, embora uma parte dele estivesse envergonhado por seus próprios sentimentos, ele seguiu em frente, nervoso, sendo a primeira vez que ele chegava perto de Rhaenys sem ser em uma dança e enquanto estavam sozinhos, no meio das árvores.

— Seus agradecimentos são muito apreciados, Rhaenys, mas se eu puder ser um pouco mais ousado, quero dizer que você fica linda vestindo roupas de caça e com uma adaga presa na cintura. — Quando ele disse isso, os dois entraram mais fundo na floresta. Já estava quase anoitecendo neste ponto, então os dois estavam agora em um ambiente mais natural e íntimo, com as luzes alaranjadas do sol fazendo pouca iluminação nos rostos deles.

— E se eu for mais ousada, eu poderia dizer que M'lord está flertando comigo, mas eu não posso ter certeza se o próprio não me confirmar.

Rhaenys manteve o ritmo dela, andando para trás enquanto ela olhava para Cregan, e enquanto Cregan dava passos para frente ao mesmo tempo.

— Eu estou, princesa.

Enquanto Rhaenys sorria para Cregan e continuava a encará-lo, mais alguns passos para trás foram suficientes para silenciar Rhaenys quando ela estava prestes a responder a afirmação de Cregan.

Ela soltou um grito de surpresa quando ela pisou em falso, específicamente em um buraco que estava coberto de folhas secas e praticamente camuflado, o qual ela não teria caído se não estivesse andando de costas. Cregan observou Rhaenys cair em um buraco que ele não havia notado até que fosse tarde demais, mas ele teve um reflexo para tentar pegá-la antes que Rhaenys caísse, mas ainda assim não conseguiu a tempo.

O buraco não era tão fundo, uma criança poderia sair de lá sem tanta dificuldade, mas era largo e com folhas e terra sujando dentro. Rhaenys piscou algumas vezes tentando associar o que tinha acontecido, mas então olhou para Cregan e se sentou no buraco, ajeitando a roupa e a adaga que havia caido do cinto dela.

— Rhaenys?! Você está bem? Está machucada? — Cregan se ajoelhou perto da borda do buraco, estendendo a mão para ela pegar. Cregan estava em pânico, pois a princesa caiu inesperadamente no buraco e ele não teve uma reação rápida para segurar Rhaenys.

Rhaenys sorriu como se absolutamente nada tivesse acontecido e segurou na mão de Cregan, se levantando do buraco e subindo para o chão de novo. O vestido estava todo sujo de terra, o cabelo platinado que estava liso e bem amarrado, agora estava bagunçado e levemente ondulado, com folhas presos nele.

Aparentemente ela não havia se machucado, apenas estava completamente suja e desajeitada.

A loba de Cregan latia e rosnava, olhando ao redor como se estivesse tentando proteger eles de qualquer coisa que chegasse perto.

— Estou bem... obrigada Cregan. — Rhaenys passou a mão diversas vezes pelo vestido, tentando retirar a poeira, terra e as folhas que grudaram no tecido.

Cregan também se levantou do chão, agora que Rhaenys parecia bem. Ele ficou feliz por ela não ter se machucado, mas quando viu que o vestido dela estava sujo de poeira e terra, ele teve que ajudá-la.

— Me deixe lhe ajudar, por favor... — disse Cregan. Ele se ajoelhou na frente dela e começou a limpar a sujeira e as folhas de seu vestido e calça, mas não o fez de maneira regular. Em vez disso, a maneira como Cregan ajudou a limpar o vestido de Rhaenys foi um pouco íntima, mas ela não pareceu se importar com isso. Ela sorriu contente, apreciando sua ação por ela, descansando uma mão em seu ombro e observando ele com um sorriso de canto.

Cregan sabia que não estava sendo adequado. Ele sabia que estava sendo bastante ousado aos olhos das pessoas do reino. Mas ele também sabia que uma mulher como Rhaenys não se apaixonaria por qualquer Lorde. Ele tinha que ser diferente.

Ele se aproximou, mais do que qualquer homem deveria, e terminou de limpar a parte grossa de sujeira do vestido. Quando Cregan se levantou, seu rosto estava a apenas alguns centímetros do dela, e a tensão entre eles crescia a cada minuto. Cregan era mais alto que Rhaenys, e o jeito que ele estava olhando para ela com aquele pequeno sorriso de canto e os olhos cinzentos dele, estavam fazendo Rhaenys querer sorrir e algo a mais, também.

— Devemos voltar, é quase noite e sua mãe deve estar se perguntando se a princesa foi capturada por mim. — Cregan riu enquanto falava, dando um passo para trás e apontando com a cabeça em direção aos cavalos.

Ela acenou silencisoamente com a cabeça, e ambos caminharam em direção aos cavalos deles.

O caminho de volta foi da mesma forma como a ida. Cheio de conversas e risadas entre eles, com a loba de Cregan, Myth, andando em passos curtos na frente dos cavalos, atenta a tudo e todos ao redor dela.

Mas claro, eles atraíram olhares quando chegaram na vila.

O fato de Rhaenys ter saído durante o dia com Cregan e voltado horas depois, durante a noite e com as roupas sujas e o cabelo bagunçado e as bochechas naturalmente coradas fizeram sussurros surgirem.

Aegon sendo um dos primeiros a deixar a taça de vinho dele na mesa e ir para perto de Aemond, puxando o ombro dele e virando o irmão para observar Rhaenys e Cregan juntos.

— Oh, me pergunto que tipo de montaria eles estavam fazendo para demorarem horas na floresta e voltarem todos sujos e bagunçados. Aemond você acha que eles... — Aemond puxou o braço dele do aperto de Aegon sem esperar para ouvir qual era o comentário que ele desejasse adicionar a situação e apertou a mandíbula com o possivel pensamento do porque os dois voltaram nesse estado depois de horas sozinhos numa floresta.

Aemond se sentou na mesa principal novamente, observando de canto de olho enquanto Rhaenys se aproximava de Daemon e Rhaenyra com um sorriso discreto no rosto.

Perfeito, ela havia chegado exatamente na hora do jantar.

A todo momento em que ele tinha a chance, ele observou ao redor dele. Ele olhou quando Rhaenys entrou na tenda dela e ficou por alguns minutos lá, voltando novamente com roupas limpas e o cabelo platinado brilhando novamente, observou Cregan conversando com Jacaerys e Daemon e pior; olhou quando Cregan se juntou a mesa, tanto ele quanto Rhaenys se sentando na frente dele.

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