041

Aemond paralizou no lugar por alguns segundos antes de devagar levantar a cabeça para olhar em direção da porta. Já Rhaenys, não precisou se virar para que ela começasse a reclamar e soltar xingamentos baixos em direção a pessoa no momento em que ela escutou a voz.

— Não... não, não, não! — Rhaenys xingou, depois de certo tempo olhando na mesma direção que Aemond.

A respiração de Aemond ficou presa na garganta. Sua mão saiu da cintura dela e caiu aos lados dele, encarando a porta com um olhar sério de surpresa.

Aegon sorriu de canto enquanto olhava para cima e para baixo entre os dois.

— Que dinâmica familiar interessante temos aqui, irmão, eh? — Aegon riu baixo, e cruzou os braços enquanto se encostava contra a parede.

Aemond se virou para seu irmão e prendeu o olho bom com os olhos de Aegon. Por alguns momentos, ele não sabia como reagir a situação, ele certamente não estava esperando ninguém entrar no quarto dele, muito menos Aegon.

— Quanto tempo- a quanto tempo você está aí parado e olhando, se esgueirando como um rato? — Aemond se sentiu sufocado em seu próprio quarto, e olhou para Rhaenys e depois de volta para Aegon, como se estivesse pedindo apoio para ela nessa situação que ambos se encontravam.

— Estou a tempo o suficiente para saber que tipo de atividades noturnas o meu irmão mais novo e a minha bela sobrinha tem feito escondidos de todos do reino. Foi uma bela visão, eu devo admitir — Aegon disse com um sorriso maroto, o príncipe olhou para a sobrinha com um brilho nos olhos, a felicidade em descobrir tal coisa sobre a tão amada filha de Rhaenyra estampada no rosto. — Sorte a minha não ter visto nenhum corpo se esfregando na cama, mas ainda sim seria outra visão que eu-

— O que nos sete infernos você veio fazer no meu quarto a essa hora? E por que você não bateu na porta?

Rhaenys se mexeu para longe de Aemond, indo para um lado do quarto enquanto ele foi para o outro mas ambos se olhando de canto de olho, ao mesmo tempo se se mantinham atentos a qualquer movimento de Aegon.

Rhaenys sentia uma grande vontade de subir em um dragão e se jogar dele nesse momento. Ela preferia que Daemon ou Alicent tivessem visto eles, do que Aegon. Certamente os Deuses estavam punindo ela, ela sentia isso queimar no sangue.

Aemond sentia a mesma sensação.

— Ora, eu vim fazer o mesmo que Rhaenys, aparentemente. Irmão! É óbvio que eu vim visitar você depois da sua súbita cena no pátio, que você ficou todo mole e estranho. Estavam falando sobre isso pelos corredores, eu só queria ver se meu irmão mais novo estava indo bem, é meu dever não é? E, eu não bati na porta porque você saberia que eu iria entrar, e eu não queria que você soubesse.

Aemond bufou pelo nariz, toda a calma e paz que ele estava sentindo evaporou em segundos e a irritação e a frustração havia voltado a borbulhar no corpo dele como água quente. Novamente, a safira causava incômodo por debaixo do tapa-olho.

Ele olhou para Aegon, nem mesmo piscando, com o olho arregalado. Seu comportamento mostrava o quão irritado e preocupado ele se sentia com a presença de Aegon ali, e o que mais estranhava era que Rhaenys estava em completo silêncio, nem mesmo a respiração dela era ouvida na tensão do quarto.

— Você não deveria ter entrado sem bater. É isso que acontece quando as pessoas fazem isso, elas vêem coisas que não deveriam, segredos que devem ser mantidos em silêncio e coisas que nunca vão esquecer facilmente.

Aegon deu dois ou três passos em frente e olhou para Rhaenys por um certo tempo antes de voltar a observar o irmão mais novo.

— O que vocês estão fazendo, aliás?

Aemond e Rhaenys olharam um para o outro, e depois de um curto silêncio, Rhaenys falou.

— Sem jogos, Aegon, você sabe exatamente o que está acontecendo aqui e eu acredito que agora não há razões para não admitir, vendo que você é um grande bisbilhoteiro de língua solta! — Rhaenys disse após se sentar na cama para se acalmar.

Tudo bem Daemon ou Alicent descobrir dessa forma, eles provavelmente seriam afastados e obrigados a casar com outras pessoas. Tudo bem Rhaenyra souber, apesar de tudo ela sabia que a mãe tentaria apoiar, os irmãos também... mas não Aegon. Seria necessário três copos de vinho para que ele abrisse a boca e jogasse todo o peso para cima dos ombros deles para arcar com as consequências dos próprios atos.

— Interessante. Vocês dois sabem o que vai acontecer se Alicent, ou Daemon ou até mesmo Otto ficarem sabendo disso, não é? Eu juro, vocês dois são os dois maiores patéticos e hipócritas que eu já conheci. Não estou reclamando, são até que bonitos juntos, com toda essa cabeleira platinada e o incesto. — Aegon brincou, a todo momento parecia que ele insistia em olhar para Rhaenys enquanto falava. — Não que eu possa julgar, minha reputação é pior do que se boatos sobre vocês dois começassem a se espalhar pela Fortaleza.

Aegon estava atento em questão a Rhaenys desde que ele achou Helaena na Rua da Seda. Havia algo naquela noite que não se encaixava, e quando ele finalmente conseguiu juntar as peças e seguir Rhaenys sem ela notar, tudo fez sentido. É óbvio que ela estava tendo um caso escondido com Aemond, é claro.

É um problema na casa Targaryen. Ninguém pode ver um tio, um sobrinho ou um primo e vice versa, que a vontade carnal se desperta no peito.

— Eu me pergunto o que nossa mãe ou minha meia irmã vai dizer sobre isso. — Aegon se vira em direção a porta. Aemond segura na adaga dele instintivamente e dá alguns passos em frente.

Porém Rhaenys tem uma reação mais agressiva, ela se levanta da cama de Aemond e pega um tipo de vaso e joga na porta. Rhaenys sempre teve uma boa mira, então quando ela jogou, o vaso chegou perto de Aegon, mas não a ponto de acertar e machucar ele — apesar do desejo em fazer isso.

— Você não vai abrir a boca para ninguém! Nem Alicent, nem minha mãe, e nem para o bobo da corte! — Rhaenys se aproxima do rosto de Aegon, claramente irritada com ele e as ações dele, e a situação no geral. Aemond paralizou novamente no lugar e encarou Rhaenys por alguns segundos em completo choque, nem ele conseguiu prever a ação dela, principalmente pelo silêncio em que ela se mantinha desde que a presença de Aegon foi apresentada.

O mais velho não teve uma reação tão diferente de Aemond, ficou chocado na mesma intensidade, mas segundos depois ele se virou para a sobrinha e sorriu como uma criatura genuína e inocente.

— Ora, ora, ora se não é a pequena Rhae! Se acalme, sobrinha... o máximo que eles vão fazer é separar vocês, já que um casamento seria obviamente um problema. Qual o problema nisso? Ou por acaso... Oh! Você não quer se afastar de Aemond por que ele tem alguma habilidade na cama que eu não estou sabendo?

Aemond deu mais alguns passos em direção ao irmão mais velho, ele parou em frente a Aegon e deitou a cabeça para o lado um pouco antes de lançar um olhar mortal que misturava diversas emoções ao mesmo tempo: raiva, frustração, medo, preocupação e surpresa.

Apenas emoções negativas se emaranhando em um grande nó de linhas pretas.

— Você não é tão esperto quanto acha que é por descobrir esse segredo, Aegon. Você não passa de um príncipe ingrato e alcoólatra, que precisa sempre ter a atenção voltada para você e pegar tudo o que é dos outros para ter um mínimo de atenção, não tente ser melhor aqui, não na minha área. Saia do meu quarto, eu vou falar com você separadamente mais tarde e se for de fato esperto, vai saber que não quer me testar e abrir a sua boca antes do tempo.

Aegon era um adulto quase criança, irresponsável e sensível. Ele ficava com os olhos aguados com qualquer um que gritasse com ele, qualquer um que lhe dissesse a verdade mesmo que ele tentasse se manter forte.

Depois de minutos de silêncio entre os três Targaryen, o click da porta finalmente foi ouvido e Aegon saiu. Rhaenys finalmente se sentiu livre para soltar a respiração dela, e relaxar os músculos do corpo. Ela se sentou na cama de Aemond e colocou o rosto nas mãos, tentando pensar se ela teria uma mínima chance de se manter digna ou se Aegon iria mesmo abrir a boca para Alicent na primeira oportunidade que ele tivesse.

Ou melhor, o que é que Aegon iria querer em troca do silêncio dele.

[...]

Quase uma hora depois, Rhaenys ainda estava no quarto de Aemond.

Dessa vez, era ele quem estava sentado na cama, os cotovelos apoiados nos joelhos e inclinado para frente enquanto balançava a perna em uma ansiedade angustiante. Porém ficar olhando Rhaenys andar de um lado para o outro pelo quarto dele por tanto tempo estava deixando ele com náuseas e ainda mais ansiedade.

Aemond bufou alto e encarou Rhaenys por mais alguns minutos, o olho dele se movendo a cada movimento circular dela.

— Você poderia, por favor, parar de andar em círculos? Está me deixando mais ansioso.

— É só não olhar para mim, Aemond.

— Eu estava fazendo isso a minutos atrás e se você se irritou comigo dizendo que eu não estava prestando atenção no que você dizia e dando pouca importância a situação. — Aemond respondeu, a voz carregando um tom baixo que escondia a irritação dele.

Rhaenys não respondeu, ela apenas olhou para ele de canto e voltou a se mexer. A princesa tinha um problema em se manter quieta ou parada toda vez que ficava nervosa, ansiosa ou irritada. E, no momento, ela estava sentindo todos esses sentimentos misturados.

— Rhaenys você- — Aemond se levantou da cama para ir na direção dela.

Ela se virou para Aemond e empurrou o ombro dele para baixo, fazendo ele se sentar na cama novamente assim como estava antes.

— Senta na cama e fica quieto! — Rhaenys ordenou. Aemond ficou confuso por alguns segundos, surpreso pelo comando dela e a entonação que ela usou. Ele estava ainda mais confuso pelo fato de que ele decidiu não desobedecer ela, então ele continuou sentado e em conpleto silêncio tentando processar a situação que tinha acabado de acontecer.

No entanto ele ainda estava se irritando com ela andando, e aparentemente ele não podia desviar o olhar dela, então ele iria precisar desobedecer a sobrinha.

— Rhaenys! Rhaenys, pare de andar um pouco... — Aemond se levantou da cama e segurou nos ombros dela, mantendo ela parada no lugar.

Ela era tão bonita. Havia algo sobre Rhaenys, uma aura que parecia sobrenatural. A forma como seu cabelo brilhava com a luz do luar que refletia pela janela, a forma como suas pupilas estavam dilatadas, mas ainda tinha olhos brilhantes, seus lábios rosados ​​naturais. Quase parecia que ela era um anjo enviado para tentá-lo, como um castigo dos deuses por qualquer que tenha sido a má ação dele do passado.

— Não se preocupe, se Aegon falar algo, ele vai precisar corroborar alegações contra nós... e nem o bobo da corte seria capaz de acreditar em uma só palavra de Aegon. — Aemond segurou o rosto dela com as duas grandes mãos e levemente acariciou a bochecha dela, mas não fez nenhuma ação para beijar ela. — Eu prometo a você, eu vou fazer Aegon ficar quieto e manter a boca fechada. Ele não vai dizer nada que não precise ser dito. Eu prometo.

Aemond promete.

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