035
Assim que ela se deitou na cama, seu sono se esvaiu quase de imediato.
Ela fechou os olhos diversas vezes por minutos e minutos...mas o sono parecia ter sumido tão rápido quanto veio. Rhaenys ainda tentou buscar pelo sono, mas não adiantou quase nada.
Ela se mexeu na cama, se sentou nela e observou o céu pela janela do quarto, as cortinas estavam abertas. As estrelas estavam fracas, eram poucas e a lua era minguante ainda. Suas mãos seguiram para mexer no pequeno pingente de lua que ela mantinha no pescoço, sempre era vista usando ele. Ela nunca deixou de usar, seu amuleto da sorte...um presente.
Quando ela estava inquieta ou ansiosa, ela mexia no colar como uma forma de se acalmar.
Rhaenys suspirou alto, irritada consigo mesma em não ter sucesso em ter um descanso digno após toda a bagunça que a noite fez com ela.
Mas então...
Uma idéia passou pela sua mente.
Ela não sabia se Aemond gostava de dormir cedo, se ele ainda estava no castelo ou havia ido para algum outro lugar após voltar da baixada das pulgas, mas ela queria ir até o quarto dele. Ela queria conversar com alguém, queria conversar com ele sobre assuntos alheios. Mas não sabia dizer o porque, apenas sentia uma imensa vontade de fazer isso.
Rhaenys se levantou completamente da cama e caminhou para perto de sua penteadeira, onde o vestido dourado que ela usou durante o dia todo estava esticado para ser guardado mais tarde. Ela retirou as vestes de dormir e amarrou o vestido no corpo. Esse era um dos seus favoritos, ornamentava com sua face e era um antigo vestido usado por sua mãe quando mais nova, tinha pequenos detalhes em vermelha nas mangas.
Antes de abrir a parede falsa de seu quarto, onde daria caminho para as passagens do castelo, ela respirou fundo uma..ou duas vezes, tomando a decisão de visitar Aemond em seus aposentos, mas sem pensamentos maliciosos quanto a isso. Ela apenas queria...conversar com ele, sobre a noite...sobre os bordeis, sobre algumas outras coisas banais que provavelmente iriam entediar Aemond a ponto dele revirar o olho — algo que, convenhamos, ele fazia com certa frequência.
Ela seguiu em silêncio pelas passagens escuras, passo por passo sendo contado e planejado. A única coisa que se podia escutar além dos pequenos ratos fazendo tocas pelos cantos, era o farfalhar das saias de seu vestido arrastando no chão sujo com lentidão. Rhaenys se arrependeu em não ter trazido um pequeno candelabro de velas lara iluminar o caminho.
E, para sua surpresa, ela se encontrou com uma pessoa no meio do corredor, no meio de seu discreto e silencioso caminho. Uma pessoa que fez ela se assustar, dar alguns passos para trás mas então, ao mesmo tempo enquanto ela reconhecia a pessoa na escuridão, seu rosto suavizou por certos segundos...
— Aemond...? — ela perguntou baixo. Seria impossível não reconhecer os longos cabelos prateados e o tapa-olho cobrindo sua cicatriz. O chamativo homem da casa Targaryen, um dos mais belos...ao ponto de vista de Rhaenys.
Ele parou de caminhar quando observou ela em sua frente. Ela estava em um lado do corredor, e ele do outro, ambos se encarando. Eles seguiam o mesmo caminho, um em direção aos aposentos do outro, simultaneamente. Aemond apertou os pulsos na mão, apesar de estar indo buscar pela presença da sobrinha, ele não esperava encontrar ela no meio dos corredores da passagem.
Aemond ergueu o olhar ao ver a sobrinha.
— Minha sobrinha...
Ele parou no caminho dela, ficando imóvel no corredor vazio. Em voz baixa, voltou a falar.
— Que agradável surpresa ver você aqui, minha lady. — um novo apelido. Rhaenys não apreciava ser chamada de lady. Não, ela preferia ser chamada por seu nome ou então apenas de sobrinha.
Ele estava calmo e controlado, o comportamento perfeito de um príncipe real, diferente da última vez que ela o viu na baixada, a algumas horas atrás. Aemond se perguntou porque é que Rhaenys estava ali, em um corredor que coincidentemente levava direto aos aposentos dele.
— Tio. — ela sibilou, um pequeno sorriso no rosto querendo aparecer involuntariamente. Isso irrritava ela, não era para ter nenhum sorriso. — Aemond. — ela se auto corrigiu. Rhaenys deu alguns passos em frente para chegar mais perto dele, querendo se manter perto. — O que faz nesse caminho?
Ela sabia, sabia que Aemond estava indo visitar ela, estava indo em busca dela em seus aposentos privados. Ele queria a presença dela também.
— Eu estava a caminho da biblioteca, minha sobrinha. — mentira. Ele mentia para ela. Aemond estava pensando no mesmo que Rhaenys quando entrou pelas estreitas passagens, procurar por ela. Assim como Rhaenys estava indo ver ele, Aemond estava vindo ver ela.
Os mesmos pensamentos, no mesmo momento.
— Entendo.
— Você estava indo aonde, Rhaenys? Visitar a baixada outra vez? Hm, não me surpreenderia, me deixou sozinho e sumiu pelos becos...como uma pequena insolente.
— Eu estava indo visitar você, Aemond. Estou com falta de sono, pensei que buscar por você em seus aposentos me ajudaria em algo. — ela comentou, estreitando os olhos para cima do tio.
Aemond evantou uma sobrancelha, em silêncio, com um olhar astuto e presunçoso nos lábios, surpreso. Não respondeu de imediato, deixou a confissão pairar entre eles, com um sorriso conhecedor, os lábios curvados para cima apenas de um lado. Olhou para os olhos de Rhaenys e fixou-os profundamente. O seu olho direito, o de cor azul claro, atravessou o azul escuro dos olhos dela.
— Por que? — Aemond estava escondendo, mas havia ficado um tanto quanto chateado quando Rhaenys o deixou no beco sozinho e partiu embora, sem deixar explicações ou nada que saciasse suas perguntas. Por um momento, durante o trajeto insuportável de volta, ele se perguntou se ela estava segura, se havia conseguido voltar para a Fortaleza Vermelha.
Era por isso que Aemond estava indo até os aposentos dela. Para ter certeza de que ela não tinha sumido definitivamente.
Rhaenys pigarreou. Aemond deu alguns passos em frente, mantendo as mãos para trás enquanto analisava a sobrinha, sempre com o mesmo olhar toda vez que estavam sozinhos.
— Talvez pudessemos falar sobre essa noite. Não tivemos o tempo adequado, e eu certamente devo ter interrompido algum de seus...interesses, naquela casa de prazeres. Sinto muito por isso.
Ele manteve o rosto séril, fingindo estar desapontado com o comentário da sobrinha.
— Certamente, deveria saber que o menor de meus interesses são em casas de prazeres, sobrinha. Lembro-me de já ter dito isso a você algum dia, não?
Ele se aproximou ainda mais dela. O seu rosto agora parecia sério novamente, com as sobrancelhas ligeiramente franzidas. A sua voz era severa, o seu olhar era intenso; Aemond e Rhaenys eram como dois dragões a avaliarem um ao outro, com o fogo do seu sangue de dragão valiriano dentro deles, correndo quente pelas veias.
— Estou apenas deduzindo, o que eu deveria achar se eu encontro você em uma casa de prazeres? — Ela não se incomodava com isso, não se importava que Aemond quisesse se deitar com outras mulheres. A trégua deles não dizia que eram proibidos, assim como ele poderia se deitar com outras mulheres, ela poderia se deitar com algum outro homem, se ela desejasse. — Que está assistindo? Ou melhor, buscando por algo, ou alguém, específico?
Não havia intenções em sua fala. Não explícitas.
— Então pedirei para que tenha mais cuidado com suas insinuação e deduções. — dois passos em frente, e ela marchou dois passos para trás. — Me diga, quais seus motivos para me visitar a essa hora? Costuma dizer que Daemon me machucaria se soubesse o que eu tenho feito, mas é você quem tem me procurado ultimamente. Mas, desde o casamento você parece ocupada, com seus...irmãos. Achei que estava me evitando por um tempo, mas posso ver que não.
— Você parece mais interessado em buscar por mim do que o contrário, a maioria das vezes foi você quem veio até mim, tio.
Ele lentamente respirou fundo e olhou para a sobrinha, diretamente em seus olhos. Seu único olho bom continuou olhando para ela, sua testa ligeiramente franzida no canto dos olhos. As palavras dela haviam incitado algo nele. Ele queria beija-la novamente, agora mesmo. Ele sentiu um profundo impulso de fazer exatamente isso. Seria tão fácil para ele, ninguém está por perto para observar eles. Ninguém.
Aemond puxou Rhaenys sem nenhuma hesitação e a colocou contra uma parede de pedra, uma gelada e longe das entradas...uma em que ele conseguia ver bem o rosto dela, com a luz da lua brevemente brilhando contro a face de ambos.
Os Deuses pareciam estar punindo ele por algo que ele fez. Aemond sentia que não era normal as sensações de desejo que ela atraía dele, Rhaenys não fazia absolutamente nada e ainda sim, fazia ele sentir um desejo incomum. Era quase torturante, parecia queimar a pele dele, parecia fazer o coração dele bater forte contra o peito, fazia a respiração de Aemond descompensar rapidamente. Ele queria ter ela por completo, mas não podia, ele não iria profanar ela sem a autorização de Rhaenys.
Mas ele ansiava pelo dia que ela deixaria ele sentir ela por completo.
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