026

Lucerys parou no mesmo lugar em que estava, agora quase nos portões do fosso onde a carruagem aguardava e olhou para trás, vendo Rhaenys desesperadamente tentando alcançar ele.

— Do que precisa, Rhaenys?

— Luke...me escute, por favor.

— Me perdoe, mas precisarei dispensar as suas explicações dessa vez, minha irmã, embora eu acredite que a situação mereça uma. — sua voz era ríspida, quase irreconhecível carregando a mágoa do que havia visto a poucos minutos atrás.

— O que você veio fazer aqui a essa hora, afinal?

— Eu me ofereci para vir ver se você estava bem, mamãe estava preocupada com a sua demora e eu também, mas eu acho que teria sido melhor se eu não tivesse feito isso. — Rhaenys tentou segurar na mão de Lucerys como sempre fazia quando conversavam, mas ele se recusou ao toque dela e puxou a mão de volta. — Pare com isso...

— Me escute, por favor.

— Não há o que escutar, Rhaenys. Não há uma desculpa plausível para o que eu vi no fosso, não há razões para que você estivesse fazendo o que fazia! Quando em um milhão de situações eu imaginaria te encontrar nos braços do nosso tio, quase se entregando a ele como se não fosse absolutamente nada? Eu jamais pensaria porque para mim era algo impossível de se acontecer! — pela primeira vez em anos, Rhaenys viu os olhos de seu irmão brilharem de uma forma diferente do que ela estava acostumada, e ela sabia que a culpa era completamente dela. — E eu não devo mencionar que o menor dos problemas é ele ser nosso tio, mas sim ser Aemond em questão.

— Entendo que não há desculpas para o que você viu, por isso eu estou apta a lhe contar a verdade...eu jamais...eu não faria nada de propósito para te machucar, Luke. A situação não é tão simples, se você me permitir...

— Você me machucou indiretamente, Rhaenys. Como consegue ter um caso escondido com o mesmo homem que mataria a mim, ou qualquer um de nós sem hesitar por um minuto? Você sabe o que aconteceu em Driftmark, você estava presente quando ele insultou a nós no jantar e certamente viu quando ele agrediu Jace, a mim, então como você espera que eu simplesmente escute o que tem a dizer sem ver problemas nisso? Que merda, o que você acha que está fazendo?

— Lucerys...

Rhaenys não sabia o que dizer a ele, pois não tinha argumentos para usar. Tudo o que Lucerys dizia, palavra por palavra, eram todos verdadeiras sem um fundo de mentira.

Os olhos de ambos estavam avermelhados segurando as lágrimas das diferentes emoções que expressavam um ao outro, os gritos e as mágoas.

Um silêncio se instalou por um tempo, Luke parou de falar com Rhaenys no momento em que ele viu a silhueta de Aemond começar a surgir do escuro e se manter parada um pouco atrás da irmã. Ele sabia que era a deixa para ir embora, voltar a Fortaleza e deixar que a noite colocasse os pensamentos dele em ordem, se fosse possível.

Rhaenys olhou para trás quando percebeu o olhar focado do irmão, mas assim que ela se virou para falar com ele novamente, o menino já havia dado as costas e caminhava batendo as botas e a cabeça baixa até os portões do fosso.

— Mas que merda. — ela esfregou as mãos sobre o rosto fungando o nariz, a ponta avermelhada e os olhos ardendo pelo choro que segurava.

Aemond se aproximou aos poucos da sobrinha em completo silêncio, não parecendo estar nervoso e nem sequer se importando com o fato de Lucerys ter visto que viu, estava totalmente indiferente diante da situação em que se encontravam.

Aemond soltou a respiração que segurava.

— Vejo que agora eu tenho outro motivo para tirar um dos olhos dele, quem sabe então ele fique quieto. — Rhaenys sentiu toda a mágoa que carregava se transformar em uma irritação sem igual com a menção de Aemond. Ele parecia não notar, ele parecia não ligar para nada, agindo como se ele não fosse ficar com problemas depois de Luke ter pegado eles.

Segundos depois a única coisa que fez Aemond esboçar uma reação foi quando Rhaenys levou a mão aberta até o encontro do lado direito de seu rosto, usando toda a força que ela podia juntar no momento.

Mas seja qual fosse a reação que ela esperava dele, ela certamente não estava a espera de que Aemond fosse sorrir com a agressão ao invés de se irritar.

Um sorriso sarcástico, parecia ter gostado do que ela fez, ou então estava apenas testando o nível de paciência da sobrinha.

— Cale essa maldita boca, Aemond! Você vai se encontrar em problemas maiores que os meus se Daemon for um dos primeiros a souber o que anda fazendo pelos cantos da fortaleza com a enteada dele!

— Ah, eu? Você quem me beijou agora, talvez eu deva lembrá-la? — a sua mudança no tom de voz era perceptível.

— Mas foi você quem me beijou pela primeira vez naquela noite, e se não fosse por sua culpa nada disso estaria acontecendo agora.

— Não venha com suas desculpas para mim, Rhaenys. Está agindo como se eu estivesse forçando você a ir para cama comigo, forçando a me beijar, forçando você a sair escondida durante as noites mas nós fizemos um acordo, não foi? Eu lhe dei escolhas, diversas, e você escolheu a que mais lhe agradava. Se precisa culpar alguém pelos problemas que estão feitos, culpe a si mesma.

Aemond fechou o sorriso que carregava no rosto antes e apertou levemente a mandíbula, rangendo os dentes um no outro. Era admirador como os dois jovens tinha personalidades distintas mas iguais ao mesmo tempo.

Ela devia um pedido de desculpas ao tio pela acusação feita, mas seu orgulho era maior do que sua piedade. E quando ela foi abrir a boca para dizer algo novamente, ela escutou aquela voz a chamar mais uma vez.

— Rhaenys, vamos. — ela olhou para trás apreensiva, apertando os dedos da mão de forma ansiosa quando viu Lucerys esperando fora da carruagem. Ele estava irritado e chateado com a irmã, sim, mas não a deixaria voltar sozinha para a Fortaleza durante a noite e ainda mais com a grande possibilidade de ser acompanhada pelo tio deles. — Você vem, ou vai ficar parada aí como uma estátua? Já demoramos mais tempo do que o necessário, teremos sorte se nossa mãe não decidir ter um surto.

Ela deu um meio sorriso triste, olhou uma última vez para Aemond e então caminhou apressadamente até a direção dos portões e a carruagem. Lucerys abriu espaço para que ela entrasse, e os dois se sentaram em lados opostos da cabine, enquanto Rhaenys passava o tempo todo olhando para o irmão, ele não fazia menção em tirar os olhos da estrada.

Rhaenys resistiu a vontade de começar outra conversa com ele, temendo que acabaria em uma outra discussão acalorada. O que ela podia fazer agora era se manter em silêncio, deixar que Lucerys passasse o resto da noite a sós para organizar as opiniões e os pensamentos dele diante a situação da irmã com o tio.

...

Na manhã seguinte, Rhaenys estava com um exaustão percorrendo a pele como se tivesse insetos cravadoa por debaixo da carne. Ela passou a noite em claro, chegou a pedir a um dos meistres que preparassem um chá para que ela pudesse dormir, mas não teve efeito algum nela. Rhaenys passou a madrugada toda em sua janela observando o céu mudar as tonalidades do azul escuro para o alaranjado, e depois o amarelo.

Quando a manhã já havia surgido e o sol pairava sobre a Fortaleza, as suas portas do quarto foram cuidadosamente abertas por suas Amas que traziam os baldes de água quente para preparar seu banho como ela havia pedido um pouco mais cedo, afim se saber se um banho ajudaria ela a relaxar fisicamente e mentalmente.

Sua incompetência em esconder um caso com Aemond tinha deixado ela irritada. Talvez os Deuses estivessem alertando eles de que qualquer tipo de união entre os dois acabaria terminando com problemas maiores do que eles já enfrentavam diariamente.

Mas a única pessoa que ela poderia culpar era ela mesma, porque ela sabia que Aemond estava certo, Rhaenys jamais admitiria isso a ele, mas ele estava. Mesmo que ele tivesse dado o primeiro passo, foi Rhaenys que escolheu ir atrás dele até a baixada das pulgas, ela quem permitiu que Aemond a tocasse mais do que apenas beijos e ela quem decidiu aceitar a oferta de trégua dele. E ela gostava, ela gostava dos beijos de Aemond e gostava quando ele tocava nela, porque era prazeroso e ela nunca havia sentido esse tipo de prazer antes dele. Era uma experiência nova, e a princesa adorava coisas novas.

Independente das experiências que ele lhe deu, ela estava ciente do perigoso que Aemond trazia, e estava tomando cuidado com ele caso tudo não se passasse de um plano com Otto e Alicent.

— Deuses! — ela ofegou quando a Ama apertou demais o vestido que estava sendo feito sob medida para um evento que estava próximo de acontecer, provavelmente na próxima semana e a família Targaryen tinham sido convidada.

— Me perdoe, minha princesa.

— Não quero um vestido tão apertado, como irei dançar se não conseguir respirar direito? — a ajudante soltou uma risada baixa pelo nariz do comentário da princesa, pedindo perdão outra vez. Rhaenys sentia o vestido se ajustar em seu corpo como uma segunda pele, sendo feito especialmente para essa festa.

As portas de seu quarto foram mais uma vez abertas, dessa vez revelando a mãe entrar com sua graciosidade estampada no rosto. Vendo assim não era capaz de dizer o quão irritada Rhaenyra havia ficado com a demora dos filhos para chegar até a Fortaleza na noite anterior.

— Vejo que está fazendo o que eu pedi, filha.

— Bom, eu gosto de vestidos e gosto de festas...se minha rainha me pede para deixar que façam um vestido para uma festa para mim, então claro que eu irei obedecer. — ela sorriu abertamente, recebendo um beijo na bochecha da mãe.

— Ficará lindo.

— Tenho certeza que vai, dificilmente algo fica ruim em mim, mãe. — ela fez uma piada tentando demonstrar que não possuía inseguranças, mas no fundo ela tinha algumas as quais não comentava com ninguém.

Rhaenyra riu da confiança da filha, se lembrando dela mesmo quando mais jovem, exatamente igual.

Mais alfinetes foram colocados na barra de seu vestido para ajustar, agora que a parte de cima esta pronta faltava os acabamentos das saias e os detalhes a serem adicionados, como adornos de prata, os desenhos de dragão e os demais. Enquanto ela observava as amas fazerem o trabalho, Rhaenys sentia que sua mãe estava inquieta querendo perguntar algo.

Ela arriscou perguntar.

— Algo está incomodando, mãe? — Rhaenyra pareceu pensar por um tempo antes de começar a falar.

— Lucerys, ele está estranho. Aconteceu algo ontem a noite que não me contaram?

Oh.

— Não...mãe, nós voltamos o caminho em segurança e de forma calma, quem sabe ele esteja nervoso com algo...casamento, festas, você sabe que ele não gosta disso. Ultimamente ele tem estado mais agitado, eu acredito que ele já não esteja suportando ter que conviver com nossos tios e precisar vê-los diariamente. — uma mentira saiu de seus lábios como uma canção valiriana. Para sua sorte, Rhaenyra demonstrou acreditar no que a filha falava e apenas abanou os ombros para frente e para trás, enquanto fazia o carinho habitual em sua barriga. A futura Visenya chegaria logo para alegrar Westeros.

— Talvez seja...eu consigo imaginar o quão nervoso ele vai estar quando for se casar com Rhaena, será adorável...seu irmão tem um coração puro, angelical e gentil assim como ela, minha escolha em selar uma aliança entre eles foi sábia.

Rhaenys ficou inquieta com a menção da mãe, sabendo que na verdade era culpa dela ele estar do jeito que estava. Se ela bem conhecia o irmão, sabia que ele se esconderia o dia todo e estaria exasperado com qualquer um que puxasse assunto com ele. Assim como ela tinha costume de fazer.

Toda via, não tinha maneira de que a situação se estendesse por tempo demais, ela esperaria a noite cair para que pudesse encontrar Lucerys em seus aposentos e conversar com o irmão, torcendo para que estivesse mais calmo.

Mas antes, ela iria precisar conversar com a fonte do problema.

Aemond.

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