024
Era um fim de tarde agradável para Rhaenys, apesar de ter pouco sol iluminando o céu, ainda sim era um dia quente. E, mesmo que estivesse se distraindo e se divertindo no fosso, ainda sim acabava se estressando com o jeito eufórico que o irmão Joffrey tinha naturalmente. Ele era quase como Lucerys quando criança, agitado e curioso mais do que deveria ser.
— Joffrey! — Rhaenys chamou sua atenção quando o garoto bateu a espada de madeira em seu vestido.
— É divertido! — ela estava no fosso na companhia de sua mãe e seus irmãos. Apesar da insistência, foi impossível convencer Joffrey de não levar sua espada e brinquedos para o fosso, mesmo que tivesse sido alertado que poderia facilmente perder ou queimar estes.
— É claro que é divertido, não é você quem está recebendo golpes de espadas! — ela usou um tom de brincadeira para repreender o irmão, mas ele não se importou e continuou cutucando seu corpo com a pequena espada. Rhaenys decidiu que não continuaria repreendendo Joffrey, até porque seria inútil.
— Ha!
— Joffrey, querido...se acalme, e pare de acertar sua irmã assim. — Rhaenyra calmamente acariciou os cachos do pequeno. Para a sorte da irmã, ele escutou a mãe e se sentou no chão voltando a brincar com seus cubos e dragões de madeira.
Os quatro haviam vindo ao fosso para assistir ao treinamento de Joffrey, o menino iria comandar seu dragão pela primeira vez desde que ele chocou. Era perceptível o quão animado com isso ele estava, feliz em saber que em pouco tempo estaria livre para fazer vôos junto de seus outros irmãos.
Enquanto isso os três dragões dos filhos de Rhaenyra, Vermax, Tessarion e Arrax brincavam do lado de dentro do fosso, se rolando um por cima do outro e cuspindo fogo em partes aleatórias das rochas. Era engraçado, de certa forma, parecia que os dragões estavam ligados e próximos exatamente como os irmãos eram.
Vermax tinha uma áurea protetora e temperamental assim como Jacaerys. Tessarion era ágil e inteligente como Rhaenys, Arrax calmo e brincalhão como Lucerys e Tyraxes tão esperto e intrometido quanto Joffrey.
Alguns dragões eram como espelhos de seus montadores, talvez fosse por isso que tinham ligações uns com os outros.
O pequeno Tyraxes foi trazido nas correntes para perto do campo com a ajuda dos cuidadores, Joffrey pulou como uma lebre para chegar na companhia do dragão acinzentado. A família acompanhou, ficando em um canto do grande fosso apenas para observar ou então auxiliar se houvesse a necessidade. Rhaenyra, apesar da dificuldade que sentia com sua gravidez chegando no estágio final, queria estar presente para ver os primeiros comandos do filho assim como fez com os mais velhos quando fizeram os seus.
A princesa havia chegado a pouco dias na oitava lua de sua gravidez e em pouco tempo estaria com o novo filho, ou filha, nos braços.
Rhaenys sem dúvidas, era a mais animada para que esse dia chegasse, tendo uma intuição forte de que a criança seria uma menina e se chamaria Visenya, para combinar com o nome dela assim como as irmãs conquistadoras de Aegon I.
— Tyraxes! Dokimarvose, Tyraxes! — Rhaenys e Lucerys deram risada do valiriano do irmão, quase sem sotaque algum, era mais como apenas uma citação das palavras ao invés de uma pronuncia.
— Ele precisa de mais aulas sobre a língua, suponho. — Lucerys comentou com a mãe.
— Sabemos disso, mas manter o seu irmão parado em uma cadeira sem fazer com que a Septa chore e peça para ser substituída tem sido uma tarefa...conturbada. Quase me lembra alguém quando pequena. — Rhaenyra lançou um olhar para cima de Rhaenys, e ela sorriu com a comparação.
Só os Deuses sabiam a quantidade de peças que ela, Jace e Daeron pregavam em seu devidos septas quando não achavam atividades extras para fazer em King's Landing. Era divertido, vagamente ela se lembra de uma vez que ofereceu uma maçã caramelizada para a sua, mas ao invés de ter uma maçã havia uma cebola roxa.
— Ainda sim, meu valiriano não é tão ruim...e depois que a infância foi ficando para trás, passei a estudar com dedicação quase todos os dias, seja o alto valiriano ou até filosofia. — ela se aproximou da mãe, acariciando sua protuberância sobre o vestido preto que usava. Ela admirava a beleza de sua mãe, como após 7 gravidezes ela continuava estonteantemente bonita, cheirava a jasmins. — Talvez eu deva estar presente nas aulas dele, quem sabe ele não obedece a irmã favorita?
Jacaerys fez uma careta, se sentindo um pouco ofendido com o comentário dela.
— Favorita? O que te leva a pensar que você é a favorita do Joffrey? Certamente não sabe muito, irmã.
— Porque eu sou a única irmã que vocês tem, e todos vocês me tem como a favorita...eu apenas sei disso, não preciso que me digam. — Jacaerys soltou algumas risadas como se estivesse zombando dela por achar isso, mas na verdade, o que ela dizia não era uma mentira. — O que é tão engraçado?
— Isso não lhe faz especial, apesar de se convencer tanto disso. Você ser a única menina não te traz benefícios como esse, muito pelo contrário, a dor de cabeça que passamos com você é algo diário.
— Dor de cabeça? O que está tentando dizer, Jace? Peço que tenha muito cuidado com o uso das palavras.
— A quantia de homens que se aproximam de nós apenas para conseguir sua mão, o quão longe a sua curiosidade e teimosia podem te levar, te proteger a todo custo porque eu não permito que ninguém faça mal a você e muitas coisas, minhas responsabilidades como irmão mais velho. — Rhaenyra sorriu escutando a conversa conturbada dos filhos apenas para saber quem era o favorito de Joffrey.
— Eu deveria listar as minhas responsabilidades?
— Superficiais — Jace comentou segurando uma risada. Era indispensável o fato de que os irmãos adoravam pegar no pé de Rhaenys, sabiam o quão pavio curto ela era para assuntos como esse.
— Eu irei pegar essas suas responsabilidades e enfia-lás bem na sua...
— Dracarys, Tyraxes! — os dois irmãos pararam a discussão quando Joffrey deu seu comando tão esperado ao dragão, o fogo queimando uma ovelha que estava ali para alimento e indo comer logo em seguida ao feito. No mesmo instante, a discussão foi encerrado e as salvas de palmas ao mais jovem foram ecoando no fosso, todos com o orgulho quase arrebentando os ossos com a nova conquista do Velaryon. — Vocês viram?! — Joffrey veio aos pulos em direção a Lucerys, agarrando em sua mão e rodopiando por todo o espaço livre que havia ali, deixando o irmão tonto com toda a movimentação repentina.
— Meus parabéns, meu amor, em breve você estará montando seu dragão e sobrevoando os céus junto dos outros. — Rhaenyra se levantou com as mãos na barriga para abraçar o caçula, certa dificuldade ao fazer isso, o corpo estralando a cada movimento diferente que ela fazia desde então.
Rhaenys conseguia imaginar o quão catastrófico seria voar aos céus com o irmão mais novo, sua natureza travessa era o maior problema deles.
— Mais uma vez! — Joffrey quase derrubou Lucerys quando se soltou de suas mãos e correu para perto do dragão novamente.
— Joffrey, por hoje é apenas isso...voltaremos mais vezes para que você treine. Agora, vamos para a fortaleza, você precisa de um longo banho para tirar o cheiro de dragão de seu corpo. — Rhaenyra anunciou, erguendo o pulso para o alto e fazendo uma movimentação para alertar Sor. Harrold a preparar a carruagem de volta deles.
Mas, Rhaenys não queria voltar para a fortaleza. Ela dedicou boa parte de sua vinda ao fosso apenas para assistir ao irmão e não foi visitar seu dragão a nenhum momento, agora que teria a chance de ficar sozinha com ela, aproveitaria ao máximo.
Quando a família começou a andar, ela foi para o lado contrário para adentrar as ruínas de pedra onde seu dragão ficava guardado. Visto que Tessarion estava crescendo cada vez mais, agora ela ficava mais ao fundo e não na beirada junto dos dragões menores.
— Rhaenys? — Lucerys chamou pela irmã.
— Darei uma volta com Tessarion, Luke. Estarei na Fortaleza antes do anoitecer, prometo. — Rhaenys deu um beijo na testa dele e despenteou seus belíssimos cachos castanhos. Lucerys deu um meio sorriso a ela, retribuiu o beijo e voltou a caminhar atrás da mãe até a carruagem.
Ela suspirou alto antes de girar o corpo e cuidadosamente começar a caminhar em direção ao fundo do fosso, onde os maiores ficavam.
Dragões como Caraxes, Syrax, Dreamfyre e Sunfyre sempre estavam no fundo. Tessarion normalmente ficava na companhia de Vermax e Arrax um pouco mais para frente, e Vhagar que era a maior não cabia no fosso. Portanto ela permanecia no fim da colina, fazendo estadia na costa da praia onde não possuía habitantes.
O interior do fosso era um lugar de extremo calor, fuligem e pequenas brasas sempre sobrevoando pelo ar, vapores subindo pelas paredes e as tochas malmente iluminavam o local. Era barulhento, principalmente quando os dragões sentiam alguém diferente caminhando por ali, se remexiam nas correntes e soltavam rugidos de alerta aos outros. Felizmente, ela havia sido inteligente o suficiente para vir acompanhada de uma cuidadora de dragões que a guiava até onde Tessarion estava acorrentada, os olhos amarelos abertos olhando atentamente ao redor, se abrindo ainda mais quando notou a presença da montadora.
Tessarion soltou um rugido baixo e Rhaenys pode jurar que viu a dragão mostrar as presas em um sorriso quando observou a dona se aproximar.
— Ryptēs, Tessarion. — ela cumprimentou a besta, acariciando suas escamas azuladas e deixando um beijo em seu grande focinho preto. Sua dragão era tão linda que ela poderia se sentar por horas apenas para olhar ela.
Não era atoa que o subtítulo de seu dragão era A Rainha Azul. Um nome digno e único assim como ela.
Os cuidadores cuidadosamente retiraram suas correntes e com as varas de madeira a guiaram para fora do fosso calmamente enquanto Rhaenys seguia atrás da besta.
Sua sela já estava pronta, uma sela de couro, prateada e com os símbolos da casa Targaryen e Velaryon desenhados em ambos lados, forrada com cobertores. Rhaenys escalou pelo grande corpo de seu dragão até chegar ao topo e se ajustar na sela, e antes de dar os comandos a ela, fez leves carícias em suas costas escamadas.
— Sōves! — deu o comando a ela, e em poucos minutos as duas estavam por cima da colinas, casas e torres de King's Landing, tudo parecia minúsculo vendo do alto, pontos amarelos e luminosos surgindo aos poucos de acordo com a escuridão que vinha tomando o céu ao anoitecer. Voar a noite era uma experiência assustadora, mas divertida ao mesmo tempo.
Especialmente para quem amava a lua, como ela.
E para pessoas que faziam as mais diversas perversidades nos cantos escuros da capital.
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