015

Depois do que aconteceu na baixada das pulgas, ao invés de voltarem ao castelo, eles pegaram dois cavalos escondidos e foram até o fosso dos dragões. Rhaenys em nenhum momento falava nada, ela se mantinha em um silêncio perturbador, envergonhada com os feitos dela.

Aemond e ela haviam se sentado perto da entrada do fosso, onde a grama esverdeada florecia e não era queimada ou morta, onde era menos quente e tinha uma visão esplêndida para o céu azul escuro. O Targaryen continuava com as suas típicas roupas courinas e a capa para se esconder, a adaga toda suja de sangue seco posta ao seu lado. Rhaenys por outro lado, se incomodava com aquele sangue em sua roupa e seu rosto, mas com um pouco de água conseguiu tirar a parte mais grossa que grudou na pele.

Ela usava a ponto dos dedos para fazer desenhos imaginários no chão de pedra suja, mantendo o olhar sempre baixo.

Rhaenys não queria que isso acontecesse, ela não deveria estar aqui a essa hora e muito menos com a presença de Aemond, não deveria nem ao mesmo ter permitido que um beijo fosse selado entre os dois. Mas, ela permitiu, ela não sabia bem o porque e não queria entender também.

— Como é? Em Dragonstone, eu digo. — ele puxou um assunto depois de longas horas em silêncio. Não que Aemond estivesse feliz com as ações inconsequentes dele, mas aquele silêncio estava dando agonia direto em seus nervos.

A menina levantou o olhar cansado para o tio e logo em seguida encarou a lua.

— É muito grande. O fosso onde guardamos os dragões é muito estreito, mas a costa e o mar são lindos, principalmente quando chega a primavera. — ela sorriu com lembranças. — O castelo tem muito neblina, é cheio de passagens secretas, assim como aqui e a sala de política é o meu favorito, eu adoro olhar a mesa com todo o mapa de Westeros talhado em aço valiriano. Mas, a localização do castelo fica ótima, muitas vezes eu subia em Tessarion para fazer uma pequena visita a terra de outras casas.

— E o que mais sentiu falta daqui? Se é que sentiu.

Ela parou por um tempo para pensar. Na verdade, ela havia sentido falta de muitas coisas, coisas as quais ela só se lembrou novamente quando voltou.

— Do jardim e da biblioteca! O fosso sempre foi o meu lugar favorito também, e claro, de meu avô. — Aemond consegue vagamente se lembrar de como a sobrinha parecia fazer o dia dela ter incontáveis horas. Em um momento ela aproveitava as flores do jardim, em outro estava sentada na biblioteca por horas, isso quando ela não fugia das aulas de matemática que sua Septa dava para assistir os treinos no pátio. Depois que ela criou um vínculo com seu dragão, começou a frequentar o fosso com ainda mais frequência. — E de tia Helaena também, ela sempre foi muito gentil comigo. — Aemond piscou o olho bom, menções de infância não era algo que agradava suas têmporas. — Onde está Daeron, afinal? Achei que eu o veria quando voltasse e até agora não escuto ninguém falar sobre ele...

— Daeron foi mandado para VilaVelha por meu avô Otto para treinar escudeiro e espadas, tem alguns anos...ele vem nos visitar de vez em quando e fica por uns 3 dias e então parte novamente.

Então outro silêncio foi inundando a comunicação dos dois, mas este agora era um pouco mais confortável.

Mas logo foi cortado também.

Rhaenys levantou seu olhar com o intuito de que deveria observar o tio, este que manteve o olhar para frente sem desviar em momento algum. Ela observou a marca arroxeada e pequena em torno do pescoço dele e não deixou de soltar uma risada irônica e um sorriso orgulhoso de si mesmo. Isso não passou despercebido.

— Do que está rindo?

— Seu pescoço, ainda está com a marca da mordida. — ele levou dois dedos instintivamente para a parte machucada e acariciou, revirando o olho logo em seguida.

— Você tem dentes fortes, desde o casamento que essa maldita marca demora a sair...você me deve um pedido de desculpas, sobrinha.

— Não devo, meu tio. Você me insultou, e eu me defendi...é assim que a sequência funciona, meu príncipe. — ele gostava quando ela usava o sarcasmo para se defender, como se substituísse as espadas. — Use erva de camomila em chá de leite. Uma vez, eu cai das escadas da costa da praia e ganhei um braço roxo, o meistre Gerardys fez essa mistura de ervas para me ajudar e em alguns dias estava sumindo, apesar de não cheirar bem.

— Você parece ter sofrido vários acidentes insignificantes durante os anos. Não me impressiona, na verdade, quando criança você não parava quieta em momento algum, era irritante.

Ela apenas riu do comentário, não era uma mentira.

Rhaenys não podia lembrar todas as suas memórias de infância mas mesmo assim ela se lembrava perfeitamente da última vez que esteve aqui e sem querer acabou encontrando Aemond no fosso. O menino tinha o rosto inchado, o rosto agora não tinha sangue mas a costura causou arrepios nela, as vestes verdes estavam colocadas de qualquer jeito e o cabelo preso em um meio rabo, como sempre usava. Rhaenys havia vindo para o fosso dar uma pequena despedida a seu dragão antes de se verem novamente em Dragonstone, e ela se lembrava de como os dois se encararam com ressentimentos corroendo a mente um do outro.

Aemond nunca se esqueceu de como Rhaenys se encolheu para trás quando viu a presença dele. Como ele ainda era uma criança, ele deduziu que o que a deixou com medo foi a cicatriz deformada de seu rosto.

— Quando voltará para Dragonstone?

— Oh...não lhe contaram? Ficarei aqui permanentemente, todos nós, por causa da saúde de meu avô. — Aemond levemente mexeu as sobrancelhas para cima mas disfarçou logo. — Mas se responde sua pergunta, talvez depois que a coroação de minha mãe acontecer...um dia, quem sabe? — ele enrijeceu as costas e se pôs ereto, pegando a adaga do chão e colocando no cinto em volta da cintura. Rhaenys encarou mais uma última vez o céu, estva começando a se tornar em um tom de azul claro com laranja, o que significa que a madrugada já estava se esvaindo e dando espaço para o amanhecer caloroso de Westeros. — Devemos ir, em breve o sol surgira dentre as nuvens e eu quero me lavar e descansar, se possível.

Aemond acenou e logo se levantou do chão, estendeu a mão a ela mas esta recusou tal feito, fazendo isso sozinha. Espalmos as mãos pelas saias sujas e colocou o cabelo embaraçado para trás, os nós se embolando enquanto ela massageava eles, algumas gotas de sangue coagulado saindo para baixo das unhas dela.

Ele a olhou curioso, notando cada jeito dela, cada mania. Como podia ela ser tão bela? Aemond devia odiar e ter rancor dela por tudo do passado, mas por que esse rancor dele parecia durar minutos para que sumisse aos ventos tão rápido quanto os grãos da praia em uma tempestade forte?

Seu corpo se moveu para perto da sobrinha e esperou que ela se virasse de frente para ele. Quando ela o fez, um leve susto percorreu no peito mas se recompôs, encarando o tio tentando entender qual era o motivo disso. Aemond nada fez além de grudar as duas grandes mãos em volta do pescoço da menina e puxar para um beijo fervoroso, um que ele estava querendo mais do que qualquer outro. Ele achava engraçado como ela se tornava tensa quando um beijo era iniciado, mas também se surpeendia como foi necessário três beijos para que ela pegasse mais experiência nisso.

Ela aprendia rápido.

E ele não queria se afastar dela para continuar provando disso.

— Escute, isso é um ato ousado que estamos fazendo...eu não sei o que é isto mas por favor, Aemond, me diga o que é que você tem em mente?

— Absolutamente nada, eu só quero seus beijos. Acha que é pedir demais para minha sobrinha? — ele sorriu travesso, deixando as mãos caírem ao lado do corpo agora.

Era de todo mal chamar Rhaenys de sobrinha enquanto se esbaldava dos beijos molhados dela, uma sujeira incestuosa típica dos Targaryen.

Sīkudi nopäzmi.

Ela havia entrado em um jogo perigoso.

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