❪ 𝐎𝟑 ❫ ┆ ❛ 𝐇𝐀𝐑𝐕𝐄𝐒𝐓 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐈𝐕𝐀𝐋
CAPÍTULO TRÊS
a festa da colheita
MARGARETH NÃO PRECISAVA TEMER, EMBORA assim que a noite caiu seu pai não estivesse em casa para protegê-la, pela primeira vez em anos.
Solomon havia saído um pouco antes das cigarras iniciarem seu soneto pela mata a dentro, silencioso como uma corsa, a deixando a própria sorte com o findar da aurora. Logo ele que zelava pela segurança de sua filha... Um tanto quanto irônico, diga-se de passagem.
E passou-se pela cabeça de Magie que talvez ele estivesse com a desconhecida que cortejava. Mas apesar do ciúme fugaz que sentia, uma parte sua comemorou, pois seu pai já estava sozinho a muito tempo.
Ainda considerava a respeito do convite de Lizzie, pareceu mesmo que estavam conectadas, já que naquele mesmo instante socos frenéticos interromperam seus pensamentos e foram ouvidos na porta de entrada do velho casebre, a fazendo dar um pulo para trás. Meio atordoada, sentiu seu coração se apertar no peito com a possibilidade de ser algum estranho cheio de intenções ruins que lhe quisesse fazer mal ou alguém disposto a roubar sua paz, porém, enfrentou a situação:
── Quem é?! ── sua pergunta saiu como um miado, fraco no começo e alta no final.
── Sou eu, Lizzie. ── resmungou ── Me deixe entrar, por favor! ── e então a voz meiga, porém trêmula, a qual reconheceu de fato ser da garota, tranquilizou seu nobre coração.
Puxou a porta, os batimentos vitais saltando pela garganta, seus olhares se cruzaram num misto de empolgação e receio. E observando por um minuto para além das árvores, encontrou apenas escuridão, acreditando que seu pai não retornaria tão cedo, se propôs a desafiar seus medos do mundo a fora, quase completamente decidida a seguir a amiga que escondia parte do rosto dentro de um capuz azul marinho preso a capa que trajava... Faltava apenas um pequeno incentivo da mesma e estaria rendida aquela proposta. Queria tanto ser normal como os outros jovens. Era pecado pensar daquela forma?
Ajeitando aquela pequena rosa branca sobre a orelha entre seus fios loiros que, Lizzie havia lhe dado de presente e ligeiramente notou assim que pôs os olhos na Goode, o que trouxe uma genuína alegria ao seu coração.
Desconhecia algo mais perfeito do que Magie, para a morena, ela era a garota mais linda de toda a província.
── Não posso me demorar. Já está pronta?
── Pronta para o quê? ── tentou desconversar, embora a ideia lhe fascinasse, precisava admitir que preferia mil vezes ficar por ali.
No entanto, percebeu que não conseguiria convencê-la.
── A minha proposta, se lembra? A festa da colheita... Por favor, vem comigo! ── tomou a mão dela entre as suas, esbaforida. Suplicando com sinceridade.
── Para onde ?
── Quero te levar a um lugar especial... ── deu um leve pulinho ── Só confia em mim! Tá bom? Confia em mim.
O acordo era mesmo suspeito, mas Margareth confiava piamente em Lizzie, por isso não se espantou, apesar de considerá-la uma completa desvairada, seu coração pedia que a seguisse.
Próximo a casa apartada da Goode havia um rio que cortava uma grande porção de terras e ficava um tanto distante do vilarejo. Eles o chamavam de Chuck Hunter, nome do desbravador que o avistou pela primeira vez. As águas pareciam enfeitiçadas, o que era só o jeito mais misterioso de dizer o quão limpas elas se moldavam, preciosas ao ponto de serem consideradas mágicas, reluzindo com o mínimo de luz que as atingisse.
A loira não compreendeu a princípio quando desceu do barranco íngreme de encontro a margem, porém assim que observou o sorriso terno de Lizzie sob a claridade do luar e uma canoa leve atracada do outro lado, entendeu o que a moça pretendia com aquilo: um passeio a remo sobre as águas. E sentiu seus pés tremerem num segundo, nunca havia saído do quintal de sua casa, nunca havia encarado sequer seu reflexo na água doce e agora iriam andar de canoa. A Goode tossiu um pouco pelo esforço que fez, mesmo sendo ajudada, preocupando a outra. Mas aquilo logo deu vez a um suspirar admirável, seus olhos brilhavam até mais que todas as estrelas no céu, Lizzie pode jurar quando os viu.
── Nós vamos fazer um passeio... Fica tranquila. Eu sei remar! É só se concentrar no som da minha voz. ── piscou, tentando equilibrar o objeto, enquanto servia sua mão como apoio para que Margareth pudesse segurar nela e subir no barco mais confiante.
As duas embarcaram com um brio de desejo no olhar, extasiadas e nervosas, Lizzie remava lentamente, quando uma névoa espessa começou a se formar ao entorno e um frio atípico se manifestou na região.
(...)
NOITE DA FESTA DA COLHEITA
Evie Lane não sabia ao certo como deslizou para fora da cama naquela madrugada, mas tudo o que sentiu foi um arrepio tremendo em sua espinha dorsal, depois de ter o mesmo pesadelo da última vez: a morte daquela garota da vila; entrou em negação e caiu de bruços no chão.
── Mãe? ── chamou.
O silêncio enfraqueceu seus calcanhares.
O pressentimento de morte a sufocava e se abrigando por detrás de um dos pilares da cabana, olhou para a parcial escuridão, avistando Mary, em pé, a ouvindo dizer com a voz rouca:
── O véu se tornou fino com a virada da lua. E com ele, a estrela da manhã se ergue. ── do outro lado, encurralada contra a parede de bambuzais, estava Sarah, com os olhos arregalados ── Cuidado!... O diabo, ele mora dentro deste livro. É como ele invoca. Ele sente você agora... E se você não tomar cuidado, ele se enfiará sob a sua pele!
Retirando a faca da bainha presa na lateral do cinto, a posicionou contra o pescoço da Fier que rapidamente, arfou. Seu peito subia e descia pela respiração frenética, seus olhos passeavam de um lado para o outro.
Talvez a fúria da velha Lane houvesse passado dos limites, mas podia entender o lado de sua mãe, uma vez que, tiveram a residência invadida por três desconhecidas. Sim, três! Sarah Fier não foi a única... Evie se deu conta quando escutou um barulho na cozinha.
E temendo a loucura dela, deu mais um passo, tentando impedir que a Viúva cometesse algum absurdo, o que foi em vão. Porque assim que notou no fundo dos olhos negros de Sarah uma certa ambição, ela mesma a deixou.
Sarah era como uma caixinha de surpresas, ela era um poço de mistérios e seu futuro tão incerto, escuro como a noite que os cercava... Evie jamais conseguira prever algo a seu respeito!
── Vá embora! ── num breve estalo de consciência deu de cara com as outras adolescentes que correram para ver o que havia acontecido ── Vão embora! Saíam fora daqui! ── ordenou ── Todas vocês! Saíam já!
E uma a uma das três, correram para a floresta.
── O que elas queriam? ── a pequena Lane indagou, amedrontada.
Ela as conhecia. E também pudera... As outras duas eram figuras conhecidas no vilarejo: a de cabelos dourados, sendo nada mais e nada menos que Hannah Miller, a filha do pastor Miller, foi justamente a que mais lhe surpreendeu. A outra, já nem tanto, Abigail Berman, irmã de Constance, que possuía uma espécie de confusão espiritual sobre seu ser, além de arrogância nata, estava acostumada a solicitar serviços médicos de sua mãe, por isso a via com mais frequência.
Parece que ambas deixaram algumas tijelas vazias sobre a mesa, as quais armazenavam alguns pequenos frutos azulados que, não estavam mais lá. Então por fim entendeu o objetivo das garotas naquela invasão suspeita, roubar os frutos da terra que sua mãe colhia e separava para fins medicinais. E o intuito do trio, não era nenhum pouco saudável, considerou.
── Evie... ── a mulher a interrompeu ── Sinto em te pedir uma coisa. Mas acho que chegou a hora...
Aquilo fez sua barriga grunhir de ansiedade e temor.
Ajeitando suas tranças, engoliu em seco, se preparando para o que ouviria na sequência. Devia ser algo especialmente sério...
── Quê quer que eu faça, mãe? ── se prontificou.
── Precisa proteger este livro. ── Mary o entregou, meio empoeirado, pesou em seus braços. O mesmo livro que Sarah procurava, o mesmo que continha palavras secretas que jamais ousara recitar ── Custe o que custar. Todos que me veem pedir conselhos se sentem atraídos por... Seu poder, ele é perigoso demais! Pode ser prejudicial a todos nós, você é a única que consegue contê-lo.
Ele possuía capa preta e era pesado, e continha figuras estranhas no interior que, não podia detalhar muito bem.
── Eu? ── fraquejou.
Seus olhos com olheiras profundas, agora arregalados, enquanto refletia naquele canto.
── Avise sua amiga com quem sonhou sobre o perigo que a cerca e, se refugie no lugar mais afastado que encontrar.
── Mas... Mãe?
── Vá! ── gritou, apontando para fora, não dando chances de que recuasse. Um grito ensurdecedor.
Apesar dos motivos de Mary não serem concretos e de seu amor parecer questionável, ela sabia bem o que sentia em relação a filha. E podia dizer com todas as letras que, a amava incondicionalmente.
Evie somente se assustou, ela saiu apenas com a roupa do corpo, mas fez exatamente o que sua mãe mandou.
(...)
A chama da fogueira crepitando ao centro da quase roda formada por adolescentes de todos os cantos de Union, se tornou mais intensa quando os passos de Aila Miller invadiram o local ao centro da floresta. Os gritos abafados ecoavam e as folhas secas iam sendo esmagadas pelo sapatear dos envolvidos na dança metódica ao redor. Novos adolescentes se juntavam à celebração com seus lampiões em mãos, empolgados.
Contente por avistar um rosto familiar em meio a tantos outros, a loira se aproximou confiante, apertando sua saia. Ao redor de uma fogueira cintilante estava Isaac, o jovem com quem conversara pela manhã. E assim que a avistou ali parada, ele genuinamente abriu um sorriso e a esperou se sentar sobre a grama ao seu lado, para que pudessem conversar com mais calma. E um vasto tempo após deixarem o diálogo fluir naturalmente no silêncio, uma questão surgiu, a qual não deixaria Aila em paz nem mesmo se quisesse voltar para casa e repousar sua cabeça no travesseiro. O garoto então se interessou em aconselhá-la e prontamente a acolheu. Só que o assunto se tornaria desagradável ao mesmo em poucos minutos.
── Ouvi dizer que desejo reprimido mata a gente por dentro. Me sinto um pouco assim agora. Morta.── Aila estava reflexiva, de coração aberto e tristonha. Ela não fazia ideia do rumo que sua vida tomaria e aquilo a assustava.
── Por que está me dizendo isso, Aila?
── Eu não sei, Isaac. Me sinto sozinha... Na minha casa, ninguém gosta de mim! Não me sinto bem em um lugar onde sou apenas suportada e não acolhida. ── seus dedos se juntaram, o peso da rejeição sempre foi algo que a Miller mais nova carregou desde o berço com muita dor ── Você sabe como meu irmão é admirado! Mas eu, eu sou só o fruto de uma relação indesejada entre o pai dele e a minha mãe. Se ao menos eu tivesse alguém com quem contar... Com quem me casar...
E pela forma como disse, pareceu segura da decisão. Como se já planejasse a muito estar com alguém.
── Você é uma moça muito especial e bonita, Aila. Não precisa se preocupar com isso... Nem deve se sentir pessimista quanto ao simples fato de ser você. Eu seria o homem mais sortudo de todos se tivesse a mera chance de te ter ao meu lado pra sempre. ── o rapaz confessou, se perguntando se havia dito muito ou se aquilo era apenas consequência da bebida que já começava a fazer efeito em seu sangue. Mas quem sabe o atrevimento não haveria de ser correspondido da forma esperada?
O sorriso de canto da irmã de Cyrus deixou total mistério como de costume e, a incógnita prevaleceu em sua cabeça, o atormentando. O loiro estava praticamente a deriva naquele mar sempre tão difícil de se desbravar. Porém, observou cuidadosamente um brio lastimável lá no fundo dos olhos esverdeados da garota, como se houvesse muito sofrimento em sua alma e um pingo de esperança nas curvas rosadas de suas bochechas, entendendo muito pouco.
── E se eu fiz besteira? E se eu enterrei a chance de ser feliz por medo de ficar sozinha? Ah, Isaac! Eu não te condenaria a tanto... ── colocou as mãos sobre o peito ── Acho que está feito, pra sempre! O meu irmão nunca irá me perdoar...
O silêncio arrebatou o ar frio.
── Eu não me importo! ── o rapaz pareceu ter entendido seu ponto de vista, de alguma forma. O que a deixou pasma ── Não me importo se não serei o seu primeiro. Contanto que me deixe cuidar de você, pra sempre! Isso me basta.
Aila sentiu certo alívio, porque não estava falando exatamente daquilo, existia muito mais em jogo e ele nem desconfiava. No entanto, se mantinha ciente que de uma maneira muito peculiar, a Sra Miller estava certa sobre sua conduta, embora nunca admitisse. Ela andava tendo hábitos noturnos, visitando desconhecidos e talvez estivesse em seu sangue ser como sua mãe, uma mulher vulgar.
── Voce é um doce, Isaac! Mas quem me dera se isso fosse tudo... ── pensar sobre sua vida revirava seu estômago, era desconfortável.
── Você tá apaixonada, Aila? Está apaixonada por alguém, é isso que quer me dizer?
Apenas abaixou a cabeça.
Então aquela quase afirmação velada na pergunta foi recebida por ele como um banho de água fria logo ao início da manhã, antes de saltar da cama e cair duro no chão. Da mesma forma, ele caiu em si, desmoronando, pulando de uma colina em queda livre. Isaac possuía forte interesse em Miller, o que não devia ser segredo nem para o rebanho do qual tomava conta, mas agora via com mais exatidão que tudo não passava de uma linda, contudo, louca ilusão de sua cabeça.
A moça não estava nem na sombra considerando tê-lo como marido ou o que quer que desejasse.
── Estou. É, estou apaixonada. Mas acho que esse alguém não gosta de mim. Ao menos, não da mesma forma ou, na mesma intensidade.
── Então ele não sabe o quanto é sortudo... ── apertou o tecido de sua calça, só de imaginar sentia vontade de socar seu rival, seja lá quem ele fosse, disfarçando a raiva que estava prestes a consumi-lo ── Quer dizer que esse é o seu desejo reprimido? O sentimento se tornou maior do que esperava, não é? Você não merece um homem que te ame nas sombras!
── Mas eu preciso que ele me ame. Preciso que ele se case comigo... E preciso ouvir isso dos lábios dele! Acho que vou falar com ele... Estou indo agora mesmo, na verdade! ── se ergueu, desnorteada. Ignorando o conselho ── Isaac! Por favor, me impessa! Diga algo... Vai me deixar partir? Assim, sem dizer uma palavra?
── Por favor, acho que quem deve ficar em silêncio é você! ── ergueu as mãos, e a indireta a deixou pasma ── E aliás, por que eu a impediria de fazer algo? Não significo nada para você, como já deixou bem claro! E se você já tem sua resposta, se já tomou a sua decisão, se isso vai te fazer se sentir mais viva... Então vá! Só se lembre que, o tempo todo, eu estive aqui.
── Me desculpa, Isaac! E... Obrigada. Você é um bom amigo... ── lhe ofertou uma piscadela, respirando fundo.
E cobrindo-se com seu capuz esverdeado, sumiu em meio as árvores robustas que rodeavam a infame Union, deixando um coração partido para trás.
(...)
A respiração ofegante cortava o ar gélido da floresta, correndo com suas botas pretas, esmagando a vegetação local e quebrando alguns pequenos galhos com seus saltos minúsculos, Evie se mantinha focada nas palavras de sua mãe. Proteger o livro que estava em suas mãos, mesmo ouvindo uma voz estridente invadindo sua nuca, tentando lhe derrubar, não pararia por nada no mundo.
Aquela voz era veloz e a perseguia como um calafrio a fazendo bater os dentes, feito uma maldição. Estaria vindo do temível livro? O encarou por um segundo, pensando a respeito, apressando os passos e parou quando seu corpo foi arremessado contra o chão, ao colidir em algo.
O livro rodopiou no ar e caiu a poucos passos de seu corpo curvado sobre a grama molhada, levantando os olhos, viu a lua irradiar sua superfície em meio ao abismo da mata. Voltando-se para cima, reparou na sombra espichada contra a luz do luar, um passo a frente e lentamente reconheceu o rosto do homem da sombra, de barba mal feita, cabelos unidos no queixo e presos por uma pequena trança para trás, os olhos azuis que vibravam na escuridão. "Solomon?!", sim, só podia ser ele. O qual se curvou para vê-la melhor, preocupado com a pancada que a menina levara.
── Elvira? ── questionou, assustado.
Os lábios da pequena tremeram por escutá-lo dizer seu nome completo, como nem sua mãe fazia a tanto tempo.
── O que você está fazendo aqui? ── sibilou e, sentiu um vento traiçoeiro a cercar.
Nenhuma resposta foi ouvida quando seus olhos se voltaram rapidamente para o céu, feito um relâmpago envolvendo sua pele, se contorcendo e virando o pescoço.
Todo campo de visão que a mantinha consciente, se perdeu.
No instante em que entrou em transe, a primeira coisa que enxergou foi uma adaga pontuda e radiante, cuja atravessou a barriga de Solomon Goode em contraste com o fogo, era uma mulher quem a segurava, apertando ela no fundo de seu estômago. Percebeu pelos cabelos que voaram em seu rosto. E ainda com os lábios secos, teve a certeza sobre aquela espessura capilar que se moldava em caracóis, ela só podia pertencer a uma pessoa: Sarah Fier. E viu em seu olhar o mesmo brilho de outrora, de alguém destemida, sem limites para vencer, como supôs que a muito planejava. Goode caiu ao chão, gemendo de dor conforme Sarah corria. E, sentindo sua respiração voltar numa lufada, as pupilas de Evie se fixaram na floresta ao redor, enquanto o medo a dominava. Mais uma visão! Raciocinou depressa. E cada vez que seu dom progredia, parecia se tornar pior.
Conforme recebia a ajuda de Solomon para ficar em pé, sua mente trabalhava sobre o que vira. Era um vendaval de informações, mas Evie não estava errada em pensar que Sarah não era confiável, pois, ela estava interessada no livro. Ela recitara palavras estranhas, se bem lembrava, nomes de demônios gravados ali e depois, houve o embate com sua mãe. A personalidade da moça era uma tênue nuance entre o cinza e o preto, mas nunca muito claro o bastante para se decifrar.
── O que houve com você? ── as mãos que seguraram seu ombro direito eram sujas e frias como se esperava que fossem as de um lavrador ── Ei! Por acaso você teve uma daquelas suas visões?
── Não. ── quis disfarçar ── Me deixe em paz!
E apertando o livro negro contra o peito, recuou, disposta a lutar por ele.
── Você não tem que mentir pra mim. Diga-me! Por favor... O que é? O que houve?... ── ponderou, lhe lançando um olhar piedoso ── Ou melhor, o que há de acontecer?
── Todos dizem que vou destruir Union. ── comentou ── Mas não estou mais certa disso.
── Por quê?... Por que está fugindo a esta hora?
── Não. A pergunta é: Por que você está aqui? ── seu semblante se fechou como as nuvens no alto do céu.
── Eu vim... Rezar.
── Eu não acredito que seja religioso. ── replicou ── Você cheira a confusão e pessoas confusas, perdidas, não possuem fé. E se possuem, não sabem dizer se ela é real e até que ponto ela pode ser. Então, não. Você não veio aqui rezar.
── Tem razão. Você é esperta! Na verdade, eu queria uma solução, para curar a minha amada filha. ── engoliu em seco ── Estava indo me encontrar com Nora, então pensei que ela estava atrás da sua mãe, pois não acredito mais que Deus possa me ajudar, pensei então que ela pudesse, quando vi alguém encapuzado sair de sua casa.
── Acertou. A sua irmã esteve mais cedo com a minha mãe.
── Sim, como eu disse. Aquela dose que ela pegou não foi suficiente para a minha Margareth. Preciso de mais!
── Eu, sinto muito. Mas... Espera aí! Você disse que viu alguém sair da minha casa?
── É. Não sei. Uma mulher, talvez. Pela altura.
── Sarah? ── cogitou.
── Espera! O que a Sarah tem a ver com isso?
── Talvez ela esteja interessada no livro.
── Nesse livro? ── ergueu os dedos, apontando para o grandioso manual de instruções do mau.
── É. Esse não é um livro qualquer. Você deveria ficar longe dele! ── alertou, se afastando.
── Eu deveria ficar longe?! Ora, quem me diz isso? A garota que está predestinada a arruinar Union? ── resmungou, conforme a seguia e lhe fez parar por um momento, prestando atenção naquelas palavras ── Não seria você quem deveria ficar longe dele?
── O que quer dizer? ── espremeu os olhos, o fitando com desconfiança.
── Pense! Se não suportar a tentação de carregá-lo, se ele atrair sua alma que já tem uma tendência para o mal... O que vai acontecer? Sabemos bem, você e eu, que cresceu num antro de bruxaria. Confesse! Seus antepassados eram feiticeiros e...
── E vocês os mataram! Um por um. Não pense que me esqueci, porque você também estava lá. Com aquele rastelo na mão e a fúria nos olhos.
── Meu irmão, Elijah, foi quem ordenou a caçada. Eu não concordei com isso. E àquela altura nada podia fazer a não ser acompanhá-lo, mas agora mal nos falamos, não estamos mais morando sob o mesmo teto e, tenho minhas próprias convicções.
── O que mudou então?
── Se ficar com esse livro, corre o risco de sucumbir a sua magia maldita e vejo pelo seus olhos que, não anseia por isso. Poder é bom, mas pode ser perigoso longe da medida certa. Talvez você tenha medo e no fundo sabe que vai matar seus amigos, todos aqueles que você ama. Vai ver a vida deles se esvaindo de seus olhares, vai acabar com aquela maldita Vila na qual há pessoas com as quais nos importamos. E então? Quer mesmo aceitar de braços cruzados o seu destino sanguinário? Porque é o que acontecerá, se permanecer com esse livro.
── Quem me garante? O quanto disso é real? Sua irmã pode ter blefado. As visões dela podem não ser tão claras quanto as minhas! ── apertou os lábios ── Além disso, minha mãe não me ordenaria a ficar com ele se soubesse que minha vida estaria em risco.
── Sua mãe queria que você ficasse com ele, porque queria salvar a SI MESMA! ── aumentou o tom, aborrecido.
── O que está dizendo?
── Acaso é mentira que nos últimos tempos ela vêm perdendo a sanidade?
Aquele silêncio mútuo perdurou alguns segundos a mais do que o esperado, Evie raciocinou mais a fundo sobre o comentário do Goode e, secretamente, concordou. Porque analisando toda a situação, aquilo não deixava de ser verdade.
── Pense, Evie. Tudo isso não deve ser acaso. Só pode ser esse maldito livro.
── E o que você sugere? ── mordeu os lábios, aflita, se aproximando do mais alto ── Não posso desobedecê-la!
── Me deixe ficar com o livro. ── se prontificou ── Ou continue correndo o risco de se tornar um demônio que, vai matar a todos e principalmente, a sua amiguinha, Constance Berman.
Seu coração se partiu feito um machado rasgando o caule de uma árvore e seus lábios se abriram pela tremenda surpresa. De que forma ele sabia da visão que tivera pela manhã e que ela envolvia Constance, se jamais contara nem mesmo ao corvo Azazel sobre a devida situação?
── Como sabe disso?... ── suas sobrancelhas se juntaram, a testa coberta de rugas.
── Nora. ── revelou ── Ela também viu. Ela viu o triste fim de Constance.
₍ 001 ₎ VOLTAMOS A
PROGRAMAÇÃO NORMAL!
Mais um capítulo novo
pra vocês. Por favor, me
deem uma moralzinha
comentando, to tão
desanimadinha nos
últimos dias. Mas conto
sempre com o apoio de
vocês! ♡♡
₍ 002 ₎ Não esqueçam de
favoritar e comentar. E, me
digam o que acharam do
cap aqui!
₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top