CAPÍTULO SETE
corra ou morra

                  O PLANO ERA IR ATRÁS DE SAM NO hospital local, no entanto, o que mal sabiam é que aquela noite bizarra estava bem longe de acabar, os adolescentes chegaram dez minutos depois, atravessando a recepção esbranquiçada do lugar.

Deena se aproximou do balcão da sala de espera, olhando para uma senhora negra e corpulenta sentada do outro lado, a qual não parecia ter notado a chegada deles, ou talvez, apenas não quisesse errar algum canto das unhas que lixava atentamente. Não podia se dizer que ela levava o trabalho a sério ou com a maior alegria, mas pensando com calma, quem em Shadyside se sentia realmente feliz com o que fazia? Então a jovem insistiu, batendo na sineta de mesa mais a frente do computador, percebendo uma movimentação:

──   É só preencher e aguardar.  ──   ela empurrou um formulário sobre uma prancheta para a mesma, bastante entediada.

──  É, eu vou visitar.  ──  respondeu.

──   Pelo visto isso vai levar a noite toda...  ──   Serena murmurou.

──   Que se dane, eu espero até num caixão se for preciso, contanto que cês me coloquem num lugar privilegiado pra ver aquele filho da puta de Sunnyvale tendo o que merece!  ──   Kate cruzou os braços.

──   Pera aí, ela também é de Sunnyvale, não é?  ──   Josh lançou um olhar de canto, curioso sobre a loira.

──  Sou.  ──  a mesma se antecipou  ──  Prazer, Serena Goode, e sim, sou realmente boa em tudo o que faço. Mas não se preocupe, não sou babaca como o Peter...

──  Já convencida...  ──  a morena acrescentou.

──  Eu prefiro chamar isso de autoestima, Katezinha.  ──  sorriu, porém o moreno ainda continuava a encará-la, não de uma maneira grosseira, mas sim intrigante  ──  Ah, ei, que foi? Por acaso tá com a impressão de que me viu em algum lugar? Bom, deve ter sido naquele vídeo pornô que eu estreei na internet, com a ajuda do seus amiguinhos de Shittyside!

──  Meu Deus, Serena, para com isso, o Josh é só uma criança, cara... ──  Simon rebateu.

──  Não, você é uma criança, Simon.  ──  a Goode apontou  ──  O Josh é esperto, e eu gosto disso, gosto de pessoas espertas!

──  Cara, cê acabou de falar que não gosta de mim na maior cara de pau.  ──  Kalivoda deu de ombros, fazendo "tipo"  ──  Ah não, agora eu fiquei chateado, achei que tivéssemos desenvolvendo uma relação...

Serena revirou os olhos e deu risada, ele sempre tinha essa habilidade de deixar as coisas num tom mais leve, Simon era engraçado. Quando o trio enfim olhou para a frente, viram Kate se aproximar da cacheada, tentando ajudá-la.

──  Ah, Oi, com licença... Diz pro Beddy que é uma paciente!  ──  afirmou.

──  Beddy? Quem é esse?  ──  a loira se questionou.

──  O médico mais legal desse sanatório! ──  Simon abusou na ironia da palavra ao dizer aquilo, ele sabia que aquele lugar era uma verdadeira loucura, especialmente quando se tratava de buscar algum atendimento  ──  E um amigo da Kate. Olha ele vindo aí...

Então um sujeito alto, meio encurvado, com sobrancelhas lineares e olhos grandes esverdeados, vestindo um pijama cirúrgico na cor rosa, apareceu no final do corredor, se achegando nas garotas que estavam mais a frente.

──  Beddy, faz tempo, como vai?  ──  ela começou.

──   Tô vendo que ainda não se livrou do idiota...   ──  o homem olhou ao redor e pousou seus olhos sobre o Kalivoda.

──   Ela não consegue, Beddy.  ──  retrucou sarcástico  ──   É que eu sou bonito demais!

──  Bom, pelo menos trouxe alguém nova, então talvez esteja pensando em se livrar...  ──   ele encarou Serena, que ficou empolgada com a frase.

──   Não, isso não está nos planos, o Simon vem com a gente, ele é o nosso escravo particular...  ──   piscou os olhos.

──  A gente precisa de ajuda.  ──  Schmidt interrompeu.

──  Eu aposto que sim, mas, por acaso... Nós temos um novo protocolo de segurança. Acabou o estoque de mirtilos e bananas, então... Agora eu preciso de uma chave especial...

──  Isso é em grego?  ──  a Goode perguntou ao loiro, por não entender uma palavra sequer que saia da boca do enfermeiro.

──  Deve ser, não foi lá que inverteram a maconha? Sou só consumidor, gatinha.  ──  Simon utilizou como desculpa.

──  Eu tenho que ver uma paciente! ──  a Johnson praticamente gritou.

Então finalmente conseguiu entrar, sendo acompanhada pelo grandalhão esquisito. Os jovens ficaram em silêncio por um instante, mas Kate se virou para eles, olhando para a máquina de chocolates e disse:

──  Querem alguma coisa da máquina? Eu tô mega faminta!...  ──  caminhando para o corredor, se aproximou dela, todos foram com a mesma  ──  Ei Simon, dinheiro...  ──  pediu, esticando a mão para ele.

──  Não olha pra mim não, cara. Eu tô falido. ──  ele puxou os bolsos pra fora para que não houvessem dúvidas.

──  Ah é? E o que aconteceu com a grana que eu consegui pra você?  ──  Serena praticamente o fuzilou com os olhos.

──  É, bom, eu precisava comprar um relógio novo.  ──  coçou a nuca, mas não estavam certos de que aquilo era mesmo verdade.

──  Tá de sacanagem que gastou a merda do dinheiro com isso?! ──  a sunnyvale contestou  ──  Porque sempre que estou com vocês eu me meto numa grande roubada?

──  Cê fala como se não gostasse disso... ──  Kate suspirou  ──  Não foi a gente que te procurou, lembra?

──  Vai dizer que não curtiu a minha companhia?  ──  a Goode se aproximou, fazendo a outra recuar, sentindo um leve frio na barriga, mas logo reagiu com um sorriso meigo.

──  Não é como se eu desse a minha vida pra ficar olhando por horas pra Princesinha de Sunnyvale! ──  e encarou o jeans que Serena vestia  ──  Me dá o que você tem...

A jovem riu por um instante e verificou, mas sabia que também não tinha nem um tostão.

──  Ah, deixa eu ver aqui, eu devo ter um total de... Zero! É, eu não tenho nada...

Schmidt demonstrou surpresa, revidando:

──  Então por que diabos cês fazem questão de esfregar na nossa cara que são melhores, se não aproveitam a merda do dinheiro e o progresso que tem?

──  Caramba, Kate, essa vai pro Livro dos Recordes...  ──  Simon as encarou.

──  Livro dos Recordes? ──  Josh pareceu interessado na explicação.

──  É... Tipo, das vezes que ela falou algo que fez sentido.

──  Cala a boca, idiota! ──  retrucou, nervosa  ──  Até porque, Simon, cê não ia tá nem na primeira página...

──  Olha só, não é porque eu sou rica que tenho dinheiro disponível a hora que eu quero. Fala sério, eu saí escondida e gastei toda a minha mesada do mês.

──  Quer saber? Grande bosta! Todo esse drama de gente rica já tá me irritando....

──  É, eu sei como é isso, eles guardam dinheiro no cofre pra, provavelmente, esquecerem lá e nunca usarem....  ──  Kalivoda se encostou contra a parede.

──  Ei, calma, gente!  ──  Josh atravessou no meio de todos, ficando diante da máquina  ──  Eu tenho uma solução pra isso...  ──  e de repente o garoto esticou os dedos em direção aos números nas laterais do aparelho, apertando algumas teclas, fazendo com que os discos de metal girassem no sentido contrário e as barras de chocolates que estavam sobre os mesmos, caíssem. Não uma, ou duas, mas sim todos os chocolates da máquina  ──  Qual vocês querem?  ──  desse modo se virou, sorrindo maliciosamente, como se disesse "eu sou o cara",  e de fato era, o melhor "hacker" que tinham em mãos.

──  Onde aprendeu a fazer isso?  ──  Kate ficou interessada.

──  É... Muita gente troca dicas na internet.

Se antes Serena tinha dúvidas sobre o Johnson ser o garoto com quem conversara pela madrugada, agora aquilo estava bem próximo de se confirmar. A possibilidade a deixou bastate animada, havia enfim encontrado a pessoa certa, parece que o destino pela primeira vez estava ao seu lado. Mas não queria comemorar antes do tempo.

──  Na internet? Cê é mesmo o Josh, irmão da Deena, que estuda a história de Shadyside, né?  ──  era óbvio de imaginar, mas diante de tantas coincidências, ela quis ter total certeza.

──  Sou, sou sim. Como ficou sabendo dessa última parte?

──  Seus amigos, eles me contaram.  ──  ela o interrompeu.

──  Engraçado, eu conheci uma garota de Sunnyvale hoje mais cedo na internet, nós trocamos ideias sobre isso.  ──  ele revelou, suspeitando da loira, Josh era inteligente demais para ser enganado facilmente.

──  É, a Rainha do Drama aqui ficou meio impressionada, não tem porque levar a sério...  ──  a mais baixa deu de ombros.

──  Mas é sério, a história da Sarah Fier, a maldição, tudo, tudo é verdade...

──  Ah, claro, vamos começar de novo com aquela baboseira de "a bruxa vai te pegar quando a morte chegar [...] " e blá, blá, blá...  ──  a shadysider estava realmente de saco cheio daquela história, talvez não quisesse dar o braço a torcer porque no fundo a lenda a intimidava.

──  É, vamos falar de coisas que realmente interessam. Tipo, pegarem os nossos contatos quando quiserem fazer uma encomenda, só pra garantir...  ──  Simon engatou seu braço sobre o pescoço de Josh.

──  Não, valeu. Eu tô bem assim.  ──  ele respondeu.

──  Por falar nisso, quando entraram nesse ramo das drogas?  ──  Serena encarou Kate, que pareceu um tanto desconfortável, mas não titubeou na resposta.

──  Ah, isso? É temporário, eu tô poupando pra quando sair daqui..  ──  confessou, enquanto o Johnson pegava os doces.

Praticamente na mesma hora, a porta ao final do corredor foi aberta, Deena e Sam passaram por eles correndo desesperadas, seus passos contra o piso branco e liso provocavam um barulho incômodo e a respiração desenfreada só aumentava de acordo com a velocidade em que fugiam, as duas deixaram o grupo pra trás, enquanto a cacheada gritava:

──  Corre!

──  Ué? As duas voltaram?  ──  Kalivoda perguntou, curioso.

A Goode sentiu seu coração palpitar na velocidade de um raio atingindo a terra e arregalou os olhos quando o Máscara de Caveira saiu da esquina escura da qual estavam próximos, passando rente ao ombro de Kate que gritou tão alto, sendo possível ouvir o eco no hospital inteiro. O assassino acelerou na direção das duas primeiras, Schmidt apenas puxou a loira pelo braço, enquanto Simon a carregava pelo outro, Josh também começou a correr apavorado mais atrás levando todos os chocolates com sigo. Serena não sentia suas pernas, apenas a sensação de medo cercava seu peito, naquele instante pensou que seria capaz de fazer qualquer coisa para salvar seus amigos e a si própria, então, eles pararam na recepção e tiveram a breve impressão de que se separaram de Deena e Sam, as quais de fato haviam ficado pra trás, no entanto, não podiam voltar, eles tinham de seguir em frente e acreditar que elas iam ficar bem, assim como eles.

──  Cadê a chave? Tá com você?  ──  o loiro perguntava a cada um, com a voz trêmula, eles tinham um carro lá fora que podia salvá-los  ──  Tá com você a chave?

──  Venham! A ambulância...  ──  Kate se lembrou.

E os adolescentes a seguiram até a parte externa do lugar, no estacionamento, onde o transporte ficava.

Na recepção, as duas garotas que sobraram chegaram com atraso, tentando despistar o mascarado, se abaixaram por trás do balcão, escondendo-se, tentando não fazer barulho, mas foi praticamente impossível quando Sam encarou a senhora que os havia atendido minutos antes morta de forma brutal a poucos passos delas, a garota se esforçou o máximo para não gritar. Ele estava ali, dava pra notar pelos passos, caminhava farejando feito um louco, então Beddy apareceu no saguão reclamando sobre sua presença, ambas tentaram alertá-lo do perigo, mas foi inútil, ele avançou contra o homem de maneira sórdida impossibilitando qualquer movimento seu, cravando a faca pontiaguda contra a sua jugular, o fazendo cair agonizando, aquilo foi demais para Sam que berrou e saiu correndo aterrorizada, pulando sobre o balcão, lutando pela sua vida, mas o Máscara de Caveira foi mais ágil, ele a agarrou pelo pescoço, tentando acertar a faca em seu corpo com a mão livre, porém foi imobilizado a tempo pela cacheada que pulou em suas costas e o impediu que o mesmo machucasse a garota.

Fraser aproveitou o esforço de Deena e mordeu o pulso do assassino, fazendo com que a faca deslizasse no chão, nesse momento, a ambulância parou em frente à porta do hospital, Kate havia conseguido manobrá-la com muito esforço, Simon e Serena abriram a porta traseira e, vendo o desespero das duas garotas, ela saiu, correndo em direção às mesmas, na esperança que alcançasse a faca do assassino e pudesse acertá-lo a tempo, mas foi em um rápido segundo, após muito lutar e resistir, Deena conseguiu derrubá-lo, enquanto Sam passava pela Goode apurada, se enfiando na ambulância às pressas. Apenas a jovem de Sunnyvale e a cacheada viram o que aconteceu quando o Máscara de Caveira caiu no chão, seu rosto ficou em evidência e foi possível perceber que a pessoa por detrás dela continuava sendo Ryan Torres, mas desta vez, pálido e com um buraco de tiro na testa. Serena recuou quando Deena começou a correr em sua direção e o mascarado se levantou. Porém todos entraram na ambulância a tempo e a fecharam, arrancando dali com força.

──  Que merda era aquela?  ──  Simon caiu no chão, sem entender nada.

──  O Ryan Torres, ele voltou!  ──  a loira parecia hipnotizada, com o olhar distante, sua cabeça trabalhava a mil diante daquela informação.

──  Eu sabia! Eu disse...   ──   Josh insistiu.

── Tá, mas e o Peter?!  ──  Kate perguntou ao volante.

──  O idiota tá morto!  ──  Deena confirmou.

──  Foi... Foi horrível! Ele nos atacou...  ──   Sam lembrava da cena com uma expressão nítida de sofrimento e pavor.

──  A gente tem que ir até a delegacia.  ──  a cacheada se decidiu.

──  O quê?! Não. De jeito nenhum, o meu pai vai tá lá!  ──  rebateu, preocupada.

──  Sinto muito por você, Rainha de Sunnyvale! Mas não temos escolha, e acho que é uma boa hora pra você descer...

──  O quê?! Do que cê tá falando?  ──  Kate se intrometeu, vendo a amiga fora de si naquele momento.

──  Acorda, Kate. Ela é uma Sunnyvale, ela não tá do nosso lado!

──  A Sam também é uma Sunnyvale agora. Então vai se foder, a Serena fica, ela pode ajudar a gente a convencer o pai dela!  ──   tentou encontrar uma justificativa.

Todos sabiam que Schmidt estava agindo estranho desde que a Goode apareceu naquela cidade, mas esse não era o ponto, nem o momento certo para questionar aquilo. Por isso Deena só respirou fundo e concordou:

──  Tá, que se dane, acha que isso pode funcionar?

──  Eu duvido muito, o meu pai não vai acreditar na gente...  ──  Serena apenas lidou com a verdade, seu pai era cético demais às vezes.

──  Foda-se! A gente precisa tentar... Ele me disse que se precisasse de ajuda, que eu podia contar com ele. Então, é, agora é um ótimo momento!  ──  ela encostou seus dedos contra a testa de Fraser  ──  Sam, cê tá legal?

──  Tô. Acho que tô...  ──  respondeu, encolhida em seu canto.

──  Beleza, vamo nessa!  ──  Johnson tentou se convencer, pensando na explicação que daria.

₍ 001 ₎ Oie gente, cheguei!
Esse foi um dos capítulos
que eu mais gostei de escrever
então, espero que tenham
gostado também ! ♡

₍  002 ₎  Não esqueçam de
favoritar e comentar. E, me
digam o que acharam do cap
aqui!

₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡