𝟎𝟎𝟔 || "𝐈 𝐇𝐎𝐏𝐄 𝐓𝐎 𝐒𝐄𝐄 𝐘𝐎𝐔 𝐀𝐆𝐀𝐈𝐍"

GFI.

Rio de Janeiro, Brasil.
21/11/23 ; 08:19 pm.

Enquanto o Uber rodava pelas ruas movimentadas da cidade brasileira, deslizei a mão até meu bolso. Com a esquerda, segurei cuidadosamente a embalagem de uma das confeitarias que havia passado pelo caminho, e então, peguei meu celular. A luz suave da tela do aparelho brilhou no interior do carro, clareando o ambiente de forma leve, com um brilho que se fazia mais presente até mesmo que as luzes das ruas.

Abri o aplicativo de mensagens, com os olhos fixos na tela, procurando por alguma atualização de Gabriela. Passei o dedo pela lista de conversas até encontrar seu contato. Ela havia me mandado uma mensagem na madrugada anterior, e me passou a informação de que Sofia estava bem, porém se sentindo pressionada e sobrecarregada com as últimas notícias nas redes sociais.

Essa situação me incomodava ao ponto de trazer uma leve culpa, só de pensar que eu poderia ter encontrado uma maneira melhor de ajudá-la a voltar para casa. Muita coisa poderia ter sido evitada, tanto para mim quanto também, e principalmente, para ela.

Mas enfim, já estava feito. Não tinha como mudar o que já havia acontecido.

A conversa com Gabriela teve um resultado positivo, pois nesta tarde, há algumas horas, fui convidado para um jantar na casa de Sofia, que aconteceria agora à noite, e era justamente para onde eu estava indo.

Apesar que eu não conheço nenhuma das pessoas que vão estar presentes, e temesse a reação da anfitriã, que já se sentia pressionada, eu sabia que uma conversa com ela seria necessária.

Era uma ótima oportunidade, e até mesmo, talvez a última, considerando que amanhã voltaria para a Argentina, e logo depois para a Itália. Eu não poderia deixar passar essa chance.

— Sem querer ser invasivo, mas... Não é todo dia que tenho um jogador de futebol dentro do meu carro. Você não deveria estar a caminho do Maracanã nesse exato momento? - A voz do motorista no banco da frente interrompeu meus pensamentos.

Levantei a cabeça, desviando os olhos do celular, um pouco confuso.

Eu não podia revelar o que realmente estava de fato acontecendo. Precisava inventar uma desculpa, e ela teria que ser boa o suficiente, para soar convincente.

— Sem problemas... Estou tratando de um problema muscular. O preparador físico recomendou que eu não fosse ao jogo. - Foi a primeira coisa que me veio em mente. O que não era totalmente mentira, já que eu nem deveria ter sido convocado, pois já sentia a panturrilha há alguns meses.

Ele balançou a cabeça em sinal de entendimento, e o ambiente no veículo novamente voltou ao silêncio de antes. Mais uma vez, olhei para a tela do aparelho, no exato momento em que uma nova notificação surgiu na tela. Era a Gabriela. Não hesitei em clicar.

MESSAGES
— Paulo Dybala, On:

Olhei ao redor, observando os prédios e comércios que passavam pela janela, completamente desorientado quanto à localização e sem ideia de como responder a mensagem. Encarei o motorista através do retrovisor interno. — Já estamos chegando?

A velocidade do carro começou a reduzir até que o veículo finalmente estacionou e parou.

— Na verdade, acabamos de chegar - Respondeu, enquanto puxava o freio de mão.

Rapidamente, digitei "Já estou aqui." e apertei no botão de enviar.

— Obrigado. - Agradeci ao motorista, pegando a embalagem da sobremesa, antes de sair do carro.

Respirei fundo e suspirei, tentando aliviar a pressão que se formava aos poucos em meu peito, e com passos largos, caminhei em direção à portaria do prédio, segurando a embalagem envolta em papel kraft.

— Boa noite! - Cumprimentei o porteiro, tentando ser o mais natural possível. — Vim visitar uma amiga que mora no 503.

O senhor atrás do balcão levantou os olhos de sua revista, que parecia ser sobre pesca, e me avaliou com o olhar um tanto desconfiado.

— Nunca te vi por aqui antes... - Disse, franzindo o cenho. — Vou precisar ligar para confirmar a visita. Tudo bem por você?

Assenti, fazendo esforço para parecer calmo, enquanto torcia em silêncio para que Gabriela estivesse atenta ao interfone. Se Sofia atendesse, pelo pouco que conheço dela, eu não duvido nada que ela pedisse para me mandarem ir embora.

Observei o porteiro discar o número, enquanto batucava levemente os dedos sobre a bancada de mármore, esperando a ligação. Após alguns breves segundos de conversa, ele fez um gesto afirmativo e destrancou o portão, que se abriu com um clique suave.

Pisquei para ele, e lancei um joinha em sinal de agradecimento, passando pelo portão e seguindo para o prédio principal, que não era nada longe.

Gabi já me esperava ali em frente. A cumprimentei com o meu melhor sorriso, querendo ao menos tentar parecer amigável.

— Você demorou. - Comentou, andando em direção ao elevador com uma certa pressa. Acelerei o passo para acompanhá-la e entrei na cabine logo atrás dela.

— Tive que encontrar um lugar que vendesse torta de chocolate, bem recheada e com bastante cobertura. - Expliquei, erguendo a embalagem, me sentindo orgulhoso.

Um sorriso se formou nos lábios dela. — Eu tenho certeza que ela vai amar isso. - Estendeu as mãos na minha direção, fazendo um gesto para que eu a entregasse o pacote.

Passei a embalagem para Gabriela, sentindo uma satisfação genuína somente de imaginar a reação de sua amiga ao receber a sobremesa favorita. — Foi um pouco complicado de encontrar, mas tenho certeza de que vai valer a pena cada minuto que gastei andando de confeitaria em confeitaria. - Sorri.

Gabi segurou a embalagem com cuidado enquanto o elevador subia lentamente. E em questão de segundos a voz robotizada anunciou nossa chegada ao quinto andar, interrompendo o breve silêncio com um tom metálico e neutro.

— Paulo - Chamou meu nome ao sairmos do elevador. — Aproveite essa chance, porque se tudo der errado, Sofia com certeza vai me matar, e não vai ter ninguém tão maluca ao ponto de tentar fazer esse encontro acontecer de novo.

Assenti com a cabeça, rindo baixo. No fundo estava mais nervoso a cada passo que dava, imaginando todos os cenários possíveis do que poderia acontecer, e em todos eles sempre tinha algo dando errado para mim.

— Surpresa! - Exclamou Gabriela, quase gritando de empolgação, enquanto adentrava a sala.

Entrei logo atrás dela, sentindo o nervosismo se multiplicar.

Triplicar.

Quadruplicar.

Não havia me sentido assim nem quando bati um dos pênaltis contra a França, na final da Copa do Mundo.

Meus olhos foram imediatamente atraídos para Sofia, como se fossem ferro e ela um ímã.

Inicialmente, seus lábios levemente entreabertos e olhos arregalados revelavam uma surpresa sincera. Mas não demorou muito para que sua expressão se transformasse em algo mais complexo, algo que eu conseguia decifrar muito bem, suas mandíbulas estavam travadas, e não pude deixar de notar que ela respirava fundo, possivelmente reunindo todas as forças internas para manter o controle sob si mesma.

Por mais que aparentemente estivesse há apenas alguns passos de acabar comigo, ela estava linda, sua beleza era inegável e impossível de não se notar.

Os fios castanhos, soltos e levemente ondulados, destacavam seu rosto de maneira natural. A maquiagem discreta valorizava a delicadeza de seus traços.

Não é de hoje que havia a notado. Eu já havia sim percebido o quanto ela era bonita, antes mesmo daquele momento em que ela me beijou com a influência do álcool. Só não pude expressar o quanto a garota havia chamado a minha atenção, já que acabamos nos desentendendo no bar, quando ela decidiu ser arrogante ao tratar meu amigo.

É engraçado.

Até o fato dela ter sido arrogante com Julian, e até mesmo comigo, de certa forma me deixava mexido.

Mas não era um momento bom para pensar sobre isso.

Agora ela estava na minha frente.

Tinha uma grande chance dela explodir a qualquer momento e me xingar.

E muito possivelmente iria.

— Oi. - Acenei, mantendo meu olhar fixo na mesa, tentando ignorar a tensão entre todos ali presente.

Sofia não respondeu, nem com um sorriso se quer. Sua expressão permanecia igual, a frieza em seu olhar era perceptível. Ela não parecia nada contente em me ter ali, e a falta de calor em sua recepção só deixava isso mais claro.

Com os braços cruzados, a morena continuou a me encarar sem desviar o olhar. O silêncio desconfortável tomou conta da sala, tornando o ambiente ainda mais pesado, se é que era possível.

Meus olhos percorreram o espaço, buscando algo para dizer ou fazer, mas parecia que nada poderia deixar a situação mais leve. Os fixei em uma outra jovem na sala, essa eu ainda não conhecia. Ela ofereceu um sorriso sem mostrar os dentes, claramente tentando ser simpática, mas o desconforto dela era tão evidente quanto o meu.

— O que você está fazendo aqui? - A pergunta da anfitriã quebrou o silêncio. Sua voz baixa tinha um claro fio de irritação.

Gabi pigarreou.

— Paulo trouxe a sobremesa, a torta sabor diabetes, que você tanto gosta. - Tentou soar engraçada, mas o nervosismo em sua voz era claro.

Dei um passo em direção a Sofia, tentando encontrar as palavras certas.

— Gabi, depois a gente conversa. - Cruzou os braços.

Ela nem ligou para a torta que eu trouxe.

A garota me examinou por um momento, como se estivesse decidindo se valeria a pena gastar seu tempo e energia com isso.

O olhar dela parecia penetrar até a minha alma.

Antes de falar algo a mais, ela soltou um suspiro resignado, qual parecia já estar preso por muito tempo.

— Vem comigo. - Segurou meu braço e me puxou. Eu apenas a segui, sentindo um frio de ansiedade passar pelo meu estômago.

Havia a mesma quantidade de chances da situação melhorar, ou piorar ainda mais. A única certeza era que as coisas mudariam a partir daquele momento.

— Você não vai me matar e esconder o corpo dentro do freezer, vai? - Brinquei, observando atentamente o cômodo ao qual entrávamos, analisando bem o local.

— Você tá maluco, Paulo? O que tá fazendo aqui? Perdeu a noção? - As perguntas dispararam uma após a outra, seu tom de voz deixava nítida a irritação.

— Se acalma, não precisa disso tudo. - A vi revirar os olhos. — Fui convidado para jantar aqui, tá? Até trouxe sobremesa. - Com calma, me virei para ela, enquanto se aproximava. — Por sinal, você nem ligou pra isso. - Cruzei os braços, sem disfarçar que aquilo havia me frustrado.

Seus olhos encontraram os meus, e pude sentir meu coração parar por um breve segundo.

— Você tem que ir embora! A Gabi é completamente maluca por te convidar para vir aqui. Ela nem te conhece. - Continuou, sem desviar o olhar. — E eu também não.

Sua sinceridade, por algum motivo, era quase dolorosa de tão direta.

Respirei fundo, tentando reunir a calma necessária para lidar com a situação.

— Tudo bem, eu vou sim. - Falei, enquanto passava a mão suavemente por uma mecha de cabelo que caía sobre seus olhos. — Mas antes, eu quero conversar com você.

Ela respirou fundo e se afastou, chegando perto do balcão e apoiando o corpo ali.

— Conversar o quê? A gente não tem o que conversar.

— Ana! - Praticamente a repreendi.

— Tá Paulo, tá. Vai logo. - Ela negou com a cabeça, fazendo pouco caso.

— Então, eu conversei com Gabriela... - Cocei a nuca, olhando em sua direção. — E de verdade, eu imagino como você deve estar se sentindo, é realmente difícil de lidar com tudo que tá acontecendo.

— É só isso? - Perguntou, com uma expressão indiferente, como se estivesse pouco interessada.

Mas eu sabia que ela estava sim sentindo tudo.

— É, mas... - Dei alguns passos curtos e me aproximei da mesma, para que pudesse olhar em seus olhos, e tentar passar a maior sinceridade com as minhas palavras. — Eu também quero te pedir desculpas.

Sua expressão mudou, agora apresentava dúvida.

— Desculpas pelo quê necessariamente? - Revirou os olhos. — Por ser jogador de futebol? Por ter fama? Que sua culpa nisso?! Eu estava bêbada, e você me ajudou, eu que tenho pelo que te agradecer. - Engoliu o seco após as últimas palavras, talvez ela quisesse não ter finalizado daquele jeito.

Tentei reprimir um sorriso que insistia em se formar em meus lábios. Me deixava feliz e aliviado saber que de alguma maneira ela sentia gratidão pelo que fiz, por mais que não demonstrasse tanto.

Mas ainda havia o que perguntar.

— Então, ainda tem outra coisa que eu gostaria de saber... - Sofia me olhou como quem pedia para que eu desse continuidade. — Você tem namorado? Eu vi algo sobre isso em algum lugar ontem.

Claro que eu não iria dizer que visitei o perfil dela ontem algumas vezes.

Sua expressão mais uma vez mudou de imediato, agora parecendo estar assustada e constrangida. Ela não disse nada, isso, junto ao seu olhar que mostrava o quão desconfortável ela estava, e também já respondia muita coisa.

Já que não obtive nenhuma resposta com palavras, decidi perguntar de uma vez: — Ele sabe o que aconteceu entre nós?

— Sim, ele sabe. - Sorriu sem mostrar os dentes. — E ele não é mais meu namorado.

Então, ela estava solteira...

Nunca imaginei na vida que iria destruir um relacionamento que não fosse meu.

— A gente terminou ontem mesmo - Continuou, com um tom distante. — Mas não se preocupe, ele é um tanto narcisista, já não tava dando certo faz um tempo.

Realmente, ela não estava abalada.

Quem a visse não diria que havia acabado de sair de um relacionamento. Ela parecia pouco se importar, isso explicava bastante sobre o fim do tal relacionamento.

— Ah, eu sinto muito por isso... Ele deve estar superando rapidinho, né? - A brasileira olhou para mim com um olhar confuso. — Afinal, quem melhor para consolar ele do que ele mesmo? - Comentei, tentando ao máximo ser engraçado e descontraído. Mesmo sabendo do risco de ser expulso dali agora mesmo.

Ela soltou uma risada bastante solta, seus olhos brilhavam de diversão enquanto se inclinava um pouco para frente, como se não esperasse essa pergunta.

Foi a primeira vez que a vi rir de algo que eu disse.

Não consegui evitar o sorriso que se formou em meu rosto.

— Você é muito ridículo. - Disse ela, ainda rindo, enquanto seus lábios iam ganhando forma. — Mas eu acho que ele é meio obcecado demais, não sei.

— Você me chamar de ridículo eu até aceito... Mesmo eu não sendo. Mas ele ser obcecado em você? Coitado, então ele sofre mesmo. - Retruquei com um sorriso provocador, aproveitando o momento leve.

Ela balançou a cabeça, dessa vez revirando os olhos, mas ainda sim tinha um meio sorriso em seu rosto.

— Você fala como se fosse fácil de me decifrar. - Ela inclinou a cabeça pro lado, de forma despretensiosa. — Mas duvido que realmente consiga.

Era impossível olhar para ela e não perceber o quão linda ela estava, e eu não iria deixar de pensar nisso tão cedo.

— Certo, então... - Aproveitei o momento, me aproximando devagar, até que meu rosto ficasse a poucos centímetros do dela. Nossos olhares se cruzaram, e eu mantive o contato visual, prolongando o silêncio, enquanto fingia avaliá-la com cuidado. — Aposto que você está pensando em como eu sou irresistível, não é? - Arqueei uma sobrancelha, esboçando um sorriso confiante. — Mas aposto também que no fundo, uma outra parte de você deve estar dizendo "Isso não importa, eu sou ainda melhor."

Ela apenas me encarou, como se estivesse completamente imune à minha provocação, enquanto soltava uma risada nasalada, curta e discreta.

— Claro, claro... - Murmurou, com um sorriso de canto, sem perder a pose. Mesmo tentando parecer desinteressada, eu percebi que havia conseguido mexer com ela. — Mas diz aí, você não cansa não?

— Nem um pouco. - Respondi, com o olhar fixo em seus lábios que se mantinham em forma.

A transformação em seu rosto me fazia não querer deixar de olhar para os seus lábios, era o sorriso que eu menos esperava ver, e um dos mais bonitos que já vi.

Seus olhos, ligeiramente fechados, criavam pequenas linhas ao redor deles, enquanto brilhavam.

Seus lábios se curvavam para cima de forma natural, revelando dentes brancos e perfeitamente alinhados.

Por um instante, fiquei paralisado, completamente preso na beleza do seu sorriso, apenas acordando da minha observação quando ele começou a desaparecer.

— Bom... - Ela pigarreou, me fazendo desviar o olhar, envergonhado.

— Você tem um sorriso bonito, Ana. - Tentei explicar indiretamente, o que com certeza me levou a parecer atrapalhado. Não sabia bem como expressar o impacto que aquilo me causou.

— Obrigada? - Uma risada, um tanto mais sem graça, escapou de seus lábios, mas a suavidade em sua voz indicava que estava começando a finalmente se sentir mais leve.

Voltei a encarar Sofia em silêncio. Minhas memórias se voltavam ao momento em que ela me beijou, ainda estava fresco em minha mente o sabor gelado da menta junto ao gosto do álcool. Apesar de inesperado, foi bom, e eu ainda lembrava de cada detalhe perfeitamente. De como ela passou a mão pelo meu abdômen, os arrepios que foram causados, e ainda causavam quando eu pensava muito sobre.

Com um movimento lento e intencional, coloquei minha mão no rosto dela, passando meu polegar de maneira suave sobre sua pele macia. O toque, por mais leve que fosse, era o bastante para sentir a delicadeza de sua pele.

Nossos olhares se encontraram novamente, eu me aproximei ainda mais, ficando a poucos centímetros de seus lábios. A sua respiração se misturava com a minha. Ela não me afastava, muito pelo contrário, seu olhar parecia um convite silencioso, e seus lábios entreabertos pareciam sugerir que eu tomasse uma atitude. Seu corpo se inclinava levemente em minha direção, e os olhos semi-abertos revelavam silenciosamente que ela também esperava por aquilo, o que só aumentava minha vontade de avançar. Ela parecia dar todos os sinais para que eu agisse.

Eu já não conseguia mais conter a vontade que sentia naquele momento. Eu queria beijar ela novamente, queria poder sentir o gosto dos seus lábios mais uma vez.

Quando finalmente avancei, nossos lábios se encontraram com uma mistura de urgência e desejo que fez meu coração bater ainda mais rápido. O beijo começou lento, exploratório, mas logo se aprofundou, cheio de uma intensidade inebriante. Seu sabor, o leve toque do vinho em seus lábios, era como um convite silencioso, mas também fez com que eu hesitasse por um breve instante.

— Você... - Murmurei contra seus lábios, mal conseguindo me afastar o suficiente para fazer a pergunta. — Você bebeu?

Ela me encarou com um brilho de provocação no olhar, o tipo de olhar que misturava desafio e algo mais profundo, algo que parecia gritar que ela sabia exatamente o que estava fazendo. Um sorriso lento e quase travesso se formou em seus lábios enquanto ela aproximava a boca do meu ouvido, a voz baixa e carregada de firmeza.

— Muito pouco. - Sua respiração quente roçou minha pele, fazendo um arrepio percorrer meu corpo.

Eu ainda a encarava, mesmo que com os olhos quase fechados, tentava encontrar qualquer sinal de hesitação ou dúvida.

— Mesmo? - Minha voz saiu um pouco rouca, quase desarmada pelo efeito que ela estava causando em mim.

Mas antes que eu pudesse continuar a questiona-la, senti seus dedos deslizando pela minha nuca e em um movimento que misturava carinho e domínio, ela puxou meu rosto de volta para si.

— Só cala a boca... - Sussurrou, e logo depois seus lábios se pressionaram contra os meus de forma firme, decidida.

O beijo era mais ardente agora, mais profundo. Eu sentia seu corpo colado ao meu, quente, quase febril, e sua pele parecia incendiar a minha onde quer que nos encostássemos . Suas mãos exploravam minhas costas, descendo lentamente pelo meu torso, os dedos firmes deixando uma trilha de arrepios que só aumentavam o desejo em mim. Quando alcançou a barra da minha camisa, os movimentos foram precisos e em um único gesto, ela puxou o tecido para cima, o deslizando por meus ombros e braços até que estivesse completamente livre. A peça foi descartada em algum lugar da cozinha, mas eu já não prestava atenção em mais nada além dela.

Eu podia sentir sua respiração irregular enquanto suas mãos exploravam meu peito e abdômen, cada toque seu acendendo algo em mim que parecia ser insaciável. Sua pele sob meus dedos era suave, quente, e eu queria mais, queria senti-la sem nenhuma barreira entre nós. Meus dedos deslizaram pela lateral de sua cintura, traçando um caminho até sua coxa e entrando suavemente pela lateral de seu vestido. Eu sentia sua pele quente sob minhas mãos enquanto subia até seu quadril, e, ao apertar seus glúteos com firmeza, percebi um leve suspiro escapar dos seus lábios. Em um movimento rápido, impulsionei o corpo da garota, a colocando em cima do balcão.

Sua respiração acelerava contra minha pele.

Minhas mãos exploravam seu corpo, passando por sua cintura e descendo de volta para suas coxas, onde a segurava com firmeza. Ela arqueava o corpo, deixando sua cabeça tombar levemente para trás enquanto meus lábios exploravam seu pescoço, alternando entre beijos e mordidas suaves. A tensão aumentava, e a sensação de proximidade era quase enlouquecedora, era como se todos tivessem desaparecido, deixando apenas nós dois ali, entregues ao momento.

Mas então, o som agudo, estridente da campainha ecoou pela cozinha, rompendo o clima com uma brutalidade inesperada. Paramos, tínhamos nossos corpos ainda colados, as respirações aceleradas. Nos encaramos, os olhares ainda carregavam desejo e agora também uma chateação, como se tivéssemos sido arrancados daquilo e trazidos de volta à realidade de uma forma irritante.

— É... - A voz dela falhou, tremendo. — Deve ser um amigo meu. - Pulou dali, voltando ao chão, ajeitando as roupas e tentando recuperar a compostura.

Eu olhei para baixo, tentando disfarçar minha indignação por termos sido interrompidos.

— Acho melhor eu dar uma olhada, né? - Continuou, se dirigindo até a porta de saída da cozinha e a abrindo. A luz do corredor invadiu o ambiente, o tornando um pouco mais claro. — E olha, Paulo, se por acaso você realmente quiser ficar para jantar... Por mim, tudo bem.

Assenti, enquanto um sorriso ia se formando em meus lábios, aliviado. A perspectiva de ficar para o jantar me deixou otimista.

Enquanto ela saía do cômodo, eu senti que as coisas poderiam sim estar prestes a melhorar entre nós.

Saí da cozinha, me esforçando para manter um semblante sério, na luta para não rir da situação constrangedora que se acabou se desenrolando. Eu estava a um fio de acabar passando dos limites com Paulo, o que tornava tudo ainda mais constrangedor era que, dessa vez, eu estava sóbria. Isso ia contra tudo o que eu dizia para mim mesma.

Melhor dizendo, estava pelo menos mais sóbria do que anteriormente, já que o efeito do vinho ainda não era o suficiente para me deixar bêbada, porém, aparentemente me deixou mais solta.

Eu realmente não sou o tipo que beija estranhos.

Pelo visto, a não ser que esteja com uma certa quantidade de álcool em meu sangue.

E, embora eu tivesse bebido uma quantidade considerável de taças de vinho, não estava em um estado suficientemente alterado para justificar o que acabou de acontecer.

Mas, eu tinha que admitir que o rapaz era difícil de ignorar. Ele tinha uma combinação peculiar de características que mesmo quando irritantes, eram inegavelmente atraentes para mim. Além de disso... Ele demonstrava ser um bom homem, uma das provas disso foi o fato dele cuidar de mim quando estava bêbada e perdida, mesmo nem fazendo ideia de quem eu sou.

Sem mencionar que ele era realmente muito bonito, o que fazia com que o desejo de escapar daquela situação fosse ainda menor.

— Ih, que cara é essa daí? - Gabi perguntou ao me ver passar em direção à porta, seus olhos estavam arregalados com a curiosidade. — O que aconteceu dentro daquela cozinha? - Insistiu, inclinando a cabeça ligeiramente enquanto me observava atenta, provavelmente tentando decifrar o que passava em meus pensamentos.

— Nada demais, a gente só conversou. - Respondi, tentando manter a expressão mais neutra possível, embora um sorriso involuntário começasse a vacilar no canto de meus lábios. Lutava na tentativa de não mostrar os dentes ao falar.

Levei a mão até a maçaneta, a girando com uma leveza que tentava esconder a inquietação que eu sentia por dentro. Ao abrir a porta, tive a visão de Nick ali em frente, com um sorriso estampado em seus lábios.

No entanto, a felicidade foi pouca. Antes mesmo que eu pudesse cumprimentar Nicollas, percebi que Henrique estava ali, parado atrás dele. A visão do meu ex namorado me pegou completamente de surpresa. Ele estava com uma expressão que misturava surpresa e desconfiança, talvez até um pouco de ceticismo.

Nicollas me cumprimentava com um sorriso aberto, como se não houvesse nada de errado, sendo completamente o oposto do olhar severo de Henrique. Senti um nó se formar no estômago enquanto tentava processar a presença inesperada, e minha mente começou a correr em busca de uma explicação para aquela situação tensa.

— Oi, Aninha! - Sorriu, com a animação que ele sempre trazia consigo, enquanto estendia seus braços, pedindo por um abraço.

No entanto, meu olhar estava fixo em Henrique, cuja postura rígida e defensiva indicava que ele estava se preparando para uma batalha verbal.

O desconforto era nítido.

— Oi, Nick. - Tentei manter a naturalidade na minha resposta, embora minha mente estivesse acelerada, tentando compreender. — Henrique... - Acrescentei com um aceno de cabeça, tentando disfarçar minha insatisfação em vê-lo.

Gabi, sempre atenta aos mínimos detalhes, percebeu como me sentia, e se aproximou com um olhar preocupado. Seus olhos alternavam entre mim e Henrique, claramente capturando a tensão que crescia entre mim e o rapaz. Ela parecia estar pronta para intervir, tentando entender a dinâmica complicada que estava se desenrolando diante dela.

— Tudo bem? - Perguntou em um tom baixo e preocupado, enquanto Nick se inclinava para me dar um abraço caloroso.

Havia uma nota de preocupação na voz de Gabi, que tentava suavizar a situação, mas seu olhar revelava que ela estava pronta para agir, caso as coisas piorassem.

— Tá sim. - Respondi de forma igualmente baixa, uma mentira clara, enquanto devolvia o abraço a Nick. A sensação de um abraço familiar era um pequeno consolo em meio a toda complicação, oferecendo um momento breve de alívio, por mais que minha mente continuasse a correr em mil direções, tentando entender o motivo de Henrique estar ali.

Enquanto trocava um olhar rápido com meu ex, senti um nó se formar na garganta, apertando cada vez mais. A ideia de que Paulo ainda estava na minha casa me deixava completamente nervosa, a presença dele adicionava uma camada extra de complexidade à situação que já era difícil.

Respirei fundo, tentando manter a calma, mas era complicado, tudo parecia estar longe de se resolver de forma simples.

Cada respiração parecia carregar um peso adicional, e o ambiente ao meu redor estava carregado de uma inquietação que eu mal conseguia controlar.

— Vocês vão entrar ou não? - Gabi sugeriu, tentando quebrar o gelo e restaurar algum senso de normalidade à situação, sua voz carregava uma leve urgência.

Assenti, abrindo espaço para Nick e Henrique entrarem. Enquanto o fazia, me preparava mentalmente para enfrentar seja lá que viesse a seguir.

Eu apenas podia esperar que tudo não saísse completamente do controle e que, de algum modo, conseguíssemos seguir em frente sem mais incidentes.

— Você está bonita, Sofi. - Henrique disse. Seu elogio vindo com um sorriso sem graça, que parecia mais tentar puxar alguma conversa do que um verdadeiro gesto carinhoso.

— Eu sei. - Respondi, com um tom seco e sem reciprocidade no sorriso.

Voltei a me sentar onde estava antes de Paulo chegar, envolta por uma sensação de desconforto que aumentava a cada segundo.

A presença de Henrique e a inquietação que isso trazia estavam me deixando ainda mais ansiosa.

Aliás, onde estava Paulo? Não fazia ideia do que estava ocupando o tempo dele em minha cozinha, mas estava mentalmente implorando para que ele permanecesse lá até que os meninos fossem embora, mesmo sabendo que isso tinha zero chances de acontecer.

Peguei minha taça de vinho, a segurando com um pouco mais de força do que o habitual, e tomei um gole, tentando acalmar os nervos. O silêncio que se seguiu era carregado de desconforto, um silêncio denso que parecia pulsar no ar.

Encarei o chão, sentindo amargo o sabor do vinho.

— O que esse cara tá fazendo aqui? - A voz de Henrique cortou o silêncio com sua voz carregada de irritação, a frustração estava evidente em suas palavras.

Todos se viraram para o corredor, fixando os olhares na figura de Paulo.

Ele estava parado ali, parecendo estar curioso e ao mesmo tempo confuso. O cenho franzido indicava que ele estava tentando compreender o que se passava.

— Boa noite? - A voz de Paulo soou com uma dose de incerteza, enquanto ele alternava o olhar entre Henrique e mim, claramente tentando decifrar.

Olhei para Gabi e Alexia, quase implorando por ajuda. Gabi tinha um sorriso que parecia estar segurando uma risada, seus olhos brilhavam com uma diversão contida, enquanto Alexia parecia tão desesperada, preocupada e apreensiva quanto eu.

— Boa noite é o caralho. - Henrique disparou contra Paulo.

A frustração em sua voz era notável, e o tom áspero parecia cortar o ar.

— Calma aí, cara. - Ouvi a voz baixa de Nick fazer o pedido para ele.

Paulo franziu ainda mais o cenho, claramente ofendido pela provocação, mas fez um esforço visível para manter a calma, seus músculos tensos deixavam nítido que ele tentava não reagir impulsivamente.

— Henrique, por favor, né? - Tentei intervir, minha voz carregava uma tentativa desesperada de acalmar a situação antes que ela se deteriorasse ainda mais.

Henrique bufou, cruzando os braços e afastando-se alguns passos, mas sem desviar o olhar de Paulo.

— Eu não quero confusão. - Paulo disse, levantando as mãos em um gesto de paz, sua expressão refletia desânimo e cansaço, como se estivesse exausto de tentar manter a situação sob controle, talvez ele não fosse mais conseguir se manter assim por muito tempo. — Só vim para o jantar.

— Então aja como um convidado, não como se fosse dono da casa. - Henrique retrucou mais uma vez, com desprezo. — O que você tava fazendo no quarto dela?

Paulo não estava em meu quarto, ele com certeza se agarrou nessa possibilidade pelo fato de já estar alterado, normal dele, e também pelo argentino ter vindo do corredor que além da cozinha, também dava caminho ao meu quarto.

Eu podia sentir meu coração batendo acelerado, como se cada batida amplificasse o desejo urgente de que essa noite terminasse.

— Eu estava na cozinha. - Respondeu, arrancando de Henrique uma risada irônica.

— Vamos todos nos acalmar. - Gabi disse, finalmente intervindo, tentando trazer alguma ordem ao caos que se instalava. — Estamos aqui para jantar. Sem discussões. - Sua voz era firme e autoritária, na esperança de restaurar alguma normalidade e evitar que tudo que foi planejado se desmoronasse de vez.

Alexia se aproximou e colocou uma mão reconfortante em meu ombro, sua presença sempre oferecia um suporte emocional, ela era muito necessária, e sempre tentava me acalmar.

— Você deveria ser o primeiro a agir como convidado, já que nem isso foi. - Respondi diretamente a Henrique, com uma firmeza que não disfarçava minha frustração pela presença dele.

Henrique lançou um olhar furioso e, com um gesto brusco e desdenhoso, se afastou sentando-se no sofá. Seu corpo estava tenso, e a frustração em seus movimentos era óbvia.

Gabi, Alexia, Nicollas e Paulo permaneciam em silêncio, todos visivelmente desconfortáveis e tentando lidar com a situação da melhor maneira possível, seus olhares revezavam entre Henrique e mim.

— Alguém quer mais vinho? - Perguntei, com a voz ligeiramente trêmula, fingindo normalidade. A pergunta era uma tentativa desesperada de reverter tudo que tinha se tornado aquele momento.

Gabi foi a primeira a se pronunciar, forçando um sorriso que tentava disfarçar sua própria preocupação. — Sim, por favor.

Enquanto me dirigia à cozinha para pegar mais vinho, senti uma mão em meu ombro. Era Paulo, com sua presença tranquila e olhar compreensivo,

— Ei, acho que já vou indo. Não quero causar nenhum tipo de confusão.

Ele hesitou por um momento, olhando nos meus olhos. A expressão em seu rosto indicava a confusão que sentia; eu havia acabado de lhe contar que estava solteira, e agora Henrique surgia inesperadamente.

Senti uma necessidade urgente de me explicar.

— Eu não te convidei para vir aqui... - Comecei, observando-o enquanto ele ficava visivelmente desconfortável com o comentário. — Mas, Paulo, eu te convidei para ficar. Ele não. Se alguém tem que ir embora, não é você.

Um sorriso surgiu em seus lábios, e eu continuei meu caminho até a geladeira, retirando uma das garrafas de vinho que havia comprado.

— E tem mais, você com certeza precisa provar esse vinho. - Entreguei a garrafa em suas mãos, me aproximando novamente da geladeira para pegar algumas taças extras, já que mais pessoas haviam chegado.

Ele abriu a garrafa com uma facilidade, enquanto eu pegava as taças que faltava.

— Se você insiste tanto para que eu fique... - Revirei os olhos, reprimindo uma risada após a fala dele.

Era engraçado como ele sempre dava a entender que eu tinha interesse nele.

— Se toca, você nem faz o meu tipo. - Continuei, no mesmo tom de brincadeira.

— Porque você tem gosto ruim... Esse cara maluco que chegou aí é a prova disso. - Respondeu em um sussurro.

Não consegui não ri. Sempre engraçadinho.

10:27 PM.

Por mais incrível que pareça, todos nós, exceto alguns por motivos óbvios, estávamos em um clima amigável, bebendo vinho e provando a sobremesa que Paulo trouxe.

— Nossa... Vou te convidar mais vezes para jantar aqui. - Elogiei de forma indireta o bolo que ele havia trazido.

Paulo riu baixo.

— Tenho que admitir... Tá realmente muito bom. - Nick disse, colocando mais uma fatia em seu prato.

— Eu quem fiz, ok? - Paulo riu, claramente brincando, enquanto juntava os pratos e talheres que não seriam mais utilizados.

— Meu Uber chegou. - Alexia tirou os olhos da tela do celular e veio até mim. — Tchau amiga, e boa sorte aí. - Disse a última frase em um tom mais baixo.

— Tchau, Alexia. - Respondi rindo fraco, enquanto dava um abraço rápido nela. — Até mais.

A observei seguir até a porta e, em seguida, deixar o apartamento. Meus olhos varreram a sala, fixando-se em Henrique. Até então, ele tinha se mantido relativamente quieto, mas seu olhar carregado de desprezo observava cada movimento de Paulo como se o argentino tivesse cometido um crime imperdoável.

— E então, Paulo... — Henrique finalmente quebrou o silêncio, sua voz gotejando ironia. — Você é o novo amiguinho da Sofi? Como se conheceram?

— Aí cara. - Nicollas chamou a atenção dele, e balançou a cabeça negativamente, como quem dissesse para ele parar.

Henrique por sua vez o ignorou.

Enquanto Paulo, que estava terminando de organizar os pratos, ergueu o olhar calmamente para Henrique, com um sorriso sereno, e claramente provocador, curvando seus lábios.

— Foi meio louco como a gente se conheceu... Meu amigo derramou bebida nela, e no início não foi tão legal, mas depois a gente se encontrou de novo, ela estava tão bêbada que nem segurava em pé sozinha... Eu me vi na obrigação de ajudar.  - Respondeu ele, com uma tranquilidade calculada. — Ela não sabia nem onde morava, então a levei para o meu hotel.

Henrique se levantou do sofá, seus movimentos eram rígidos como se fossem controlados por fios invisíveis.

E lá vamos nós mais uma vez...

— Ajudar? - Henrique zombou, dando passos firmes na direção de Paulo. — Não parece. Parece que você só quis se aproveitar da situação, se aproveitar dela.

— Ah, me faça o favor, Henrique! Não começa com essa merda de novo não... - Não fiz esforço, mas tentei. Minha voz soava mais cansada do que autoritária. Me aconcheguei no sofá, sentindo o peso do cansaço.

— Ele sempre tem que fazer um show né? É tudo tão cansativo, não sei como você aguentou isso por esses meses. - Gabi falou baixo, revirando os olhos e sentando ao meu lado.

— Tá tudo bem. - Paulo disse calmo, mas sem desviar o olhar do outro rapaz, que por sinal, estava bem próximo a ele. — Eu tenho respeito, e não preciso me mostrar ser o fodão.

As palavras de Paulo pareciam um desafio, e se eu estivesse com mais energias, possivelmente já teria levantado, e tentado afastar um do outro.

Henrique riu, uma risada amarga e cheia de rancor.

Antes que eu pudesse reagir, ele avançou rapidamente e desferiu um soco diretamente no rosto de Paulo. O impacto foi contundente, e o argentino recuou, levando instintivamente a mão ao nariz, onde ele foi atingido.

Se antes eu não tinha, agora não sei de onde tirei tanta força para levantar tão rápido.

— O que caralhos você acha que tá fazendo? - Gritei, me movendo rapidamente para empurrá-lo para trás. — Sai da minha casa agora!

— Puta que me pariu, hein... - Nick levantou do sofá, claramente estressado. — Para de ser otário, cara.

O rapaz olhou primeiro para Nicollas e depois para mim, através de seus olhos dava pra sentir a fúria e ao mesmo tempo frustração, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Paulo riu baixo, e nasalado. Uma risada irônica que só serviu para alimentar ainda mais a fúria de Henrique.

— Tá rindo de quê? — Henrique rugiu, mas eu me coloquei firmemente entre eles, meu corpo tremia de adrenalina.

— Eu disse para sair! - Reforcei, apontando para a porta. — Agora!

— Relaxa, Sofia! - Disse Nicollas, praticamente o empurrando até a porta. Quase sem trabalho algum para aquilo. — Parabéns aí por sua conquista, tu merece, e eu sei que vem muita coisa pela frente ainda.

Henrique bufou, mas recuou, resmungando algo inaudível enquanto saía da sala, batendo a porta com força ao sair.

Voltei-me rapidamente para Paulo, que ainda estava com a mão sobre seu nariz. Seu nariz que sangrava.

— Que situação... - Disse, pegando sua mão e o guiando para fora da sala. — Deixa comigo, eu vou cuidar disso.

— Eu vou tomar um banho e ir para o quarto de hóspedes, tá? - Gabi levantou do sofá, eu assenti, e saí da sala com Paulo.

Levei o mesmo para outro cômodo, sentindo o calor de sua mão comparado à minha. Na cozinha, Paulo se apoiou na pia enquanto eu pegava um pano limpo e o molhava com água fria. Me aproximei dele, limpando levemente o sangue que escorria de seu nariz.

— Sinto muito por isso - Murmurei, focada na tarefa de limpar o sangue. Meus dedos trabalhavam delicadamente enquanto o pano absorvia os resquícios do incidente. — Henrique é um pé no saco... Ele não devia ter feito isso.

Paulo manteve o olhar fixo em mim, franzindo o rosto em um misto de dor e paciência. Ele fechou os olhos por um instante, como se quisesse afastar a memória.

— Está tudo bem - Disse ele, soltando o ar em um suspiro pesado. — Já lidei com gente pior.

Mas isso não acalmava a raiva que borbulhava no meu peito. Minha voz saiu mais firme do que esperava.

— Ainda assim, ele não tinha o direito - Retruquei, apertando o pano na mão. — Apesar de você ter provocado ele de volta.

Paulo arqueou uma sobrancelha.

— Não podia deixar esse cara falar comigo do jeito que quisesse... Mas e você? — Ele segurou minha mão por um instante, o toque caloroso e inesperado me causaram uma ardência no peito. — Você tá bem?

Fiquei um tanto surpresa com a pergunta. Mesmo com o nariz sangrando e visivelmente desconfortável, ele se preocupava comigo. Isso fez algo dentro de mim se acalmar, ainda que só por um momento.

Assenti, esboçando um sorriso tímido.

— Não sou eu quem estou com o nariz sangrando, então estou bem sim. — Tentei manter o tom leve, enquanto enxugava as últimas manchas ao redor do local machucado. — Muito obrigada por não revidar.

Ele deu de ombros, um gesto descontraído que contrastava com a seriedade da situação. Um leve sorriso começava a se formar em seus lábios, diminuindo a tensão.

— Não valia a pena... Mas tenho que admitir, esse cara realmente é problemático demais - Disse ele, deixando uma risada escapar.

Não consegui evitar que uma risada fraca me acompanhasse.

— Quando você disse que ele era narcisista, não imaginei que esse fosse o nível.

Senti minhas bochechas esquentarem, e desviei o olhar brevemente antes de encarar seus olhos verdes, que brilhavam.

— Eu não sei onde eu tava com a cabeça ao me envolver com ele... - Disse em um suspiro, encostando o pano novamente em seu nariz. Ele recuou um pouco o rosto, fazendo uma careta de dor.

— Fresco, isso nem dói.

— Claro que pra você não dói - Retrucou, revirando os olhos com um ar de falsa indignação.

Soltei uma risada curta, mas sincera, e me permiti descontrair por um momento.

— Quando te vi entrar pela porta, não imaginei que a noite fosse acabar dessa forma... - Confessei, quase que em um desabafo.

Paulo soltou uma risada nasalada, apesar do nariz machucado.

— Eu imaginei que fosse acabar com o nariz sangrando, mas na minha cabeça quem causaria isso não seria ele.

Dei um leve empurrão no ombro dele, incapaz de segurar um sorriso enquanto revirava os olhos.

— Você só consegue se comunicar fazendo piada?

Me afastei para colocar o pano de lado e caminhei até a geladeira.

— E você se incomoda com tudo? - Ele replicou, com uma provocação evidente em sua voz.

Revirei os olhos mais uma vez.

— Você quer tomar mais vinho? Ainda tem alguns aqui.

Ele balançou a cabeça em sinal de negação, e seu semblante mudou ligeiramente, algo entre a seriedade e a hesitação.

— Não? - Arqueei uma sobrancelha.

— Então, Ana... Eu tenho que ir embora. Voltar para o hotel e, em algumas horas, pegar um avião para a Argentina.

As palavras dele me atingiram como um balde de água fria. Meu coração apertou involuntariamente.

— O quê? Mas por quê? — Fiz um bico inconsciente, franzindo o cenho.

— Faz parte do meu trabalho. Mas isso não significa que não vamos mais nos ver. - Ele tentou sorrir, mas sua expressão era melancólica.

Tentei não demonstrar o quão aquilo havia me deixado frustrada e talvez triste.

— Claro que significa. - Sorri fraco de lado, tentando manter o tom brincalhão. — Posso estar um pouquinho bêbada, mas ainda não esqueci que você é um estranho e que eu mal te conheço, tá?

Ele puxou o celular do bolso e o desbloqueou, estendendo o aparelho para mim.

— Me passa seu número.

Hesitei por um instante, mas decidi que talvez não fosse uma má ideia. Digitei meu número e salvei como "Ana", por mais que estivesse mais acostumada com "Sofia", era assim que ele me chamava.

— Posso te abraçar? - Ele perguntou com gentileza, sua voz era baixa, e parecia temer ao que eu iria dizer.

Apenas abri os meus braços em resposta. Ele envolveu minha cintura em um abraço apertado, mas reconfortante e que por algum motivo me fazia já sentir saudades.

Quando nos afastamos, ele segurou meu rosto com delicadeza, mas firmeza, e selou meus lábios em um beijo que me deixou sem ar. Tudo pareceu parar. Sua mão deslizou suavemente até a base do meu pescoço, enviando arrepios pela minha espinha. Meus dedos se entrelaçaram em seus cabelos, puxando ele para mais perto.

Quando o beijo terminou, ele deixou um último selinho em meus lábios e sorriu. — Não posso deixar que todas as vezes que nós nos beijamos tenha sido você quem tenha tomado a iniciativa.

Ri, revirando os olhos, de coração ainda acelerado.

— Boa viagem, Paulo. - Minha voz saiu suave, quase como um sussurro.

— Obrigado.

Andei ao lado dele, em direção a saída da cozinha até a única porta que dava entrada e saída ao meu apartamento.

— Espero poder te ver de novo. - Sorriu fechado.

— Eu prometo te mandar mensagem.

— Se não mandar, você sabe que tenho minhas fontes. - Brincou, se referindo à Gabi. — Tchau, Ana.

Observei o rapaz desaparecer pelos corredores, sentindo um vazio estranho.

Quando fechei a porta, o peso da despedida finalmente me atingiu. Suspirei fundo, começando a organizar toda a bagunça que havia ficado, enquanto tentava ignorar o quanto estranhamente iria sentir falta dele.

00:53

Após um banho demorado e com tudo o que tenho direito, como água quente, cremes, e um momento de paz para tentar reorganizar meus pensamentos, voltei para o quarto. me deparando com Gabi esparramada na minha cama assim que que abri, como se o espaço fosse dela. Já estava até acostumada.

— Finalmente, né... -  Levantando os olhos do celular, ela me encarou  com um olhar divertido.

— Você não deveria estar no outro quarto? - Questionei, cruzando os braços e lançando um olhar impaciente.

— Nada de tentar fugir do que temos que conversar aqui. - Retrucou, balançando o dedo na minha direção como se fosse minha mãe.

Suspirei. Lá vem.

— Eu vi tudo - Completou, o sorriso dela crescendo como quem tinha acabado de descobrir um segredo precioso.

Meu estômago revirou.

— Viu tudo o quê? - Tentei disfarçar, mas minha voz saiu meio hesitante. Eu sabia sim o que ela quis dizer com "eu vi tudo".

Ela arqueou uma sobrancelha, claramente não comprando minha tentativa de fugir do assunto.

— Você e o gringo se beijando. Eu vi. — A empolgação na voz dela era evidente, como se ela estivesse vivendo aquilo através de mim.

Senti o calor subir pelo meu rosto. Não sabia se era de vergonha ou irritação.

— Tá me observando, dona Gabriela? - Rebati, tentando soar despreocupada, mas falhando miseravelmente.

— Claro que não. Só aconteceu de eu estar indo na cozinha, para beber água, e aí... bem, vi tudo. - Ela deu de ombros, tentando parecer inocente, mas o brilho malicioso em seus olhos me dizia outra coisa.

— Você é uma intrometida, sabia? - Disse, mostrando o meu dedo do meio na direção dela.

Ela mandou um beijo no ar em resposta.

— E você tá enrolando. Quero detalhes! Como foi? Teve algo mais que eu não vi?

Revirei os olhos, indo até o guarda-roupa na intenção de pegar algo confortável para vestir.

Fiquei em silêncio.

— Não me deixa aqui curiosa! - Exclamou, se sentando na cama e me encarando como se esperasse uma resposta.

— Amanhã vamos ao shopping? Quero comprar alguns itens de casa... - Vesti minhas roupas rapidamente, tentando mudar de assunto.

— Para de ser sonsa, Sofia! - Deu uma risadinha sarcástica. — Você sabe que ele tava te olhando com aqueles olhos de quem quer mais, né?

Fingi não ouvir, mas o comentário dela me fez lembrar do jeito como ele segurou meu rosto e da força do beijo. Meu coração acelerou, mesmo contra a minha vontade.

— Você tá inventando coisas, Gabriela. Teu mal é sono, vai dormir.

— Tá bom, tá bom. Mas só pra constar... Eu shippo muito esse casal. — Ela piscou, levantando da cama com um sorriso besta no rosto, e deixou o meu quarto.

Balancei a cabeça, tentando ignorar as palavras dela, mas no fundo não conseguia deixar de pensar no que Paulo havia dito antes de ir embora. "Espero poder te ver de novo."

E eu, mais do que gostaria de admitir, também esperava isso.

volteiiiiiiiiii 😭😭😭
🎆🎆🎇🎇🎆🎆🎇

primeiramente feliz natal... 🎄

segundamente...
depois de um bloqueio criativo
de 4 meses, cá estou eu 🌚🌚🌚

nunca que eu abandonaria meus
queridos, quero muito finalizar a
história delessss.

espero que tenham gostado do cap 💗
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lindinhos da história👇

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@autoraxdybala

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