𝟎𝟎𝟒 || 𝐁𝐀𝐃 𝐑𝐄𝐏𝐔𝐓𝐀𝐓𝐈𝐎𝐍.

GFI.

Rio de Janeiro, Brasil.
20/11/2023; 11:50 pm.

Quão possível é algo assim acontecer em um dia normal? Na manhã seguinte, após sair com as amigas na intenção de aliviar um pouco o cansaço mental, acordar em um lugar desconhecido ao lado de um rapaz de quem apenas se sabe o primeiro nome e com quem trocou algumas palavras não muito agradáveis. Para piorar a situação, as lembranças confusas e embaralhadas de ontem aumentavam minha angústia.

Esfrego as mãos em meus olhos, tentando afastar a confusão que embaça minha visão. Uma voz baixa, no fundo da minha mente, sussurra para que eu volte a dormir, finja normalidade e espere que o rapaz acorde primeiro. Mas isso estava totalmente fora de questão. Mesmo que eu tentasse, nunca conseguiria.

A dor de cabeça insuportável parecia martelar meu cérebro, dificultando até mesmo os pensamentos mais simples. Me sentia à beira de um colapso, incerta do que pode acontecer nos próximos minutos, e até mesmo sobre o que já pode ter acontecido antes. Aparentemente, quando bebo, perco completamente o controle de mim mesma. Sim, a ressaca é forte, mas a minha verdadeira preocupação está na dúvida sobre minhas próprias ações enquanto estava bêbada.

— Tá tudo bem? - Sua voz rouca questionou, em um tom baixo e sonolento, fazendo meu coração disparar e uma dor aguda atingir minha cabeça. Ele havia acordado.

Não, não estava nada bem. Como poderia estar se eu nem sei onde estou ou o que aprontei?

— Eu não sei... - Minha voz saiu trêmula. Passei as mãos entre os fios do meu cabelo, que estavam bagunçados, tentando alinhá-los.

— Ei. - Senti o colchão se mexer quando Paulo se sentou ao meu lado. Sua mão deslizou suavemente pelas minhas costas, fazendo com que um arrepio percorresse minha espinha.

Não conseguia identificar se era causado pelo toque, pela sensação de ter feito coisa errada, ou algum sinal improvável de ressaca após toda a bebedeira.

— Não aconteceu nada demais, tá bom? - Ele tentava acalmar as suposições, que com certeza sabia que eu estava fazendo, utilizando um sussurro tranquilo.

— Eu lembro. - Respondi instantaneamente, ainda no processo de tentar colocar minha mente no lugar. — Quer dizer, eu... Eu acho que lembro. - Disse hesitante. Ainda havia um traço de esperança de que nada do que lembrava tivesse sido real, mas sim que fosse apenas um sonho perturbador. — O que aconteceu?

— Bom, você não conseguia nem ficar em pé... Eu quis te ajudar, e minha intenção era te deixar em sua casa, mas quando perguntei, você disse que não sabia onde morava, e como eu não sou adivinha, decidi te trazer aqui. - Provavelmente tentou ser engraçado.

O encarei, séria.

— Não poderia deixar você lá sem ninguém! Mas aí então... - Deu continuidade, encontrando os meus olhos. — Nos beijamos. - Aquelas duas últimas palavras fazem meu peito queimar, destruindo todas as minhas expectativas. — Bom... Na verdade, foi você quem me beijou. - Corrigiu.

Era ainda pior do que eu lembrava.

Eu quem beijei ele.

Que vacilo!

Senti meu estômago embrulhar e um nó se formar em minha garganta. Mesmo que ainda não tivesse me alimentado, no momento nem se eu tentasse conseguiria.

— Eu preciso ir. - Murmurei, empurrando os lençóis para o lado e me levantando de uma vez. Meus músculos estavam tensos, prontos para correr dali o mais rápido possível.

Ele estendeu a mão em um gesto que pedia para que eu esperasse, mas recuei, o ignorando. Não havia tempo para mais conversa, não agora. Eu precisava voltar para minha vida, e enfrentar as consequências dos meus atos.

Dei um passo largo em direção à porta.

— Ana... - Chamou meu primeiro nome, me fazendo travar. Certamente fui eu quem disse como me chamava, por mais que não lembrasse desse momento. — Tenha calma. Eu entendo perfeitamente como está se sentindo, isso também é estranho para mim.

— Não! Eu realmente preciso ir. Obrigada por não ter me deixado sozinha. - Engoli em seco, sem olhar para trás, sem dar importância ao pedido feito por ele, e antes que pudesse sair, peguei minha bolsa no chão, próxima à saída.

Não esperei por mais nada, apenas saí dali, disparando pelo corredor em direção ao elevador.

Pressiono o botão diversas vezes, como se isso fosse fazê-lo chegar mais rápido. Quando as portas de metal se abriram, adentrei e passei a fazer o mesmo com o botão que agora faria descer até o saguão.

Só ao me olhar no espelho percebi que vestia roupas masculinas, claramente não minhas, e sim de Paulo.

Como eu iria explicar isso para Henrique sem ser mal interpretada? Sem deixar óbvio que havia acontecido alguma coisa? Sem dúvidas ele pensaria que eu fiz coisas piores do que realmente fiz.

Ok, eu beijei outro cara sim, e isso é péssimo, mas não passou disso, o que talvez torne tudo um pouco menos pior.

Além disso, eu estava mais bêbada do que nunca.

Bem fútil usar isso como desculpa para tentar evitar que a discussão se torne algo maior, mas foi o que aconteceu de verdade. Eu estava totalmente fora de mim. E nunca faria isso se não tivesse ingerido a quantidade exagerada de álcool da noite passada.

Quando as portas finalmente voltaram a se abrir, deixei o meio de transporte, enquanto enfiava minha mão dentro da bolsa, em busca do meu aparelho eletrônico.

Apesar de estar com os olhos fixos na bolsa, uma sensação estranha tomava conta de mim, como se estivesse sendo observada. Um arrepio passava por minha nuca, me deixando tensa.

Mas, por qual motivo alguém estaria me observando?

A resposta do que estava sentindo parecia óbvia: Tudo aquilo era o peso do meu próprio sentimento de culpa. O que eu fiz ao, até então, meu namorado consumia minha consciência, e meu subconsciente estava sendo atormentado.

Retiro meu celular da bolsa, aliviada ao ver que ainda tinha uma boa porcentagem de bateria, e que poderia suportar até chegar em casa.

O primeiro serviço que acesso é o de transportes privados, Uber. Por sorte, encontro um carro a poucos metros da localização em que me encontrava, eu escolheria aquele mesmo.

Saio do hotel com os olhos fixos na tela do aparelho, acompanhando a aproximação do veículo que demora menos de três minutos para estacionar à minha frente. Rapidamente entro no banco de trás.

— Bom dia! - Cumprimentei o motorista, puxando o cinto de segurança e o travando, após passá-lo ao redor do meu corpo.

— Boa tarde, moça! - Ele corrigiu, não de uma forma grosseira.

— Ah, perdão. Boa tarde! - Ri fraco, conferindo o horário no celular. Realmente, doze horas e três minutos já não era mais tão cedo assim.

Logo o carro saiu do lugar, e eu estava finalmente a caminho de casa.

Alexia e Gabi precisavam saber o que havia acontecido, e eu sentia uma necessidade urgente de desabafar, ou iria explodir. Aproveitei o fato de já estar com o celular em mãos para abrir o Messages, meus dedos tremiam levemente enquanto tocava na tela. As mensagens não lidas no nosso chat piscavam.

Não pensei duas vezes ao abrir a conversa. As conhecendo bem, sabia que estavam ansiosas por notícias minhas, já que ainda não havia dado sinal de vida desde ontem. E também, a urgência de compartilhar o que havia feito queimava dentro de mim.

MESSAGES
— Ana Sofia, On;

Meus olhos se arregalaram levemente com tantas informações para digerir ao mesmo tempo.

Paulo era um jogador de futebol famoso, o que explicava muita coisa, e agora eu estava em um dos sites de fofoca mais conhecidos do Brasil.

Por mais que eu trabalhasse com as redes e estivesse acostumada a aparecer em outras páginas, nenhuma delas tinha o engajamento da Choquei, ao menos chegavam perto. Eu não esperava por isso agora, muito menos nessas circunstâncias.

Quanto tempo ainda me restava até que descobrissem que eu não sou solteira e começassem a questionar meu caráter?

A ansiedade começou a tomar conta de mim, meu coração batia acelerado. O ar parecia pesar, dificultando minha respiração.

As consequências de tudo aquilo poderiam ser desastrosas.

Cada segundo parecia uma eternidade enquanto eu tentava processar tudo o que estava acontecendo, torcendo para chegar em casa logo. A proporção que tudo aquilo já havia tomado era assustadora. Henrique provavelmente já tinha visto, e com certeza, tirado suas próprias conclusões de muitas coisas. Se eu soubesse ontem tudo o que iria acontecer hoje, sem dúvidas teria optado por ficar em casa.

Levantei o olhar, em completo estado de desespero e choque, sentindo meus olhos arderem e lágrimas se formarem, prontas para escorrer pelo meu rosto. Eu lutava o máximo para contê-las.

— Moça, tá tudo bem? - A voz do motorista soou preocupada, e eu segui o olhar até o retrovisor, notando que ele me observava através do espelho.

Era a segunda vez que me faziam essa mesma pergunta somente hoje, e a segunda vez que eu não sabia o que responder.

— É... Sim! Está tudo bem. - Forcei um sorriso, tentando parecer convincente, embora soubesse que não estava enganando ninguém, nem a mim mesma.

Eu não tinha nem um pingo de concentração para ler  mais alguma coisa que fosse, e muito menos para responder qualquer uma das mensagens agora. Minha mente estava desorientada e sobrecarregada.

A melhor opção seria deixar para responder tudo quando estivesse em casa, de banho tomado e com os pensamentos mais tranquilos e em seu devido lugar. Então, teria a calma necessária para encarar tudo.

Guardei o celular na bolsa e encostei a cabeça no vidro da janela. Diversas coisas passavam pela minha cabeça. Eu me sentia como a pior pessoa do mundo. Nunca imaginei que seria capaz de fazer algo assim com alguém.

Nos cenários que criava em minha mente antes de dormir, sempre me via como a pessoa traída, e já achava horrível.

Tentando encontrar um ponto positivo nisso, talvez finalmente fosse dessa vez que Henrique me deixaria em paz. Péssimo da minha parte pensar isso como algo bom.

Me sentia extremamente mal por ter feito isso com ele, mesmo que no momento estivesse bêbada, mesmo que ele me tirasse do sério incontáveis vezes. Eu não o amava mais, porém era evidente que ele ainda me amava, e não era pouca coisa. Como eu pude ser capaz de ter feito algo para machucar alguém que me ama tanto?

— Poderia me dar cinco estrelas no aplicativo? - A voz do motorista interrompeu meus pensamentos, e só então percebi que o carro havia estacionado em frente ao meu prédio.

Pisquei diversas vezes, balançando a cabeça na tentativa de sair da transe em que me encontrava.

— Sim, eu posso! Vou fazer isso assim que carregar meu celular, certo? - Dei a desculpa para não pegar no aparelho novamente por agora, eu precisava ficar longe das redes.

Vasculhei minha bolsa, até encontrar algumas notas, o suficiente para pagar a corrida. Após retirar o dinheiro, entreguei ao rapaz, peguei minhas coisas e desci do carro.

— Obrigado, e tenha um bom dia! - Foi a última coisa que ele disse, antes de em seguida dar a partida, provavelmente em busca de outro cliente.

Enquanto o veículo se afastava, senti o calor começar a se intensificar. Rio de Janeiro sendo Rio de Janeiro.

Levei meus olhos na direção do prédio, soltando um suspiro aliviado por finalmente estar praticamente em casa. Em passos largos, me dirijo até a entrada, sentindo um peso sair dos meus ombros. Já era um problema a menos.

01:42 pm

Desde o momento em que cheguei em casa, busquei atividades que me afastassem do celular, na tentativa de ignorar as notícias e fingir que nada daquilo estava acontecendo, fingir até enganar minha própria mente.

Meus olhos analisavam com desconfiança o copo de suco verde recém-preparado por mim, enquanto eu tentava tomar coragem para dar pelo menos um gole. Por mais que a dor física que sentia tivesse diminuído um pouco após o banho que tomei, ainda sentia fortes enjoos acompanhada por uma bela de uma dor de cabeça, e segundo a minha mãe: Não há nada melhor para curar uma ressaca do que um suco feito de água de coco, limão e couve.

Quando morávamos juntas, ela sempre me jurava que essa mistura era milagrosa. E eu, claro, me agarrava na esperança de que o remédio natural pudesse trazer algum alívio para a minha indisposição.

Quando finalmente me sinto encorajada a levar o copo até meus lábios e tomar um gole, o som da campainha ecoa pela sala, quase me fazendo engasgar com o líquido. Não esperava ninguém, mas sinto o desespero só ao imaginar as chances de quem poderia estar à porta, me despertando também uma mistura de ansiedade e curiosidade, enquanto o suco agridoce ainda desce pela minha garganta.

Minha vontade era fingir que não tinha ninguém em casa, mas eu sabia que precisava e já estava decidida a enfrentar as consequências dos meus erros.

Levantei, deixando o copo de vidro sobre a mesinha de centro, e com passos incertos, caminhei até a porta. Meu coração batia descompassado enquanto olhava pelo olho mágico, até ver que era apenas Gabi do outro lado.

Um suspiro tranquilo escapou dos meus lábios, e mais aliviada levei a mão até à maçaneta, podendo então abrir a porta.

— Oi...

Ainda era um pouco estranho conversar com ela após nosso pequeno desentendimento. Mas éramos sempre assim, estávamos sempre discutindo, e nada mudava, continuávamos as mesmas.

— Oi, amiga. - Ela estendeu uma caixa de pizza na minha direção. Arqueei as sobrancelhas. — Trouxe almoço.

— Pizza no almoço, Gabi? - Peguei a caixa, dando espaço para ela entrar.

— E qual o problema? Melhor do que ficar sem comer. - Sorriu de forma tênue, passando por mim e indo até o sofá. — Sabendo da peça que tu é, pensei na possibilidade de ainda não ter almoçado, e o lugar mais perto onde eu estava era uma pizzaria, então...

— Ah, tudo bem. Pode não ser tão saudável, mas eu acho que é exatamente do que eu estou precisando agora. - Fechei a porta e segui seus passos, rindo fraco. — Obrigada por se preocupar, amiga. - Sorri sem mostrar os dentes, sentando ao seu lado.

— É, e tem mais coisas sobre você que me preocupam! — Fechei os olhos e respirei fundo, sabendo muito bem aonde ela queria chegar com aquilo. — Você nem respondeu as mensagens, garota... Aproveita que a Lexi não está aqui para te julgar e fala comigo. - Disse em um tom brincalhão. Eu ri, um riso fraco. — O que aconteceu?

Mesmo sabendo que Gabriela nunca me julgaria por algo que prejudicasse o meu namorado, já que ela simplesmente o odiava, com razões óbvias, eu não fazia ideia de como começar a explicar o que aconteceu.

Diferente de Alexia, que apesar de também não gostar de Henrique, sempre estava me aconselhando a conversar com ele, tentar resolver nossas situações de crise constantes, e não apoia esse tipo de coisa.

Entre nós três, com certeza é Alexia a que tem mais juízo.

— O gringo que estava me irritando no bar, ele me ajudou quando eu estava fora dos limites depois de beber pra cacete. Depois me levou até o hotel onde está hospedado. E aí... Eu beijei ele, Gabi. - A última fala saiu baixa. Ainda estava frustrada comigo mesma. Um sorriso enorme se formou em seus lábios.

É, essa era exatamente a reação que eu esperava dela.

— Eu sei que fiz coisa errada, e sei que você vai falar que tá tudo bem, mas não tá!

— Sofia...

— Mas poxa, eu estava totalmente bêbada, sem controle sobre as minhas próprias ações. Eu nem lembro disso direito.

— Mas vocês só se beijaram? Ou... - Pelo olhar dela, eu já sabia bem o que queria perguntar. A cortei rapidamente, antes que pudesse completar.

— Não! - Por alguns segundos, passo os olhos pela sala, pensativa. — Bom... eu tenho noventa e nove porcento de certeza que não. E também acho que se tivesse acontecido algo a mais, lembraria disso.

— Realmente, ele é bem gostoso, né? Pelas fotos que eu vi... Seria difícil você esquecer. Que bom gosto o seu, Sofi. - Franziu os lábios, enquanto movia lentamente a cabeça em afirmação.

— Gabriela! - A repreendi, achando desnecessário o que foi dito. — Que inconveniente! Você acha mesmo que eu parei pra pensar nisso? - Cruzei meus braços, ouvindo ela rir.

— Se você quis beijar ele, e o beijou sem nem saber quem é... Algo nele deve ter te atraído. — Enfatizou. Até que tinha um pouco de sentido nisso.

Por mais insuportável que Paulo fosse, era impossível negar sua beleza. Seus olhos verdes ainda assombravam minha mente. Sem contar seu físico, cada músculo perfeitamente definido, que somente ao lembrar me trazia uma estranha sensação de frio na barriga. Lembro de minha mão passando por seu abdômen, como se eu ainda pudesse sentir cada curva e músculo.

A lembrança da pele dele, firme e quente, me fazia sentir tremores através da palma da minha mão.

— Eu estava bêbada. - Rebati pausadamente. No entanto, diante dos flashes que insistiam em fixar minha mente, respirei fundo e, com um suspiro resignado, admiti. — Tá, tá bom. O filho da puta é realmente um gostoso. Mas eu não posso nem pensar nessas coisas. Tô com o Henrique, você sabe.

— É, eu sei, só não sei até quando. — Riu, me fazendo revirar os olhos. — Acredito que você ainda nem tenha falado com ele sobre isso.

— Sim... - Mordi o lábio inferior, me sentindo um ansiosa com a conversa que ainda não aconteceu, e que se aproximava cada vez mais, a cada segundo.

— Conversa. E vê se põe logo um fim nisso. Quero te ver bem, amiga. Estando com ele não é a melhor forma disso acontecer. - Fechei os olhos, sentindo o peso de suas palavras.

Mas eu sabia que ela estava certa e concordava com tudo que foi dito. Eu precisava de paz, e ao lado dele, isso estava longe de acontecer, eu só me complicava mais e mais.

Sim, eu fui errada em ter feito o que fiz, mas se ele não ficasse me enchendo o saco, perturbando minha mente, e não aceitando o fato de que eu não quero mais estar nesse relacionamento, situações como a da noite anterior não poderiam ser consideradas como erros da minha parte.

A caixa sobre a mesa de centro, oferecia uma distração momentânea diante da bagunça que estavam as emoções que eu enfrentava. Apesar de, as vezes, ser reservada emocionalmente, meu coração apertado implorava por uma liberação, uma necessidade urgente de chorar para aliviar a pressão interna que se acumulava dentro de mim.

Gabriela, sempre observadora, parecia ter notado o meu desconforto quando colocou a mão sobre meu ombro, tentando me reconfortar.

Seu toque me faz sorrir, enquanto uma lágrima solitária desliza pela minha bochecha, uma lembrança de que, independentemente dos erros que eu cometesse, ela estaria lá para me apoiar.

— Você sabe que eu tô aqui e você pode contar comigo para o que precisar, né? - Disse ela, em um tom suave.

— Eu sei. - Suspirei, abrindo a caixa de pizza, podendo sentir o aroma do queijo derretido e do molho de tomate. — Vamos comer, e eu te prometo que vou pensar em como resolver tudo isso.

— Isso, uma fatia de pizza resolve muita coisa. - Ela sorriu, pegando uma fatia. — Ah, e Sofia, você merece ser feliz, acima de tudo. Não se esqueça disso!

Enquanto mastigava a pizza, senti um pequeno alívio. Gabriela tinha razão em diversos pontos, mas principalmente que eu precisava enfrentar os meus problemas de frente.

Embora não soubesse exatamente como lidar com certas situações, reconhecia que essa seria uma boa oportunidade para aprender e crescer.

— Você é demais, amiga. - Sorri, sem mostrar os dentes, tentando transmitir toda a gratidão que sentia por ela, por estar ali para me ajudar.

— Eu sei que sou. - Ela afirmou em um tom convencido, me fazendo rir, ao mesmo tempo em que revirava os olhos. — Já vi diversos lugares para visitarmos em Madrid. - Mudou de assunto, e eu abri um sorriso animado. Com tudo que vinha acontecendo, já havia esquecido da viagem.

— Ai, eu não aguento mais esperar. Estou tão ansiosa que sinto até que os dias estão passando mais devagar. - Disse, um tanto eufórica pensando sobre a viagem.

— Bem que poderíamos ir às compras qualquer dia. Precisamos de roupas de frio! Pelo que pesquisei, faz bastante frio na Espanha em janeiro. Isso é péssimo para nós, garotas do Rio, que amamos os dias de sol.

— Eu quero! Estou precisando mesmo. Além da viagem, eu também precisa de uma renovada no estilo. - Assenti com a cabeça, concordando com a ideia proposta por ela.

E assim, passamos o tempo, concentradas nas conversas sobre nossa viagem e discutindo todo tipo de assunto, exceto aquele que já havíamos esgotado. Falamos das paisagens que encontraríamos, dos sabores que provaríamos e de tudo que nos aguardava.

03:25 pm.

— Te vejo mais tarde, amiga. - Gabi se despediu, me abraçando.

— Até mais tarde. E mais uma vez, obrigada por tudo. - A abracei de volta, apertando a minha amiga entre meus braços, tornando aquilo tudo mais caloroso.

Vi Gabriela se afastar gradualmente até sumir completamente da minha visão. Eu já estava prestes a fechar a porta quando uma força do outro lado a empurrou de volta, fazendo com que meu coração disparasse de susto, e me forçando a tentar fechá-la, de forma falha já que a outra pessoa ali, com certeza tinha mais forças que eu.

— Sou eu! - A voz de Henrique ecoou no corredor.

Senti um nó na garganta, misturando culpa e nervosismo. Perdi as forças. Minha vontade era correr dali. Mesmo que ali fosse meu apartamento.

Eu já estava me preparando para esse momento, mas não esperava que fosse acontecer realmente logo.

— Sofia? Você está me ouvindo? - Sua voz me trouxe de volta à realidade. Eu mal havia percebido que ele estava falando comigo, ou muito menos que porta à minha frente havia sido aberta.

Engoli em seco, tentando controlar minhas emoções.

— Oi... Está tudo bem. - Respondi, evitando seu olhar, incapaz de encará-lo diretamente.

— Está tudo bem o quê? - Sua voz parecia confusa, e talvez um pouco preocupada também.

Senti uma leve tontura, como se estivesse prestes a desmaiar, como se estivesse com a pressão baixa. E talvez até estivesse mesmo. Respirei fundo por alguns segundos breves para clarear a mente.

— Não é nada! Eu só me atrapalhei... - Minhas palavras saíram trêmulas, refletindo meu estado interno. — Bom... Eu acho que você está aqui para ter uma explicação.

— E além disso, ainda somos namorados, não é mesmo? - Ele tentou suavizar o tom.

Hesitei em responder.

— Olha, eu sei que nos últimos dias venho deixando você muito estressada... Mas, eu juro que estou tentando aprender a ser melhor. - Sorriu sem mostrar os dentes. - Me perdoa, tá?

Afirmei com a cabeça, indicando que o perdoava. Era o mínimo, considerando o rumo que nossa conversa tomaria.

— Eu sei, está tudo bem. Desculpado! - Suspirei antes de prosseguir. — Olha, antes de mais nada, peço que não fique chateado comigo.

— Já até imagino... — Ele riu fracamente, mas havia uma dor disfarçada em seu riso.

— Não é bem assim, Henrique. — Admiti, enquanto a culpa se aprimorava no meu peito.

— Então como é? Você nem consegue me olhar nos olhos. Eu te conheço, Sofia.

— Tá bom! Sim. Eu beijei outro homem. - As palavras saíram atropeladas, cheias de arrependimento e vergonha.

O silêncio que se seguiu era estranho e desconfortável. Henrique permaneceu imóvel, parecendo estar absorvendo o que eu havia falado. O ar parecia pesado, e meu coração batia mais rápido que o normal, esperando por sua reação.

— Mas eu estava tão bêbada... - Tentei me justificar, sabendo que não havia desculpa para o que fiz. — Foi um erro.

— Sofia, eu nem sei o que dizer... — Ele disse, desacreditado, rindo sem humor algum.

— Eu sei que vacilei, tá bom? Mas por mais que um erro não justifique outro, você também foi um otário comigo!

— Então a culpa é minha? Você me traiu e eu quem sou o culpado? - Questionou, passando a mão pelo rosto. Ele estava nervoso.

— Não foi isso que eu disse.

— É exatamente o que parece querer dizer. - Interrompeu, exasperado. — Você tem noção do estrago que fez? Eu tenho tantos planos para nós dois juntos, e você me retribui com isso?

— Do que adianta, Henrique? Do que adianta fazer planos se eles só te beneficiam? - Finalmente olhei nos olhos dele. — Do que adianta reclamar de mim se você não está disposto a crescer? Se você fala que está tentando ser melhor, mas suas ações dizem o contrário de tudo que sai da sua boca.

— Eu vou embora.

Pensei em chamá-lo, tentar ter uma conversa que pudesse esclarecer melhor as coisas, mas isso ficou apenas nos meus pensamentos. No fim, respirei fundo, assistindo o homem que eu pensava que amava se afastar, e sumir da minha visão.

Aquela situação me deixou com um peso absurdo na consciência.

Triste pode ser uma palavra forte demais, mas eu estava realmente magoada comigo mesma por ter feito isso com ele.

Mas tinha uma coisa que martelava incessantemente nos meus pensamentos, era um questionamento persistente: Eu já poderia me considerar solteira?

11:55 pm.

Me sentindo frustrado depois de ver a garota sair do quarto totalmente assustada, recostei a cabeça no travesseiro macio, afundando na cama.

Um silêncio se instalou no quarto, repleto por uma enxurrada de pensamentos contraditórios que invadiam minha mente, e que por mais que tentasse, não conseguia jogá-los para longe.

Ainda era possível sentir o cheiro do seu perfume, carregado por uma perturbadora sensação que me incomodava. Era como se manifestasse um tipo de sentimento de culpa, ou algo semelhante.

Meus olhos rolavam por cada centímetro quadrado do teto, tentando encontrar algum ponto fixo que pudesse prender meus pensamentos, mas tudo parecia girar em um tormenta de dúvidas. Cada gesto que pode ter sido mal interpretado, tudo parecia contribuir para essa sensação dentro do meu peito. Soltei um longo suspiro, tentando aliviar a tensão que afetava até os meus músculos. Não conseguia ficar quieto. Aquela sensação estranha não cessava nem por um segundo.

Sentei na cama, pensando em levantar, quando meus olhos pararam no relógio de parede. Puta merda!

Olhei para o lado e só então lembrei de Leo, percebendo que ele não estava mais ali. E provavelmente já estava no treino, treino para o qual eu estava completamente atrasado. Ou pior, treino que não iria conseguir chegar a tempo, nem se eu tentasse ir. Primeiramente que eu não fazia ideia de como chegar lá, e, a essa altura, quase horário de almoço, possivelmente já estava no fim. Pulei da cama de um salto e fui rapidamente em direção ao banheiro, determinado a fazer as higienes matinais.

A água fria no rosto mal conseguia me despertar da frustração de ter perdido algo tão importante, pelo menos agora tinha um outro problema a pensar, e não teria tempo para lembrar de Ana.

Enquanto escovava os dentes, minha mente corria com mil suposições, tentando encontrar uma forma de compensar essa falha. Terminei de escovar os dentes e me olhei no espelho, vendo um reflexo cansado e irritado me encarando de volta. Não era apenas o treino perdido que me incomodava, mas a sensação de ter deixado os meus colegas de seleção e a mim mesmo na mão.

Scaloni iria acabar com a minha raça.

12:22 pm.

— Finalmente chegou. - Levantei da cadeira em frente à mesa onde terminava meu almoço. — Leo, você tem que me ajudar.

— E aí! - Paredes entrou no quarto, se sentando na ponta da cama, com os braços cruzados e uma expressão séria no rosto.

— Que cara é essa? - Perguntei, cruzando os braços também, em um reflexo involuntário.

— Você tá mesmo perguntando isso? Cara, tá maluco? Do nada você me aparece dormindo com uma mulher aqui no quarto, logo cedo.

— Ah não, Leo! - Ri, incrédulo. — Vai ser necessário eu dizer que tudo isso só aconteceu por sua culpa?

Po, pelo menos eu não dormi com a mulher aqui e esqueci do treino. - Ele tinha um ponto. — E outra, eu sei lá o que vocês fizeram, mas que falta de respeito, hein? Eu tava dormindo aqui também.

— Relaxa, a gente não fez nada! Literalmente só dormimos. - Me aproximei da cama, deitando, e podendo novamente sentir ali aquele cheiro de perfume, que no momento eu preferia ignorar.

Ele me acompanhou com o olhar, uma mistura de preocupação e curiosidade estampava seu rosto.

— Tá me olhando assim por quê?

— Você tá ligado que tá fodido, né? - Ele levantou as sobrancelhas, enfatizando cada palavra. — Eu até inventei uma desculpa, disse que você teve um mal-estar...

— E por qual motivo eu tô fodido? O Scaloni não acreditou?

— Ele acreditou! Mas o que acontece é que... - Leo tirou o celular do bolso, passando a esboçar uma expressão ainda mais grave.

— Acontece o que, cara? - Arqueei as sobrancelhas, tentando entender a gravidade da situação.

Ele virou o celular em minha direção, revelando uma notícia de uma página de fofoca brasileira. Praticamente em um pulo, levantei, indo até ele e tomando o celular de suas mãos. Que merda era aquela?

"VEJA: Paulo Dybala, jogador da seleção argentina, foi flagrado nessa madrugada ao lado de influencer brasileira, entrando em um hotel de luxo em Copacabana, no Rio de Janeiro."

Puta que pariu!

Eu realmente estava fodido, e agora conseguia ver isso perfeitamente.

Tanto na mão do Scaloni.

E pior ainda, Oriana.

Talvez depois disso fosse decretado que não tínhamos mais chance de uma reconciliação mesmo.

— É, meu amigo... - Antes que ele pudesse completar, pedi silêncio com um chiado.

Rolei a tela para baixo, com a intenção de ler os comentários. Cada um mais perturbador que o outro.

"Ué, ele não estava noivo?" 

Estava.

"Mais um chifre que ele coloca na mulher dele." 

Nós não estamos mais juntos.

"Qual dos dois é mais sortudo?" 

Acho que nenhum.

"A traição em dose dupla"

Esse eu não entendi.

"Gente, quem é essa menina?" 
        "Ver mais 25 respostas."

Não pensei muito antes de clicar na opção. Totalmente curioso para saber mais da garota da noite anterior.

Mas não com segundas intenções.

Apenas curiosidade, e só isso.

— O que você tá fazendo no meu celular? - Leo perguntou, tentando, de todos os jeitos, olhar para a tela do aparelho.

— Calma! - Pedi, já impaciente, procurando por algum comentário que informasse o perfil.

"@asofiaalvarez_"

Foi nesse que eu cliquei.

Assim que finalmente a tela carregou, vi que realmente era ela. A mesma garota que dormiu comigo, literalmente só dormiu, e que foi embora de manhã assustada.

Compartilhei seu perfil para mim mesmo pela conta do Leo, tirando meu celular do bolso. Se eu quisesse ver mais sobre ela, que agora fosse por minha conta.

— Obrigado! - Disse, devolvendo o aparelho ao meu colega.

— Que isso? Já apaixonou? - Perguntou divetido, olhando para o próprio celular que já estava em suas mãos, provavelmente fuçando o perfil dela.

— Fica quieto! - Olhei para minha tela, tentando esconder o nervosismo.

— Ih...

— Ih?

— Não é nada não. - Ele prendia o riso, seus olhos brilhavam em diversão.

— Fala logo.

— Se eu fosse você olharia bem o perfil dela antes de se apaixonar. - Disse de uma vez, soltando a risada que antes segurava.

— Eu não estou apaixonado por ela! - Revirei os olhos. — Mas, o que você quer dizer com isso?

— Ela tem namorado, cara.

Meus olhos se arregalaram.

No fundo, senti frustração.

Então quando ela me beijou, ela tinha um namorado?

Mais maluca do que eu pensava.

N/A; me julguem, mas estou com
um pouco de pena do menino ali...

perdoem-me pelo sumiço. 🙊

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