𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟭𝟮
Aya definitivamente não aguentava mais o ensino médio.
Ver cálculos e mais fórmulas e cálculos de novo, fizeram sua cabeça propícia para tagarelar sobre história, simplesmente fritar. Ela não podia deixar de querer gritar a qualquer momento e rasgar qualquer atividade que tivesse em sua frente, e como se não bastasse sua ida à loucura, começou a detestar Megumi um pouco, porque ele era um fodido sádico.
Ele não estava brincando quando disse que não iria mais ceder aos caprichos dela. O garoto era um espécime de ditador adolescente, cheios de regras e padrões a serem estabelecidos.
O programa de auxiliares alunos fora criado no intuito de incentivar o estudo de uma maneira mais divertida, criando assim o método aonde alunos exemplares ajudavam aqueles com o desempenho baixo. Mas Aya estava começando a achar que ela estava no fundo do poço, tão fodida que só de se olhar no espelho conseguia presenciar o caco que ela estava e Megumi estava no topo da cadeia pronto para afundá-la ainda mais.
Três semanas nervosas passaram-se tão rapidamente que os dias mal foram computados em sua mente, passava uma grande parte de seu dia ao lado de seu amigo desgraçado e ranzinza, porém, estupidamente bonito e que se esforçava muito para vê-la avançar na escola. Às vezes parecia que Megumi ficava mais feliz com as conquistas de Aya do que ela mesma, ela ainda se achava burra, mesmo tendo evoluído e, para ser honesta, isso não era culpa do garoto, era algo dela e deveria ser mais agradecida.
Fushiguro passava horas curvado sobre os livros junto com Aya e, mesmo impaciente ou aparentemente cansado, ele explicava quantas vezes fossem necessárias para Aya entender, e quando a garota aprendia, ele soltava um suspiro tão grande de alívio que até Aya tornava-se mais leve.
A quantidade quase obscena de tempo que passavam juntos estava tornando boatos sobre os dois cada vez mais intensos, mas Aya estava caminhando ao entendimento e começando a não ligar para absolutamente nada do que dissessem, antes a garota fingia que não se importava, agora estava sendo uma verdade. Passaram nos corredores juntos e escutaram risadinhas ou burburinhos? Fechava a cara e se transformava em uma versão feminina de Megumi. Ouviu uma mentira sobre os dois? Fingia que não escutou, ignorava-os e pensava que ambos não eram tão importantes para as pessoas se lembrarem pra sempre.
Era mais fácil lidar com os olhares quando havia uma pessoa tão mal falada quanto ela ao seu lado.
Almoçavam todos juntos agora e todos, inclusive Mahina, aproximaram-se de Fushiguro e seus irmãos. Costumavam ir nas quartas-feiras e sextas-feiras até a sorveteria favorita deles, agora a favorita de Megumi graças a Aya, que fazia questão de sempre pedir por ele, porque aparentemente a garota já havia provado todos os sabores e sabia exatamente quais seriam aqueles que o garoto ranzinza iria gostar.
Era sexta-feira e o último dia da semana de provas, Aya fez tantas avaliações que jurou por Deus que se tivesse que escrever seu nome mais um vez, ela iria ser presa por gastar seu réu primário.
A semana fora uma correria, Megumi apenas a ligava de chamada de vídeo por duas horinhas no final da tarde para ajudá-la nos estudos, pois ele também precisava estudar para a prova, então consequentemente se viram menos naquela semana e Aya estava estranhamente incomodada com isso, estava tão acostumada com ele ao seu lado que quando não estava, fazia falta.
Os primeiros dias foram história da arte e história do Oriente, linguagens e geografia, e Aya tinha absoluta certeza que havia se saído bem, ela sempre fora boa em história, seu pai priorizou na infância um ótimo estudo de linguagens, e geografia, por mais que não gostasse tanto assim, gostava da professora então consequentemente prestava atenção nas aulas delas.
Mas nos últimos dias foram química, fisica, biologia e matemática e Aya cogitou, vezes demais para ser considerado saudável, se jogar da janela e desistir ali mesmo. Estava insegura, era a primeira vez desde que fizera o trato com o senhor Yaga que iria mostrar sua evolução, estava com medo de falhar, medo de escutar que não fez o suficiente.
Na semana de provas todos ficavam em salas diferentes, mais especificamente, em ordem alfabética. Megumi e Mahina estavam na mesma sala, ficavam trocando farpas o tempo todo quando estavam juntos, mas ela acreditava que finalmente haviam se entendido, Nobara e Naoya também ficaram na mesma classe, agora Aya, Yuuji e Haruo só sabiam suplicar por ajuda no grupo que tinham todos juntos no aplicativo de mensagens.
Megumi às vezes aparecia naquele grupo, geralmente para contestar Mahina ou julgar alguém, mas ainda foi uma surpresa que ele não houvesse saído.
No último dia de provas, Aya estava mais nervosa do que nunca, mal conversaram em seu grupo e sua perna tremia freneticamente enquanto esperava o aplicador entrar na sala de aula.
A sala apertada com seu ar exageradamente pesado, com corpos tensos e cabeças em chamas sentadas ao seu lado, na sua frente e atrás de si, em todos os cantos o sentimento constante se ansiedade e desespero rodeando-a faziam seu coração palpitar em uma frequência veloz.
Maxia no celular sem nenhuma pretensão, apenas procurava uma mínima distração, para que suas mãos parassem de tremer e sua cabeça se concentrar em algo que não fosse na agonia e na expectativa que depositavam nela. Não queria atender suas notificações, não estava com cabeça o suficiente para se comunicar com outros seres humanos, porém, uma única notificação chamou sua atenção.
Não fique nervosa, você é incrível e vai se sair bem.
Aya sorriu para a tela do celular, observando a mensagem como se fosse a melhor coisa que tivesse visto no dia e realmente fora. Ele era o único que sabia de sua situação e não depositava expectativas nervosas em cima de suas costas, ele apenas confiava em Aya e queria que ela se saísse bem. Era só isso que ela queria, alguém que só estivesse ali com ela.
O aplicador entrou e todos arrumaram a postura, eretos e com os olhos vítreos, mas Aya ainda tentava conter o sorriso e esconder a confiança repentina em suas orbes agora esperançosas.
[***]
Era segunda-feira e as provas foram entregues. O final de semana foi deprimente e Megumi não teve um vislumbre sequer de Aya, que alegou estar em estado de decomposição. A garota havia sumido e ele não a culpava, também estava morto de cansado e dedicou o seu tempo no sábado e domingo para ir ao estúdio de Choso e pintar mais um pouco.
Outros quadros com Aya de musa.
Dessa vez pintou em aquarela suas mãos delicadas, com as unhas amendoadas pintadas de azul celeste. Outro fora de seu rosto de perfil, sem seus olhos novamente, porém, ao invés de sua orbe cor de mel, houve sua íris representada por uma imensidão vasta, como o céu estrelado e longínquo.
Parou de negar a si mesmo as pinturas de Aya, ela o trazia inspiração e não via problema algum em pintá-la. Sua mente era repleta por imagens dela, por seu sorriso, por seus ângulos e por cada mínimo detalhe que compunha a beleza excruciante de Ayame Aikyo e Megumi não via nada mais digno de ser dado como arte do que a garota que dominava seus pensamentos.
Agora estava sentado do lado de fora da sala do diretor. No corredor apertado e vazio, com apenas uma janela na parede, que dava para as árvores que ladeavam a escola. Ayame estava lá dentro pois o superior disse que gostaria de entregar as provas pessoalmente para ela e conversar sobre quer que fosse o acordo deles. Já tentou perguntar à garota mas ela se recusava a falar, e Megumi, obviamente, respeitou sua decisão e não insistiu mais no assunto.
Estava nervoso por ela, ele mais do que ninguém presenciou os esforços de Aya e o quão assustada ela estava com tudo isso. Deveria ter dado mais conforto a ela, mas sabia que a garota precisava lidar com esses sentimentos sozinha.
Quando a maçaneta virou e segundos depois a garota uniformizada saira da sala com uma pequena pasta de papéis nas mãos, olhando fixamente para eles com uma expressão indecifrável, Megumi não soube dizer o que esperar. Ele se levantou rapidamente indo até ela, evitando segurar seu rosto e forçá-la a olhar para ele. Manteve sua postura inabalável, sua frieza constante junto de seu olhar mórbido.
Detestaria demonstrar seus sentimentos controversos na presença da causadora deles.
- O que deu? - tentou não transparecer sua ansiedade, mantendo o tom indiferente - Aya?
- Oitenta de cem... - Aya disse em um sussurro quase inaudível - Eu tirei oitenta de cem em matemática.
Megumi não conteve a surpresa, demonstrando talvez a maior expressão que já fizera. Um leve arregalar de olhos, quase imperceptível na perspectiva de terceiros.
Aya sorriu tão alegre, quase pulando em seus braços ao rodear seu pescoço em um abraço apertado.
- Obrigada, obrigada, obrigada - ela dizia enterrando o rosto no pescoço do garoto e Megumi estava prestes a desmaiar ali mesmo, foi a primeira vez que Aya estava tão perto de si e por todos os deuses que ele não tinha certeza se existiam ou não, Megumi estava a dois passos de explodir.
Hesitou em retribuir o abraço, não costumava fazer isso com frequência e geralmente detestava contato físico, mas quando Aya o abraçou, percebeu que queria isso bem mais do que imaginava, ansiava até por ter ela por perto. Retribuiu, rodeando a cintura dela com os braços, apertando de leve sentindo o perfume floral almiscarado com baunilha invadindo suas narinas e atrelando-se a sua memória.
Naquele momento sentiu que só precisava disso. Ela e seu abraço e seu sorriso iluminado, seu perfume maravilhoso e seu cabelo macio roçando em seu rosto.
Megumi descobriu que faria muitas coisas para ter aquela garota em seus braços por mais tempo.
Aya se afastou apenas para mostrar as provas para ele, mas suas mãos permaneceram em sua cintura inconscientemente.
- Olha, oitenta em matemática, setenta e física e setenta em biologia! - Aya estava tão alegre que chegava a iluminar o seu rosto, seus olhos cor de mel tinham um brilho tão inigualável que o garoto sentiu vontade de ir correndo até o estúdio apenas para pintá-lo - Eu sinto que posso explodir!
- Meus parabéns, Aya. Estou orgulhoso de você.
Os olhos da garota encheram-se de júbilo, seus lábios amenizaram e ela tomou um leve impulso, beijando uma das bochechas de Megumi, voltando a abraçá-lo.
- Obrigada, você me ajudou tanto.
- É um mérito só seu, seu esforço e eu só servi de incentivo.
- Um incentivo muito cheiroso por sinal - Aya comentou e o maldito rubor voltou para as bochechas dela, deu graças a Deus por ela não ter visto, caso contrário, talvez na outra vida ela o deixasse em paz - Seu perfume é ótimo.
Megumi definitivamente iria entrar em combustão se ela não o soltasse.
Aya se afastou, não porque percebeu que o garoto estava prestes a ter um colapso nervoso, e sim, porque queria mostrar para ele todos os seu acertos e sobre o raciocínio dela nada lógico nas contas.
Megumi a escutou falar e falar mas só conseguia pensar em quão feliz ele estava por ela. Sempre se alegrou com as conquistas de seus irmãos, mas Aya... Era diferente, era tão reconfortante vê-la bem novamente.
Estava tendo uma semana horrível, cheia de problemas e foram poucas as vezes em que a viu, ligou algumas vezes para ver o progresso dela nos estudos, mas não queria encontrá-la e mostrar o quão triste ele estava. Aya já teve muito das partes ruins dele e Megumi não gostaria nem um pouco de mostrar esse lado novamente para ela.
- E a prova de química? - Ele perguntou e o sorriso dela murchou.
Foi o equivalente a uma facada. Quase se desculpou e pediu para que ela voltasse a sorrir.
- É... Foi uma desgraça.
Megumi franziu o cenho observando-a - Não importa o quão ruim foi, você se saiu bem nas outras. Deixa eu ver.
Ela entregou o papel meio amassado e rabiscado dela. A nota estava em vermelho bem grande um dez de cem, Megumi entenderia a tristeza dela caso não tivesse percebido no instante o qual pousou os olhos no teste que havia uma questão corrigida errada, e não só uma, conforme foi olhando foi percebendo vários erros de correção.
Megumi chegou a pegar a própria prova, cem de cem, e comparar os acertos dele com os supostos erros dela.
- Aya, está tudo corrigido errado. - ele parecia indignado ao falar, mas era muito estranho tantos erros assim. Sua frieza rude, mesmo que não direcionada a ela, a fez se encolher.
Aya havia tirado pelos cálculos dele e pela correção previa sessenta de cem, e não dez. Haviam sabotado a nota dela e Aya parecia saber quem foi. Só não queria contar.
- Deixa pra lá... Foi só um erro, anda, vamos embora - ela estava sem graça e aparentemente nervosa e não queria falar sobre isso.
- Aya, aconteceu alguma coisa?
Os lábios rosados da garota tremeram de leve e pelos olhos dava para ver lembranças pairando, como um devaneio inconsciente e involuntário. Aya estava com medo. De um tipo genuíno que a fazia tremer as mãos e suas orbes tão alegres parecerem desesperadas.
Megumi por um ínfimo segundo planejou protestar, mas não queria deixá-la mais desconfortável do que já estava. Apertou levemente a mão da garota e sorriu, iniciando a caminhada até o refeitório. Provavelmente iriam soltar as mãos até lá, mas naquele momento o aperto confortável entre os dois era o que importava.
- Eu pago o seu almoço hoje - sibilou calmamente, tentando acalmar o interior da garota, que sabia estar em chamas.
Mas não significava que iria esquecer, que deixaria de lado apenas porque ela pediu. Poderia sim ser só um erro, um incoveniente no meio de sua conquista, mas não era de hoje que presenciava a implicância descarada que o velho professor de química tinha com Aikyo, poderia sim ser só um desgosto da parte do homem, mas Fushiguro definitivamente não deixaria barato caso não fosse.
Mas não queria importunar Aya com perguntas que a deixariam triste, portanto, perguntaria que a única pessoa que conhecia a morena bem mais que ela mesma.
Megumi perguntaria à Mahina.
[...]
A chuva ricocheteava nas janelas antigas da estrutura original da escola. Aquele colégio possuía dois prédios, um antigo que guardava dentro de suas paredes envelhecidas as salas dos professores e o centro de pesquisa junto com a biblioteca, e o novo que servia de morada para as salas de aula e laboratórios de ciência e informática, entre outras modalidades.
Megumi permanecia mortalmente quieto, sentado em frente a mesa de carvalho envelhecido do professor de química à sua frente, sentado de maneira desleixada em sua cadeira que cheirava a mofo. O garoto estava sem seu casaco, usava apenas a camisa branca do uniforme, com as mangas estendidas até os cotovelos, mostrando as tatuagens que a escola tanto implorou para esconder.
O velho imundo servia para si mesmo uma caneca de café diretamente de uma garrafa térmica descascada pousada na mesa. Ofereceu a ele, que recusou educadamente antes de passar as mãos pelos seus fios negros rebeldes.
Megumi estava se controlando tanto para não avançar na jugular daquele homem nojento.
- A quem devo o prazer de sua visita, senhor Fushiguro? - sua voz áspera arranhou seus ouvidos, se contorceu em seu próprio acento ao imaginar aquela voz dizendo coisas horríveis para Aya. - Acredito que por hoje ter sido as entregas das provas, o senhor veio relatar algum problema com a correção, estou certo, não estou? - ele riu da própria fala, como se fosse algo realmente hilário - Arrumarei qualquer erro pendente, senhor.
Enjoava Megumi ver a maneira educada e respeitosa a qual o professor se referia a ele, enquanto Aya recebia um tratamento medíocre e nojento.
Insistiu para Mahina contar a ele, talvez nunca tivesse sido tão irritante na vida mas se viu necessário quando a relutância da garota tornou-se tristeza e raiva. Depois de muita insistência e uma ameaça de morte da parte dela, Mahina finalmente revelou o que acometia Aya nos últimos meses.
O professor de química assediava verbalmente Ayame, começou com piadinhas de cunho sexual e depois elogios demasiados, Mahi disse a ele que Aya tentou fazê-lo parar, que havia dito que não se sentia bem com aquele tipo de piada, mas isso apenas agravou o comportamento do professor. O velho começou a ser rude e a tentar humilhar Aya durante as aulas e quando todos viravam as costas, o imundo a importunava, chagando até a enviar mensagens de texto para ela durante as férias.
Aya evitava ao máximo retrucar ou até mesmo denunciar, porque temia o pior, tinha medo de não acreditarem nela por conta dos boatos, de causar mais problemas para seu pai, então a garota, mesmo sendo constantemente assediada, permanecia calada e, por muito tempo, nem seus amigos sabiam desses acontecimentos. Atualmente apenas Mahina sabia.
Após o acordo que fez com o diretor Yaga, Aya teve de entrar em contato com os professores para resolver as pendências e coisas do gênero, porém, ao tentar resolver com o velho, recebeu como resposta uma proposta indecente com comentários pejorativos sobre ela e uma tentativa de contato. Mahina disse que a amiga ficara tão mal com o assunto que dias depois simplesmente renegou o que tinha acontecido, fingindo que nada realmente aconteceu, seguindo em frente de maneira dolorosa.
O garoto deslizou pela superfície lisa da mesa as duas provas, a dele e a de Aya, não disse nada, apenas esperou que o professor colocasse os óculos e pegasse os documentos. Esperou que ele os analisasse e soltasse um riso em deboche.
- Se aquela garota quisesse uma mudança de correção, era só ter vindo ela mesma e não enviado outro aluno - o velho disse, recostando-se na cadeira - Sinto muito por ter sido submetido a isso, meu caro...
- Cala a porra da boca - o senhor se assustou, observando o garoto pousar o cotovelo no braço da cadeira, dizendo, com sua voz grave e baixa - Vai arrumar essa merda, se desculpar com a senhorita Aikyo e sumir dessa instituição.
- Ora, seu... - As bochechas flácidas do professor ficaram ruborizadas, não sabia se por raiva ou por vergonha - Como ousa falar assim com um superior?!
- Como ousa pensar que estamos no mesmo nível para início de conversa? - o cinismo pairava em sua voz e a mortalidade caminhava lado a lado - O que minha família doa por mês é o equivalente ao que você recebe por um ano e ainda sim acredita que estamos no mesmo nível? Ousadia ou ignorância sua pensar que é meu superior?
O velho se contorceu no próprio lugar, fitando o garoto estranhamente inclemente.
- Esta fazendo tudo isso apenas por uma garota qualquer? - o professor ainda teve a pachorra de rir em deboche. - Vale a pena o risco de ser expulso apenas para bancar o herói só para conquistar Ayame?
- Senhorita Aikyo. - Megumi o interrompeu - O que te faz pensar que tem direito de pronunciar o nome dela?
Os olhos azuis frios como o mais glacial dos invernos observavam fixamente a postura irritadiça e medrosa do desgraçado, crueldade dançou por suas íris.
- Aya realmente tem um coração bom e você definitivamente sofre da falta de um, junto com o cérebro obviamente - os insultos de Megumi costumavam perfurar, pois eram ditos na maior das indiferença - Vamos direto ao ponto, estou cansado de olhar para sua cara nojenta.
O professor abriu a boca para retrucar mas bastou Megumi erguer a mão para fazê-lo calar a boca.
- Vai se desculpar formalmente com Ayame diante da sala inteira e sumir dessa escola antes que eu faça da sua vida um inferno - a perversidade em suas palavras eram mascaradas por sua apatia.
- E por que eu faria isso? - o senhor suava em desespero, mas ainda sim tentava sair por cima. - Você é só um garoto mimado. Não tem propriedade para amedrontar ninguém.
Era um garoto mimado? Não, não era. Satoru era rico, não ele, mas naquela situação, para submeter um professor, só aquela estratégia funcionaria.
Respirou fundo, preparando-se mentalmente para não socar a cara dele. Megumi era a personificação da calma gélida, sua postura era o suficiente para cortá-lo.
- Porque imagine só sua situação caso Getou Suguru soubesse que você assediou sexualmente a filha dele - Megumi soltou uma curta risada sem emoção, quase como um soltar leve de ar - Seria interessante ver o que esse homem faria em sua vida.
O velho empalideceu. Seus ossos frágeis com certeza ameaçaram se esfarelar e Megumi não poderia estar se divertindo mais. Poucos dentro da escola sabiam sobre quem realmente era o pai de Aya, um dos sócios de uma das maiores empresas de tecnologia do Japão. Os funcionários de nível mais baixo recebiam a informação de que ela era uma garota de boa vida, porém, ainda sim bolsista, quando na verdade Aya tinha uma vaga naquela escola desde o dia em que nasceu.
Era melhor assim na visão da garota, palavras da própria Mahina, pois assim os professores não a tratavam diferente.
- P-por favor - o semblante mudou e as mãos foram para frente, cruzadas em formato de súplica - Eu faço qualquer coisa...
Megumi encostou-se preguiçosamente na cadeira, encarando-o impiedoso, como se aquele velho fosse um mero inseto.
- Vai se desculpar com ela formalmente e depois, se não quiser ser que sua vida miserável se torne um purgatório, vai desaparecer do mapa. Isso, é claro, apenas se você for esperto o suficiente para nunca mais cruzar o caminho dela.
Era a mais crua ameaça. Antes de saber da boca de Mahina as atrocidades que tinha feito, ele realmente planejava só pedir a correção e ir embora, ele era ocupado e não podia gastar o seu tempo à toa, mas quando soube a verdade sentiu algo genuinamente furioso dentro de si, um tipo de raiva que não sentia há muito tempo e só de pensar que Aya fora obrigada a ver esse homem todos os dias, seja na sala de aula ou nos corredores, o queria fazer ser como o seu pai ensinou.
Alguém que deveriam temer, seja por sua força ou por seus status.
Megumi levantou-se, ouvindo-o respirar ofegante perante a ameaça direta.
Por incrível que pareça, o garoto se sentiu muito bem em ter a escória sentindo medo dele.
- Ah, e se não se importar, a polícia vai dar uma olhadinha no seu computador.
[***]
Era terça-feira e nada saiu do controle, Aya já estava desconfiando da sua onda de boa sorte nessas últimas semanas.
Aya se olhava no pequeno espelhinho de bolso, arrumando sua franja de um jeito que a mesma considerava agradável o suficiente para alguém que nao conseguiu secar o cabelo antes de sair.
A sala estava cheia dos burburinhos, risadas e barulhos de mesas e cadeiras mexendo, Mahina falava calmamente ao seu lado sobre os planejamentos da festa de sábado, comentando sobre as bebidas e decoração, Aya estava tão ansiosa que simplesmente concordava com tudo.
Em comemoração a vitória do campeonato regional de basquete, os garotos do time resolveram organizar uma festa, mas é claro que eles não conseguiam fazer nada sem Mahina, que em todos os eventos se encarregava da lista de convidados, compras e decoração. Aya estava apenas encarregada de ser a anfitriã, já que sua casa era grande o suficiente para comportar muitas pessoas e ser a única do grupo que possuía um pai liberal que não se importava caso a filha virasse a casa de cabeça para baixo.
Seu amigos chegaram alguns minutos depois da conversa sobre a festa ter sido iniciada, sentando-se na mesa a esquerda de Aya, enquanto Mahina sentava a direita, Yuuji atrás e Nobara na frente. Todos após essas semanas corridas resolveram mudar de lugar, assim todo mundo poderia ter um desenvolvimento péssimo na aula porque ninguém calava a boca.
- Bom dia, Aya - Fushiguro disse, do mesmo jeito de sempre e com cara de quem acordou com o rabo virado para a lua, mas Aya já se acostumou e sabia que esse era o normal dele. - Bom dia, coisa. - Mahina nem fez questão de olhá-lo, apenas deu o dedo no meio e continuou a falar da festa.
Minutos animados foram interrompidos pela entrada do professor de química, que mas parecia ter saído de um velório.
O velho estava vestido de qualquer jeito, com as olheiras profundas, barba rala por fazer, segurando alguns papéis amassados em mãos,Aya tinha nojo só de olhar para ele, seu café da manhã se revirava em seu estômago só por ter noção da presença dele. O homem parecia atormentado, mas ainda sim manteve a postura.
- Bom dia, alunos - a sala ficara mortalmente quieta - É com um grande pesar que me despeço de vocês, foi uma longa caminhada até aqui e muitos me deram orgulho.
Sua falsa comoção fez a garota revirar os olhos mas com as mãos tremendo, pois os olhos alucinados do homem deslizavam para ela a todo momento.
O velho continuou seu discurso por outros dois minutos extensos, Aya tentou falar com Megumi ao seu lado, mas o garoto parecia concentrado demais na fala do professor, seu maxilar parecia trincado e Aya podia jurar que ele estava com raiva.
- E... Gostaria de me desculpar com uma aluna em específico - o velho a encarou e Aya automaticamente se empertigou no próprio lugar, sentindo suas mãos formigarem ao vê-lo se aproximando.
Parou antes de entrar nos corredores entre as fileiras e se chegou em sinal de desculpas, de um tipo que se fazia para alguém muito superior ou a quem se devia muito respeito, Aya paralisou, não fazia ideia do que estava acontecendo e sua boca parecia não saber mais articular palavras.
- Me perdoe senhorita Aikyo, nunca mais vera meu rosto imundo novamente. - clamou de cabeça baixa, com os olhos tão fechados que certeza estavam doendo.
Se ergueu novamente, evitando a todo custo ao olhar para o garoto sombrio ao lado de Aya, como se fosse um ato de blasfêmia, colocou os papéis na mesa de Nobara e sinalizou para ela entregar a garota atrás de si.
O professor asqueroso simplesmente virou-se de costas para ir embora, sem mais e nem menos, com o orgulho destruído junto de sua carreira e vida.
Pois minuto depois o qual seu pedido medíocre fora realizado, dois seguranças da escola estavam parados na porta, esperando a saída do homem.
- Que porra foi essa? - essas foram as únicas palavras que Aya disse para quebrar o silêncio.
A sala ficou eufórica, cheia de perguntar e superstições, mas Aya permaneceu perplexa não entendendo absolutamente nada do que havia acontecido. Olhou para seus amigos procurando respostas ou teorias, mas eles estavam tão confusos quanto ela.
Virou-se para Megumi, encarando-o com seus olhos castanhos suplicantes, perguntando se ele talvez soubesse de algo que poderia ter ocasionado essa situação.
- Fique tranquila, não perca seu sono por isso - as orbes azuis fitaram-na com uma intensidade avassaladora - Ele só teve o que mereceu.
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