𝗖𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟭𝟬❄

𝗟𝗮𝗹𝗶𝘀𝗮 𝗠𝗮𝗻𝗼𝗯𝗮𝗻.


— O que você tem? — Jungkook disparou cerca de cinco segundos depois de sairmos de um giro sentado, o mesmo no qual tropecei um segundo antes, aterrissando de bunda. O mesmo no qual perdi o equilíbrio nas últimas seis vezes que fizemos. O mesmo giro que eu normalmente fazia repetidas vezes, uma variação após a outra, um giro voador quase sentado, uma queda mortal com um giro...

Normalmente não era grande coisa.

A menos que seu corpo inteiro estivesse queimando, todos os músculos desde os joelhos até o queixo doessem e sua cabeça parecesse que estava prestes a explodir.

Além disso, minha garganta parecia que eu tinha mastigado uma lixa, e apenas me levantar do chão estava exigindo um grande esforço.

Eu me sentia uma merda.

Uma merda total e completa. Estava assim a manhã toda. Tinha certeza de que havia acordado no meio da noite ― o que nunca acontecia ―, porque minha cabeça doía e minha garganta queimava como se eu tivesse engolido um copo de lava por diversão.

Mas não contei a Jungkook ou a Lee sobre isso. Com apenas um dia antes de começarmos a trabalhar na coreografia, não tínhamos tempo para eu ficar doente. Desde o dia que fiquei treinando até tarde da noite, uma coisa após a outra apareceu. Minha garganta formigou, depois um pouco mais. No outro dia, minha cabeça parecia estranha.

Então comecei a ficar cansada. Então tudo passou a doer, e pronto. A febre veio. E todo o resto decidiu ficar doente de verdade.

Droga!

Deitada de costas, o gemido que saiu de mim foi uma consequência do quanto minha cabeça estava latejando. Não conseguia me lembrar da última vez que meu equilíbrio esteve tão ruim. Talvez nunca?

— Você está de ressaca? — Jeon perguntou de onde diabos ele estava.

Comecei a sacudir a cabeça e imediatamente me arrependi quando a vontade de vomitar me chutou bem no estômago.

— Não.

— Você ficou acordada ontem à noite, não foi? — ele acusou, o zunido silencioso de suas lâminas no gelo me dizendo que ele estava
chegando mais perto. — Você não pode treinar quando está exausta.

Girando e depois ajoelhando-me, tudo que eu tinha energia para fazer era mexer os dedos da mão.

— Eu não fiquei acordada, imbecil.

Ele bufou, o preto de suas botas aparecendo.

— Você está cheia de... — Eu vi a mão dele alcançando meus braços muito tarde. Tão tarde que não havia nenhuma maneira, nenhuma porra de maneira, levando em consideração o quanto eu me sentia uma merda, de que eu pudesse ter me movido antes que ele me tocasse. Suas mãos me agarraram logo acima dos cotovelos e rapidamente me soltaram.

Eu estava com tanto calor que tirei o pulôver que vestia sobre minha blusa há mais de uma hora, deixando meus braços expostos. Se eu pudesse ter tirado todo o resto também, teria feito isso.

As mãos de Jungkook foram para os meus antebraços, agarrando-os por um segundo e depois os soltaram também.

— Lisa, que porra é essa? — ele sussurrou, suas mãos indo para as minhas bochechas enquanto eu apenas esperava, sentada no gelo, porque não tinha energia para mais nada. Se pudesse me deitar no gelo em posição fetal, faria isso. Ele segurou meu rosto por um momento, depois moveu a outra mão para cima, para tocar minha testa, xingando baixinho. — Você está queimando.

Eu gemi com a frieza de suas mãos em mim e sussurrei:

— Não brinca.

Ele ignorou meu comentário espertinho e apalpou a parte de trás do meu pescoço, ganhando um gemido direto da minha boca. Jesus, a sensação era boa. Talvez eu pudesse me deitar no gelo por um minuto.

— Ela está com febre? — Ouvi fracamente a treinadora Lee perguntar quando comecei a me abaixar lentamente, das mãos fui me apoiar nos cotovelos, depois os cotovelos se abriram até que eu estava esparramada como uma águia no gelo, com a bochecha colada nele, braços e palmas das mãos também.

Estava frio pra caramba, mas era incrível.

Eu podia ouvir Jungkook conversando com Lee, suas palavras se tornando cada vez mais fracas a cada segundo.

— Me dê um minuto — pedi o mais alto que pude, sentindo a frieza em meus lábios e seriamente tentada a lambê-la.

Mas não estava doente o suficiente para esquecer como as lâminas de algumas pessoas eram sujas.

Eu ouvi algo que soou como teimosa.
Virando o rosto para o outro lado, deixei o frio beijar minha bochecha e suspirei. Uma soneca parecia uma boa ideia. Bem ali. Naquele momento.

— Deixa pra lá, cinco minutos, por favor — sussurrei, entorpecida, tentando alcançar meu pescoço com uma das mãos, mas cansada demais para fazer isso.

— Ok, tudo bem, vire-se, Lalisa — uma voz feminina que eu tinha certeza que pertencia à treinadora Lee disse de algum lugar acima da minha cabeça.

— Não.

Três minutos. Se eu pudesse fechar meus olhos por três minutos...

Houve um suspiro e depois algo que pareciam ser dedos estavam em um dos meus ombros, puxando-o. Eu não lutei contra isso. Não me mexi, mas, de alguma forma, eles me giraram, e eu apenas permiti, caindo quase dolorosamente até que eu estava de costas, com as luzes brilhantes do teto forçando-me a fechar os olhos, porque pioravam a dor na minha cabeça. Eu tive que cerrar os dentes para não gemer.

— Dois minutos, por favor — sussurrei, lambendo meus lábios.

— Dois minutos uma ova — Jungkook respondeu um momento antes de algo começar a forçar meu ombro para cima, cruzando minhas omoplatas ao mesmo tempo em que outra coisa passava por trás dos meus joelhos, fazendo o mesmo.

— Só um minuto. Vamos. Eu vou me levantar, prometo — falei, quando me senti sendo levantada. Eu não podia ver. Ainda estava com os olhos fechados e provavelmente ficaria assim até que as luzes não estivessem me cegando.

— Eu sei que há um termômetro na sala dos professores. — Parecia a treinadora Lee falando. — Vou pegar. Leve ela para o meu quarto, é na terceira porta no corredor contrário ao dos vestiários.

— Beleza — Ouvi Jungkook responder, puxando-me do gelo contra seu peito.

Oh, Deus. Ele estava me carregando.

— Coloque-me no chão. Eu estou bem — resmunguei, sentindo-me qualquer coisa menos bem, especialmente quando um arrepio percorreu meus braços e coluna, fazendo-me tremer.

— Não. — Foi a única coisa que saiu de sua boca.

— Eu estou. Eu posso treinar... — Parei de falar, fechando meus olhos bem apertados enquanto a dor de cabeça piorava e a vontade de vomitar também. — Porra, Jungkook. Coloque-me no chão. Eu vou vomitar.

— Você não vai vomitar— disse ele, carregando-me e patinando ao mesmo tempo, a julgar pelos movimentos que meu corpo fazia contra seu peito.

— Eu vou.

— Não, você não vai.

— Eu não quero vomitar em você. — Ofeguei, quase engasgando quando a bile se revolveu no meu estômago.

— Eu não me importo se você vomitar, mas não vou colocar você no chão. Engula, Limãozinho — ele disse com todo o conforto e cuidado que minha mãe usaria para falar comigo. Ou seja, nenhum.

Minha cabeça latejava.

— Eu vou...

— Você não vai. Segure — meu parceiro exigiu, ajeitando-me em seu colo quando começou a andar e não patinar.

— Vou me sentir melhor se vomitar — sussurrei, o som da minha voz me irritando. Minha garganta me irritando ainda mais. Mas eu não podia estar doente. Não tínhamos tempo. — Me põe no chão para que possamos voltar a treinar. Eu posso tomar um Tylenol...

— Não vamos mais treinar hoje — ele me contou com aquela voz irritante e esnobe. — Nem amanhã.

Isso me fez gemer quando tentei levantar a cabeça, que estava contra seu ombro, e percebi que não podia fazer isso. Eu estava arruinada. Jesus Cristo.

— Nós precisamos...

— Não, nós não precisamos.

Engoli em seco e lambi meus lábios, mas não adiantou de nada.

— Não podemos tirar uma folga.

— Sim, podemos.

— Jungkook.

— Lisa.

— Jungkook — eu basicamente gemia, sem disposição para essa merda. Minha merda ou a dele.

— Não estamos mais treinando, então pare de falar.

Só nos restava um dia. A coreografia deveria começar amanhã. Tentei me soltar dos braços dele, com músculos abdominais que haviam decidido tirar férias e... não consegui. Oh, meu Deus, eu não podia fazer nada.

Jungkook suspirou.

— Eu vou te soltar em um minuto. Pare de se contorcer — ele ordenou, ainda me carregando, ainda andando sem esforço, sua respiração firme mesmo enquanto me segurava em seus braços.

Eu ia culpar o fato de estar tonta e exausta por fazer o que ele disse. Por ter deixado minha cabeça encostar na curva entre seu ombro e pescoço. Eu não precisava envolver meus braços em volta do pescoço dele. Não havia chance no mundo de ele me deixar cair.

Isso não era nada para ele.

— Sua mãe está no trabalho? — Jungkook me perguntou calmamente
um momento depois.

— Não, ela... ela viajou de férias com Ben para o Havaí — respondi fracamente, apenas observando com que rapidez eu tinha enfraquecido. Outro calafrio passou por todo o meu corpo e tremi ainda mais do que antes. Droga. — Me desculpa, Jungkook.

— Pelo quê? — ele perguntou, inclinando a cabeça para baixo para
olhar para mim de um jeito que eu senti sua respiração contra a minha
bochecha.

Eu pressionei a testa em seu pescoço frio e soltei minha respiração, ignorando seu franzir de sobrancelhas, percebendo que não estava conseguindo parar de tremer.

— Por ficar doente. É minha culpa. Eu nunca fico doente. Isso só vai nos atrasar — Outro calafrio forte começou nos meus ombros e chegou à minha espinha.

— Está tudo bem.

— Não está. Não podemos tirar uma folga. Talvez eu possa dar um cochilo e possamos treinar novamente de noite — ofereci, cada
palavra soando mais e mais longa do que a anterior. — Ficarei o tempo que você quiser.

Pela maneira como seu pescoço se moveu, ele deveria estar balançando a cabeça.

— Não.

— Sinto muito — sussurrei. — Eu realmente sinto muito.

Ele não disse uma única palavra. Não me disse que estava tudo bem. Não me disse para calar a boca novamente. E eu estava grogue demais para continuar discutindo com ele.

Mas não demorou muito para que ele nos levasse para o quarto da treinadora no Complexo Lee e, então, gentilmente ― muito gentilmente ― colocou-me no sofá para que eu pudesse ficar deitada. Estremeci novamente, sentindo calor e frio ao mesmo tempo, minhas costas doendo ainda mais do que alguns segundos atrás.

Erguendo minhas mãos para cobrir meu rosto, segurei um gemido. Era assim que se morria. Tinha que ser.

— Você não está morrendo, idiota — Jungkook disse um segundo antes de algo ser colocado sobre o meu corpo e dois segundos antes de algo frio e úmido cair sobre minha testa.

Ele tinha acabado de... Sim, ele me cobrira com um cobertor e colocou uma toalha molhada na minha testa.

— Obrigada — tive a clareza de dizer enquanto estava deitada lá, sabendo que deveria pensar no que ele havia feito, mas me sentindo mal demais para fazê-lo. Mais tarde, mais tarde, eu poderia apreciar o quão gentil ele estava sendo. Mas, naquele momento, parecia que minha cabeça ia explodir.

Jungkook não respondeu, mas ouvi outros barulhos em segundo plano e,
algum momento depois, talvez segundos, talvez minutos, houve movimento próximo aos meus pés. Alguns segundos depois, um dos meus patins saiu e depois o outro. Não pedi para ele tomar cuidado com eles. Eu não disse nada.

Então ele falou:

— Sente-se, Limãozinho.

Obviamente, ele não se sentia mal o suficiente para não me chamar assim. Eu tentei me sentar, mas meu corpo não estava funcionando.

Precisava de algumas coisas: descanso. Dormir. Um bom vômito. Um Tylenol. Um banho frio e depois um banho quente. Todas essas coisas sem uma ordem específica.

Ele fez um som que saiu como um bufar, então sua mão foi para a parte de trás do meu pescoço, levantando e colocando minha cabeça mais alta. E então ele se acomodou no sofá.

E deitei minha cabeça de volta... em sua coxa.

— Beba isso — ordenou quando algo suave e duro tocou meu lábio inferior.

Abri o olho para vê-lo segurando um copo contra a minha boca. Inclinei-me em direção a ele, fraca, tão, tão fraca, pegando-o, porque uma coisa era colocar minha cabeça em seu colo, mas outra era deixá-lo segurar um copo de água para mim. Tomei um gole e depois outro, minha garganta se fechando em torno de cada gole em protesto contra a sensação de dor.

— Engula isso também — disse ele depois, mostrando dois comprimidos brancos na mão.

Olhei para o seu rosto bonito e estúpido. E ele revirou os olhos.

— Não é arsênico.

Continuei olhando para ele.

— Eu não vou envenená-la antes do campeonato, certo? — ele acrescentou, não parecendo nem um pouco espertinho como costumava fazer.

Fechando os meus olhos de uma só vez, de uma maneira que eu esperava que o fizesse entender que tudo bem, abri a boca e deixei ele soltar os comprimidos na minha língua, engolindo-os com três goles dolorosos. Baixando minha cabeça na coxa de Jungkook, fechei os olhos.

— Obrigada — murmurei.

Houve um “uh-huh” que eu definitivamente ouvi em resposta. O que pareciam ser dedos tocaram meu cabelo, movendo-se em volta da
minha cabeça. Gentil, gentil... até que eles começaram a puxar.

— Aiiii — sibilei, abrindo um olho para encontrá-lo debruçado sobre mim, olhando com uma expressão frustrada, enquanto puxava meu cabelo novamente.

— O que é isso? — ele sussurrou, puxando um pouco mais.

Estremeci quando ele fez de novo.

— Um elástico?

Ele puxou, mas não perdi tantos cabelos nessa tentativa. Só uns cem.

— Está muito apertado.

— Não brinca — resmunguei, sem saber se ele sequer me ouviu.

Ele fez uma careta e deu um último puxão no meu cabelo antes de tirar o elástico ― e mais uns duzentos fios de cabelo ―, segurando-os vitoriosamente.

— Como você não tem dores de cabeça usando isso? — ele perguntou, olhando para o elástico preto como se fosse uma merda louca que ele nunca tinha visto antes.

Como ele nunca tinha visto um elástico antes em mulheres com as
quais se relacionou ao longo dos anos? Aff. Eu poderia me preocupar com isso mais tarde.

— Às vezes sinto — sussurrei. — Mas não tenho exatamente uma escolha.

Ele franziu a testa com a minha explicação e abaixou a mão, fazendo o elástico desaparecer por um momento antes de voltar e estar de mãos vazias. Fechando meus olhos mais uma vez, senti seus dedos voltarem para o meu cabelo e começarem a afastá-lo do meu rosto e os que deveriam estar sobre seu colo. Era bom, a coxa dele sob a minha cabeça, os dedos no meu cabelo, e eu não pude evitar o suspiro que soltei enquanto ele fazia isso.

Eu poderia estar um pouco fora de órbita, mas a próxima coisa que percebi foi algo cutucando meus lábios, e abri os olhos para encontrar
minha cabeça ainda no colo de Jungkook e uma mão grande segurando um termômetro próximo ao meu rosto. Ele ergueu as sobrancelhas com expectativa, então abri a boca e deixei que ele colocasse o bastão azul, fechando meus lábios depois.

— Ela precisa ir ao médico — afirmou Jungkook, olhando para onde a treinadora Lee estava sentada... em cima da mesa de café, com uma expressão preocupada.

Eu não a ouvi entrar.

Depois processei a palavra que Jungkook havia usado: médico.

— Concordo — nossa treinadora respondeu, já vasculhando o bolso em busca do telefone. — Vou ligar para o Dra. Deng e depois para os Simmons para reagendar.

Os Simmons são um casal que são nossos coreógrafos

Jungkook olhou para baixo e me lançou um olhar severo.

— Não peça desculpas. — Então, antes que eu pudesse falar uma única palavra, ele disse à outra mulher: — Avise que é urgente.

Ela assentiu, já puxando o telefone para tocar na tela.

Enquanto isso, balancei a cabeça, esperando o termômetro emitir um sinal sonoro para que eu pudesse falar. A treinadora Lee estava em espera quando o dispositivo finalmente chegou ao resultado. O
visor indicava 39.8. Ótimo.

— Sem médico — eu disse, para os dois quando Jungkook tirou o termômetro da minha mão para dar uma olhada na leitura.

Aqueles olhos castanhos se voltaram para mim por dois segundos antes de olharem para o termômetro.

— Jungkook, sem médico.

— Você vai ao médico — ele me avisou, com o rosto tenso enquanto observava o número antes de dizer a Lee: — Diga que a febre dela é de quase 40 graus.

Lambi meus lábios inutilmente e olhei para ele, aquela coisa de sentir calor e frio me fazendo querer chutar o cobertor de cima de mim, mas também puxá-lo até o pescoço.

— Sem médico. — Engoli em seco, fechei os olhos por um momento e disse: — Por favor.

A mão de Jungkook acariciou meus cabelos soltos, e ele olhou para mim.

— Você quer se sentir melhor ou não?

Tentei lançar-lhe um olhar feio, mas não consegui fazer meu rosto se mexer.

— Não, eu amo me sentir uma merda, perder o treinamento e estragar tudo.

Suas sobrancelhas grossas se ergueram como se ele dissesse não
brinca.

— Esqueça isso. Você vai ao médico. Se precisar de remédios, quanto antes, melhor. — Ele apertou os lábios por um momento e depois acrescentou: — Para que possamos voltar à coreografia. Quando você estiver pronta.

Aquele filho da mãe. Ele sabia exatamente como me pegar. Jesus.

— Olha, eu não preciso hoje... Amanhã...

— Estamos tirando uma folga. — Ele piscou. — Por que você não quer ir ao médico? — Ele apertou os olhos. — Eu juro, se você tiver medo de agulhas...

Eu gemi e comecei a balançar a cabeça antes de parar quando a dor piorou minha náusea.

— Não tenho medo de agulhas. Quem você pensa que eu sou? Você? — sussurrei.

A treinadora Lee estava falando baixinho ao telefone, mas nenhum de nós prestava atenção nela.

— Tudo certo. Você vai ao médico.

Eu me sentia tão mal que nem discuti. Ele tinha razão, infelizmente.

Jungkook murmurou algo que não parecia muito agradável, mas a palma da sua mão acariciou meu cabelo um pouco mais, deslizando pelos fios como se a última coisa que ele quisesse fazer fosse me machucar. Pela primeira vez. Foi agradável.

— Eles têm horário ao meio-dia — anunciou a treinadora Lee finalmente. — Precisamos reduzir a febre enquanto isso. Você já deu a ela um analgésico?

— Sim — respondeu o homem em cuja coxa a minha cabeça descansava.

Eles sussurraram algumas outras palavras, muito baixas para eu me importar enquanto estava ponderando se poderia me oferecer
para pagar a Jungkook para que ele continuasse passando os dedos pelos meus cabelos, quando senti um toque na minha bochecha.

— Humm?

— Hora de levantar — Jungkook sussurrou. — Você precisa de um banho.

Levantar?

— Não, obrigada.

Houve uma pausa e depois:

— Não estou pedindo. Levante.

— Não quero — lamentei.

— Ok — ele concordou com muita facilidade. — Eu vou carregar você.

— Não, obrigada.

Sua mão acariciou minha cabeça, depois pegou o canto da toalha sobre minha testa e a arrancou, passando os dedos pela minha pele
com aquelas mãos que eu conhecia tão bem e que nunca tinham sido tão gentis antes. Sua voz soou baixa quando ele disse:

— Eu sei que você não quer, e sei que está se sentindo mal, mas precisa se levantar, pequeno ouriço. Você precisa se acalmar.

Eu gemi e ignorei a forma como me chamou. Jungkook suspirou, mas sua mão ainda acariciava meus cabelos.

— Vamos. Levante-se por mim.

— Não.

Houve uma risadinha e outro golpe.

— Eu não sabia que você virava um bebê quando ficava doente — disse ele, parecendo divertido, mas eu não tinha certeza, porque estava muito ocupada tentando entender como me sentia uma merda.

— Uh-huh — concordei, porque minha mãe sempre dizia a mesma coisa. Que bebê chorão. Eu não adoecia com frequência. Não que eu tentasse chamar atenção... mesmo que ela sempre tenha me dado. Mas estava sempre mais preocupada com minha irmã do que eu tendo um pequeno resfriado ou tosse, e eu nunca me importei.

— Você vai se levantar? — ele perguntou, apalpando minha testa com um sibilo que eu não estava tão doente para não saber que isso significava que minha pele ainda estava quente.

— Não — falei novamente, virando de lado, de modo que minha bochecha estava pressionada em sua coxa e meu nariz, em seu quadril. Sua virilha estava bem ali, mas seu pau poderia estar para fora que eu não teria me importado.

— Você não vai se levantar por conta própria?

— Não.

Houve uma pausa e um som de diversão quando ele finalmente disse:

— Se você insiste...

Eu insistia. Eu realmente insistia, especialmente quando outro calafrio percorreu todo o meu corpo, e minha coluna doeu de uma forma que só acontecia depois de uma temporada ruim e de uma doença real. Eu não iria me levantar.

Mas Jungkook tinha outros planos.

Os planos envolviam ele saindo de baixo de mim enquanto eu gemia em protesto pela perda do travesseiro mais desconfortável em que já deitei minha cabeça, mas os mendigos não podiam escolher, então eu escolheria a coxa de Jungkook dura sempre. Esses planos foram seguidos por dois braços deslizando nos mesmos pontos em que estiveram minutos antes: apoiando minhas omoplatas e a parte inferior dos joelhos. Então, ele me levantou e começou a andar, em passos sólidos e equilibrados.

E eu não discuti. Nem um pouco.

Poderia me envergonhar depois que eu nem tentei ajudá-lo com meu peso para aliviar a carga; em vez disso, fiquei ali deitada como uma criança sendo levada para a cama depois de uma longa viagem de carro, com a cabeça apoiada no ombro dele enquanto tremia um pouco mais. Eu poderia caminhar, é claro que poderia. Mas eu não queria. Não quando ele estava tão disposto a me ajudar.

E só de sentir seu corpo quente e rígido contra mim já me deixou um pouco melhor. Em pouco tempo, ele abriu uma porta que eu não havia notado antes, levando-nos a um banheiro. Não era nada chique, apenas um chuveiro com uma pia e um vaso sanitário. Jungkook se agachou e lentamente me pôs de pé, quando uma pressão na cabeça me deixou tonta.

— Você precisa de um banho frio — disse ele, estabilizando-me com o braço em volta dos meus ombros.

— Ahh — murmurei, fechando os olhos. Ele estava certo. Nos raros momentos em que vi outras pessoas com febre alta, sabia quão
perigoso poderia ser. Não precisava perder mais células cerebrais.

Outro arrepio rasgou meu corpo, e isso fez Jungkook me soltar e dar um
passo para abrir a torneira do chuveiro.

— Vamos lá — ele insistiu.

Tentei levantar meus braços, mas os deixei cair quando não se afastaram mais do que um centímetro do meu corpo. Eu estava mais exausta do que me lembrava.

Engolindo em seco, abri meus olhos novamente e pensei: Foda-se.

Vou entrar completamente vestida. Eu tinha outra roupa na minha bolsa. Lee ou Jungkook poderiam pegá-la para mim. Fazendo a minha melhor representação de cada membro da minha família no Natal, cambaleei para frente, apertando os olhos porque a luz brilhante no teto era ofuscante pra caramba.

Dois passos antes de entrar no box ainda vestida, o braço de Jungkook
subiu, paralelo ao chão, e me impediu de ir mais longe.

— O que você está fazendo? — ele perguntou.

Olhei para ele.

— Entrando?

— Você está completamente vestida.

— Estou sem energia para tirar a roupa — eu disse, parecendo rouca.

Não senti falta da maneira como ele revirou os olhos.

— Vou te ajudar.

— Ok — sussurrei, sem pensar duas vezes. Por que eu deveria negar? Ele colocava as mãos por todo o meu corpo diariamente, já me vira seminua e com roupas apertadas. Tínhamos passado desse ponto.

Jungkook hesitou por um momento... e depois sorriu um pouco. Ele deu um passo para o lado para ficar na minha frente, um pequeno sorriso divertido em seu rosto, e ele segurou minha blusa. E, antes que qualquer um de nós pudesse pensar demais, ele puxou-a pela minha cabeça.

Ao contrário de outras garotas que eu conhecia na patinação artística, com pouco ou nenhum peito, eu sempre usava sutiãs esportivos. Gostava do apoio. Eles não se deslocavam quando eu estava de cabeça para baixo, mesmo que quase não houvesse algo para se mover.

E se Jungkook ficou surpreso por eu não estar sem sutiã, ele não demonstrou. Até porque eu mal mantinha os olhos abertos para ter percebido.

Mas suas mãos continuaram em movimento até que ele chegou ao cós da calça e, ajoelhando-se, desceu-a pelas minhas pernas.

Quando eu estava tentando tirar as meias com o pé, ainda agachado,
ele pegou uma das minhas pernas com uma das mãos e, com a outra,
tirou as meias e as ataduras finas que eu usara naquela manhã, arrastando o polegar sobre o arco antes de abaixar um pé e pegar o outro. Ele repetiu o movimento, seus olhos permanecendo nos meus dedos e, se eu estivesse vendo corretamente, se tivesse energia para isso, teria encolhido meus dedos com as unhas cor-de-rosa brilhante.

O fato de ele ter olhado para mim e sorrido, meio que me assustou, mas não deixei meus pensamentos focarem nisso. Meu estômago revirou e eu mal consegui não vomitar o café da manhã que tinha me forçado a tomar naquele dia.

Jungkook riu quando apertou meu calcanhar e soltou meu pé.

— Entre, campeã.

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