𝐭𝐰𝐞𝐥𝐯𝐞, queen of roses




Oi gente! Tudo bem com vocês?

Antes aqui do cap eu quero contar/explicar uma coisa porque vi alguns de vocês nos comentários e até mesmo me chamando no privado me perguntando sobre isso, que é a aparência dos personagens que criei além da Mahina

No caso, eu imagino o Hajime e o Eiji como o Iwaizumi de Haikyuu, mudando entre eles praticamente só estilo de roupa, já que os dois são gêmeos idênticos. Já a Nara eu penso como a Ino, mais ou menos na época que ela tá em Boruto, e o Hayato é o Eren!

Espero que isso ajude quem estava um pouco perdido! Aliás, o capítulo tá enorme (com mais de 5k de palavras) e espero que isso não seja ruim pra vcs kkkkkkk

Não se esqueçam de deixar o voto (isso ajuda MUITO nós autores) e boa leitura!








🥀



— Prontinho! — Nara disse, animada, terminando de passar um gloss de sabor framboesa na boca de Mahina — Quero sua opnião.

A loira saiu da frente, dando espaço para que pudesse se ver no espelho da penteadeira. A boca da mais nova se abriu em completo choque, simplesmente encantada com o que estava vendo, uma maquiagem leve e que com certeza combinava com ela, sendo o ponto focal o delineado fino da cor branca, marcando os seus olhos.

Mahina tinha adorado o fato de que Nara não queria se arrumar em um salão e sim em casa. A ruiva não suportava ficar cheia de pessoas desconhecidas mexendo no seu rosto e cabelo, ficava agoniada demais só de pensar nessa mínima possibilidade. Então, a ideia de se arrumarem juntas no seu quarto foi incrível e não podia ter se divertido tanto.

As duas estavam se aproximando rápido demais, Mahina tinha plena consciência disso, até mesmo se assustava ao se lembrar, mas como evitaria? Nara estava sendo a figura feminina que ela nunca teve e a loira fazia questão de realmente se aproximar dela também, era genuíno de ambas as partes.

— Eu amei, de verdade mesmo.

— Fico aliviada. Não sou muito boa com maquiagem.

— Você fez isso e se acha ruim?! Eu não sei nem passar um rímel sem borrar tudo — resmungou, fazendo a mais velha rir enquanto guardava as coisas que tinha usado na pequena maleta.

— Posso te perguntar algo?

— Claro!

— A sua mãe nunca te ensinou esse tipo de coisa?

— Não, ela não tinha paciência para ficar comigo de uma maneira geral — Mahina respondeu, dando de ombros, se levantou da cadeira e andou até o closet, para vestir o vestido.

Nara travou no lugar e virou lentamente a cabeça na direção para onde a garota andou, completamente não acreditando no que tinha escutado. Ela tinha uma mínima noção de que, talvez, Elizabeth pudesse ser uma pessoa um pouco grossa e até mesmo seca, tudo pelas reclamações de Makoto e até mesmo as matérias em revistas de fofocas. Porém, nunca gostou de ter uma visão das pessoas sem conhecê-las, mas o que estava ouvindo era completamente ridículo.

Tinha total consciência de que nem todas as pessoas do mundo tiveram a mesma sorte que a dela, a de poder ter tido uma ótima mãe e uma madrasta incrível, mas não fazia sentido Mahina não ter recebido um mínimo amor maternal. Na verdade, a dinâmica da família Yoshida não tinha lógica, principalmente ao finalmente conhecer todos ali.

Hajime não era tão desleixado quanto Makoto falava, Eiji não era tão legal assim, com certeza o mais mimado dos três, e Mahina não era a garota problema que só trazia decepção. Não fazia sentido, tudo o que via era completamente diferente do que tinha escutado antes e isso a incomodava. Claro que o relacionamento dela surgiu por causa de uma mentira, mais especificamente sucessivas traições, mas era estranho até demais a fantasia que Makoto parecia viver.

Balançou a cabeça de leve, tentando não pensar muito sobre isso, não era a sua família no final das contas. Terminou de guardar suas coisas e suspirou se olhando no espelho, pensando em como algumas decisões que tinha tomado nestes últimos anos estavam a fazendo duvidar sobre o estágio atual da sua vida, se metendo em uma situação como essa.

Porém, foi só ouvir Mahina a chamar que um sorriso animado logo brotou nos seus lábios. Ela estava linda com o vestido, as jóias prateadas e o salto preto, praticamente uma princesa, o apelido o qual descobriu que Hajime a chama desde criança, o que achou extremamente fofo.

— Fico bom?

— Com certeza! — se aproximou para arrumar algumas mechas do cabelo de Mahina, desfazendo um pouco os cachos que tinha feito no babyliss.

— Vou fazer só um comentário.

— Qual?

— Não entendi como o meu pai não vai ligar para as minhas tatuagens aparecendo — apontou para o antebraço esquerdo exposto, principalmente a rosa vermelha, que destoava das linhas pretas que cobriam do ombro até o pulso.

Mahina ainda estava incomodada com isso, mesmo com Nara garantindo que tudo daria certo e que ele não implicaria. Sempre foi um assunto delicado e que atormentava a cabeça da garota há anos, então não achava que poderia ser tão fácil assim.

— Pode confiar em mim, ele nem vai perceber. Aliás, não é como se você fosse conseguir escondê-las das pessoas pra sempre.

— Você tem um ponto.

Antes que Nara pudesse falar mais alguma coisa, ouviram batidas na porta e logo a loira foi atender, se deparando com Hajime já completamente pronto, usando um terno cinza chumbo e uma camisa branca, com dois botões abertos.

— O meu pai veio saber se estavam prontas.

— Só falta eu me vestir e já tudo certo — Nara responde e pegou suas coisas — Vou terminar de me arrumar e a gente conversa mais depois. Tudo bem, gatinha?

— Combinado!

A mulher sorriu e saiu do quarto, andando pelos enormes corredores daquela casa até o quarto que estava dividindo com Makoto. Enquanto isso, Hajime pegou Mahina pela mão e a fez dar uma voltinha, querendo ver toda a produção que tinha feito.

— Gostou?

— Você está que nem uma princesa, só falta uma coroa.

— Acho que ainda tenho a de plástico que você me deu — Hajime riu fraco e procurou algo dentro do bolso interno do paletó.

— Tenho algo pra você.

— O que é? — Mahina perguntou, curiosa.

— Isso aqui, acho que é melhor do que ficar dependendo de mim ou de algum dos funcionários.

A garota franziu as sobrancelhas, mas uma expressão animada surgiu em seu rosto ao ver uma cópia do controle do portão da garagem.

— Não acredito! — pulou animada, segurando o pequeno controle vermelho.

— Só não conta pro papai.

— Mais um segredo nosso?

— Mais um segredo nosso — Hajime confirmou, sorrindo ao ver como a irmã realmente estava feliz com algo tão "pequeno".

Isso era um traço lindo de Mahina, o fato de se importar muito mais com o significado das coisas do que o valor em si. Talvez ter crescido em um ambiente cheio de dinheiro e que poderia comprar tudo o que quisesse fosse a causa disso, de preferir aquilo que sabia que tinha sido dado com uma intenção por trás.

O maior exemplo disso são os brincos que Draken deu para ela três anos atrás, os quais preferia mil vezes do que o conjunto de jóias de diamantes que estava usando agora. Makoto tinha comprado por puro desencargo de consciência de ter que presentear a filha no aniversário de 15 anos, não tinha um mínimo significado ou alguma boa intenção por trás.

Era como a maioria das vezes que apareciam em público, era só mais uma encenação de uma família perfeita e como Mahina odiava essa farsa e o sobrenome que era obrigada a carregar.

— Vamos? Os fotógrafos já chegaram e o papai quer umas fotos em família.

— Provavelmente ele vai substituir as que têm a mamãe.

— Não duvido de mais nada vindo daquele homem — resmungou, fazendo Mahina rir.

Deixou o controle do portão em cima da penteadeira e saiu do quarto, fechando a porta e entregando o celular para o irmão, que o guardou no bolso interno do paletó. Andaram juntos pelos corredores até chegarem à escada, que dava diretamente para a sala de estar, que tinha sido completamente reorganizada pela empresa de decoração que Makoto tinha contratado.

Essa festa era muito mais do que só o aniversário de Nara, era também o anúncio de que a família tinha voltado para o Japão, quase como a volta da família real para a capital depois de um tempo fora. Tudo tinha sido milimetricamente pensado para ser perfeito, a decoração simples, mas bonita, completamente harmonizada com o estilo já mais moderno da casa.

Os sofás tinham sido empurrados para as paredes laterais, garantindo locais para conversas informais, e também abrindo espaço para as mesas de jantar espalhadas pelo cômodo que praticamente era o andar principal da casa. Na sala de jantar formal e na cozinha, se concentravam os funcionários que trabalhavam para manter o evento na altura do esperado, simplesmente a perfeição.

Não demorou para que os fotógrafos percebessem a chegada de Hajime e Mahina e logo pediram que tirassem fotos ali mesmo na escada e não era como se pudessem dizer não. Aquilo era normal para eles, parar, sorrir e ter a atenção voltada para si, sufocante é a palavra que pode melhor descrever a sensação de viver assim.

Mahina amava a Toman por causa disso, lá era livre e podia ser ela mesma.

A Mahina Yoshida é completamente diferente da Rainha das Rosas.

— Poderíamos começar a fazer as fotos individuais de vocês? — um dos fotógrafos perguntou — Como o senhor Eiji desceu antes, já fizemos as dele. Então, quando o senhor Yoshida aparecer, podemos logo tirar as da família.

— Por mim não tem problema. O que você acha, princesa?

— Quanto mais rápido, melhor, não é?

O fotógrafo assentiu e logo os dois irmãos foram separados, iniciando as mais diversas fotos que, na semana seguinte, estampariam uma matéria sobre a volta da família em uma das maiores revistas do país. Mahina não entendia muito isso, como poderia ser interessante gastar dinheiro só para poder saber sobre a vida de pessoas desconhecidas. Chegava até ser engraçado pensar que o seu rosto estaria sendo visto, por exemplo, por uma senhora pintando o cabelo em um salão de beleza qualquer.

Porém, o que ela poderia fazer?

Ela sabia muito bem a resposta dessa pergunta e simplesmente a odiava, se sentia impotente por não conseguir fazer nada para mudar a vida que tinha, pelo menos não completamente.

— Será que poderia tirar fotos de nós duas? — a voz de Nara ecoou e terminou de se aproximar.

— Claro! — o fotógrafo respondeu, animado — Que tal fazermos umas aqui e depois no sofá?

— O que acha, gatinha?

— Por mim tudo bem — respondeu, animada, e abraçou Nara de lado, sorrindo de verdade pela primeira vez desde o início daquela pequena sessão de fotos.

As duas fizeram as mais diversas poses, desde as mais sérias até um pouco mais zoadas, a personalidade das duas era muito compatível e era visível como o resultado ficaria incrível só por causa da energia delas. Depois de terminarem e Nara fazer as suas próprias fotos individuais, andaram até um local específico, onde duas cadeiras tinham sido estrategicamente colocadas na frente de uma das paredes da sala para tirar a foto dos cinco.

Makoto e Nara se sentaram nas cadeiras, enquanto Eiji, Mahina e Hajime ficaram atrás e em pé nessa mesma ordem. Se uma pessoa qualquer olhasse para aquela foto, logo teria a imagem de uma família perfeita com os cinco sorrindo, próximos uns dos outros, não parecia ter um defeito ali.

Porém, foram só os fotógrafos avisarem que tinham encerrado por ali e que durante o evento tirariam as outras, que a máscara caiu. Mahina logo se desgrudou de Eiji e se afastou um pouco de Makoto, era quase inconsciente se afastar do mais velho nesse tipo de situação, principalmente em eventos que ela sabia que ele queria que andasse na linha e não fizesse nada que pudesse o irritar.

Porém, não era o que a noite prometia.



(...)



Não tinham se passado nem uma hora e meia que a festa tinha começado e Mahina já não estava mais com paciência. Aquilo era chato, massante e até mesmo um pouco desnecessário, conseguia sentir a falsidade das pessoas emanando.

Empresários, algumas pessoas famosas e até políticos se encontravam naquela sala de estar e o olhar da garota vagava pelo cômodo, tentando achar algo que pudesse ser minimamente mais interessante do que a conversa que estava sendo forçada a ouvir sobre os novos investimentos do seu pai na indústria automobilística. Em outro momento e até mesmo com outras pessoas, ela gostaria de ouvir e até mesmo debater sobre assunto, realmente era algo que ela gostava, mas Makoto tirava toda a graça.

— Mahina — a garota ouviu o seu nome ser chamado e, ao virar a cabeça para trás, encontrando o seu irmão a chamando.

Se despediu rapidamente dos "amigos" do seu pai e andou o mais rápido dali até onde Hajime estava. O pai dos dois observou de longe a interação, completamente atento aos movimentos da garota, que era sinônimo de problema.

Aceitou os argumentos de Nara sobre as tatuagens e realmente viu sentido na lógica dela, as mangas cobriam a maioria e com a maquiagem e o cabelo arrumado a atenção quase não era levada para os desenhos de flores. Porém, a repulsa ainda estava ali presente, aquilo era um comportamento de delinquentes, um tipo de pessoa que ele com certeza desprezava.

— A Mahina cresceu muito e com certeza virou uma moça bem bonita — a atenção de Makoto foi desviada para Fuyuki Saito, um dos seus amigos pessoais e de negócios, que se aproximou do moreno.

— Alguma coisa boa tinha que vir dessa garota, pelo menos a beleza compensa.

— Descobri poucos dias atrás que ela está na mesma sala de Hayato. Isso é bom para que os nossos filhos interajam mais.

— Realmente. Aliás, onde está Hayato?

— Ali com a mãe — o homem apontou — Por alguma razão, ele anda mais grudado com ela nas últimas semanas, não sei se isso é um problema ou não.

— Bem, acho que a Mahina foi comer com o Hajime na cozinha, tenho a impressão que os dois não estão conseguindo esperar a hora do jantar. Seria bom que Hayato fosse também.

— Gosto da sua ideia, vou chamá-lo.

Não é de hoje a amizade entre as famílias Saito e Yoshida e também não é recente o interesse de juntá-las. Porém, nunca teve essa abertura já que em ambas só tinham filhos homens, logo, na visão deles, não seria possível um casamento, até que Mahina nasceu. Claro que de início Makoto achou que ela não era sua filha e sim um fruto das traições de Elizabeth, mas o teste de DNA que fez dizia que naquela garota tinha sim a sua genética.

Logo, para compensar todo o stress e desgosto que ela trazia para si, pelo menos em algo ele teria que ter algum lucro, nem que seja forçando um casamento na vida dela. Funcionou para ele, não? Ficou mais rico e influente, então não é como se não conseguisse fazer isso mais uma vez.

Alheia totalmente aos pensamentos do seu pai em relação ao seu futuro, Mahina estava sentada na bancada da cozinha comendo feliz a comida de dona Kyoko, a quem respeitava profundamente. A idosa não pensou duas vezes em avisar Hajime que já tinha parte do jantar pronta e pedir para que ele e a irmã viessem comer escondidos e com mais calma. Praticamente em todas as festas da família tinha sido daquele jeito e era quase tradição funcionar dessa forma.

— Dona Kyoko, já falei que amo a senhora hoje?

— Você é muito abusada, Mahina.

— Mas você não pode me dizer que não gosta — a garota riu ao receber um tapa leve na mão da mulher, que sorriu fraco ao voltar a sua atenção para o jantar sendo preparado para os mais de 100 convidados escolhidos a dedo.

— Essa é a única vez que você comeu hoje? — a voz de Hajime, em um tom de voz mais baixo, fez com que Mahina encarasse o prato de comida a sua frente.

— Se eu dissesse que sim, você brigaria comigo, não é?

— Sim.

— Eu só não senti fome — deu de ombros e deu mais uma garfada na comida.

— Me preocupo com isso.

— Mas eu estou bem. Isso que importa no final, não é?

— Não sei qual é a sua definição de "estar bem".

— Não começa com esse assunto de novo.

— Você sabe que um dia a gente vai ter que começar a falar sobre isso.

— Sei, mas não vai ser agora no meio dessa porcaria de festa.

Os dois irmãos ficaram em silêncio e continuaram a comer com esse clima ainda um pouco tenso instalado sobre eles, mas não era como se pudessem evitar. Tinha certas coisas que Mahina não contava nem para Hajime e, até ela se sentir confortável consigo mesma para tal atitude, a realidade seria essa, a de um impasse entre eles dois.

O moreno logo levantou e tirou o celular da irmã do paletó, o entregando de volta para a dona.

— Já vai pra lá de novo?

— Sim — deixou um beijo no topo da cabeça da caçula — Pode ficar aqui por mais um tempo, vou te cobrir.

— Muito obrigada, de verdade.

— Tudo por você, princesa.

Mahina sorriu fraco e observou o moreno se afastar, saindo da cozinha, que era separada da sala por duas grande portas brancas, que no momento estavam fechadas. Voltando a sua atenção para o prato de comida, que ainda tinha algumas coisas espalhadas, sentiu o seu estômago fechar.

Não queria voltar para aquela festa.

Mesmo com o claro esforço que Nara fez para que Mahina pudesse se divertir ali e até mesmo conhecer algumas de suas amigas, aquilo ali era demais, fechado e falso. Situações que ela odiava com todas as forças e só faziam que sua mente voasse e pensasse nas inúmeras possibilidades de se sentir desconfortável perto daquelas pessoas que eram nada parecidas com ela ou, minimamente, não tinham os mesmos ideais.

A sua atenção foi desviada ao ouvir a porta abrir novamente e sua expressão facial se fechou ao ver Hayato ali. Já tinha o visto antes na festa, mas não tinha tido o trabalho de ir falar com ele, sabia que o garoto não merecia nem um por cento da sua atenção e com certeza a presença dele a irritava.

Observou, um pouco curiosa, a interação do seu colega de classe e do homem, que tinha ido até ali o acompanhando, com um dos garçons, parecia que explicava algo. Não demorou para que o mesmo homem saísse da cozinha e Hayato fosse guiado pelo garçom até onde Mahina estava sentada, o que a fez ficar confusa e até mesmo intrigada.

— O que faz aqui? — disparou.

— Se estou na cozinha, acho que é para comer — respondeu no mesmo tom, o que a fez revirar os olhos.

— Sim, mas como sabe que já tem comida pronta?

— Meu pai me disse.

— Então aquele cara que tava com você é o seu pai?

— Isso, não sabia?

— Não, só o conhecia por telefone. Além disso, você dois são nada parecidos.

— Sempre ouvi isso — o garoto murmurou e Mahina sentiu que essa frase significava muito mais do que parecia.

Os dois ficaram em silêncio e só foi quebrado por Hayato agradecendo pela comida que tinha sido servida para ele.

— Não pensei que você ficaria tão calado perto de mim.

— Como? — o garoto perguntou, não entendendo o que ela queria dizer.

— Não sei, achava que você ia procurar mais razões para implicar comigo na escola — nem Hayato e até mesmo Mahina não entendiam o porquê dela estar puxando assunto, talvez fosse só fato de que ela não aguentava ficar em silêncio por muito tempo.

— Bem, não acho que tenho muita moral pra isso.

— Não vai me dizer que tem medo de mim.

— Claro que não tenho! — praticamente gritou, o que a fez soltar uma risada.

— Você se entrega demais, Hayato.

— Cala a boca — resmungou e encheu a boca de comida.

O garoto sentia sim medo de Mahina, tinha vários motivos para isso. Além do temperamento claramente mais esquentado, as respostas na ponta da língua e a óbvia noção que possuía sobre lutas, os amigos dela também o amedrontavam.

— Não acreditei quando disse que era da Toman — agora foi ele quem puxou assunto.

— Só por eu ser uma garota?

— Em parte — respondeu, sincero — Mas o maior motivo é por quem você é.

— Se refere ao meu sobrenome?

— Isso.

— Faz sentido pensar assim — concordou e apoiou o queixo em uma das mãos — Muita gente acha, na verdade.

— Sério?

— Aham, mas eu lido muito mais com misoginia do que com algum lance envolvendo o meu sobrenome.

— Mas isso não faz sentido, como que não ligariam? Você é simplesmente uma Yoshida.

— Quando você está lutando contra alguém, não se pergunta o sobrenome dela, Hayato.

— Você realmente não se importa? — perguntou, um pouco incerto.

— Como assim?

— Não liga em não saberem o seu sobrenome.

— Não mesmo. Sendo sincera com você, por mim eu nem tinha.

— Você é estranha — Hayato constatou e Mahina riu.

— E isso não é ruim — disse e Hayato pensou que os olhos alaranjados tinham brilhado — Qual é a graça de ser igual a todo mundo?

Uma pergunta simples até, mas vindo de alguém como Mahina para uma pessoa como Hayato tinha um peso muito maior.

Ela realmente é muito mais maneira do que ele.

Um silêncio, estranhamente confortável, tinha se instalado entre os dois, mas foi interrompido pelo toque do celular da garota e a expressão facial que ela tinha feito ao ver quem era que estava ligando fez com que Hayato ficasse, levemente, preocupado. Nunca tinha visto algo assim nela, era até mesmo parecia transmitir um pouco de medo.

— O que aconteceu, Baji?

Essa foi a única frase que Hayato escutou de Mahina depois que ela atendeu o telefone, saindo logo em seguida da cozinha rapidamente.

A mente da garota já estava a mil, tinha muita coisa passando na cabeça dela, principalmente com as coisas que o moreno contava pelo telefone.

Tinham tentado atacar Draken.

Esse pensamento ecoava na cabeça da garota enquanto ela praticamente corria pelos corredores do andar superior da casa até chegar no seu quarto. Tirou os saltos rapidamente, jogou o celular em cima da cama e começou a abrir o zíper lateral do vestido. Ela manteve em mente a possibilidade de que algo fosse acontecer, mas não algo desse nível tão baixo e sujo.

Abriu uma gaveta específica do seu armário, onde já tinha deixado uma roupa separada, regata e legging pretas e os seus inseparáveis coturnos. Nunca tinha trocado de roupa tão rápido e a última coisa que fez foi se livrar das jóias, pegar a chave da moto, guardada cuidadosamente na cômoda ao lado da cama, e o controle que Hajime tinha acabado de lhe dar.

A sua mente estava a milhão, pensando em uma velocidade completamente absurda nas inúmeras possibilidades que tinha para sair daquela casa sem ser vista. A sua respiração estava acelerada e agradeceu mentalmente pelo fato de ter conseguido passar despercebida pelas laterais e conseguir chegar na cozinha.

O olhar da garota se encontrou com o de Hayato no momento em que tinha conseguido entrar ali e não precisou de muito para que o de olhos verdes entendesse que ele não podia perguntar nada e assim o fez. Acompanhou pelo olhar a garota correr pelo grande cômodo e sair por uma porta dos fundos, a qual dava para um corredor externo que acabaria na garagem da casa.

Como possuía uma cobertura de um plástico mais resistente, foi assim que Mahina percebeu que estava chovendo, com o barulho das gotas chicoteando enquanto corria até a garagem. Parecia que o seu coração iria sair pela boca, nem sabia direito o que estava fazendo. Mesmo que no momento o seu pai não soubesse o que estava planejando, uma hora acabaria descobrindo.

Porém, ela não ligava pra isso, pelo menos não agora, pensaria nas consequência depois, nada podia ser mais importante do que ir até onde a Toman estava.

Ela se lembrou de respirar ao chegar na garagem e subir na sua moto e ver suas mãos tremendo de leve sobre o guidão. Por que estava tão nervosa e ansiosa? Uma pergunta que a atormentaria por uma certa quantidade de tempo. Deu partida e, com o controle, fez com que o portão abrisse o mínimo que precisasse para sair dali.

Ao passar, logo o acionou para que fechasse e, antes de sair cantando pneu pela rua, escondeu estrategicamente o controle na caixa de correio, sabia que precisaria dele de novo e não podia arriscar perdê-lo ou acabar o estragando nessa chuva. Nunca pensou que veria tanta água caindo dos céus de Tóquio em pleno agosto, mas não é como se fosse ficar pensando ou até mesmo refletindo sobre isso.

Agora, ela precisava focar na velocidade, algo que podia ser praticamente considerada uma especialista.

O ronco do motor da CB 400 ecoava pelas ruas e o número do velocímetro aumentava junto com a adrenalina que agora corria pelas veias de Mahina, que tinha um leve sorriso no rosto. Mesmo já estando completamente molhada pela chuva e começando a sentir um pouco de frio por causa do vento batendo contra os seus braços descobertos, ela não podia se sentir mais livre.

Parecia que estava de volta em Londres, ganhando milhares de libras por causa das apostas sobre o seu nome.

80

90

100

A velocidade cada vez mais alta indicava como a garota conseguiria chegar em Shibuya em um recorde de tempo praticamente absurdo. Porém era ela, a Rainha das Rosas, nada poderia ser impossível para alguém com tal título e que mostraria que o merecia.

Acionando os freios, fazendo com os pneus derrapassem pelo asfalto molhado, a moto parou e, praticamente na hora, a atenção das duas gangues foram direcionadas para a pessoa que tinha acabado de chegar ali. Desligou o farol e a moto e se levantou, andando calmamente em direção às pessoas que a olhavam como se fosse uma assombração ou até mesmo um milagre.

— Vou adicionar "maluca" na lista de coisas que você é — Baji disse ao ter a garota se aproximando dele.

— Já não estava? —  perguntou, divertida, o que fez com que o moreno balançasse a cabeça em negação.

— Impulsiva — foi a única palavra que saiu da boca de Mikey ao ver a ruiva ali, mas ele estava sorrindo, seria mentira dizer que não estava feliz por ela ter chegado.

— Sou mesmo — respondeu e sorriu de canto, mas uma expressão séria tomou o rosto dela quando colocou os olhos sobre Draken.

A ruiva andou até ele, ficando de frente a ele com os braços cruzados na altura do peito e os olhos focados no sangue que saía da cabeça dele.

— Qual deles fez isso com você?

— Você é impossível — respondeu, olhando pra cima para poder ver a garota.

— Sou muitas coisas, mas você ainda não respondeu a minha pergunta.

— Isso é sério?

— Com certeza — só pelo tom de voz ele sabia que realmente era e, mesmo que o momento não fosse o mais apropriado possível, ele se sentia minimamente feliz por ela ter essa preocupação sobre si.

Mal sabia ele o tanto que ela se importava.

— Quem é você para chegar assim?! — Mahina escutou uma voz masculina atrás de si e, ao se virar, viu todos os membros da Moebius a observando, mas não era como ela fosse se importar.

Deu de ombros e voltou a sua atenção para Draken, mas, agora, uma outra voz masculina iria ecoar, mais grave, falando informações que eram estranhas para alguém de fora da Toman saber, principalmente pelo fato dela ter passado três anos longe do país.

— Tatuagem de rosa no antebraço esquerdo, cabelos ruivos e uma personalidade forte, suponho que você deva ser a Mahina ou, mais especificamente, a Rainha das Rosas.

— Como sabe quem eu sou? — a ruiva perguntou, encarando quem tinha falado.

Ele era alto, tinha o cabelo preto em formato de topete, mas com uma mecha loira na parte da frente, tatuagens nas mãos, fumava e ainda tinha um olhar totalmente entretido, como se estivesse animado pelo fato dela ter aparecido ali.

— A sua fama é grande, não é sempre que garotas possuem tanta moral assim.

— Isso seria um problema? — perguntou, arqueando uma das sobrancelhas, o que fez o desconhecido rir.

— Não mesmo, deixa as coisas mais interessantes.

— Quem é você?

— Como expliquei para o Mikey, não importa muito, mas pode me chamar de Hanma.

Mahina não entendia de verdade o que estava rolando ali, com certeza parte do que tinha pensado realmente tinha acontecido, o que até mesmo a intrigava, não achou que realmente abaixariam o nível até a situação atual. Porém, no meio daquela confusão que estava se formando, uma pessoa em específico chamou a sua atenção e a garota soltou um riso, totalmente cheio de escárnio.

— Por que não estou surpresa por ele estar daquele lado? — a voz dela ecoou enquanto apontava para Peh, que tinha tentado minimamente se esconder da garota, Mahina realmente o assustava.

— Como assim "daquele lado"? Está nos desprezando?! — um outro membro ousou rebater e ela fez questão de o procurar com o olhar.

— Estou, seu orgulho é tão frágil de ser abalado assim?

Os membros da Toman, principalmente os que já a conheciam, tiveram que conter a vontade de rir, era completamente impagável como Mahina não se sentia ameaçada por todos aqueles homens na sua frente, como se eles fossem meros insetos e que não faziam diferença nenhuma na vida dela. Bem, se você for parar para pensar, eles realmente eram isso e esse era o ponto.

Ela não ligava em deixar claro o que os seus adversários significavam para ela.

— Nunca que o meu "orgulho" seria ferido por uma vadia que nem você.

— Não? — perguntou, inclinando a cabeça levemente para o lado — Então por que precisou me xingar para tentar se sair bem na história?

Isso era que os membros fundadores da Toman tinham sentido falta e sempre achavam que tinha um vazio na gangue, a ousadia de Mahina. Todos eles gostavam disso, mesmo que algumas confusões pudessem ser evitadas se ela controlasse mais a língua.

Os membros da Moebius a olhavam com raiva e isso bastava para que o seu próprio ego inflasse, amava saber que a sua presença era irritante para muitos ali, deixava tudo ainda mais divertido.

— Então, acho que vamos ter uma batalha majestosa no dia do festival — a voz de Draken ecoou atrás de Mahina, que sorriu de canto ao o ver se levantar e ficar ao seu lado — Realmente faz o sangue ferver.

— Acho que sim, comemorar a volta da rainha, não é mesmo? — Mitsuya disse, fazendo a garota rir alto, enquanto estalava os dedos.

— Como nos velhos tempos? — Mikey perguntou, encarando a melhor amiga nos olhos, esperando uma confirmação dela.

— Como nos velhos tempos.

Com essa resposta, o líder da Toman sorriu e talvez os membros da Moebius não soubessem ainda, mas Mahina conseguia ser mais perigosa do que muito homem espalhado por aí. Afinal, boa parte da sua infância foi com Baji e Mikey, logo depois conheceu Draken, Kazutora, Mitsuya e Pah, formando há três anos atrás a gangue que controlaria Shibuya.

Além disso, ela também estava lá quando acabaram com a nona geração da Black Dragons, a estratégia que tinha sido usada foi criada por ela.

Às vezes, as pessoas julgam demais as aparências, pensando que, por exemplo, sobrenome importa e que isso pudesse lhe fazer ser melhor do que alguém. Muitos acreditam nisso, o que Mahina achava completamente irritante e sem nexo já que ali, naquele estacionamento e no meio da chuva, ninguém se importava se ela era uma Yoshida ou não.

O que importava era que ela era a Rainha das Rosas e que tinha finalmente voltado para a sua verdadeira casa e faria de tudo para defender o seu único porto seguro.




Oi de novo!

Esse capítulo com certeza tá na lista dos meus favoritos e vou ser sincera e dizer que faço a mínima ideia do porquê, acho que tem haver com o fato de ter abordado mais os pensamentos da Mah e como ela funciona perto da família

No próximo, nós vamos ter ela metendo a porrada em macho e isso já me deu dez anos a mais de vida kkkkkkkk

Bem, espero que tenham gostado! Não se esqueçam de votar e de comentar (AMO ler o feedback de vocês)!

Até a próxima! ♥︎

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