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— Entendo — Erwin respondeu, antes de suspirar fundo — Nosso foco principal vai ser trabalhar em cima disso agora — Mais uma vez, ele anotou alguma coisa em sua prancheta — Vamos fazer você entender que, de forma alguma, pode voltar para esse relacionamento. Certo?
— Sim — Você respondeu, envergonhada pela resposta que tinha dado anteriormente.
— Em muitos casos, o motivo principal de uma pessoa querer voltar a um relacionamento abusivo é porque ela acha que nunca vai ser amada por mais ninguém — As íris azuis lhe encaravam a todo momento, mas não de forma constrangedora, e sim calorosa — Esse é o seu caso?
— Acho que não — Quando o loiro assentiu com a cabeça, em um sinal para você continuar, você o fez — Eu não sei se consigo me apaixonar por mais alguém.
— Pode explicar?
— Eu já fiquei com várias outras pessoas, antes de conhecer ele, sabe? E nenhuma delas nunca nem me fez ter vontade de repetir o encontro — Você suspirou antes de continuar, mas seu peito já doía menos e sua respiração estava mais estável — Ele foi a única pessoa que eu realmente tive interesse.
— Na nossa primeira sessão, você tinha me falado sobre um garoto — Erwin procurava algo nas folhas de papel em sua mão — Um que você disse que era apaixonada quando mais nova... Aqui. Eren Yeager.
Eren Yeager. Esse nome fez você arquear levemente as sobrancelhas. Você estava com a cabeça tão cheia de seus atuais problemas, que tinha até se esquecido do garotinho que tinha roubado seu coração quando eram mais novos.
— Isso já faz muito tempo — Você disse, saindo de seu transe — E eu era muito nova. Eu não sabia o que era um relacionamento ou algo do tipo.
— Ainda assim, não acha que isso é só mais uma prova de que você pode sim amar alguém? — A pergunta do loiro fez você refletir um pouco, franzindo levemente as sobrancelhas — Inclusive, alguém melhor do que ele.
As palavras de Erwin fizeram você refletir um pouco. Fazia tanto tempo que ouvia seu ex falando que você nunca seria capaz de amar alguém sem ser ele, que acabou acreditando nisso. Será mesmo que você era capaz de se apaixonar de novo? Depois de tudo o que passou?
— Por hoje é só — A voz do psicólogo lhe trouxe de volta para a realidade, mais uma vez — Me ligue se precisar de alguma coisa, e até próxima semana.
Você assentiu e se levantou. Depois de se despedir de Erwin, saiu do consultório, indo em direção à calçada, e, mal precisou pisar nela para ver Annie e Bertolt, encostados no carro, olhando em sua direção.
— Como foi a sessão? — A loira perguntou, logo lhe envolvendo com os braços e te guiando para dentro do veículo.
— Foi boa — Você respondeu, tentando colocar um sorriso mínimo no rosto.
— Você vai pra casa agora? — Bertolt perguntou, sem tirar os olhos da rua à sua frente, já que ele estava dirigindo.
— Não. Tenho uma consulta com Hange marcada pra daqui a uma hora — Você olhou para a hora no seu celular, antes de continuar — Pode me deixar lá no empresarial. Tem uma praça de alimentação, eu posso almoçar lá.
— Quer companhia?
— Não, obrigada. Queria ficar sozinha um pouquinho — Você suspirou, encostando suas costas completamente no banco, se deixando relaxar um mínimo — Como é perto de casa, eu posso voltar andando.
— Erwin já tinha pedido pra você andar um pouco, não é? — Annie perguntou, segurando sua mão e fazendo carinho na mesma.
Você assentiu com a cabeça, se sentindo levemente aliviada que seus amigos concordaram em lhe deixar só. Durante o tempo de sua crise, seus amigos fizeram questão de evitar lhe deixar sozinha, e você agradecia imensamente por isso, já que não se imaginava lidando com tudo isso sem eles. Mas, agora, tinha muito o que refletir sobre a sessão com Erwin, e queria fazer isso sozinha.
Assim que se despediu do casal e desceu do carro, você entrou no grande empresarial, se dirigindo logo até a praça de alimentação. Não demorou muito para que você decidisse o que iria comer, fazendo o pedido e recebendo o prato em pouco tempo. Colocou seus fones de ouvido, escutando logo Sparks, de Coldplay, invadir seus tímpanos, em um volume não tão alto. Quando já estava sentada em uma mesa, comendo, seu celular apitou, avisando uma nova mensagem.
Ymir: Vou dormir no seu quarto hoje.
Você: Não precisa, mas obrigada
Ymir: Isso não foi uma pergunta ;)
Depois de soltar um sorriso fraco, você aceitou que ela não lhe deixaria sozinha durante a noite, principalmente depois do ataque de ontem. Suspirando fundo, você se concentrou em voltar a comer, processando toda a sessão que teve com Erwin mais cedo.
Eren Yeager. Tá aí um nome que você não ouvia faz tempo. Na época, você ainda era muito pequena, mas já andava com Reiner, Annie, Bertolt e Ymir. Eren tinha dois irmãos, Mikasa e Armin, que também brincavam com vocês sempre que podiam. Vocês oito sempre se deram bem, e Mikasa era sua amiga tanto quanto as outras duas. Mas Eren era especial. Tirando Armin, ele era o mais baixinho e magrinho de todos, mesmo assim, sempre que alguém se colocava em uma situação de "perigo", ele era o primeiro a correr em direção à pessoa, para socorrê-la. Talvez tenha sido esse espírito heroico do Yeager que tenha feito você se apaixonar por ele, ou talvez o fato de que, de todos, ele era o único que lhe entendia completamente. Você nunca precisou fingir nada para ele, sempre foi você mesma.
Você balançou levemente a cabeça quando percebeu onde seus pensamentos tinham parado. Depois de verificar a hora no celular, viu que sua sessão com Hange iria começar em poucos minutos. Por isso, você acabou rapidamente a refeição e subiu pelo elevador, até o consultório dela.
Ao chegar lá, nem precisou trocar muitas palavras com a secretária, que já lhe conhecia das outras sessões, e foi rapidamente encaminhada para a sala da doutora. Assim que abriu a porta, você já pôde ouvir a voz animada e inconfundível de Hange Zoe.
— [Nome]! — Ela basicamente gritou — Chegou cedo hoje.
— Eu vim com uns amigos — Respondeu, enquanto retribuía o abraço caloroso que a mais velha tinha lhe dado.
— Aqueles que moram com você, não é? Erwin me falou sobre eles.
Você assentiu, pouco antes de ser orientada por ele a tirar a parte de baixo da roupa e se deitar. Depois de tudo o que aconteceu, Hange era a única pessoa que você deixava lhe ver pelada, tanto por ela ser sua médica, quanto por você confiar 100% nela. Como morena e Erwin são amigos, você deu completa liberdade para eles falarem sobre o seu caso entre si, algo que, usualmente, iria contra o código de conduta dos profissionais de saúde. Por isso, tanto Hange sabia sobre suas condições psicológicas, quanto Erwin tinha ciência de suas condições físicas.
— A irritação já diminuiu bastante — Ela dizia, no meio da conversa que estava tentando manter com você, e enquanto analisava o interior da sua vagina — Ainda assim, eu evitaria relações sexuais por um tempinho.
— Não precisa se preocupar com isso — Sua fala arrancou uma risada estridente por parte da outra mulher, o que fez você dar um sorrisinho fraco.
— Consegui arrancar um sorriso de você. Vou me amostrar para Erwin.
Depois disso, Hange lhe ajudou a descer da maca e colocar novamente as suas roupas, enquanto te guiava para se sentar na poltrona em frente à mesa dela. Vocês mantinham uma conversa simples, e, mesmo que Hange falasse a maior parte do tempo, ela conseguia arrancar algumas falas suas.
Durante o seu relacionamento com seu ex, você se forçou muitas vezes a ter relações sexuais, mesmo quando não queria. Isso causou sérios problemas em sua intimidade, que ficava mais irritada a cada vez que você se forçava mais e mais. Seu ex parecia saber disso, mas nunca fez nada para impedir. Muito pelo contrário. Quando você ameaçava dizer um não, ele já vinha com um discurso pronto, lhe convencendo do contrário. Até que chegou um ponto em que você parou de, sequer tentar, dizer não.
— Erwin me mandou uma mensagem, dizendo que você tem uma cicatriz na lateral do tronco — Hange disse, já sentada em sua cadeira, na sua frente — Quer que eu dê uma olhada?
Você hesitou um pouco antes de responder. Confiava demais naquela mulher, mas essa cicatriz era uma das coisas que mais lhe deixava insegura. Mesmo assim, você suspirou fundo, mais de uma vez, antes de encarar a médica nos olhos novamente.
Assentindo levemente, você subiu a lateral de sua blusa, mostrando a cicatriz média, que ficava um pouco a baixo de seu sutiã. Hange olhava para o antigo ferimento com atenção, até você se sentir desconfortável e baixar a roupa novamente.
— Sua cicatrização é impressionante, quase não deixou vestígios.
— Mesmo assim, eu não gosto muito dela.
— Sei disso — Enquanto falava, ela anotava alguma coisa em um bloco de notas — Mas eu não acho que isso te deixe menos bonita do que você já é.
Você esboçou um sorriso fraco, sem mostrar os dentes, com a fala dela, agradecendo pelo elogio, mesmo que sem palavras. Hange já te conhecia o suficiente para saber como você agia e o que pensava, sem precisar que muitas palavras fossem trocadas.
— E seus outros machucados? Já estão melhores?
— O ombro e o braço sim — Respondeu, se ferindo ao ombro deslocado e braço quebrado — E quase todos os hematomas já cicatrizaram, menos os do pescoço — Você concluiu, tirando o cachecol para que ela pudesse ver os machucados.
— Certo — Agora, ela escrevia uma receita, antes de voltar o olhar para você de novo — Vou prescrever uma nova pomada para os hematomas do pescoço, quanto mais cedo isso sumir, melhor — Hange vasculhava as gavetas, atrás de amostras grátis para lhe dar, e fazer com que você não precisasse ir até a farmácia comprá-los — Sobre a irritação vaginal, você vai continuar a tomar os remédios que estava tomando antes. Tenho certeza que, em pouco tempo, seu corpo vai estar 100% de novo.
— Tudo bem.
Um pequeno sorriso sincero se formou em seus lábios. Você não via a hora de se livrar de qualquer vestígio físico que seu ex tenha deixado no seu corpo. Quem sabe isso até não ajudava na sua recuperação psicológica.
— Só mais uma coisa antes de eu te liberar por completo — Hange falou, atraindo sua atenção mais uma vez — Eu e Erwin temos um amigo na polícia, que poderia facilitar a entrada da sua denúncia. O nome dele é Levi Ackerman.
Você arqueou levemente as sobrancelhas com a fala dela. Sabia que o certo seria denunciar seu ex, mas o medo tomava conta de você toda vez que pensava nessa hipótese. Erwin já tinha tentado lhe convencer a fazer isso, mas você simplesmente não estava pronta para arcar com isso. E ainda não estava.
— Obrigada, Hange — Você disse, com a voz relativamente baixa — Mas acho que eu ainda não estou pronta para algo assim.
— Tudo bem, vamos no seu tempo.
Com um sorriso confortante, a mais velha fez você se sentir um pouco melhor, antes de vocês se despedirem e você sair da sala dela, marcando a próxima sessão para daqui a quinze dias. Sem muita pressa, você se despediu também da secretaria e seguiu seu caminho, descendo pelo elevador.
Você estava completamente imersa em seus pensamentos, enquanto escutava Million Years Ago, de Adele, imaginando se deveria aceitar a oferta e procurar Levi, para fazer a denúncia, mas não teve muito tempo de reflexão. Enquanto andava para fora do prédio, seu braço foi levemente puxado para trás, mas com força o suficiente para você se assustar e ter vontade de gritar.
O pânico tomou conta do seu corpo de novo. O medo de ser ele quem estivesse ali assolava toda a sua mente, enquanto você tentava puxar o braço de volta.
— Desculpa, eu não queria te assustar — A voz grossa, mas doce e reconfortante, era como uma dose anestésica, que fez todos os músculos de seu corpo relaxarem. Ele soltou o seu braço, tão suavemente quanto o havia pegado.
Lentamente, você se virou para trás, já tendo certeza que não era o seu ex quem estava lá. Na verdade, muito pelo contrário, o homem ali presente parecia um deus. Os olhos dele eram de uma coloração verde esmeralda, tão profundos que podiam facilmente fazer você se perder só de encara-los. O cabelo dele era castanho, e um tanto grande, com uma parte presa para trás. O rosto dele era fino e perfeitamente simétrico, combinando completamente com as sobrancelhas longas e bem feitas.
Você franziu as sobrancelhas enquanto o analisava. Ao mesmo tempo em que você tinha certeza que nunca havia visto uma pessoa tão linda quanto ele na vida, você sentia que o conhecia de algum lugar. Mas, somente quando ele deu um pequeno sorriso, você o reconheceu. Esse mesmo sorriso que você podia passar horas e horas apenas admirando. O mesmo sorriso que era seu porto seguro. Aquele sorriso que você foi apaixonada por tanto tempo.
— Eren!?
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