𝚜𝚎𝚟𝚎𝚗𝚝𝚎𝚎𝚗
— Como ele conseguiu passar pela portaria? — Levi perguntou, com as sobrancelhas franzidas, olhando diretamente nos seus olhos, que não estavam ficados nele.
— Eren falou com o porteiro.. e ele disse que deixou Floch subir — Respondeu, pausadamente, ainda lutando para controlar a intensa onda de choro que estava tendo segundos antes — Mas Floch tinha dito a ele que eu já estava esperando.
— Certo — O Capitão fazia algumas anotações em um bloco de notas que tinha em mãos, só desviando o olhar de você para escrever, voltando a lhe encarar logo que acabava — Então o porteiro não tem culpa de nada — Esperou você concordar com a cabeça antes de continuar — Quando vocês namoraram, por que não abriu uma queixa sobre as agressões?
Seus olhos tinham se voltado para o baixinho por um momento, mas, assim que acabou de raciocinar a pergunta, desviou quase que imediatamente. Você sabia que o motivo para isso sempre foi medo. Tanto medo de ficar sozinha, quanto medo do que ele poderia fazer com você se descobrisse sobre a denúncia. Mas uma onda intensa de vergonha tomava conta do seu peito toda vez que você percebia o quão fraca e patética você tinha sido. Pelo menos, era isso o que você pensava.
— Não precisa ficar com vergonha — A voz de Levi lhe tirou de seus pensamentos, fazendo você voltar a olhar na direção dele — A maioria das mulheres não denúncia — Ele deu de ombros — E isso é completamente compreensível. Até um homem devia saber que fazer uma denúncia de relacionamento abusivo não é tão fácil assim — Seus olhos se arregalaram por um momento. Ainda que o Ackerman ainda mantivesse o olhar indiferente e expressão neutra, as palavras dele faziam uma sensação de conforto de instalar no seu corpo — E, mesmo que você não tenha feito isso antes, devia se sentir orgulhosa por estar fazendo agora.
Mais uma vez no dia, você desviou o olhar do dele, encarando o chão, sentindo algumas lágrimas quentes voltarem a escorrer pelas suas bochechas. Só que, diferente de antes, elas eram de alívio.
— Obrigada — Você praticamente sussurrou, perecendo que ele apenas acenou com a cabeça, mesmo que você ainda não olhasse para ele.
— Vamos abrir um chamado e ir atrás dele, mas preciso falar uma coisa antes — A voz de Levi quebrou o pequeno silêncio que havia se instalado, fazendo uma breve pausa, só tempo suficiente para que você voltasse a olhar nas íris azuis dele — A família de Floch é muito poderosa. Eles já se envolveram com alguns assassinatos antes, então pode ser que ele não seja preso.
Seus olhos voltaram a desviar dele logo depois. Você nunca teve coragem de denunciar o que Floch fazia para a polícia e um dos motivos para isso era justamente o poder que a família dele tinha. Já era um enorme passo você estar na delegacia abrindo um chamado contra o ruivo. Mesmo assim, você sentiu uma pontada forte no peito quando a ideia de tudo ser em vão se passou pela sua cabeça.
— Eu imaginei — Você respondeu, baixo, assim que percebeu que o Ackerman ainda olhava para você, atrás de uma resposta.
— Vamos fazer o possível para ele ser preso — Ele disse, quase como uma tentativa falha de lhe acalmar — Liguei para Erwin, ele não vai poder vir, mas disse que ia lhe ligar em uma ho-
A fala dele foi interrompida assim que vocês ouviram algumas vozes falando mais alto do lado de fora da sala. Levi até chegou a de levantar para ver o que era, mas, antes mesmo de começar a andar, a porta foi aberta de forma relativamente violenta. Você deu um pequeno pulo de onde estava, por causa do susto, até que os olhos assustados de Reiner pousaram em você e todo o seu corpo relaxou imediatamente.
O loiro entrou na sala, ignorando completamente a presença de Levi ali, e foi até você, lhe envolvendo nos braços fortes dele. Você apenas teve tempo de rodear o tronco dele com seus braços, antes de lágrimas pesadas, mas silenciosas, escorrerem pelo seu rosto.
Seus olhos se fecharam com força, de uma forma completamente involuntária. Logo depois, mais passos puderam ser ouvidos, fazendo você abrir os olhos novamente. Mesmo com a visão embaçada, você conseguiu facilmente reconhecer os rostos de Ymir, Annie e Bertolt, que tinham expressões tão preocupadas quanto a de Reiner,
— Ei, vocês não podem entrar assim — Um policial falou, irritado, enquanto entrava na sala, mas parou de falar assim que Levi levantou a mão para ele.
— Deixe eles a vontade — O Ackerman disse, pegando o bloco de notas que estava em cima da mesa e saindo da sala — Vamos — Disse ao policial, que assentiu com a cabeça e saiu junto com o mais baixo, deixando você e seus amigos sozinhos na sala, ainda abraçados, enquanto você chorava tudo o que estava segurando durante o questionário de Levi — Onde vocês deixaram o Yeager? — Ele perguntou assim que fechou a porta atrás de si, olhando para o outro homem.
— Na sala de interrogatório sete — O polícia respondeu, só voltando a falar quando o mais baixo assentiu com a cabeça — O que fazemos com ele?
— Nada.
— Mas ele agrediu dois policiais.
— Não vamos arrumar confusão por causa disso — Levi parou de andar e encarou o homem alto ao lado dele — Já sabemos das condições psicológicas dele. Quando ele estiver melhor, vai sair da sala sozinho.
O outro homem não insistiu, assentindo com a cabeça e voltando a olhar para frente. O Ackerman voltou a andar, só desviando o olhar do caminho quando passou por uma porta, lendo a placa que tinha escrito "interrogatório 7" nela.
Do outro lado da porta, Eren segurava com força na mesa, sentado na cadeira dura de metal. As gotículas finas de suor ainda escorriam pela testa dele, ao mesmo tempo em que ele tentava, desesperadamente, controlar a respiração. As mãos dele estavam frias, tanto por causa dos remédios que tinha tomado a vinte minutos, quanto pelo contato direto com a mesa fria de metal.
Talvez ter agredido dois policiais fosse trazer certos problemas para ele mais tarde, mas ele não poderia ligar menos. Tinha se segurado tempo o suficiente para trazer você até a delegacia, então, assim que deixou você nas mãos de Levi, explodiu de novo.
A raiva por alguém ter invadido sua casa e agredido você consumia a mente dele. Se Eren não tivesse saído da sua casa, nada disso teria acontecido, e ele se culparia pelo resto da vida.
Além de tudo isso, saber o nome do seu ex trouxe todo o passado caótico dele à tona. Floch Forster, o herdeiro da familia que matou a mãe de Eren e fez Grisha se suicidar na prisão. A ideia de a mesma pessoa culpada por todos os traumas da vida do moreno ser a mesma responsável pelos seus traumas era aterrorizante.
A respiração dele já estava ficando acelerada de novo, até que ele teve que fechar os olhos com força, tentando se controlar ao máximo. Somente quando o celular dele começou a vibrar em cima da mesa, foi quando o Yeager levantou a cabeça novamente, apenas para ler o nome de Zeke na tela do aparelho.
— O que foi agora? — Ele perguntou, irritado, assim que aceitou a chamada e colocou o celular perto do ouvido.
— Não precisa falar assim com o seu irmão — O tom de ironia do loiro só serviu para irritar ainda mais o moreno.
— Agora realmente não é uma boa hora, Zeke.
— Com você, nunca é — Mesmo que desse lado da linha, Eren conseguiu ouvir um suspiro fraco — Mas, o que foi? Quer que eu ligue pro médico?
— Só me diz o que caralhos você quer.
— Eu tô voltando pra cidade daqui a uma semana.
Por um momento, pareceu que toda a raiva sumiu do corpo do mais novo. As sobrancelhas dele se arquearam e os olhos arregalaram um pouco assim que ele processou a informação que havia recebido. Ainda assim, não demorou muito tempo para se recompor e voltar a falar.
— Por que? — Tentou parecer o mais natural possível.
— Assuntos de herança — Zeke mentiu, se negando a admitir que sentia falta do irmão mais novo e que estava preocupado com ele — E também recebi uma ligação da polícia, querem reabrir o caso dos nossos pais — Ele esperou uma resposta do moreno, mas essa nunca veio — Parece que o filho deles tá perseguindo uma garota aí.
— Eu sei disso.
— Como? — Agora, o mais velho não conseguiu esconder o tom de surpresa.
— A garota que ele tá perseguindo é a minha namorada.
— Puta que pariu — Zeke grunhiu, com raiva, não de Eren por estar namorando com você, mas pela família Forster estar mexendo com a namorada do irmão mais novo dele — Vamos dar um jeito nisso. Eu chego aí em poucos dias — Outro suspiro frustado — Só é uma porra porque eu vou ter que falar com o Capitão da polícia.
— Levi Ackerman?
— É — O loiro respondeu, estalando a língua logo em seguida — Não sei porquê, mas esse cara me odeia.
— Eu consigo fazer uma lista de motivos pra qualquer um te odiar — Eren disse, brincando, assim que acabou de dar uma risada alta.
— Eu sei que você me ama — O moreno não conseguiu negar — Enfim, eu tenho que ir. Te vejo em alguns dias.
— Até lá.
Assim que Eren tirou o celular do ouvido, conseguiu ver a chamada sendo encerrada. Só então, ele percebeu que toda a raiva que ele estava sentindo minutos antes tinha sumido. Poucas pessoas tinham esse efeito anestésico nele, e Zeke sempre foi uma delas.
Mesmo sendo sarcástico e irônico a maior parte do tempo, além de ter se tornado ausente na vida de Eren muito cedo, o moreno via no irmão mais velho a única família de sangue que tinha lhe sobrado. Ainda que ele considerasse Armin e Mikasa como irmãos legítimos, ele e Zeke eram os últimos Yeager que tinham sobrado.
— Pelo menos até eu ter um filho com ela — Eren sussurrou, esboçando um sorriso involuntário quando percebeu que, até nessas horas, os pensamentos dele sempre voltavam até você.
Mas, no segundo seguinte, o som de três batidas suaves na porta tomaram a atenção dele. Agora mais calmo, Eren sabia que teria que pedir desculpas aos policiais que agrediu, e já estava esperando um deles passar pela porta, até que arregalou os olhos quando viu você entrando por ela.
— Princesa? Você não devia tá com o Levi?
— Eu acabei de conversar com ele — Você respondeu, entrando timidamente na sala — Posso entrar?
O Yeager percebeu que seu olhar desviou levemente para as cápsulas de remédio em cima da mesa. Mas, mesmo assim, você nem vacilou na voz, o que acabou arrancando um sorriso dele.
— Claro que pode.
Assim que ouviu a resposta, você caminhou até onde o moreno estava, que se levantou assim que você chegou perto o suficiente, lhe envolvendo com os braços fortes dele.
— Você 'tá melhor? — Ele perguntou, encaixando o rosto no seu pescoço, deixando a cabeça repousar levemente no seu ombro.
— Uhum — Sua resposta saiu mais como um murmúrio — E você?
— Também — Ele respondeu, pouco antes de dar um suspiro cansado — Só vou ter que pedir desculpas pra dois policiais.
A fala dele arrancou uma risada divertida sua, o que fez ele esboçar outro sorriso, mais um em um dia tão agitando quanto esse estava sendo. Sua risada era uma das coisas preferidas do moreno, principalmente porque, quando vocês se reencontraram, você raramente sorria. Eren gostava de associar o motivo de você rir mais atualmente com ter encontrado com ele. E, por mais que na cabeça dele fosse uma mera associação, era o motivo real.
Vocês acabaram passando mais tempo do que esperavam nessa posição, abraçados e com o rosto do Yeager colado no seu pescoço. Você conseguia sentir a respiração dele, agora calma, entrando em contato direto com a sua pele, fazendo todos os pelos da área se arrepiarem.
A sensação de estar com ele era tão boa, que quase fez você esquecer que precisavam sair dali. Quase.
— A gente precisa ir — Você falou, no susto — Os outros 'tão esperando a gente lá fora.
— E você só fala isso agora? — Ele perguntou, em tom de brincadeira, depois de rir da sua pressa — Se emocionou tanto com o abraço que esqueceu dos outros, foi?
Na hora, você corou. Ainda que Eren fizesse esse tipo de comentário desde que vocês se reencontraram, você ainda ficava com as bochechas levemente avermelhadas todas as vezes.
— Eu amo quando você fica com vergonha — Ele disse, se aproximando de você e depositando um selinho demorado nos seus lábios, enquanto usava as duas mãos para segurar as laterais do seu rosto — Vamos — Completou, quando desfez o contato, pegando na sua mão em seguida e começando a sair daquela sala.
Você apenas o seguia, enquanto sentia as bochechas corarem ainda mais. Parecia até que Eren fazia isso de propósito. E realmente fazia.
Assim que vocês entraram no corredor, não foi muito difícil de achar onde os outros estavam, fazendo vocês dois se juntarem a eles logo em seguida.
— Certo, eu já acionei o chamado em cima de Floch e reabri o caso da família Yeager — Levi disse, assim que Eren acabou de cumprimentar os amigos — Mas ainda acho que você não devia voltar pra casa por um tempo — A fala dele fez você arquear levemente as sobrancelhas, surpresa.
— Mesmo ela morando com a gente? — Ymir perguntou, passando um braço pelos seus ombros, dando um pequeno abraço em você.
— Mesmo assim — O Capitão respondeu, com uma expressão não tão paciente — De preferência algum lugar que ele nunca tenha ido e que alguém sempre fique com você.
— Mas, eu-
— Eu concordo — A voz grossa de Reiner lhe interrompeu, fazendo você encarar o loiro alto — Aquele puto já invadiu o apartamento uma vez, ele consegue fazer de novo.
— Ela pode ficar lá em casa — O Yeager falou, fazendo todos os olhares pairarem sobre ele — Ela já vive lá mesmo — Deu de ombros — E eu posso ficar com ela o tempo que precisar.
— Eu não quero atrapalhar — Você começou a falar, mas, mais uma vez no dia, foi interrompida.
— Deixa de ser boba — Ele disse, esboçando aquele sorriso perfeito que você tanto amava — Vai ser um prazer.
— Mas eu preciso de roupas e-
— Faz uma lista do que você precisa — Annie lhe interrompeu, fazendo você encarar agora a loira de olhos azuis — Eu e Bertolt levamos mais tarde na casa do Eren.
Você desviou o olhar levemente para o namorado dela, que fez um sinal afirmativo com a cabeça, esboçando o meio sorriso simpático de sempre.
A ideia de passar um tempo morando com o Yeager era definitivamente assustadora para você. Não porque você estava com vergonha ou insegura. Depois de tanto tempo, você já não hesitava em fazer nada com o moreno. Mas morar juntos era um passo muito grande e, mesmo que fosse por pouco tempo, isso diria muito sobre o rumo que o relacionamento de vocês vai tomar.
— Combinado então — A voz de Levi lhe tirou completamente de seus pensamentos e, antes que você tivesse oportunidade para falar, ele continuou — Tenho que resolver algumas coisas agora. Você já vai direto pra casa dele daqui — Ele disse, olhando na sua direção — Qualquer coisa, você já tem o meu número.
Sem lhe dar tempo para retrucar, o baixinho virou de costas e saiu, visivelmente apressado.
— Obrigada por tudo, Capitão Levi! — Você basicamente gritou, se arrependendo no momento em que diversos outros policiais que estavam no local começaram a olhar na sua direção.
Envergonhada, você apenas virou o rosto, sem conseguir saber se o Ackerman respondeu ou não. Mas, você nem teve tempo de remoer isso, já que um braço passando por cima dos seus ombros fez você levantar a cabeça de novo.
— A gente devia ir — Eren disse, mostrando as chaves do carro que tinha em mãos.
Você assentiu com a cabeça e, depois de ir com seus amigos até o carro deles e se despedir de um por um, seguiu com o Yeager até o carro dele. Ficou surpresa que Reiner não fez nenhum protesto em você sair do apartamento, mas sabia que ele estava preocupado em você voltar para lá, além de que eles, com certeza, iriam na casa de Eren te ver todos os dias durante esse período.
— Sabe o que eu descobri? — O moreno perguntou, enquanto abria a porta do apartamento dele, quando vocês já chegaram no destino.
— O que?
— Levi e Mikasa são primos.
— Meu Deus — Você exclamou, em completa surpresa — Eu nem tinha me tocado de que o sobrenome deles é igual.
— Pois é, parece que é parentesco de terceiro grau ou algo assim.
— Isso explica o jeito marrento — Seu comentário arrancou uma risada por parte dele, que, assim que entrou no quarto, parou de andar e se virou para você.
— Me desculpa pelo que aconteceu mais cedo — De repente, o rosto dele tomou uma expressão sombria — Se eu não tivesse te deixado sozinha.
Ele parou de falar assim que sentiu suas mãos quentes segurarem as bochechas dele, fazendo seus olhos se encontrarem, com apenas alguns centímetros afastando vocês.
— O que aconteceu não foi culpa sua — Você disse, firme, sem desviar os olhos — O único culpado disso tudo é Floch. Na verdade, você que me salvou do meu passado traumático com ele, então para de achar que você tem algum dedo de culpa nisso.
— Certo — Ele respondeu, depois de esboçar um sorriso de alívio, roubando um selinho seu logo em seguida — Mas nem esquenta, eu nunca mais vou deixar aquele cara encostar um dedo no que é meu.
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