𝚝𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢 𝚝𝚑𝚛𝚎𝚎

A leve pressão que o soco de Mikey fez no ar pôde ser sentida em sua bochecha e, se você tivesse desviado um segundo depois, teria levado um belo golpe na lateral do rosto. Mesmo tendo errado, o loiro não parou e continuou avançando em você, sem parar.

O comandante atacava sempre que tinha uma brecha, não lhe dando tempo nem para pensar em revidar. Os socos ele eram relativamente fáceis de desviar, mas quando ele usava a perna para dar chutes, você era obrigada a bloquear o ataque com os braços, tendo que fazer muita força nas pernas para não cair para trás.

Você se concentrava em manter os pés estáveis, ao mesmo tempo em que seus braços protegiam o seu rosto e tronco. Somente quando ele virou o corpo de lado para acertar um chute lateral, você virou os braços e impediu que o chute fosse certeiro, amenizando o impacto.

Sua respiração estava ofegante e as gotículas de suor já começavam a irritar os seus olhos. Você e Mikey estavam ali, lutando, a mais de trinta minutos e, aparentemente, nenhum dos dois desistiria tão cedo.

Um sorriso divertido tomou conta dos lábios dele quando percebeu que sua respiração estava ficando cada vez mais descompensada. Mesmo cansada, você fez questão de sorrir de volta, até porque, por mais que o comandante soubesse disfarçar, você sabia que ele também estava exausto.

— Acabem logo com isso — Baji gritou, do sofá onde estava deitado, enquanto mexia no celular — Já faz meia hora que vocês tão nessa brincadeira.

— Cala a boca, Baji — Mitsuya interrompeu, recebendo alguns xingamentos do moreno em resposta — Eu apostei cinquenta no Mikey.

— 'Tá vendo, [Nome]? — Foi a vez de Kazutora perguntar, com um sorriso divertido no rosto — Só eu sou seu amigo de verdade e apostei em você. Então trata de ganhar, 'tá?

O comentário brincalhão dele foi o suficiente para fazer você desviar minimamente a atenção. E, foi exatamente nesse mísero segundo de distração, que Mikey rodou o corpo e conseguiu dar um chute bem na lateral da sua costela esquerda.

Desequilibrada, você caiu no chão, suspirando, frustrada, por ter perdido a luta. Logo em seguida, uma gritaria tomou conta da grande sala de estar, algumas felizes por você ter perdido e outras irritadas por perderem dinheiro. Você revirou os olhos quando Mikey estendeu a mão para você, mas aceitou a ajuda e ficou de pé novamente.

— Você é um ossinho duro de roer — O loiro falou, rindo da sua expressão logo em seguida — É muito chato lutar com você.

— Não é como se você fosse dos mais fáceis, também.

Seu comentário arrancou outra risada do loiro e, antes que você percebesse, vocês dois já estavam rindo juntos, um da cara do outro.

— [Nome]! — A voz do seu irmão fez você parar de rir e se virar na direção dela, vendo o loiro vir até você, com uma expressão nitidamente preocupada — Você 'tá bem?

— 'Tô sim — Respondeu, indo até ele e pegando uma toalha que ele lhe oferecia, a usando para enxugar a testa suada — Manjiro não pegou tão pesado comigo.

— Claro — O comandante disse, brincalhão, dando de ombros — Se eu bater na namorada do Ken-chi, ele me mata.

— Eu nem preciso me dar o trabalho — A voz de Draken fez você virar para trás, pouco antes de sentir sua cintura ser segurada e um beijo ser dado no topo da sua cabeça — Ela te mata antes disso.

A fala dele fez você soltar uma risada divertida, enquanto o mais baixo tentava se defender, dizendo que você não conseguiria matar ele, nem se tentasse.

— Ei, [Nome] — Você se virou na direção do seu irmão, assim que a voz dele atingiu os seus tímpanos — Você não tinha que sair hoje?

— Tenho — Respondeu, verificando a hora no relógio que tinha no seu pulso — Vou só tomar um banho e sair.

— Pra onde você vai?

— Encontrar um amigo da faculdade.

— Aquele que você vive encontrando pra estudar?

— Ele mesmo.

— Tem certeza de que é seguro ir lá sozinha? — A voz do seu irmão continha clara preocupação.

Você sabia que, depois de perder o pai de vocês e a sua mãe ter que viajar para longe, Takemichi tinha muito medo de te perder também. Mas você não pretendia deixar o caçula sozinho de novo, nem tão cedo. Por isso, você colocou um sorriso reconfortante no rosto, antes de responder.

— Não precisa se preocupar — Sua voz era meiga e mais calma do que o normal, enquanto você olhava nos olhos dele, ao ponto de conseguir ver vagamente o próprio reflexo — Nada vai acontecer e, mesmo que aconteça, não existe nada que sua irmã não consiga lidar.

O loiro apenas assentiu com a cabeça e, mesmo que tivesse se convencido minimamente de que tudo ficaria bem, algo na mente dele martelava dizendo para não deixar você ir. Mas, como geralmente não acreditava muito em si mesmo, ele imaginou que fosse somente coisa da cabeça dele e ignorou.

— Eu vou lá tomar um banho — Você disse, olhando novamente a hora no relógio e vendo que, se demorasse mais, iria acabar se atrasando para estudar com Kisaki — A gente se vê mais tarde.

Você deu um beijo na bochecha do seu irmão e, depois de implicar rapidamente com Kazutora por ter feito você perder a luta, subiu as escadas principais e foi até o seu quarto.

O banho foi mais rápido do que você gostaria, servindo apenas para tirar todo o suor do seu corpo e lavar o seu cabelo. Ainda, você se apressou na hora de passar hidratante no corpo, escovar os dentes, pentear o cabelo e trocar de roupa. Mesmo assim, olhou a hora novamente no celular e viu que já estava atrasada.

Quase correndo, você pegou os materiais que usaria para estudar essa tarde e jogou tudo em uma bolsa, se apressando em sair do quarto logo em seguida.

Mitsuya! — Você gritou, assim que entrou na sala de estar novamente, que, agora, já não tinha mais ninguém.

— Fala — O platinado disse, saindo da cozinha e vindo na sua direção, com uma maçã nas mãos.

— Me leva lá na cidade? — Você perguntou, com uma voz manhosa e pidona, já sabendo que a primeira resposta dele seria "não".

— Na moral, [Nome]? — Ele perguntou e esperou você concordar repetidas vezes com a cabeça — Puta que pariu — A fala dele foi misturada com um suspiro cansado, até que ele fez um sinal com a cabeça na direção da porta — Vamo logo.

Um sorriso agradecido e exatamente feliz tomou conta de seus lábios. Basicamente pulando, você acabou de descer as escadas e seguiu o platinado até a garagem, onde você entraram no Audi A3 branco dele e saíram de lá.

— Vai estudar com aquele cara de novo? — Mitsuya perguntou, sem tirar os olhos da estrada.

— Uhum — Respondeu, verificando na bolsa se tinha trazido tudo o que precisava — A gente tem um seminário pra apresentar antes do período acabar.

— Vocês tem passado muito tempo juntos — Ele falou, sugestivo — Quando vê, ele é afim de você.

— Não não — Você disse, rindo da ideia — Somos só amigos.

— Beleza, então — Finalmente, o platinado desviou os olhos da rua e lhe encarou por alguns segundos. Era visível o traço de preocupação no rosto dele. Cada dia que se passava eles ficavam mais preocupados com o que a Valhalla estava tramando contra você. Além disso, agora tinha Hiroshi, que, até onde eles sabiam, estava solto novamente e com a intensão de encontrar com você de novo — Se acontecer qualquer coisa...

— Ligo pra vocês na hora — Você completou, o interrompendo, mas arrancando um sorriso divertido por parte dele — Eu já sei disso, não precisa se preocupar. Além do mais, eu sou osso duro de roer — Brincou, fazendo o platinado rir alto.

O resto do caminho vocês passaram ouvindo música e conversando sobre assuntos mais leves. Mitsuya falava como estava o novo curso de moda dele, que, inclusive, combinava muito mais com ele do que o curso de música. Além disso, vocês também conversavam sobre assuntos diversos da gangue. Cada vez mais, você era introduzida ao mundo deles e, quando menos esperava, já estava dando opiniões sobre como eles deveriam proceder em alguns casos.

Por mais que a ideia de uma gangue ainda fosse um tabu muito grande para você, não tinha como deixar de admitir que a Touman era diferente das outras gangues que você já conheceu. Além disso, a ideia de deixar todas as pessoas que você conheceu e convive cotidianamente já era absurda para você. Não tinha como você se afastar daquelas pessoas, por mais que elas fizessem parte de uma gangue.

— Chegamos — A voz de Mitsuya tirou você de seus pensamentos, fazendo você perceber que a viagem pareceu ser bem menor do que foi — Pode me ligar quando quiser que eu venha te buscar.

— Baji disse que vinha, porque ele tem algumas coisas pra resolver perto daqui — Você respondeu, desatacando o cinto e se inclinando na direção do platinado para deixar um beijo na bochecha dele — Mas, obrigada. A gente se vê em casa — Continuou, abrindo a porta do veículo e saindo dele, falando, pela última vez, antes de fechá-la — E obrigada pela carona.

Antes que ele pudesse responder, você já tinha fechado a porta do carro e, praticamente, corrido na direção da lanchonete de sempre.

Um sorriso involuntário tomou conta dos lábios de Mitsuya quando ele percebeu algo no que você tinha acabado de falar. Mesmo assim, o platinado deu partida no carro e saiu de lá, voltando para a mansão da Touman. Os pensamentos dele ainda fluíam longe, somente sendo interrompidos pelo som do celular dele tocando no bluetooth do veículo.

— Fala aí — Ele disse, assim que atendeu a chamada.

— Deixasse ela lá? — A voz facilmente reconhecível de Draken preencheu todo o carro, fazendo uma risada divertida escapar dos lábios de Mitsuya, quando viu o tom de preocupação do amigo.

— Deixei — Respondeu, ficando sério logo em seguida — Antes de ir embora, ela falou uma coisa.

— O que?

— Que a gente se encontrava em casa.

— E o que tem demais nisso?

— Ela já tinha se referido à mansão como "casa"? — A pergunta dele ficou no ar por alguns longos segundos, colocando aquele mesmo sorriso divertido de volta nos lábios dele — Achei que não — Disse, quando percebeu que o loiro não iria responder à pergunta — Já já eu chego aí e a gente joga um Fifa.

Beleza — Finalmente, Draken voltou a falar — Falou.

Logo depois ele desligou. Mitsuya sabia que o fato de você estar tão familiarizada com tudo ao ponto de chamar a mansão de "casa" era muito importante para o Ryuguji. Por isso, o platinado fez todo o resto do percurso de volta com um sorriso satisfeito no rosto.

— Você chegou — Kisaki falou, assim que você se sentou no sofá na frente dele.

— Me desculpa, de verdade, pelo atraso.

— Não tem problema — Ele respondeu, olhando a hora no relógio — Não faz nem vinte minutos que eu cheguei.

— Você já pediu alguma coisa?

— Pedi um café gelado pra mim e aquele milkshake de ovomaltine que você sempre pede.

— Obrigada — Você respondeu, com um sorriso educado, enquanto tirava os materiais da bolsa, incluindo o notebook — Já sabe o que você vai apresentar no seminário?

— Não tudo, pra falar a verdade.

— Beleza — Com pressa, você desbloqueou o notebook, indo para a pasta sobre o trabalho de vocês, não tendo nenhuma dificuldade em localizar a parte do loiro — A gente pode começar por isso, então.

— Certo.

Durante vários minutos, vocês dois discutiram sobre a matéria e, por mais que tivesse conseguido enganar bem você, Kisaki não teria ideia sobre o que estava falando, se não tivesse passado a madrugada passada estudando sobre isso. Tudo teria que correr perfeitamente bem hoje, para que você fosse finalmente capturada pela Valhalla.

Enquanto você falava despreocupadamente sobre um trabalho que, supostamente, vocês apresentariam na próxima semana, o loiro recebia um sinal discreto com a cabeça de um dos homens que estava trabalhando no balcão, que, por coincidência, era da Valhalla, avisando que Mitsuya tinha saído com o carro e você estava, finalmente, sozinha.

— Você entendeu?

— Desculpa, o que? — A pergunta dele fez você soltar uma risada baixa.

— Você entendeu o que eu acabei de falar, sobre a sua parte do seminário?

— Mais ou menos — Admitiu, fingindo perfeitamente uma expressão de envergonhado.

— Vou explicar de novo — Você disse, apontando para o texto no notebook — Mas presta atenção, 'tá?

O loiro concordou com a cabeça e, finalmente, começou a prestar atenção de verdade no que você estava falando. As vezes, ele olhava de relance na sua direção, se divertindo com a força despreocupada que você estava levando esse encontro. Mal você sabia que, em pouco tempo, estaria nas mãos dele.

Todo o plano dele tinha levado mais tempo do que ele imaginaria. Implantar a ideia de mudar de curso na caneca de Baji e Mitsuya já tinha sido difícil. Entrar na sua sala e virar seu amigo foi mais fácil ainda. Por mais que hoje vocês se dessem completamente bem, melhor dizendo, você se dava completamente bem com a versão que Kisaki criou para ser seu amigo, no início foi bastante difícil de se aproximar de você, principalmente pelo fato de você já saber que a Valhalla estava atrás de você.

Além disso, o loiro passou muito tempo fazendo esse teatrinho de bom amigo para, finalmente, conseguir uma brecha perfeita para te carregar. As coisas estavam dando certo demais para ele e tudo levava a crer que o final da Touman estava muito próximo.

Kisaki só queria poder ver a expressão de Draken quando ele descobrisse que você tinha sido levada pela Valhalla.

Atchim! — Ken espirrou, franzindo as sobrancelhas quando percebeu que não estava doente.

— Alguém deve 'tá falando de você — Mikey brincou, sem tirar os olhos da televisão, jogando videogame.

— Isso é superstição — Foi a vez de Baji falar, também sem desviar da tela na frente dele.

— Deve ser a [Nome] contando pro amigo sobre como o namorado dela é ruim de cama — A brincadeira de Kazutora arrancou risadas de quase todos os presentes na sala, menos do próprio Draken.

— Falando nisso — O loiro alto perguntou, franzindo as sobrancelhas levemente — Como é o nome dele, mesmo?

— Sei lá, cara — Mikey respondeu.

— Também não sei — Depois, Takemichi.

— Não me lembro se ela já falou — Por fim, Kazutora.

— Tem alguma coisa errada — Ken disse, se levantando do sofá e pegando o celular em cima da cabeceira.

Algo no interior dele dizia que algo não estava certo. Você estava saindo com esse amigo a bastante tempo e Draken ainda nem conhecia ele. Não que você tivesse que apresentar todos os seus amigos para o seu namorado, mas era estranho eles nunca nem terem se esbarrado, mesmo que o Ryuguji fosse lhe buscar nesses encontros para estudar.

Com esse pensamento em mente, o loiro desbloqueou o celular e foi até o seu contato, ligando para ele logo em seguida. Agora, a única coisa que ele precisava saber era quem é o seu amigo.

Atchim!

— Saúde — Você disse, assim que Kisaki parou de espirrar — Alguém deve estar falando de você.

— Isso é superstição — Ele respondeu, arrancando uma risada divertida sua — Então, nessa parte eu falo...

O som do seu celular tocando o interrompeu. Rapidamente, você pegou o aparelho e estava decidida a ignorar a chamada, até ler o nome de Ken na tela.

— Me desculpa, eu tenho que atender — Você disse, olhando novamente para o loiro — Mas é rápido.

— Fica a vontade.

Com um sorriso agradecido, você aceitou a chamada, colocando o celular bem próximo ao ouvido.

E aí? — Draken falou, assim que percebeu que você tinha atendido.

— Oi — Você respondeu, franzindo levemente as sobrancelhas — 'Tá tudo bem?

'Tá sim — Ele disse, meio sem jeito — Só queria saber se você 'tava legal.

'Tô sim.

E como você volta pra cá?

Baji disse que podia me buscar — Você não entendia o porquê de o loiro estar fazendo perguntas que ele já sabia a resposta. Além disso, ele sabia que você estava fazendo um trabalho importante, então não ligaria por nada.

Beleza — Mais uma vez, a voz dele estava estranha, como se ele estivesse sem jeito para falar — Bom trabalho aí pra você e seu amigo. Como é o nome dele mesmo?

Kisaki.

Assim que você respondeu, um sorriso divertido tomou conta dos lábios do homem na sua frente. Ao mesmo tempo, os olhos de Draken se arregalaram mais do que ele imaginava que seria possível. Em somente um segundo, tudo tinha virado de cabeça para baixo.

[Nome], sai daí! — Ele gritou, do outro lado da linha — Tetta Kisaki é o comandante da Valhalla!

Seus olhos subiram para o homem na sua frente, mas sua expressão não mudou em nada. O sorriso no rosto dele deixava evidente que, realmente, você estava fodida.

Rapidamente, sua atenção foi desviada para a bolsa, pensando em pegar ela e sair correndo dali, enquanto Draken ainda gritava no seu ouvido.

— Nem pense nisso — Kisaki disse e, na mesma hora, todas as pessoas que estavam na lanchonete, sejam os funcionários ou clientes, apontaram armas na sua direção.

Olhando ao redor, você finalmente percebeu que só haviam homens dentro do estabelecimento. Todos eles membros da Valhalla.

Kisaki fez um sinal com a mão, para que você entregasse o celular. Relutante, mas pressionada por causa da quantidade de armas apontadas na sua direção, você entregou o aparelho, devagar.

— Oi, Draken — O comandante da Valhalla disse, assim que colocou o aparelho perto do ouvido — Raptei sua princesa encantada — Você não conseguia ouvir o que seu namorado dizia, mas, pelos altos ruídos, você sabia que ele estava gritando — Quer ela de volta? — O loiro ironizou, com um sorriso convencido no rosto — Então vem buscar.

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