𝚝𝚠𝚎𝚗𝚝𝚢 𝚘𝚗𝚎

Hiroshi? — O nome dele quase não saiu de seus lábios, que estavam extremamente secos.

Você conseguia sentir a pulsação do seu coração irradiar por todo o seu corpo, causando uma sensação desagradável. A ansiedade tomava conta da sua mente, enquanto você via o homem de cabelos negros e olhos verdes se aproximando de você, com aquele mesmo sorriso despreocupado que já lhe encantou tantas vezes.

— Nossa, quanto tempo — Ele disse, colocando as mãos no bolso da frente do casaco moletom que usava, parando a poucos metros de você — Como você tem passado?

Seus olhos ainda estavam arregalados e todo o seu corpo estava estático, como se tivesse parado no tempo. As palavras que ele falava eram lentamente processadas pela sua mente, que estava ocupada demais tendo uma crise interna. Somente quando ele soltou uma risada divertida, obviamente por causa da sua surpresa, você conseguiu piscar repetidas vezes e limpar a garganta, antes de responder:

— Eu 'tô bem — Assim que as íris verdes dele se voltaram para os seus olhos novamente, você foi obrigada a desviar — Não sabia que tinha saído da prisão — Basicamente sussurrou a última parte, se condenando amargamente por parecer tão fraca na frente daquele homem.

— Eu acabei de sair — Hiroshi deu mais um passo na sua direção, diminuindo ainda mais a distância entre vocês, fazendo um frio desconfortável percorrer todo o seu estômago — Tentei ligar pra sua casa algumas vezes de lá, mas seu irmão sempre dizia que você não estava.

— Deve ser porque eu passei um tempo nos Estados Unidos — Você respondeu, depois de respirar fundo e, só então, encarar as íris verdes de novo — Eu voltei faz só alguns meses.

— Você foi pros Estados Unidos e nem me avisou? — As sobrancelhas ele estavam franzidas e o tom de raiva não conseguiu passar despercebido por você, mas, em questão de segundos, ele balançou levemente a cabeça e colocou aquele mesmo sorriso despreocupado no rosto de novo — Eu 'tava na cadeia, então não tinha muito o que fazer.

Uma risada leve e divertida saiu dos lábios dele, mas você ainda tinha as sobrancelhas meio serradas. Esse homem na sua frente era, com certeza Hiroshi. A fisionomia e traços não mentiam. Mesmo que ele tivesse mudado um pouco durante o período em que ficou preso, não seria o suficiente para fazer você não reconhecer o primeiro amor da sua vida. Mas, então, por que você tinha a sensação de que estava conversando com outra pessoa?

Era como se cada palavra que saísse da boca desse homem fossem mentiras baratas. Nada dele fazia você lembrar do Hiroshi que tomou todo o seu coração por tanto tempo. Mesmo assim, você sabia que era ele.

Sua cabeça estava mais pesada do que o normal e, por uma fração de segundos, todos os outros problemas pelos quais você estava passando agora sumiram da sua mente. A única coisa que ocupava os seus pensamentos era o homem parado bem na sua frente, com o sorriso galanteador de sempre.

Somente quando você sentiu o seu celular vibrando dentro da sua bolsa, você saiu dos seus pensamentos e pegou o aparelho eletrônico, apenas para ver o número de "Ken" lhe ligando. Você apertou somente uma vez no botão de desligar o aparelho, apenas para que o celular parasse de vibrar, mas a chamada continuava lá.

Por mais que você só quisesse correr para os braços do seu namorado agora, Hiroshi é uma parte da sua vida que você precisava encarar de frente e, finalmente, deixar para trás de vez. Ainda que você já tivesse cortado qualquer tipo de laço quando ele foi preso, somente em falar sobre esse homem já era difícil para você. E não deveria.

Você já tinha percebido que Hiroshi não era o amor da sua vida no momento em que percebeu que estava completamente apaixonada por Ken Ryuguji. E, por isso, você precisava encerrar esse capítulo de uma vez por todas. Só assim, você estaria 100% livre para seguir em frente com Draken, até o fim.

— Hiroshi, eu...

— Por que não me ligou? — Sua fala foi interrompida pela pergunta dele, que fez você voltar a encarar as íris verdes, com os olhos arregalados, em completa surpresa — Eu fiquei meses esperando uma simples ligação sua e ela nunca chegou.

Sua boca se abria e fechada repetidas vezes, mas sua mente não conseguia processar uma resposta diante daquela pergunta.

— Sabe como é difícil encarar a vida lá dentro? — Ele continuou, assim que percebeu que você não responderia — Eu fiquei sozinho, [Nome]. Tudo o que eu tinha era você e você simplesmente me abandonou.

Aquele sorriso não estava mais lá. Apenas uma expressão de tristeza e melancolia, que quebraria o coração de qualquer um que a visse. Mas, então, por que você não estava de coração partido? Por que todas as palavras que saiam da boca dele pareciam falsas?

— Você não tem nem ideia do quanto eu sofri esperando por você, não é? — As palavras dele atingiam os seus tímpanos como repetidas facadas, fazendo sua mente pesar de raiva — Alguma vez sequer você pensou em mim desde que eu fui preso?

— Como é? — Finalmente, você levantou o tom de voz, com as sobrancelhas franzidas, e nem tentou esconder a raiva que começava a consumir o seu corpo — Hiroshi, você mentiu pra mim durante todo o nosso relacionamento!

— Se eu tivesse contado que eu fazia parte da gangue, você continuaria comigo?

— Claro que não — Você respondeu, como se fosse óbvio.

— 'Tá vendo? — Ele lhe interrompeu, antes de soltar uma risada sarcástica.

— Você sabia o que tinha acontecido com o meu pai — Sua voz começou a ficar ainda mais alta e, quando vocês menos perceberam, já estavam gritando um com o outro — E, mesmo assim, resolveu esconder isso de mim!

— Seu pai era um merda, [Nome] — Uma das mãos dele saíram do bolso do casaco e, quando você se tocou, um dos dedos dele já estava bem próximo do seu rosto — Não me compare com ele.

— Ele pode ter sido o merda que for — Involuntariamente, você deu um tapa na mão dele, afastando o dedo do seu rosto, e deu mais um passo na direção dele — Mas ele nunca mentiu sobre o que fazia pra a família dele. Já você, foi covarde o suficiente pra esconder isso da sua própria namorada.

— Você teria terminado comigo!

— Eu teria terminado com você de todo jeito!

Agora, os seus rostos estavam muito próximos um do outro. Hiroshi não tinha mais aquele sorriso convincente no rosto, apenas as sobrancelhas franzidas, demonstrando toda a raiva que estava sentindo no momento. Do mesmo jeito, você nem tentava esconder a indignação que aflorava em seu peito.

Seu pai tinha muitos defeitos, mas ele sempre foi honesto com você e Takemichi. E isso era algo que ninguém iria tirar da memória dele.

— Seu pai fazia a mesma coisa que eu — O de cabelos negros disse, se afastando levemente de você, dando um passo para trás — Por que você aceitava ele, mas me condenou?

— Ele nunca tentou matar ninguém — Você ouviu o suspiro cansado de Hiroshi e o vou revirar os olhos, mas não deu chance para ele voltar a falar — Você pode achar isso um motivo idiota o quanto quiser, mas é exatamente assim que eu me sinto. Meu pai já participou de diversos assaltos e já brigou com muita gente, mas ele nunca tentou tirar a vida de ninguém.

— Em que mundo de contos de fadas você vive, [Nome]? — A pergunta dele fez você franzir ainda mais as sobrancelhas — Acha mesmo que seu pai era tão bonzinho quanto você pensa?

— Você fala demais — Dessa vez, foi você quem revirou os olhos — Quero ver você me mostrar que ele realmente matou alguém.

— Mesmo que ele não tenha matado — O homem mudou de assunto, fazendo você perceber que ele não tinha nenhuma prova do que estava falando — Eu nunca matei ninguém.

— Mas tentou.

— Mas ele não morreu — O tom de ironia transbordava na fala dele, fazendo você ficar cada vez mais irritada.

— Ainda bem pra ele — Você devolveu no mesmo tom de deboche — E isso não anula o fato de você ter tentado tirar uma vida, [Hiroshi].

— Eu soube que Takemichi entrou pra uma gangue — Só o fato dele ele ter falado o nome do seu irmão com esse tom sarcástico que ele estava usando, foi o suficiente para fazer você sentir ainda mais raiva do que antes — Acha mesmo que nunca vai chegar em um ponto em que ele vai ter que matar alguém?

— Takemichi não é assim...

— Você é ingênua pra caralho — Ele lhe interrompeu, enquanto soltava outra daquelas risadas sarcásticas que já estavam lhe dando nos nervos — É claro que esse dia vai chegar. E, quando chegar, eu vou 'tá aqui pra se você precisar de um ombro pra chorar.

— Você é o que? Idiota? — A raiva já consumia completamente a sua mente e seu tom já estava totalmente descompensado — Nem ouse começar a falar do meu irmão! Ele sempre foi infinitas vezes mais homem do que você era! Nem venha tentar começar a me convencer de que, um dia, ele vai se tornar tão imbecil quanto você!

Quem é que você chamou de imbecil? — Assim que acabou de falar, Hiroshi pegou firme no seu pulso, claramente puto.

Sem nem pensar direito, você pegou o braço dele e torceu para fora do seu corpo, o obrigando a lhe soltar e fazer uma expressão de dor.

Eu chamei você de imbecil — Respondeu, soltando o braço dele, sem desviar das íris verdes, nem por um segundo.

Você deu as costas para ele e foi até o freezer de antes, o abrindo e tirando de lá um pote de sorvete do sabor que Kazutora tinha pedido. Já decidida a sair de lá de uma vez por todas e deixar toda essa conversa para trás, a voz do seu ex atingiu novamente os seus tímpanos:

— Você era o meu mundo, [Nome] — Uma risada sarcástica saiu dos lábios dele e, pela primeira vez, você sentiu que ele estava sendo sincero — E, o pior de tudo, é que eu ainda te amo.

Dessa vez, você tinha plena convicção de que seus olhos não podiam arregalar mais do que já estavam arregalados. Todas as memórias que você tinha do seu namoro com Hiroshi vieram à tona como um tiro no meio da sua testa. As lembranças boas e ruins lhe atingiram de uma só vez, fazendo sua cabeça girar com tanta informação.

Hiroshi tinha sim sido o seu primeiro amor e, por muito tempo, você não acreditava que um dia iria conseguir encontrar alguém por quem você seria tão apaixonada quanto era por ele. Mas, esse pensamento mudou quando Draken entrou na sua vida e, agora, a palavra amor só fazia sentido quando você estava com o Ryuguji.

Devagar, você se virou na direção dele, mas, a expressão de sofrimento que você viu no rosto dele era, claramente, falsa. Você não sabia os motivos de Hiroshi estar mentindo sobre todas essas coisas e, sinceramente, nem se importava. Quando parou para pensar a respeito, você percebeu que estava frente a frente com ele, e você não tinha mais vontade de correr.

Encarar ele não era mais algo que atormentava os seus pensamentos. Você simplesmente não ligava.

Eu realmente gostava de você — Suas palavras fizeram as íris verdes focarem nos seus olhos mais uma vez — Na verdade, eu amava você — Consertou, soltando uma risada sincera — E o motivo por eu ter te deixado não foi porque eu descobri que você entrou pra uma gangue — Deu de ombros, desviando levemente o olhar — Você tem até razão em algumas coisas. Eu não odiava meu pai por ele participar de uma gangue, muito menos o meu irmão. Quando eu soube que Takemichi tinha entrado pra Touman, eu não fiquei com raiva, fiquei assustada, não simplesmente por ser uma gangue, mas pela possibilidade de ele se tornar alguém como você — As sobrancelhas de Hiroshi estavam franzidas e, só quando você percebeu isso, mais uma risada escapou de seus lábios, antes de você voltar a explicar — O problema nunca foi vocês fazerem parte de gangues, o problema era o que vocês iriam se tornar nelas.

E o que eu me tornei?

Um assassino — Você respondeu, sem nem precisar pensar muito, pouco antes de dar de ombros novamente — Mas eu sei que o Takemichi não vai ser igual a você. Eu confio nele.

— E confia no seu novo namoradinho também?

A pergunta dele arrancou o sorriso que você tinha no rosto. Você não sabia se Hiroshi estava blefando ou se ele realmente sabia sobre o seu namoro com Draken. Mas, isso não seria possível, já que ele acabou de sair da cadeia. Não é?

— Que namoradinho? — Para sua sorte, você sempre soube mentir como uma profissional, mas, para o seu azar, Hiroshi já sabia de tudo.

Imagina o quão surpreso eu fiquei quando descobri que você começou a namorar com o vice comandante da Touman — Por mais que você sentisse uma pontada de raiva no tom dele, Hiroshi tinha o sorriso convencido de volta no rosto — E eu aqui achando não ia ter mais chance com você porque eu sou gângster.

— Você não tem mais chance comigo.

— E qual a diferença entre eu e ele? — O de cabelos negros deu um passo na sua direção, voltando a levantar o tom de voz — Ou vai me dizer que você acha que O Draken nunca fez nada de errado?

— Não fala dele assim...

— O que foi? — Ele debochou, na bem próximo de você — Peguei em um ponto fraco? — Devagar, ele aproximou o rosto do seu ouvido, sussurrando logo em seguida — Caras como ele só brincam com garotinhas que nem você.

Do mesmo jeito que antes, Hiroshi se afastou do seu ouvido, voltando a ficar na sua frente. O sorriso no rosto dele já estava começando a tirar toda a sua paciência e a única coisa que você queria agora era quebrar um dos braços dele. Mas, ao invés disso, você respirou fundo e colocou o mesmo sorriso debochado que o dele.

— Eu agradeço por você se importar tanto com minha felicidade — Falou, tão irônica quanto ele — Mas eu estou bem, obrigada.

— Isso é sério, [Nome] — De repente, ele ficou sério, e, mais uma vez, você sentiu que todas as palavras eram mentiras — Aquele cara não pode te fazer feliz do jeito que eu fiz.

— Não — Você falou, logo de cara, não dando tempo para ele continuar — Ele não pode me fazer feliz do jeito que você fez — Enquanto falava, você sentiu o seu celular vibrar mais uma vez, lendo o nome de Draken na tela bloqueada — Ele vai me fazer muito mais feliz do que você fez.

Você olhou mais uma vez na direção de Hiroshi, percebendo que a expressão de tristeza no rosto dele era totalmente falsa. Não sabia explicar o porquê de ele estar atuando tanto agora, e nem queria saber.

Somente quando você percebeu que o pote de sorvete que tinha em mãos já estava derretendo, você se virou de costas mais uma vez, virando apenas a cabeça para trás, antes de falar:

Adeus, Hiroshi.

Depois disso, você se virou de vez e começou a andar, sentindo algumas lágrimas pesadas rolarem pelo seu rosto. Sem nem perceber, estava segurando uma vontade imensa de chorar todo esse tempo. Mesmo que ele lhe chamasse de novo, você não viraria para trás. Mas ele não chamou.

Seu peito doía ao saber que o homem que você tanto amou tinha se tornado tão bruto e falso. Era como se você nem tivesse conversado com o seu ex, e sim com um estranho qualquer. As lágrimas já encharcavam o seu rosto, por mais que você as enxugasse a cada segundo. Tinha sido o fim oficial de uma parte extremamente importante da sua vida, mas você finalmente sentiu como se tivesse conseguido deixar tudo isso para trás.

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