𝚝𝚑𝚒𝚛𝚝𝚎𝚎𝚗
— Vamos colocar as cartas na mesa, de uma vez por todas.
Você puxou uma cadeira e se sentou nela, de uma forma que conseguisse encarar todos ali presentes. Um silêncio ensurdecedor tomou conta de toda a sala, fazendo alguns deles ficarem até constrangidos. No geral, você e Mikey se encaravam, não de um jeito agressivo, mas como quem exigisse respostas.
Por mais inacreditável que parecesse, você não estava nem um pouco nervosa. Queria entender o que estava acontecendo e o porquê de seu irmão mentir para você daquela forma. A curiosidade falava mais alto que a raiva.
— E então? — O comandante começou a falar, atraindo toda a atenção para ele, que não desviava os olhos dos seus — Por que escondeu da gente que tinha falado com o Henma?
— Eu sabia que vocês estavam escondendo alguma coisa — Você respondeu, depois de dar de ombros — Naquele dia do beco, ele disse que me contaria tudo, então eu fui até ele.
— Consegue perceber a merda que isso foi? — Baji perguntou, claramente puto — Caralho, [Nome], Henma é um dos caras mais perigosos de Tokyo e você foi correndo pra ele, como se nada.
— Confesso que a ideia foi bem idiota, mas se vocês tivessem aberto o jogo desde o início, eu não teria precisado ir até um completo estranho pra saber sobre o segredo do meu irmão e meus amigos.
Sua fala fez um pequeno silêncio pairar no ar. Todos ali presentes sabiam que os dois lados tinham errado, mas eles erraram primeiro. E, por causa disso, você poderia ter acabado em sérios problemas, presa com Henma até agora.
— O que aconteceu lá? — Mais uma vez, o loiro baixo falou, nem um pouco abalado — Na casa do Henma?
Você suspirou fundo antes de responder a pergunta, mas não escondeu nada. Já que estavam abrindo o jogo, você contaria toda a verdade. Contou o que aconteceu entre você e Draken na sua casa, sobre como expulsou ele e ligou para o líder da Valhalla porque queria ficar longe de todos eles. Explicou que ele havia lhe levado para a casa dele, sem ocultar que dormiram na mesma cama. Nessa hora, com o canto do olho, você percebeu Draken travando o maxilar, com a raiva e culpa esborrando dos olhos dele. Mesmo assim, você deixou claro que nada aconteceu entre vocês dois, além de falar sobre a desculpa que Henma deu sobre dormir no quarto dele ser mais seguro para você. Acabou contando sobre o dia seguinte, que o moreno com mechas loiras disse a verdade sobre a Touman e tentou lhe prender.
— Aí eu fugi e acabei com esses machucados — Você concluiu, suspirando mais uma vez — Foi quando o Draken me encontrou no meio da rua.
— Você dormiu com ele? — Takemichi perguntou, finalmente abrindo a boca para falar alguma coisa.
— Dividimos a mesma cama — Finalmente, pela primeira vez, você olhou nos olhos do seu irmão — E ele não tentou nada.
— Isso é estranho — Sua atenção foi voltada para Mikey, que tinha uma expressão pensativa — Nunca ouvi falar de uma mulher que só dormiu com ele antes.
— Tem uma primeira vez pra tudo — Você respondeu, dando de ombros e se levantando da cadeira onde estava sentada — Posso falar sozinha com você? — Sua pergunta foi exclusivamente dirigida a Takemichi, que ficava cada vez mais nervoso.
Seu irmão olhou para os lados antes de responder, como se pedisse socorro aos amigos, que ignoraram o pedido dele. Você sabia que seu irmão estava tentando evitar essa conversa ao máximo, mas você queria esclarecer tudo, o mais rápido possível. Quando percebeu que ninguém o salvaria, Takemichi assentiu com a cabeça, também se levantando. Sem perder tempo, você deu as costas ao grupo e saiu, sendo seguida pelo seu irmão.
Como não conhecia a mansão, acabou vagando sem rumo até achar que estava longe o suficiente do grupo. Por sorte, acabou parando na cozinha. Assim que chegou lá, abriu a geladeira e pegou uma vasilha com uvas, a colocando em cima do balcão logo em seguida.
— [Nome], eu... — Ele começou a falar, olhando para os pés, evitando ao máximo contato visual com você — Me desculpa por ter mentido.
De imediato, você não respondeu. Analisava a expressão de Takemichi com muita cautela. Você sabia que ele estava arrependido, mas ainda estava com raiva pelo que aconteceu. Somente quando o silêncio começou a ficar inquietante e seu irmão a ficar mais nervoso ainda com a falta de resposta, você falou.
— Por que mentiu?
— Porque eu sei que você não iria querer passar por mais problemas com gangues — Finalmente, ele levantou a cabeça e lhe encarou nos olhos — Depois do papai e do Hiroshi eu sabia que você iria querer manter toda a distância possível de qualquer grupo delinquente.
Quando seu irmão falou aqueles dois nomes, suas sobrancelhas se arquearam. As lembranças do passado que atormentaram a sua cabeça durante tantos anos vieram à tona. A notícia de que seu pai, um gângster na época, havia morrido voltou a sua mente no exato momento em que Takemichi falou "papai". Além disso, Hiroshi, o seu primeiro e único amor. Ter descoberto que ele também fazia parte de uma gangue destruiu o seu coração. Depois da fatídica experiência com o pai, resolveu se afastar dele, por mais que isso fosse destruir o seu coração.
— Se você sabe de tudo isso — Você começou a falar, depois de sair do seu transe — Por que resolveu entrar pra Touman?
— A Touman é diferente — Uma risada alta e estridente sua o interrompeu — É verdade! Eles valorizam os companheiros e não saem por aí comprando briga com gente mais fraca.
— Todos eles falam a mesma coisa — Você interrompeu — Mas, no final, toda gangue acaba do mesmo jeito. Não dou nem cinco anos pra vocês começarem a entrar no tráfico e bater em todo mundo que for contra vocês.
— Não vai ser assim.
— Sempre é assim — Seu tom de voz se elevou um pouco — Nosso pai tá morto e o Hiroshi preso.
— Pelo menos a gente sabe que foi uma boa você ter terminado com ele — Você lançou um olhar de fúria com a brincadeira do seu irmão, que logo tirou o sorrisinho bobo da cara e começou a ficar nervoso de novo — Desculpa! — Falou rapidamente, levantando as mãos em sinal de redenção.
— Não existem gangues diferentes, Takemichi — Você disse, séria, depois de um longo suspiro — A Touman pode até ter começado de um jeito diferente, mas, no final, todas acabam iguais.
— E o que você quer que eu faça?
— Sinceramente? — Você esperou uma confirmação dele para continuar — Me deixaria mais aliviada se você saísse da Touman.
— Sabe que eu não posso fazer isso.
— Poder você pode-
— Quer mesmo que eu abandone todos eles!? — Ele lhe interrompeu, agora gritando — Você conheceu eles, sabe que eles são pessoas incríveis!
— Minha prioridade é você! — Você o interrompeu, falando por cima, ainda mais alto e com um tom autoritário — Não fale como se eu não me impropriasse com eles! Mas você é meu irmão! Nossa mãe me pediu para cuidar de você!
— Talvez eu não precise mais dos seus cuidados — A fala dele fez você erguer uma sobrancelha. O loiro não lhe olhava nos olhos, encarava os próprios pés a todo momento.
— Tudo bem então — Você falou, por fim, pegando a vasilha com uvas e dando as costas para o seu irmão — Só vou ficar aqui até as coisas com o Henma se acalmarem. Depois disso, eu volto pra casa.
Você não esperou uma resposta dele. Apenas começou a andar em direção à saída da cozinha. Não tinha ideia de como era a planta da mansão, mas não foi nada difícil achar a saída para o terraço. Lá, você se sentou em um balanço, enquanto encarava o jardim antes da densa floresta que cercava a construção. De onde você estava dava para ver claramente as estrelas no céu, muito diferente de Tokyo.
Seus pensamentos estavam completamente conflituosos. Por um lado, você queria que Takemichi saísse da gangue, porque você sabia que elas nunca davam certo. Sempre existia um motivo para fazer elas mudarem e se perderem no caminho. Mas, por outro lado, você não queria simplesmente abandonar todos eles. Mikey, Baji, Mitsuya, Kazutora e... Draken. Você já aceitou que tem sentimentos pelo grandão, mas a ideia de passar por mais problemas namorando um gângster fazia seu estômago embrulhar.
Uma onda de vento frio atingiu o seu corpo, fazendo você perceber como a noite estava gelada. Suas mãos foram instintivamente parar nos seus braços, tentando esquenta-los, mas sem sucesso. Quando já estava pensando em entrar para se aquecer, um cobertor envolveu os seus ombros, lhe deixando mais quente instantaneamente. Assim que seu olhar subiu, você encontrou com os rostos envergonhados de Baji e Mitsuya.
— Obrigada — Você murmurou, se aconchegando no tecido grosso, enquanto os dois se sentavam ao seu lado.
Um silêncio se instalou entre vocês, mas não do tipo desconfortável. Vocês três olhavam para o céu estrelado, ao mesmo tempo em que pensavam em algo para falar.
— Você tá melhor? — O de cabelo platinado perguntou, sem olhar na sua direção.
— Uhum. Já já eu fico inteira de novo.
— Você deu um baita susto na gente — Foi a vez do de cabelos longos falar — Sinceramente, eu achei que você não fosse acordar.
— É verdade — Mitsuya disse — Ele começou a chorar que nem um louco quando Draken te trouxe pra gente.
— Cala a boca, porra!
A pequena briga deles conseguiu arrancar uma risada divertida e sincera sua. Imediatamente, eles pararam de discutir e ficaram olhando você, que ainda ria. Sorrisos aliviados tomaram conta dos rostos deles, pouco antes de eles próprios também começarem a rir. Era indiscutível a conexão que vocês três criaram ao longos do tempo desde que você voltou para Tokyo.
— Desculpa — A voz rouca de Baji interrompeu a sua crise histérica de risadas, até que você olhou na direção dele, que encarava o chão, fugindo dos seus olhos — A gente não devia ter escondido isso de você.
— Não importa se você falou com Henma — Mitsuya completou, criando coragem para colocar a mão em cima do seu ombro — A gente devia ter te contado e aberto o jogo logo no início.
— Só não se afasta da gente — O de cabelos longos falou, quase como se fosse uma súplica, desviando o olhar do chão e encarando você, sem vacilar — Por favor, [Nome].
Por mais durona que você quisesse parecer, ficou impossível de esconder o pequeno sorriso que se formou em seus lábios. Sem nem precisar pensar, você envolveu cada um deles com o seus braços, os puxando para mais perto. Um tempo se passou assim, com vocês abraçados e corpos colados. Nenhum olhava diretamente no rosto do outro, até porque você estava escondendo os olhos marejados que ameaçavam chorar a qualquer momento.
— Eu desculpo vocês — Sua voz saiu como um sussurro fraco, mas alto o suficiente para ecoar na mente daqueles dois por muito tempo — Só não escondam mais nada de mim.
— Não vamos — O platinado garantiu, envolvendo a sua cintura com o braço dele, aumentando o contato do carinho.
— A gente promete — Baji completou, também lhe abarcando de lado.
Uma única lágrima escorreu pelo seu olho esquerdo, que foi rapidamente enxuta pelo vento frio da noite. Algum tempo se passou com vocês lá fora, jogando conversa fora, como se nada tivesse acontecido. Claro que você ainda estava sentida com tudo o que aconteceu, e os meninos tinham bastante consciência disso, mas também deixaram claro que fariam de tudo para você voltar a confiar neles 100%, e você não tinha dúvidas de que eles realmente fariam isso.
Por você, poderia passar a madrugada inteira ali, só conversando com aqueles dois, mas um bocejo seu fez Baji erguer uma das sobrancelhas.
— Eita porra — Ele falou, já se levantando — Olha a hora.
— Quantos anos você tem, porra? — O platinado perguntou, irônico, arrancando uma risada sua.
— [Nome] tá machucada, seu imbecil. Ela tem que descansar.
— Merda, tinha esquecido — Na mesma hora, ele também se levantou e estendeu a mão para você.
Depois de revirar os olhos, mas sem protestar por causa do cansaço, você aceitou a ajuda e se levantou. Subir a escada era a parte mais trabalhosa de ficar naquela mansão, já que seus machucados latejavam de dor a cada degrau que você subia. Mesmo assim, a tarefa acabou ficando mais fácil com a ajuda de Baji e Mitsuya, que te sustentavam um de cada lado. Acabaram chegando no andar de cima mais rápido do que você planejava.
Não queria admitir nem para si mesma, mas estava bastante cansada do dia, no mínimo, agitado. Queria deitar na cama e esquecer todos os problemas, mas não estava com sono. Provavelmente por ter dormido muito tempo depois que Draken lhe achou na rua.
— Vai ficar bem sozinha? — Mitsuya perguntou, enquanto lhe ajudava a sentar na cama.
— Eu não tô tão debilitada assim — Você respondeu, depois de revirar os olhos novamente — Só não consigo subir a escada direito.
— Beleza, mas não força muito, tá? — O de cabelos longos pediu, com um sorriso preocupado no rosto.
— Prometo que não vou.
Os dois pareciam um pouco mais aliviados com sua fala, mesmo que você não pretendesse mantê-la. De verdade, você não estava tão debilitada assim. Certo, havia fraturado alguns ossos, deslocados outros, levou um tiro de raspão... Mas não estava tão ruim assim. Não é?
Seus pensamentos eram bem conflitantes em relação a isso. Você já estava acostumada a se machucar bastante, principalmente quando se metia nas brigas para salvar seu irmão. A lembrança desses dias de proteção fizeram um sorriso sincero aparecer em seus lábios. Somente o som da porta de abrindo novamente fez você voltar para a realidade e levantar o olhar para ela.
— Oi — Draken falou, assim que apareceu por trás da porta — Posso entrar?
— Pode — Isso foi o suficiente para que o loiro entrasse no quarto e fechasse a porta atrás de si.
Em passos não apressados, ele foi andando em sua direção, se sentando ao seu lado na cama assim que chegou perto o suficiente. Um pequeno silêncio tomou conta de todo o cômodo, enquanto vocês pensavam em algo para quebrar o gelo. O selinho de antes não foi o suficiente para vocês voltarem à estaca em que estavam antes, e você queria muito mais que aquilo.
— Baji e Mitsuya que te trouxeram? — Ele perguntou, ainda encarando o chão.
— Foi. A gente tava conversando no terraço, mas aí ficou tarde e eles me ajudaram a subir as escadas.
— E os machucados?
— Ainda é muito recente, então eles doem um pouco, mas nada que eu não aguente.
— Já tomou os remédios de hoje? — Finalmente, ele olhou na sua direção, quando não recebeu uma resposta para a pergunta.
Você balançou a cabeça negativamente, devagar, levemente envergonhada de ter esquecido de algo tão importante. Depois de um suspiro, Draken se levantou da cama e foi até a sua bolsa, a abrindo mesmo sem pedir sua permissão. Ele logo achou a sacola com os remédios e a receita do médico. Com um pouco de pressa, ele separou os comprimidos certos e pegou sua garrafa de água, lhe entregando tudo logo em seguida. Você nem precisou falar nada para aceitar e tomar todas as pílulas.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer — Ele disse, colocando a garrafa na cabeceira e se sentando de novo ao seu lado — Você quer mais alguma coisa?
Um sorriso travesso tomou conta de seus lábios. Não demorou muito para que Draken descobrisse o que se passava pela sua mente, mas, antes que ele conseguisse ter qualquer reação, você o puxou pela nuca e juntou seus lábios. De imediato, já pediu passagem com a língua, que foi rapidamente concedida por ele, dando início a um beijo sedento e extremamente necessitado. Suas línguas se moviam ferozmente, ainda que o loiro estivesse levemente receoso em colocar as mãos em você. Mesmo assim, você intensificou ainda mais o beijo, deixando muito claro todas as suas intenções para essa noite.
— Você — Foi sua resposta, pouco antes de você dar continuidade ao beijo, dessa vez com mais luxúria do que antes.
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