𝚎𝚕𝚎𝚟𝚎𝚗
Os primeiros raios de sol da manhã invadiram os seus olhos, passando pelas pequenas frechas das cortinas. Demorou um tempo até que você percebesse onde estava. Levantou levemente a cabeça e olhou ao redor. Estava sozinha. Você suspirou fundo e voltou a deitar a cabeça no travesseiro, pensando se realmente foi uma boa ideia ter vindo com Henma.
Talvez tivesse sido um erro, afinal, você não tinha a menor ideia de que tipo de pessoa Henma era. Mas, seus pensamentos foram interrompidos pelo som da porta se abrindo.
— Já comecei a pensar que você tava fugindo da nossa conve- — Você começou a falar, mas, assim que virou o rosto para encarar quem você achava que era Henma, viu dois homens entrando no quarto e fechando a porta atrás deles.
Suas mãos ficavam rígidas em cima do lençol, ao mesmo tempo em que você não tirava os olhos dos corpos na sua frente. Um deles parecia meio apreensivo, enquanto o outro tinha um sorriso pretensioso no rosto.
— Então esse é o novo brinquedinho do chefe? — Um deles perguntou, começando a andar na direção da cama.
— Isso vai dar merda, cara — O outro homem, mais baixo, disse, completamente inseguro.
— Cala a boca, porra. Henma nunca ligou que a gente se divertisse com os brinquedinhos dele.
— Mas ele mandou a gente não entrar aqui, e ela é-
— Eu já mandei você calar a porra da boca — O grito do mais alto fez você tomar um leve susto, mas nada que lhe desconcentrasse — Agora, vamos nos divertir um pouco, princesa.
O homem chegou ao seu lado, que ainda estava deitada, sem se mover. Quando ele se inclinou para lhe tocar, você se virou de frente e agarrou o braço dele, o puxando em sua direção. Colocando força no quadril, você conseguiu derrubar ele na cama, de barriga para baixo, e ficando por cima dele, ainda fazendo força com o braço dele para trás. Mesmo que ele estivesse completamente imobilizado, você percebeu o outro se aproximando, por isso, fez ainda mais força no braço do homem em baixo de você, quebrando o osso em dois.
Assim que ouviu um grito agonizante de dor, você rolou de onde estava, se desprendendo do corpo dele e saindo da cama, ficando de frente para o segundo homem. Desde que chegou, ele parecia estar apreensivo, e você tinha percebido isso.
Vocês estavam frente a frente, com os braços relativamente levantados, apostos, preparados para qualquer movimento do outro. Os gritos de dor vindos de cima da cama ainda podiam ser ouvidos claramente, mas você não poderia ligar menos. Quando já estava desistindo de esperar e finalmente avançar, o homem a sua frente ergueu os braços no ar.
— Eu desisto — Ele disse — Vou embora e esquecemos tudo isso.
Suas sobrancelhas se arquearam levemente, impressionada com a covardia dele. Sinceramente, sabia que poderia vencer uma luta contra apenas um deles, mas estava tão psicologicamente exausta que preferia não ter que fazer isso. Assim, você apenas deu de ombros e se virou, indo em direção à sua mochila para poder tomar um banho.
Mas, no momento em que estava se abaixando para pegar suas roupas, ouviu passos vindo na sua direção. Só deu tempo de você olhar para trás e ver o homem vindo na sua direção, com um facão erguido na mão. Não daria tempo de você reagir, ele já estava muito perto.
Consciente de que não tinha mais o que fazer, você apenas fechou os olhos e esperou pelo impacto da lâmina, mas, um som de tiro fez você reabrir os olhos, com o coração batendo a mil.
A primeira coisa que viu foi o homem com a faca no chão, segurando a coxa esquerda, que sangrava muito. Depois de levantar o olhar, na direção da porta, viu Henma apontando a arma, com mais dois homens ao lado dele.
— Tirem eles daqui — Henma falou, finalmente baixando a arma e entrando no quarto. Os outros dois homens foram tirar os machucados, que ainda grunhiam de dor — Você tá bem? — Ele perguntou, assim que chegou perto de você.
— S-sim — Você respondeu, piscando várias vezes, saindo de um transe e se arrependendo amargamente de ter gaguejado na frente dele.
Seu vacilo na hora de responder fez ele soltar um riso fraco, mas, no segundo seguinte, ele colocou uma expressão séria no rosto.
— Me desculpa — Uma das mãos dele foi parar na lateral de seu rosto, alisando sua bochecha — Não devia ter te deixado sozinha — Enquanto ele colocava uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, seus olhos iam se arregalando cada vez mais.
— Não precisa pedir desculpas — Você respondeu, depois de limpar a garganta e se afastar levemente dele — Eu só vou tomar um banho agora, mas podemos ter aquela conversa depois?
— Podemos — A decepção era clara na voz dele, talvez por você ter se afastado do toque dele, mas você não entendia como alguém como Henma fosse se importar com algo desse tipo.
Depois de assentir com a cabeça, você pegou sua mochila e se dirigiu até o banheiro, se trancando lá dentro o mais rápido possível. Assim que a porta se fechou, você colocou There's Nothing Holdin' Me Back, de Shawn Mendes, para tocar na caixinha de som e se encostou na parede, fechando os olhos com força.
Na hora em que Henma tocou seu rosto, todo o seu corpo de arrepiou, mas não por ele ter feito aquilo, e sim porque a primeira pessoa que veio à sua mente foi o Draken. O pensamento de que você queria que fosse ele naquela hora não saia de sua cabeça.
Por mais que Henma estivesse sendo completamente atencioso e prestativo com você, Draken ainda não saia de seus pensamentos. Por mais que ele tivesse mentido, era ele que tomava conta da sua mente na maior parte do tempo.
Com um suspiro frustado, você tirou toda a sua roupa e se enfiou de baixo da água morna. Isso ajudou um pouco aos seus músculos relaxarem, principalmente depois do que aconteceu minutos antes com os homens de Henma. Mesmo sabendo que estava entrando de cabeça em algo perigoso, não tinha ideia de que eles pudessem simplesmente te atacar. Isso fazia você pensar se ele não eram uma gangue.
A ideia lhe dava arrepios, mas ainda era uma possibilidade. Mesmo assim, se esse fosse o caso, você não hesitaria em sair corroendo dali, o mais rápido possível. Afinal, seu passado com gangues já era motivo suficiente para você querer distância delas.
Quando seus dedos começaram a enrugar, você percebeu que estava a tempo demais debaixo do chuveiro e então o desligou. Sua mente estava a maior confusão. Basicamente todos os seus pensamentos e sentimentos estavam em constante conflito. Mesmo assim, você acabou de fazer suas higienes e de colocar uma roupa limpa.
Assim que abriu a porta do banheiro e saiu de lá, viu Henma sentado na cama, mexendo em algo no celular. Desviando um pouquinho o olhar, viu que a mancha de sangue causada pelo tiro na perna do homem não estava mais lá. Provavelmente alguém havia ido ali limpar enquanto você estava no banho.
— Então — A voz de Henma chamou sua atenção novamente e, agora, os olhos dourados estavam completamente focados em você — Quer ter aquela conversa agora?
Você desviou o olhar antes de responder. Queria mesmo ouvir a história de seu irmão por alguém completamente desconhecido? Você confiava mesmo em Henma, alguém que acabou de conhecer, para lhe contar a verdade sobre seu próprio irmão?
— Na verdade — Você disse, finalmente voltando a encarar aquelas íris douradas — Eu quero ouvir o que ele tem a dizer.
Um pequeno sorriso se formou em seus lábios, e você estava completamente decidida a ouvir a versão do seu irmão sobre a história. Afinal, Takemichi merecia uma chance de tentar se explicar. Mas, o mesmo sorriso não estava nos lábios de Henma. Ele mantinha o olhar frio sobre você, como se estivesse analisando cada traço da sua insegurança.
— Obrigada por me ajudar e por me deixar dormir aqui, também — Você começou a falar, quando percebeu que ele não diria nada — E sinto muito pelo que aconteceu com seus homens, mas eu-
— Takemichi é um dos capitães de uma das gangues mais famosas de Tokyo — As palavras dele fizeram seus olhos se arregalarem de uma vez e você soltar a mochila que tinha em mãos — O resto do pessoal que você conheceu também fazem parte dela, Touman.
Parecia que o mundo havia parado no segundo em que você tinha ouvido isso. Seu coração parecia errar cada batida, fazendo o seu peito doer intensamente.
TOUMAN.
Você já havia escutado esse nome antes, foi Baji quem tinha dito, pouco antes de Takemichi dizer que se tratava de um clube de luta.
Você sabia que seu irmão estava escondendo alguma coisa de você, isso era óbvio. Mas nunca imaginou que ele mentiria sobre isso. Ele, mais do que qualquer pessoa, viu tudo o que você passou por causa de gangues.
Então por que caralhos ele iria entrar em uma!? Esse pensamento não saia da sua cabeça.
— [Nome]? — A voz de Henma estava um pouco mais alta, então você conseguiu ouvir e se virou para ele, ainda em completo choque — Tô te chamando a uns três minutos.
— O que é Morbius? — Foi a única coisa que você falou, ignorando completamente o comentário dele.
— Outra gangue — Ele deu de ombros, se deitando confortavelmente na cama — Na verdade, é como se fosse uma sub gangue nossa.
— Nossa? — Você repetiu, confusa.
— Eu sou o vice comandante da Valhalla, a maior gangue de Tokyo.
Mais uma vez, você travou.
É claro que não existia nenhuma chance de você ter pedido ajuda a Henma se soubesse que ele era a porra de uma das cabeças de uma gangue, principalmente a maior de Tokyo.
Sinceramente, você não sabia o que era pior, seu irmão fazer parte de uma gangue, ou você ter pedido ajuda a um completo estranho, que no final era o vice comandante de outra gangue.
Ao que parecia, não tinha como você escapar. Todos ao seu redor faziam parte de uma gangue. Tanto Henma, quanto Takemichi, quanto seu pai e seu ex. Tudo indica que você não tem como escapar, sempre vai acabar sofrendo porque as pessoas próximas a você estão envolvidas com alguma gangue. Era inevitável.
— Todos eles fazem parte da gangue? — Você perguntou, ainda sem encarar o outro nos olhos.
— Todos, menos Hina e Emma, claro — Henma riu antes de continuar — Kazutora, Baji e Mitsuya são alguns dos capitães, junto com o seu irmão. Mikey é o comandante e... Draken é o vice comandante — A última parte ele falou bem devagar, como se estivesse gostando de dar essa informação para você.
Seu peito apertou ainda mais. Mesmo que você já soubesse que o loiro também fizesse parte disso, ouvir isso de cara foi ainda pior.
— Eu preciso de ar — Você disse, indo em direção à porta, mas, assim que pegou na maçaneta, outra mão ficou por cima da sua.
— Não posso deixar você ir, docinho — Assim que olhou para frente, seus olhos encontraram as íris douradas de Henma.
— Por que não?
— Porque eu sei que, se você sair, você não vai mais voltar.
Você tirou a mão da maçaneta e, consequentemente, da dele também. Além disso, andou alguns passos para trás, tentando abrir uma distância entre você e ele.
— O que você quer comigo? — Sua pergunta fez ele esboçar um sorriso divertido.
— Acontece que... eu acabei gostando de você, docinho — Aos poucos, ele dava passos na sua direção — E quando eu quero uma coisa, eu pego.
Você nem pensou duas vezes, ou deixou ele se aproximar, para se virar e sair correndo. Já que Henma estava na frente da porta, a única saída segura daquele lugar, você foi até a varanda, que já estava aberta. Mesmo sem pegar sua bolsa ou nada seu, você pulou do pequeno muro que tinha ali, fazendo Henma arregalar os olhos ao ver você caindo do segundo andar da casa.
Sem esperar nada, ele foi correndo até de onde você pulou, vendo você se segurar na barra da varanda de baixo. Assim que seu corpo sentiu o impacto, você percebeu que havia deslocado o ombro, mas não poderia parar agora.
— Peguem ela, seus putos! — O grito de Henma foi alto o suficiente para que todos os homens ali perto ouvissem.
Você se soltou mais uma vez, sentindo seus pés finalmente tocarem o chão, pouco antes de você se jogar para frente e dar uma cambalhota, para diminuir o impacto. Assim que percebeu os homens se aproximando, olhou ao redor, esboçando um sorriso quando viu um deles em cima de uma moto.
Sem precisar de mais nada, você disparou na direção dele, sem se importar com os outros indo na sua direção. Precisava ser mais rápida do que tudo, já que não teria como dar conta de todos eles sozinha. E você estava sozinha.
Dois homens se aproximaram antes de você conseguisse chegar na moto. De cara, você logo se jogou contra um, usando sua vantagem na agilidade para colocar os braços dele para trás e desloca-los. Mas, assim que se virou para dar conta do outro, recebeu um soco muito bem dado na lateral de seu rosto.
O gosto metálico do sangue invadiu a sua boca. Depois de um suspiro, você cuspiu o sangue e desviou de outro soco dele. Assim que estabilizou seus pés mais uma vez, você socou repetidas vezes a lateral do estômago dele, desviando depois que ele tentou dar outro golpe. Com um chute mais forte na coluna dele, o homem ficou no chão por alguns segundos, tempo suficiente para você voltar a correr em direção à moto.
O homem que estava em cima do veículo já havia descido dele, e estava com um taco de baseball nas mãos. Você mantinha o olhar fixo nele, até ouvir um som de tiro, que desviou minimamente sua atenção, mas foi o suficiente para ele conseguir lhe acertar na costela. O ataque lhe deixou sem ar por alguns segundos, mas você não tinha tempo para descansar. Outros já estavam vindo na sua direção novamente. Por isso, você logo investiu nele, conseguindo roubar o taco das mãos dele na segunda investida. Assim que o deixou inconsciente, você subiu na moto sem demora, dando partida e arrancando o veículo dali, segundos antes de mais quatro homens chegarem a centímetros de você.
Um sorriso tomou conta dos seus lábios quando pensou que estava livre mais uma vez. Mas, o som de mais um tiro fez você se assustar levemente. Resolveu ignorar e continuar dirigindo, até sentir um ardor quente em seu braço. Ao olhar para o membro, você viu que a bala havia raspado no seu braço esquerdo, abrindo consideravelmente a carne.
— Eu vou te caçar, [Nome]! — Mesmo com o grito de Henma, você não parou de aumentar a velocidade — Não pense que pode escapar de mim!
Pelo retrovisor, você conseguiu ver algumas motos e carros saindo da casa, lhe seguindo, mas nenhum deles conhecia a cidade como você ou dirigiam tão loucos quanto você. Por isso, na maior velocidade que aquela moto aguentava, você correu, entrando em cada rua e beco que você conhecia como a palma da sua mão.
Demorou quatro horas, mas você conseguiu despistar cada um deles. Só por precaução, você deixou a moto em um ferro velho e seguiu o resto do caminho a pé. Estava sem o seu celular ou carteira. Ainda teve que tirar o casaco que estava usando para amarrar no braço e estancar a ferida. Teria que tratar do ferimento logo, mas não queria ir para o hospital. Henma sabia que você tinha se machucado, com certeza ele mandaria homens para vigiar a entrada de cada hospital da cidade. Além disso, você sentia sua costela queimar a cada passo que dava. Provavelmente havia fraturado algumas. E, para completar, a lateral do seu rosto estava ficando inchada, por causa do soco que tinha levado.
Você estava acabada e só pensava em ir para casa, mais ainda era muito longe. Não sabia se teria forças para isso, principalmente quando sentia dia consciência começar a vacilar. Tinha perdido muito sangue com o tiro.
Suas mãos já estavam ficando dormentes e sua visão turva. Sabia que desmaiaria a qualquer momento, e não tinha ninguém por perto para ajudar você. Talvez isso fosse o castigo por ter confiado tanto em alguém que não conhecia. Ir para a casa de Henma com certeza foi um erro.
Quando suas pernas falharam, você se encostou no muro de um prédio abandonado. Não tinha mais forças para andar, sabia que ia desmaiar a qualquer segundo.
— [Nome]! — Você queria acreditar que aquela era a voz que você bem conhecia, mas só poderia estar delirando.
Ao se virar para trás, procurando a fonte da voz, finalmente seu corpo caiu, mas, antes de atingir o solo, você foi segurada por um corpo grande e forte. Sua visão estava embaçada, mas você reconheceria aquele olhar frio e trança loira em qualquer lugar.
— Draken?
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