xx. snow charm

Eu mexia na pérola que Peeta me deu enquanto estava sentada na minha cama, pensativa sobre a entrevista. Peeta está vivo. E é um traidor. Mas não me importo com o que ele disse, só pelo fato de que ele está vivo me faz ficar feliz. Eis a questão, até quando ele vai ficar vivo? O que meu avô pode fazer com ele? Meus pesadelos sempre envolvem ele sendo torturado e morto, e se eles se tornarem realidades? Só de pensar nisso as lágrimas começaram a se formar. Peeta está vivo, mas está muito longe de mim. Sentir ele longe de mim é a pior coisa que estou sentindo. Eu só queria que ele estivesse do meu lado, vendo nosso bebê crescer, nascer. Mas ele não está aqui.

Depois de alguns segundos, a porta se abre e alguém entra. Era Katniss, essa que se senta ao meu lado.

—Não pode haver um cessar-fogo. — digo com a voz fraca, olhando para ela. — Não depois do que meu avô fez. Ele precisa pagar por tudo que fez.

—Então, está pensando em ser o Tordo? — perguntou e eu neguei com a cabeça imediatamente.

—Não quero ser o Tordo, muito menos apoiar essa rebelião. Uma guerra não vai trazer paz, ainda mais se a Capital vencer novamente. Eles querem que eu aceite porque ser a neta do Snow pode estimular as pessoas a atacar. Mas e se eu aceitar? Eles vão me jogar nessa guerra? E quanto ao meu bebê? Eu não quero aceitar ser o Tordo para proteger meu filho ou filha. Não quero que nada de ruim aconteça com ele.

—E você está certa. Eles não podem te obrigar e se te obrigarem, vai ser como a Capital colocando as crianças nos Jogos Vorazes. Não aceite decisões que você não queira. — ela segurou a minha mão.

—Por que você acha que ele disse isso? — pergunto para ela. — Tenho minhas dúvidas, mas preciso saber se alguém tem o mesmo ponto de vista que eu.

—As vezes ele pode ter sido forçado. Deve ter feito algum acordo para proteger você.

Me proteger? Mas então eu compreendo. Os Jogos ainda estão em andamento. Nós saímos da arena, mas como Peeta e eu não fomos mortos, seu último desejo de preservar a minha vida ainda está de pé. Sua ideia é fazer com que eu fique quieta, a salvo e aprisionada enquanto a guerra se desenrola. Então nenhuma das partes terá motivos reais para me matar. E Peeta? Se os rebeldes vencerem, será desastroso para ele, isso se a Capital não fizer algo com ele antes.

Logo outra pessoa entra no compartimento. Era Gale. Ele se senta na cama a nossa frente. Eu fiquei séria assim que ele olhou para mim. Não gostei do que ele disse agora pouco.

—Peeta pode ter feito muito estrago hoje. As pessoas ainda tem tempo de aderir. Precisam de coragem. E você é a pessoa certa para dar coragem a eles, Lily. Eles precisam de você. Você tem que ser o Tordo para ajudar a derrotar o inimigo.

—Eu não quero ser o Tordo, Gale. — digo olhando para ele. — Eu não quero apoiar essa rebelião, ainda mais com Peeta na Capital, não quero colocar a vida dele e do meu bebê em risco! Se eles quiserem um porta voz, que procurem outro.

—Olha, Lily, vou ressaltar o assunto que falei antes com você. — ah não, ele vai falar de novo... — Acho que o melhor é realmente abortar o bebê. Vai ser melhor para você, acredite em mim. Peeta não está aqui para te dar o apoio, e você não está bem, da para ver, tudo isso por culpa dessa coisa que está dentro de você. Me escute, Lily.

—Coisa? — pergunto arqueando minha sobrancelha. — O meu bebê é uma "coisa" para você? Eu já disse, eu não vou abortar. Não interessa se Peeta vai estar aqui ou não, se uma rebelião está acontecendo, eu não ligo! E se você fosse meu amigo de verdade, entenderia o meu lado! — ouvi a minha voz se elevando. — Eu não vou ser o Tordo até que me deem motivos plausíveis para isso.

—Eu sou seu amigo de verdade, Lily, é claro que eu sou! Estou só dizendo isso para o seu bem, e...

—Sai daqui. — o interrompi. Isso fez ele me olhar surpreso. — Agora.

Meio sem jeito e um pouco surpreso, ele se levantou e saiu do quarto. Entre ouvir essas bobagens e me estressar com isso e mandar ele sair, preferi a segunda opção.

—Aborto. Fala sério! Já é a segunda vez que ele toca nesse assunto mesmo eu dizendo que não ia fazer isso! — respirei fundo para tentar me acalmar. Me irritar com isso não vai me fazer bem. — Esse lugar me traz coisa ruim, como na arena.

—Por que não volta a cantar? Pode te ajudar a distrair a mente, e o bebê pode gostar também. — disse Katniss com um sorriso. — Você trouxe até o seu violão.

Cantar. Fazia tempo que eu não cantava. Mas normalmente não estou tendo nem animação para isso. Estranho que realmente era algo que eu gostava muito de fazer.

—Eu não trouxe o meu violão para cantar, e sim para lembrar da minha família. Não estou muito animada para isso...

—Eu entendo. — ouvimos o sinal tocar, indicando que teria alguma coisa. Katniss olhou em seu braço, onde está escrito toda a programação do 13. — É hora da meditação. Você também?

Olhei para o meu braço onde estava a minha programação antes de responder.

—Também. Mas não vou ir.

—Sabe que é obrigatório seguir a programação, não é? — assenti com a cabeça.

—Mas eu não quero ir. Estou cansada e quero ver se consigo dormir um pouco sem ter nenhum pesadelo.

A morena suspirou e me olhou novamente.

—Direi que você está enjoada e que não para de vomitar, o que é normal em uma gravidez.

—Obrigada Kat! — digo a abraçando e ela retribui.

—Me agradeça me chamando para o próximo ultrassom. — disse quando nos separamos. — Não é bom ir sozinha, e como Peeta não está aqui e Finnick ainda está na ala hospitalar, quero ser sua acompanhante.

—Fechado. — sorrimos.

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Já era de noite, havíamos vencido a guerra contra a Capital e o meu avô foi morto. Mas tem um porém, os rebeldes estavam planejando a morte de Peeta por ele ter ficado ao lado da Capital. E então, vejo os rebeldes trazendo o loiro algemado até a árvore-forca, onde ele é enforcado. Os rebeldes gritavam de animação enquanto eu não parava de chorar.

Eu acordei gritando enquanto me debatia na cama. Estava ofegante e suando frio. Foi quando a porta do meu compartimento abriu rapidamente e logo Peeta entra no local com uma feição preocupada.

—Desculpa... Foi só um pesadelo.

—Tudo bem, eu também tenho pesadelos. — disse. Logo ele se virou para porta, pronto para sair. — Boa noite.

—Peeta? — o chamei e ele me olhou. — Você fica comigo?

—Sim, claro.

Ele veio até a minha cama e se deitou ao meu lado, me aconcheguei em seus braços enquanto ele acariciava meus fios de cabelo. Logo sua outra mão livre foi em direção a minha barriga e ele começou a acariciar o local.

—Sempre.

Acordo após essa frase, vendo que tudo isso não se passou de um sonho. O único sonho bom que tive com Peeta desde que cheguei aqui. Sem perceber as lágrimas já começaram a cair sem parar, sinto falta dele, muita falta. Sinto falta do seu carinho, da sua voz. Ele está tão longe de mim.

—Ei. — ouvi a voz de Prim e olhei para ela, que estava deitada em sua cama que fica do lado da minha. — Não consegue dormir?

Eu neguei com a cabeça, logo ela saiu de sua cama e veio se deitar ao meu lado.

—Conte o que está acontecendo. — começou a dizer em um tom baixo. — Sou boa de guardar segredos. Até mesmo de Katniss e da minha mãe.

—Ninguém odeia a Capital e o meu avô mais do que eu. — condições a dizer no mesmo tom que ela. — Sabe, por parte eu quero ajudar, quero derrubar meu avô e a Capital mais do que tudo. E uma coisa Gale está certo, as pessoas precisam de coragem, e eu sou a única que pode dar isso a elas, ao verem que até a neta do presidente Snow está contra a Capital vai fazer com que eles vão a luta. Mas eu fico pensando, se eu for o Tordo e ganharmos essa guerra, o que acontece com o Peeta? Ele não está seguro lá e também não estaria seguro aqui.

—Não vê como você é importante para eles? Se você quiser alguma coisa, só tem que pedir. Pode pedir qualquer coisa, eles vão ter que concordar. Eles precisam de você, e você pode usar isso ao seu favor.

Eu dei um sorriso fechado e comecei a acariciar seus fios de cabelo. Ela está certa. Eu posso pedir o que eu quiser, eles tem que aceitar, independente do que for. Usarei o fato deles precisarem de mim ao meu favor, não quero ser o Tordo, mas se isso for a única solução para salvar Peeta, irei ser. Isso se eu não tiver outros planos.

—Sabe, se você fosse uma psicóloga, eu seria sua cliente número um. — ela deu um riso fraco. — Você combina mais com essa área. Obrigada, Prim.

—Agora, trate de dormir. Você precisa descansar bem para seu bebê continuar crescendo bem e saudável. — assenti com a cabeça. — Boa noite.

—Boa noite. — digo e fechei os olhos.

Senti Prim me abraçar e eu a abracei também. Nunca tive irmãos mais novos, mas Prim foi o mais perto que tive de ter um. Agora entendo porque Katniss se ofereceu por ela na Colheita, Prim é uma menina que tem muito o que viver pela frente, uma menina de ouro que não merece morrer naquela arena cruel.

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—Então, você vai mesmo ser o Tordo? — perguntou Katniss quando estávamos sozinhas no quarto.

—É... Mais ou menos... Eu tenho outros planos.

—Devo me preocupar? — perguntou em forma de piada e ela deu uma gargalhada, fazendo eu dar uma gargalhada também.

—Acho que não, mas vai do seu ponto de vista. — ela começou a prestar atenção em mim, para ouvir o meu plano. — Eles precisam de mim para ser a porta-voz da rebelião, e vou usar isso como vantagem. Peeta não está seguro na Capital, então irei pedir o seu resgate em troca de eu ser o Tordo. Mas eu não vou ser o Tordo até o final, e muito menos vou para a guerra. Pretendo acabar com meu avô do meu jeito.

Eu contei todo o meu plano para Katniss, cada mínimo detalhe. Ela e Finnick vão ser os únicos que irão saber desse plano. Eles dois são os únicos que confio para saberem disso. Sim, eu vou fazer meu avô pagar por tudo que fez. Sim, irei apoiar a revolução, mas vai ser tudo do meu jeito.

—E como você vai fazer isso? Como vai fazer a Coin confiar em você sendo que ela no início queria resgatar o Peeta e não você?

Eu dou um sorriso antes de responder.

—Vamos ver se o "Charme Snow" realmente funciona.

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—Obrigada por me receberem aqui hoje. — digo quando eu já estava na sala de comando com Coin e Plutarch. — Eu decidi que irei ser o Tordo de vocês, mas eu tenho algumas condições. — Coin assente com a cabeça indicando que é para eu continuar. Estava tudo na minha cabeça, não precisei anotar em um papel, apenas ficar lembrando o que era para dizer. — Peeta e os outros tributos, Johanna Mason e Annie Cresta serão resgatados na primeira oportunidade. Se e quando Peeta for libertado, ele terá perdão total e incondicional e não sofrerá punições. O mesmo vale para os outros tributos. — um silêncio de segundos permaneceu na sala antes de Coin dizer algo.

—Não. — ela disse secamente.

—Não é culpa deles se os abandonou na arena. — rebato. — Vão fazer e dizer o que for preciso para sobreviver. Não sabe do que a Capital pode ser capaz de fazer com eles. E outra coisa, dependendo do resultado do julgamento, meu bebê vai crescer sem o pai? Ele já não está aqui para acompanhar o crescimento dele na gestação, aí agora vão deixar ele nascer e viver sem o pai?

—Indivíduos não fazem exigências no 13. Haverá um tribunal. E um julgamento justo. Obrigada.

—Os Vitoriosos vão ter imunidade. — percebo que minha voz está começando a ficar mais potente, uma voz de ordem, uma voz de uma líder. — E você vai anunciar isso diante de toda a população do 13. Você e seu governo serão os responsáveis ou pode fazer o favor de procurar outro Tordo!

—É isso aí. Esta é ela. Bem aí. Não é atoa que ela vai ser a futura presidente de Panem. — disse Plutarch, visivelmente orgulhoso. — Não é quem eu te prometi? Ela veste o traje. Tiroteio em segundo plano. Um pouco de fumaça. Nosso Tordo. Estamos perdendo terreno porque o povo está perdendo a coragem. Isso vale o risco. Ela vale o risco. Perdões, tribunais. Poder do povo. Pode ser todo o alicerce da nova Panem, mas em tempo de guerra, até a mais nobre das causas pode ser um pouco contornada, certo?

Coin ficou um pouco pensativa antes de falar algo.

—Tem mais alguma condição? — perguntou. Então quer dizer que ela aceitou, não é?

—Quero colchões mais confortáveis no meu compartimento e comida disponível para mim na hora que eu quiser e quando eu quiser. Também não quero ser obrigada a participar da programação de vocês.

—E por que isso? — ela perguntou me olhando confusa. Eu apenas apontei para a minha barriga.

—Porque eu estou grávida. Acho que não precisa de explicação, não é? — Coin assentiu com a cabeça.

—Vamos providenciar isso. — ela disse. — Mais alguma condição?

—Prim fica com o gato dela.

Com certeza ela não gostou das minhas condições, mas eu não me importo. Prim está certa, eles precisam de mim e eu quero o resgate de Peeta. É claro que eles vão fazer o que eu quero, eu apenas tirei vantagem disso.

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Peço perdão pela demora, ontem fui para a casa da best e não consegui escrever. E também porque eu não sabia o que ia colocar nesse capítulo KAKAKAKAKAKKA

Esse capítulo foi um pouco mais curto (e talvez um pouco chato?), mas eu quis apenas colocar essa reunião da Lily com a Coin, prometo compensar no próximo🙂

Vocês tem teorias do plano da Lily?

Vei, eu pretendendo depois dessa fanfic lançar uma do Finnick, tenho até a história da personagem e afins😃

Peço perdão pelos erros ortográficos, tento ao máximo evitá-los mas as vezes passa despercebido.

Acho que não tenho mais nada para falar aqui, caso tiver, aviso no próximo capítulo.

Vejo vocês no próximo capítulo💜✨️

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