xix. you're alive


Eu comecei a rir quando ele disse isso. Ele realmente acreditou naquela mentira que o Peeta disse na entrevista?

—Não, Gale, eu não estou grávida. — digo ainda rindo, mas parei de rir quando vi que ele estava sério.

—Os exames dizem que você está grávida.

—Mas como? Isso é impossí...

Logo a ficha caiu e eu arregalei os olhos. É, é possível sim. Minha mente foi para a minha noite romântica com Peeta. Meu Deus. É possível sim, porque não usamos nenhuma proteção contra isso.

—Pela sua reação então realmente aconteceu, não é? — disse sério, ainda com uma feição de desgosto.

—Foi um acidente...

—Não, Lily, não foi. Quando um não quer, dois não fazem. Se aconteceu, é porque você quis também.

É, por parte ele está certo. Eu quis também. E agora por causa disso, estou grávida.

—Disseram que seria melhor abortar, mas preferiram que você acordasse, aí tomaria uma decisão.

Arqueei a sobrancelha quando ouvi isso. Abortar? Eles estão falando sério?

—Plutarch que deu a ideia? — ele negou com a cabeça.

—Fui eu que dei a ideia. — aquilo me deixou chocada. Gale deu essa ideia? Por que? — Acho que seria melhor para você.

—É muito cedo para pensar. Acabei de acordar e descobri que estou grávida. Não é o melhor momento para falar sobre aborto.

Gale fechou a cara quando eu disse isso.

—Você que decide, mas saiba que isso só vai atrapalhar sua vida. Peeta não vai estar aqui do seu lado, você vai cuidar dessa criança sozinha. Estou falando isso para o seu próprio bem.

Antes de eu falar alguma coisa, ele saiu da sala com passos pesados e irritados. As lágrimas voltaram a cair. Primeiro, Peeta realmente está na Capital, morto ou vivo. Segundo, o 12 não existe mais e agora estamos no 13. Terceiro, estou grávida. Quarto, Gale deu a sugestão de um aborto. Quinto, eu vou sou o símbolo de uma revolução que eu que criei.

Logo a tristeza se transformou em raiva. Raiva daquele que criou tudo isso, a razão da minha verdadeira desgraça e da minha vida ser esse inferno. Vovô, o que é seu está guardado. Você vai pagar muito caro por tudo que fez.

━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━

—Comece com coisas simples. Com o que sabe que é verdade. — sussurrei para mim mesma. Eu estava em uma das salas subterrâneas que quase ninguém frequenta. Havia tido um pesadelo e não consegui voltar a dormir. Eles realmente cortaram meu sedativo, o que é o verdadeiro motivo de eu voltar a ter esses pesadelos. — Meu nome é Lily Snow. Eu sou do Distrito 12, mas morei na Capital por dois anos quando descobri que era neta do presidente Snow. Tenho dezessete anos. Participei dos Jogos Vorazes. Eu fugi. Eu estou grávida de nove semanas do Peeta. Peeta... Peeta foi deixado para trás. — digo com a voz embargada. Me assustei ao ver luzes de lanterna e alguém se aproximando e me encolhi mais, tentando me esconder atrás de um monte de canos.

—Senhorita Snow. — disse uma voz feminina. — Não pode ficar aqui.

Respirei fundo antes de responder.

—Eu tive um pesadelo. Só mais cinco minutos. — neguei com a cabeça e apertei os olhos fortemente quando ouvi os passos se aproximando de mim.

—Precisa dormir. Podemos te ajudar a dormir.

—Por favor, só mais cinco minutos. — comecei a tremer quando ouvi os passos ficando mais próximo de mim. Logo um dos guardas aparece no meu campo de visão. — Não, por favor, não só mais cinco... — ele pegou meu braço, mas eu puxei bruscamente. — Não me toque! Por favor me deixa aqui! — mais um guarda apareceu e os dois me pegaram com certa brutalidade, acho que esqueceram que estou grávida. — Me solta! Eu só pedi mais cinco minutos!

Mas eles não me escutaram, só me arrastaram até meu quarto hospitalar.

━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━

Eu não havia conseguido dormir, eles não me deram sedativo e por parte eu queria que me dessem, mas grávidas não podem receber sedativo, então ao mesmo tempo que queria um sedativo para dormir bem, também não quero receber para preservar o bem do meu bebê. Minha barriga já tem um pequeno volume um pouco visível, mas ainda não dava para perceber que eu estou grávida.

A maioria dos meus pesadelos envolviam várias coisas. A arena, a morte de Gavin, a morte de Dawn, a morte da minha família, e o principal de todos eles, Peeta. Não sei se ele está vivo ou morto na Capital. E se estiver vivo? O que estão fazendo com ele? Estão o tratando bem ou estão o torturando? Eu não sentia nenhum alívio ao acordar, porque ele não estava aqui do meu lado para me consolar em seus braços. Eu tentava comer todas as refeições, mesmo não tendo apetite, para não prejudicar meu bebê, precisava me alimentar por ele, mas no final eu jogava tudo para fora. Os enjoos e vômitos eram bem frequentes, qualquer coisa que eu comia eu vomitava, enjoava por qualquer coisa. E mesmo com tudo isso, o médico dizia que ele estava bem e saudável, e é isso que me conforta e me motiva a me cuidar, para que ele continue bem e saudável. Tudo o que eu queria era Peeta aqui do meu lado, vendo nosso bebê crescer, me consolando após eu acordar de um pesadelo, mas ele não está.

Eu segurava a pérola que Peeta me deu enquanto a minha outra mão livre estava pousada em minha barriga. Era a única forma de tentar me acalmar, que algumas vezes não dava certo. Mas acho que seria melhor andar por aí, com certeza faria mais efeito. Ficar nesse quarto quase vinte e quatro horas por dias só faz piorar a minha situação. Respirei fundo antes de me levantar da cama e sair do meu quarto, olhei para ver se não tinha ninguém me vendo e ao ver que o caminho estava livre, fui até o quarto de Finnick, que ficava ao lado do meu. No caminho eu já escutava seu choro baixo, o que fez meu coração se apertar no mesmo instante. A porta do seu quarto estava aberta, então só entrei. Não fiquei surpresa com sua aparência cansada e triste, eu deveria estar do mesmo estado. Ele também tinha um curativo onde fizeram o corte para tirar o rastreador. Ele segurava uma corda e dava vários nós nela, e pelo o que sei sobre ele, Finnie faz isso para se distrair quando a mente está uma confusão, o que com certeza é o caso agora. Ouvir o seu choro fez um nó se formar em minha garganta e meus olhos se encherem de lágrimas. Céus! As vezes odeio esses hormônios! Ele parece ter percebido minha presença porque me olhou com um olhar culpado e olhos inchados. Com certeza deve ter chorado a noite inteira, assim como eu ando chorando também. Isso já está fazendo parte da rotina.

—Sabe, eu queria ter voltado para salvar Peeta e Johanna... — ele fungou. — mas por causa do raio, eu não conseguia me mexer... — ele disse baixo. — Eles pegaram a Annie também. — seu olhar voltou para a corda e eu fiquei chocada com tal notícia. Como assim eles também pegaram a Annie? Por que? Por qual motivo? Agora entendo porque ele está tão mal. — Ela está na Capital. — ele me olhou novamente, com um olhar vago. — Queria que ela estivesse morta. Queria todos mortos, incluindo nós. O sofrimento seria menos.

Ele está certo. Se eu estivesse morta, nada disso estaria acontecendo. Me aproximei de sua cama e me sentei ao seu lado. Logo as lágrimas começaram a cair.

—É tudo culpa minha, Finnie... — digo com a voz fraca. — Eu deveria ter deixado Gavin sair vivo daquela arena, minha família ainda estaria viva, e não estaríamos nessa situação. — coloquei minha mão na boca para abafar o soluço que escapou.

—Ei, Lily, não diz isso. — sua mão começou a acariciar minhas costas. — Nada disso é culpa sua. Você só fez o que fez para deixar aqueles que você ama a salvos. Tudo isso é culpa do louco do seu avô.

—Que não teria feito nada disso se eu não tivesse dado aquelas pílulas para Katniss e Peeta. Eu deveria ter ficado quieta, deixado um dos dois ou até mesmo os dois morrerem na arena. Esse Massacre não teria acontecido e Peeta e Annie não estariam na Capital.

—Acha que isso daria certo? Lily, você conhece o seu avô, fazendo ou não fazendo o que você fez, ele ainda vai continuar governando daquele jeito dele e te controlando. Essa rebelião é a única chance dele cair, a única chance de trazer paz a Panem. E talvez, como você é uma Snow, se tornaria a presidente por ser a neta dele, e com certeza você seria uma ótima presidente.

—Tenho minhas dúvidas. Não sei se quero ser presidente, é uma responsabilidade enorme para mim...

—Eu entendo. Você é melhor com a música do que com qualquer outra coisa. — é, ele tem razão. — Você anda comendo? — perguntou quando reparou melhor em mim. Apesar da barriga estar crescendo, estou um pouco magra devido a eu não estar me alimentando direito, não por culpa minha, eu tento, mas os enjoos fazem questão de jogar tudo fora. Eu neguei com a cabeça.

—Jogo tudo fora já que parece que o bebê não gosta muito da comida do 13. — digo dando um riso fraco, isso fez Finnie dar um sorriso fechado.

—É, por parte ele está certo, a comida aqui não é lá essas coisas. — ele disse. — Mas tirando isso, ele está bem? — assenti com a cabeça.

—O médico disse que ele está bem e saudável. — digo colocando a mão em minha barriga. — Eu mal havia acordado aqui e já me falaram sobre aborto. Como se isso fosse uma coisa para se falar para uma pessoa que ainda está digerindo a notícia de que está esperando um bebê.

—E como se sente em relação a isso? Quer abortar? — neguei com a cabeça no mesmo instante.

—Foi uma surpresa, foi inesperado. Claro, com certeza Peeta me apoiaria em qualquer decisão que eu tomasse em relação ao bebê, mas se ele estivesse aqui, ele iria cuidar de mim e do bebê, fazer de tudo para eu e ele ficar bem. Porém, como ele não está aqui, irei cuidar como ele cuidaria de nós dois, vai ser uma forma de eu me lembrar dele, de sentir ele perto de mim.

Minha voz começou a ficar fraca na última frase e as lágrimas começaram a cair. Eu sentia falta dele, muita falta. Seria um pouco mais fácil se ele estivesse aqui, acompanhando a gestação, cuidando do nosso bebê junto comigo, como ele estava cuidando na arena, mesmo sem saber que era verdade, se ele estava assim quando achou que era mentira, imagina se ele soubesse que era real. Mas ele não está aqui. Provavelmente deve estar morto na Capital, não duvido muito, e isso me deixa mais abalada do que qualquer outra coisa. Sinto Finnick me envolver em um abraço forte, fazendo eu retribuir no mesmo instante.

—Vai ser difícil, vai ser complicado, isso é fato. — começou a dizer. — Mas saiba que você não está sozinha. Vamos te ajudar no que for preciso.

Aquelas palavras de Finnick me fez chorar mais ainda, mas de emoção. Saber que, pelo menos por ele, não estou sozinha. Que ele vai ficar do meu lado o tempo que for preciso, assim como na maioria das vezes.

—Obrigada, Finnie... — digo com a voz baixa.

━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━

—Senhorita Snow. — me virei para o lado assim que ouvi uma voz. Era um homem alto e negro com roupas de soldado.

Eu recebi alta há alguns minutos atrás. Eu fiquei algumas semanas na ala hospitalar, e agora estou com doze semanas de gravidez, minha barriga estava crescendo um pouco a cada semana. Prim e Katniss estavam comigo, a mais nova ajeitava meu cabelo enquanto a morena estava se certificando se eu estava bem e conversava comigo enquanto acariciava o pequeno volume da minha barriga. Eu vestia o macacão cinza e as botas que são o uniforme do 13. Para uma pessoa que ama cor, esse uniforme é horrível. Eu vou ficar no mesmo compartimento que as Everdeen, já que não quero ficar sozinha e não pode misturar garotos e garotas, caso fosse possível, iria ficar com Finnick, este que ainda está na ala hospitalar.

—Coronel Boggs, chefe de segurança do Distrito 13. — se apresentou. — Sei que recebeu alta faz pouco tempo, mas a presidente Coin quer vê-la.

—Tem alguma notícia? — perguntei com um pouco de esperança.

—Vim apenas para escolta-la.

Assenti com a cabeça. Me despedi de Katniss e de Prim com um olhar e sai do quarto junto com Boggs. Gomos até um grande elevador. Boggs abaixou uma grade e ele começou a descer.

—Diziam que não havia sobrado nada do 13. — comentei ao observar o lugar, que era muito grande.

—Reduziram a superfície a quase nada, mas somos militares. Aprendemos a sobreviver aqui embaixo. Preparação, treinamento. A guerra nunca acabou para nós.

O elevador parou em um andar e saímos. Boggs indicou uma porta para eu entrar e eu entrei. Vi Beetee em uma cadeira de rodas e fiquei com pena. As consequências do campo de força foi bem ruim para ele. Comecei a olhar a sala, as luzes eram mais azuladas e havia uma grande mesa no centro.

—Aí está ela. — ouvi a voz de Plutarch e me virei em sua direção, junto com ele estava uma mulher de cabelos cinzas, o que fez eu franzir meu cenho quando a vi. Como assim? — Nossa Garota Arco-Íris! Senhora presidente, me permite lhe apresentar, O Tordo.

—É uma honra conhecer você. — disse segurando minha mão, o que me fez puxar minha mão rapidamente. Mas... Como...? — É uma jovem corajosa. Sei como deve estar desorientada. Não imagino como seja vivenciar a atrocidade dos Jogos.

—Lily, a presidente Alma Coin. — Plutarch a apresentou.

Olhei nos olhos da mulher, o que fez eu arregalar os olhos e sentir um arrepio na espinha com tamanha semelhança. Como ela é parecida com meu avô na aparência. Isso é possível?

—Saiba que é muito bem-vinda. — disse e vi sua mão indo em direção a minha barriga, provavelmente para acariciar, imediatamente dei um tapa de leve em sua mão para afastá-la e logo coloquei a minha mão sobre a minha barriga. Ela está achando que é quem?! — Espero que ache consolo em nós. — é, também espero. Porque ao ver como ela já foi invadindo meu espaço tentando colocar a mão em minha barriga, já me fez ficar em dúvida se acharei consolo neles. — Tivemos perdas no 13 também.

—Estamos fazendo história. Bem aqui, nesta mesa. — disse Plutarch.

—Desculpe o pouco tempo para se recuperar, mas não podemos nos dar ao luxo. Por favor, sente-se. — ela disse apontando para uma cadeira e eu me sentei, eu ainda estava com a mão em minha barriga, para se caso alguém sem ser do meu vínculo tentar aproximar sua mão de mim irei impedir no mesmo instante. — Você está ciente do que aconteceu? — eu fiquei quieta, esperando ela continuar. — Quando disparou aquela espada no campo de força, você eletrizou uma nação. Tem havido levantes, revoltas e greves em sete Distritos. Acreditamos que mantendo essa energia, podemos unir os Distritos contra a Capital. Caso contrário, se deixarmos dissipar, podemos esperar mais setenta e cinco anos por outra chance. Todos no 13 estão preparados.

—E quanto a Peeta? — finalmente eu disse alguma coisa desde quando entrei naquela sala. — Ele está vivo?

—Eu não sei. — disse Plutarch. — E gostaria de saber. Mas não tenho como contatar meu pessoal na Capital.

—A Capital sempre suprimiu a comunicação entre os Distritos. — começou Beetee. — Mas conheço bem o sistema deles. Dei um jeito de entrar nele. Agora só precisamos da mensagem perfeita.

—Lily, eis o que precisamos fazer. — minha atenção voltou para Plutarch. — Temos de mostrar que O Tordo está vivo e disposto a se levantar e se juntar à luta. Porque precisamos de todos os Distritos enfrentando a Capital. Como você fez. Então, vamos filmar uma série de vídeos de propagandas. Gosto de chamá-los de pontoprops. Sobre O Tordo. Espalhar que nós vamos alimentar o fogo dessa rebelião. O fogo que O Tordo iniciou.

Eu encarei Plutarch e logo meus olhos começaram a se encher de lágrimas, lágrimas de raiva. Raiva por ele ter deixado Peeta lá.

—Você o deixou lá. — digo com a voz baixa. — Você deixou o Peeta naquela arena para morrer.

—Lily, há muitos... — eu interrompi ele dando um soco forte na mesa.

—Peeta que deveria estar vivo! — me exaltei.

—Senhorita Snow. — Coin me chamou e eu a olhei. — Esta revolução diz respeito a todos mundo. A todos nós. E precisamos de uma voz.

—Então deveria ter salvado o Peeta. — digo entre dentes e me levantei, caminhando com passos raivosos até a porta do comando. Esta que Boggs fechou quando eu sai.

—Talvez fosse melhor ter resgatado o garoto. — parei de andar quando ouvi a voz de Coin atrás da porta, fiquei parada para ouvir a conversa. É, teria sido melhor mesmo.

—Senhorita, é melhor irmos... — disse Boggs em um tom baixo mas apenas o impedi com a mão.

—Só um minuto. — digo baixo.

—Não. — ouvi a voz de Plutarch. — Não, ouça. Ninguém além dela pode fazer isso. O fato dela ser neta do presidente Snow pode atiçar mais a rebelião.

—Essa não é a garota que você descreveu. — disse Coin.

—Obviamente, temos que tornar a coisa mais pessoal. Lembrá-la quem é o verdadeiro inimigo.

—Ela sabe. Não é esse o problema.

—Ela está grávida, e está sem o pai do bebê por perto para apoiá-la. Entenda, ela está assim por causa de toda essa situação. Ela está com tanta coisa na cabeça que deve ter esquecido quem é o verdadeiro inimigo. Explicar é uma coisa, demonstrar é outra.

Ao ver que ia desabar de chorar ali mesmo, resolvi ir para o meu compartimento para ninguém me ver naquele estado. Boggs me acompanhou. O motivo de eu querer chorar é de raiva e tristeza. Eles querem que eu seja o Tordo, mas eu não quero. Ir para uma guerra? É sério? Essa rebelião pode ser de grande ajuda, mas eles devem ter outra porta-voz para eles, eu não vou, a menos que eles me mostrem o porquê devo aceitar ser o Tordo deles.

━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━

—Se prepare, você vai para o 12. — disse Boggs.

Arqueei a sobrancelha quando ouvi aquilo. Por que eu vou para o 12? O que eu vou ver lá? Apenas assenti com a cabeça e ele saiu do compartimento. Eu estava com Katniss, já que sua mãe e Prim estavam na ala hospitalar. Ela também parecia confusa.

—O que eu vou ver lá no 12? Ele não está totalmente destruído?

—Bom, é só indo lá para saber o que eles querem que você veja. — ela deu de ombros e me abraçou, não demorei para retribuir. — Se cuida tá?

Assenti com a cabeça e sai do compartimento. Boggs me conduziu até o aerodeslizador, assim que vi Gale a posto na frente do veículo, corri para abraçá-lo, ele retribuiu no mesmo instante. Provavelmente ele iria me acompanhar até o 12.

—Você sabe o por quê que eles querem que eu vá? — perguntei quando nos separamos.

—Você precisa ver o que eles fizeram com a nossa casa. — disse com um olhar triste.

Entramos no aerodeslizador e me sentei em um dos bancos, Gale se sentou ao meu lado. O aerodeslizador logo começou a voar em direção ao doze.

A viagem não demorou muito, o aerodeslizador pousou e a porta se abriu. Gale me explicou que eles fizeram uma varredura para a minha segurança.

—Tem certeza que não quer que eu vá com você? — perguntou Gale.

—Tenho. Quero ir sozinha.

—Vamos ficar de olho lá de cima.

Eu sai do veículo e logo ele voou novamente. Eu estava de frente de onde seria o Edifício da Justiça. Minha expressão de choque era completamente visível ao ver o estado que aquela parte do Distrito ficou após o bombardeio. Um pouco de fumaça ainda é presente, o que confirma minhas suspeitas de que foi bem intenso. Comecei a caminhar sobre os destroços, o mau cheiro me deu enjoo na mesma hora, e se eu tivesse comido algo antes de vir, com certeza já teria vomitado. Pisei em uma coisa estranha e olhei para o chão, vendo um crânio em forma de esqueleto debaixo do cimento quebrado. Coloquei minha mão na boca para evitar um soluço e logo as lágrimas começaram a se formar. Andei mais um pouco e o que vejo a seguir me faz perder as forças das pernas e cair no chão, os soluços já escapavam de meus lábios assim como as lágrimas caiam sem parar. Ruínas. Esqueletos do que antes eram os habitantes do Distrito. Animais comendo os restos que sobrou. Isso tudo foi culpa minha? Ele realmente teve coragem de destruir o que antes era o meu lar? O lugar que passei minha vida inteira, e que por mais que eu não tivesse uma condição muito boa, era feliz, com a minha família, não existe mais. Tudo isso por causa de algumas pílulas? Só por que quis salvar os dois da arena? Como se ele mesmo já não tivesse trapaceando para tirar seu tributo de uma arena também. Respirei fundo e tentei me recompor. Me levantei e comecei a caminhar até a Aldeia dos Vitoriosos, que não tinha um arranhão sequer. Será que é por que eles desconfiam que eu voltaria para cá? E só estão esperando a oportunidade perfeita para virem me matar? Fui primeiro até a minha casa, que parecia uma casa abandonada. Estava suja, fria e escura, isso fez um calafrio percorrer pela minha espinha. Peguei uma bolsa média e comecei a pegar algumas coisas de lá, meu violão, que iria carregar na mão já que não cabe na bolsa, fotos da minha família, uma foto minha com o Jeremy, o meu caderno de músicas que havia esquecido aqui, o pano que eu estava enrolada quando minha família me encontrou, uma pena que meu vestido de arco-íris deve ter tomado outro rumo na Capital, visto que eu havia ido com ele para a Colheita. Fui até o escritório ver se tinha alguma coisa que eu queria levar e me deparei com o vaso de rosas brancas, já mortas, que meu avô havia me dado quando fez aquela visita antes da Turnê. Me aproximei do vaso assim que senti o perfume enjoativo que só agora percebi que elas tinham, mas por elas estarem mortas, elas deveriam perder o perfume, não é? Vi uma rosa que estava em perfeito estado entre as outras que estavam mortas, peguei a rosa torci o nariz quando seu cheiro ficou mais forte. Comecei a tremer quando percebi o real significado de ela estar aqui. Ele a enviou para mim. Joguei a rosa para longe e logo fui em direção a saída da minha casa. Nada aqui me interessa mais. Resolvi ir até a casa das Everdeen para ver se poderia pegar algo para elas. Fui direto para a cozinha, peguei algumas ervas que provavelmente seriam importantes para elas, vi uma jaqueta que já a vi usando várias vezes, suspeito que também seja importante, coloquei dentro da bolsa. Gritei de susto e me virei rapidamente quando ouvi um barulho de prato quebrando, vi um gato entrando pela janela. Mas é claro, Buttercup, o gatinho de Prim.

—Por favor, não me assuste desse jeito. — digo baixo e me aproximei dele, fazendo carinho em seguida. — Você quer ver a Prim? — ele miou em resposta. — Então vamos lá.

Peguei o gato com cuidado e coloquei dentro da bolsa. Fui até o escritório da casa e peguei algumas fotos que seriam importante para elas também, como a foto da família completa e a foto de seu pai. Percebi que já era hora de eu sair, se aquela rosa for realmente um aviso de que provavelmente eles podem estar me vigiando, é melhor eu ir embora antes que me achem. Sai correndo da casa e fui correndo até onde o aerodeslizador iria me pegar. Já passei mais tempo do que eu devia aqui.

━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━

Ao chegar no 13, fui direto para o compartimento. Katniss não estava sozinha dessa vez, sua mãe e sua irmã estava junta. Assim que me viram, a morena veio em minha direção e me abraçou.

—Deve ter sido horrível. — disse e nos separamos. — Mas estamos todas bem apesar de tudo.

—Buttercup! — Prim disse ao ver o gato saindo da minha bolsa, peguei o gato e a entreguei, logo ela abraçou o felino.

—Tive que trazer ele para cá. Com certeza ficaria feliz em te ver. — digo. — Também trouxe algumas coisas que seriam importantes para vocês.

—Aqui as regras são rigidas. — disse a senhora Everdeen. — Não sei o que podem fazer se ver ele aqui.

Ah, é verdade, aqui eles não aceitam animais.

—É só deixar ele bem escondido que eles não vão nem reparar. — disse Katniss.

Katniss e eu sentamos na minha cama e começamos a ver as coisas que eu trouxe.

—Minha jaqueta. — disse quando viu a sua jaqueta e ela sorriu. — Obrigada! Ela é importante para mim.

—Eu imaginava, visto que você usava direto. — eu sorri.

—Lily, obrigada mesmo. Você nem pode carregar muito peso.

—Sim, eu sei, mas não estava tão pesado. — dou de ombros. — Não queria deixar nada para atrás.

—Como você está em relação a tudo isso? — perguntou mudando de assunto, um pouco preocupada. Suspirei antes de responder.

—Sabe, é difícil. Grávida, longe do Peeta que é o pai, essa coisa de revolução, eles querendo que eu seja o Tordo, vendo o 12 em ruínas... — senti minha voz ficar fraca. — Minha preocupação nesse momento está sendo mais o meu bebê do que qualquer outra coisa. Tudo o que eu quero é que ele continue bem e saudável até o dia de seu nascimento. Sinto falta de Peeta todos os dias e queria que ele visse nosso bebê crescendo, cuidando dele, mas ele não está aqui... — mais lágrimas começaram a cair e eu as limpei. — Eu odeio esses hormônios, estou chorando por tudo. — dou uma gargalhada.

Katniss segurou a minha mão e me deu um sorriso reconfortante.

—Chore quantas vezes quiser, só você sabe a dor que está sentindo. Quero que saiba que você não está sozinha, iremos cuidar de você e desse bebê como Peeta cuidaria se estivesse ao seu lado, tudo bem?

Assenti com a cabeça.

—Finnick me disse isso há alguns dias atrás.

—Isso só confirma que você não está sozinha. — ela começou a acariciar minha mão. — Lily, você é forte, você vai conseguir. E nós, que somos seus amigos, estamos aqui para te ajudar e te apoiar em tudo que você precisar.

Eu sorri em meio às lágrimas que caiam sem parar. Eu realmente não estou sozinha, Finnick, as Everdeen e Gale estão do meu lado, isso eu sei.

—Obrigada Kat. — digo ainda com um sorriso.

━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━

Eu estava no refeitório sentada ao lado de Gale e Katniss. Prim estava na ala hospitalar com a sua mãe. Eu mexia a comida com o garfo e as vezes comia uma garfada ou outra mas eu estava tão enjoada que só comecei a mexer a comida um pouco pensativa.

—Você deveria comer alguma coisa. — a voz de Katniss me tirou de meus pensamentos. — Vai fazer bem para você.

—Estou enjoada, Kat. — respirei fundo, uma coisa que estou fazendo desde que sentei nessa mesa para ver se o enjoo passa. — Não consigo comer por causa disso...

—Isso aí é frescura. — ouvi Gale dizer. Katniss e eu olhamos para ele. Tô repensando seriamente se ele realmente está do meu lado nessa gravidez. Algumas de suas atitudes me faz pensar que não. Primeiro a sugestão do aborto, e agora isso?

—Gale, ela está grávida! É claro que ela vai ter enjoos!

—Se não tivesse trepado com o Peeta, ela não estaria enjoada para comer. — disse e imediatamente fiquei em choque com que ele disse. Mas o que? — Depois que ficar sem comida, não venha reclamar de fome.

Eu ia falar um monte de coisa para ele, mas o hino da Capital vindo da televisão chamou a minha atenção. Era o "Notícias da Capital" em seguida Caeser Flickerman aparece com seus cabelos em tons de lavanda e seu terno cintilante. Mas uma coisa estava diferente, ele não tinha seu sorriso habitual, ele estava com uma cara séria. Estava atenta a televisão, assim como todos no refeitório.

—Olá. Boa noite e boas vindas à todos vocês de Panem. — começou a falar. — Sou Caeser Flickerman. — era estranho ver ele com uma cara séria e não com a sua animação costumeira nas entrevistas para os Jogos. — Quem quer que você seja e o que esteja fazendo, se estiver trabalhando, pare. Se estiver jantando, pare. Porque você vai querer testemunhar isto esta noite. — ele fez uma pequena pausa. — Tem havido grande especulação sobre o que realmente aconteceu no Massacre Quaternário. E para esclarecer um pouco esse assunto, trouxemos um convidado especial, seja muito bem-vindo senhor Peeta Mellark. — a câmera focou no garoto e meu coração começou a acelerar.

Ele estava aparentemente bem, com um terno branco, cabelos penteados, pernas cruzadas, parecendo realmente confiante e bem na frente das câmeras, como ele sempre foi. Sem perceber acabei me levantando e indo para mais perto da televisão e olhei para a tela em estado de choque.

—Peeta, muitas pessoas ainda não conseguiram entender direito.

—Sim, eu sei como elas se sentem. — sua voz soou como uma ótima melodia para os meus ouvidos. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas e um alívio percorreu minhas veias. Ele está vivo, e aparentemente está bem.

—Esclareça para nós. Diga exatamente o que aconteceu naquela penúltima e polêmica noite.

—Para começar, é preciso entender que quando se está nos Jogos, existe um único desejo. E é bem custoso.

—Você está vivo. — digo baixo.

—Custa sua vida.

—Custa mais que a vida.

—Como assim, custa mais que a vida?

—Assassinar gente inocente custa tudo o que você é. — Caeser concordou. — Então, você se agarra a esse único desejo. E naquela noite, meu desejo era salvar Lily. Deveríamos ter fugido mais cedo, como ela queria.

—Mas não fugiu. Por que? Estava focado no plano de Beetee?

—Eu estava focado em fingir ser aliado. Então, eles nos separaram e... — ele respirou fundo. — Foi aí que eu a perdi. — nesse momento eu respirei fundo para não começar a chorar, mas acho que não deu muito certo. Uma lágrima caiu. — Então veio o raio e todo o campo de força ao redor da arena explodiu.

—Sim, mas, Peeta... foi Lily quem o explodiu.

—Não. — ele negou com a cabeça.

—Você viu as filmagens.

—Não, ela não sabia o que estava fazendo. Nenhum de nós sabia do grande plano em andamento.

—Não faziam ideia? — Mellark negou. — Bem, Peeta, muitos acham isso no mínimo suspeito. Parece que ela fazia parte de um plano rebelde.

—Fazia parte do plano dela quase ser morta por Johanna? Ou fazia parte do plano ser paralisada pelo raio? — sua voz mostrava uma leve irritação. — Não sabíamos sobre nenhum plano rebelde! Não tínhamos ideia do que estava acontecendo!

—Tudo bem. Acredito em você, Peeta Mellark. Obrigado. — Caeser pareceu perceber a raiva do loiro e por isso interviu, para amenizar a situação. — Ia pedir para você falar sobre a agitação, mas acho que pode se aborrecer.

—Não. Eu posso falar.

—Tem certeza?

—Sim. — a câmera focou em seu rosto, e ele olhava atentamente para a câmera. — Quero que todos que estão assistindo, parem e reflitam sobre o que pode significar uma guerra civil. — ouvi as pessoas ao redor reclamarem. — Quase fomos extintos uma vez. E agora somos em um número menor. É o que realmente queremos? Nos matarmos? Matar não é a resposta. Todos devem largar suas armas imediatamente.

—Traidor! — ouvi as pessoas dizerem

—É um deles!

—Está conclamando por um cessar-fogo? — perguntou Caeser.

—Sim. Eu estou. — ele respondeu.

—Isso é traição!

—Fantoche!

—Enforquem ele!

Não consegui mais prestar atenção no resto da entrevista. As falas sobre Peeta estava me deixando louca. Saí correndo do refeitório com a minha visão começando a ficar embaçada por causa das lágrimas. O que foi essa entrevista? Ainda estou processando o que aconteceu. Sua defesa de minha inocência em colaborar com os rebeldes e sua inegável cumplicidade com a Capital agora que ele acabou de conclamar um cessar-fogo. Ele fez a coisa soar como se estivesse condenando ambos os lados na guerra. Mas nessa altura, com apenas vitórias insignificantes para os rebeldes, um cessar-fogo só poderia resultar num retorno a nossa situação anterior. Ou pior. Pelo menos uma coisa boa em relação a essa entrevista, Peeta está vivo.

━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━

━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━

Demorei um pouquinho para postar por motivos de:

Tive algumas ideias de edit para Daylight e Falling like Snow e estou dando um jeito de fazer a que eu mais quero fazer. Espero muito que certo!

Essas edits são postadas no Tiktok. O user sendo o mesmo do Wattpad @staywolfnoir.

Mas, em compensação, mais de 5k de palavras! Vocês merecem um capítulo longo😃

Muita coisa aconteceu! Mais cenas da amizade de Finnick e Lily, e digo para vocês, essa amizade vai ser MUITO importante nessa fanfic, muito importante mesmo!

Também temos Gale sendo um merda, como sempre😻

A amizade de Katniss e Lily! Que sim, também vai ser importante, mas não tão importante como a do Finnick!

Quis colocar a entrevista do Peeta aqui nesse capítulo, e foi mais um motivo do capítulo ter ficado longo, mas como sei que vocês amam capítulo longo, resolvi dar esse mimo para vocês🫶🏻

Se vocês tiverem alguma dúvida em relação às semanas de gestação de Lily, podem falar nos comentários. Eu preferi falar semanas porque vai ser mais "fácil" de mostrar o tempo (e confesso que fiquei mais confusa em relação a meses do que a semanas, por isso coloquei semanas).

Enfim, A FANFIC CHEGOU NOS 400 VOTOS! Sério gente MUITO OBRIGADA a todos que estão apoiando Falling like Snow, sério, eu fico muito feliz de verdade pelo carinho e apoio💜

E uma coisa que eu percebi hoje. Falling like Snow está no top 1 na tag Jogos Vorazes aqui no Wattpad, não acreditei quando vi.

Estou muito feliz com isso, de verdade! Isso significa que vocês estão gostando da fic (bom, acho eu neh😶) mas muito obrigada mesmo, de coração🫶🏻🫶🏻

Peço desculpas se tiver algum erro ortográfico. Tento ao máximo evitá-los mas tem vezes que passa despercebido.

Acho que não tenho mais nada para falar aqui, se caso tiver, falo no próximo capítulo.

Vejo vocês no próximo capítulo💜✨️

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top