prologue
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
—Estão gostando pessoal? — disse Aimee, quando os outros pararam de tocar. O pessoal que estava na praça começou a aplaudir indicando que haviam gostado. — Mas iremos ter muito mais! Com vocês, a primeira e a única, Lily! — ela apontou em minha direção.
Subi na plataforma onde fica a fonte da praça quando ela me anunciou, com um sorriso no rosto, um violão em mãos, um vestido preto florido e uma bota de cano médio preta nos pés. Rodopiei até chegar na frente do microfone.
—Olá Distrito 12! Como vocês estão? Aposto que estão ansiosos por causa da Colheita de amanhã. Mas não se preocupem! Estamos aqui para deixar o dia de amanhã menos... Tenso, vamos dizer. — digo com um sorriso enquanto olhava para todos que estavam na praça vendo o show. Comecei a tocar algumas notas no violão. — Que tal mais uma música? — ouvi os gritos baixos insinuando que sim. O Distrito 12 era quieto e triste na maioria das vezes. Mas os nossos shows sempre animavam os cidadãos. — Can't take my past... — comecei a cantar na entoação da música. — Can't take my history... — meus dedos começaram a tocar o violão no ritmo da música. — You can't my pa but his name's a mystery... Nothing you can't take from me was ever worth keeping... Oh nothing you can't take was ever worth keeping... — o som dos outros instrumentos começaram a ser ouvidos. Eles tocavam e dançavam no ritmo da música junto comigo.
Can't take my charm
Can't take my humor
Can't take my wealth
'Cause it's just a rumor
Nothin' you can take was ever worth keepin'
No, nothin' you can take was ever worth keepin'
Thinkin' you're so fine, thinkin' you could have mine
Thinkin' you're in control, thinkin' you'll change me
Maybe rearrange me, think again if that's your goal
Ooh
Can't take my sass
Can't take my talkin'
You can kiss my ass
Then keep on walkin'
Nothin' you can take was ever worth keepin'
Oh, nothin' you can take was ever worth keepin'
Nothin' you can take from me is worth dirt
Take it, 'cause I give it free, you all heard
Nothin' you can take was ever worth keepin'
No, nothin' you can take was ever worth keepin'
As pessoas começaram a aplaudir e eu fiz uma referência para agradecer. Eu amava tocar naquele lugar. Amava fazer um Distrito triste ficar feliz e esquecer da vida que tem nem que seja por alguns minutos. Viver em uma sociedade como esta não é fácil. As pessoas apoiam e gostam de um reality sangrento onde duas pessoas de doze a dezoito anos, um garoto e uma garota, são selecionados para irem lutar até a morte em uma arena. É uma punição por causa dos Dias Escuros. O Distrito 12 é o Distrito mais pobre de toda Panem. Passamos fome e nem temos uma casa boa para morar. As ruas desfeitas com terra para todo o lado. Eu ainda tinha sorte de viver com o Bando, como eles gostam de ser chamados. Se não fosse por eles, eu não estaria viva hoje. Eles são a minha família, já que a minha família verdadeira é completamente desconhecida.
Olhei para o pequeno pote, onde as pessoas que podiam dar dinheiro para nós, havia uma pouca quantia, com certeza as mesmas pessoas que deram, alguns Pacificadores e a filha do prefeito. Vai ser o suficiente para a refeição dos próximos dois dias. Amanhã vai ser a Colheita, e muitas crianças estão ansiosas e nervosas, principalmente aquelas que vão fazer a inscrição pela primeira vez. Ficava com pena de quem ia para os Jogos, principalmente as crianças de doze anos. Mas é o nosso sistema. Um sistema que não é justo.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
Eu já estava pronta para a Colheita. Minha roupa era a mesma de todos os anos. Um vestido com babados de arco-íris, uma bota de cano médio preto, que eu sempre uso ela em qualquer hora do dia e em qualquer lugar, eu deixo meu cabelo solto porque sinto que não há necessidade de fazer um penteado. Somos em cinco pessoas no Bando. Aimee, Jeremy, Betsy, Deena e eu. Mas apenas Jeremy e eu que participamos da Colheita, este é o último ano de Jeremy e ano que vem ele vai começar a trabalhar nas minas por ser o único homem da nossa família, então os shows do Bando vão ficar com um integrante a menos por causa disso.
Encontrei Jeremy enquanto caminhava para a saída da nossa pequena casa. Ele estava com uma camiseta cinza e uma calça marrom claro e um sapato gasto preto, a única roupa que ele usa nas Colheitas. Seus cabelos ruivos estavam penteados para o lado.
—Vocês estão lindos! — disse Aimee com um sorriso. — Fiquem tranquilos. A sorte vai estar ao nosso favor assim como em todos os anos!
—Não confie muito nisso, Aimee. — disse Betsy. — O nome de Jeremy está na urna quarenta e duas vezes, não podemos brincar com a sorte sempre.
—Se eles não foram sorteados até agora, não é hoje que vão ser!
—A discussão vai começar. — sussurrou Jeremy para mim e eu dei uma risada nasal.
Aimee e Betsy tem personalidades completamente diferentes. Aimee é mais animada e sonhadora, já Betsy é um pouco mais séria e realista. Deena é a mais velha de todos nós, sendo a mais calma e tranquila de nós cinco. Jeremy é uma pequena mistura de Deena e Betsy, sendo mais tranquilo e realista.
—Melhor irmos, a Colheita já vai começar. — diz a mais velha.
Saímos da nossa casa, que fica bem no final da Costura. Todos estavam indo em direção a praça para a Colheita. Jeremy e eu íamos na frente enquanto Aimee, Betsy e Deena estavam atrás de nós. Fomos para a fila da inscrição e eu fui na frente por ser a mais nova. Demorou uns três minutos para chegar a minha vez. Faço a inscrição e vou seguindo os adolescentes da minha idade. Não tenho amigos no 12, com exceção da minha família, meus instrumentos musicais e meu pequeno caderno com as músicas. Meu olhar vai para as grandes bolas de vidro que estavam em cima das mesas que estava no palco improvisado diante do Edifício da Justiça. Em uma bola de vidro daquela, estava dezoito papéis com o nome Lily. Levei um pequeno susto quando Effie Trinket, a mulher da Capital com suas perucas coloridas e roupas extravagantes que vem todos os anos realizar a Colheita aqui no 12, dá alguns toques no microfone para começar a falar.
—Bem vindos! — ela diz com a mesma voz entusiasmada de todos os anos. — Feliz Jogos Vorazes! E que a sorte esteja sempre ao seu favor!
Ela começa a falar da honra de estar ali e depois o filme sobre o Tratado da Traição passa nos telões da praça. Eu já sabia aquele filme de cor. Procurei Jeremy na multidão e o vi com os adolescentes da sua idade. Ele me olhou e perguntou em leitura labial se eu estava bem e eu apenas assenti com a cabeça. Jeremy sempre mantém a tranquilidade nos dias da Colheita, mais especificamente para não me deixar nervosa, mas sei que no fundo ele deve estar nervoso também. Com certeza não seríamos vencedores dos Jogos Vorazes, eu não sei fazer nada além de cantar, tocar e dançar, já Jeremy tem uma pequena chance, visto que tem uma ótima mira e pontaria. Minha atenção foi para Effie, suas roupas eram em tons de roxo com uma peruca lilás com cachos e saltos pretos, a maquiagem pesada e extravagante.
—Ah, como eu adoro isso! — disse ela animada e com um sorriso quando o filme acaba. — Chegou a hora de selecionarmos dois jovens corajosos para ter a honra de representar o Distrito 12 na Septuagésima Segunda Edição dos Jogos Vorazes! — eu não conseguia entender sua animação. Por que ela fica animada de ver pessoas se matando? — Como sempre, as damas primeiro! — ela cruza o palco até chegar na bola com o nome das garotas. Ela se aproxima, enfia as mãos bem no fundo do recipiente e retira uma tirinha de papel. A praça está em um silêncio total, que era possível ouvir se caísse uma pequena pedrinha no chão. Effie Trinket cruza novamente o palco e para diante do microfone. Ela abre o pequeno papel para ler o nome escrito. Comecei a morder meu lábio inferior por causa do nervosismo. — Lily... Oh, não tem sobrenome? — ela parecia um pouco confusa ao ler o pequeno papel.
Não sei se existe outras Lilys no 12, mas a única habitante deste Distrito sem um sobrenome sou eu. Então sem dúvidas que era eu e isso só foi confirmado quando as pessoas começaram a olhar para mim. Apesar de estar nervosa e assustada, caminhei em direção ao palco com a cabeça erguida e um pouco séria. Ouvi a voz de Jeremy me chamando no meio da multidão, mas não tinha o que fazer, eu teria que ir. Os Pacificadores começaram a me acompanhar no meio do caminho. Effie estendia a mão para mim quando cheguei na escada para subir ao palco e ela me puxou para cima e me conduziu até o centro, me posicionando ao seu lado esquerdo.
—Muito bem! Vamos lá, uma salva de palmas para o nosso mais novo tributo, Lily! — gorjeia Effie enquanto batia palmas.
Nem uma pessoa bateu palma, todos estavam em silêncio absoluto. Ouvi um assobio de quatro notas e olhei na direção, vendo Jeremy erguendo os três dedos médios e todos começaram a segui-lo. Todos me conhecem no 12, acho que deve ser por isso que devem ter feito aquele sinal. Ele significa admiração, agradecimento, adeus a quem você ama. Com certeza esse sinal deve ser em agradecimento por mim, acho que está mais do que óbvio que não irei conseguir sair viva daquela arena. Sorri para Jeremy em agradecimento e ele sorriu de volta.
—Agora, vamos para os garotos! — ela cruza o palco novamente, indo para a bola onde estava o nome dos garotos. Ela pega um papel e cruza novamente o palco e para diante do microfone. Ela abre o pequeno papel para ler o outro nome escrito. — Gavin Weber! — ela diz o nome.
Gavin Weber? Nunca nem ouvi esse nome. Olhei na direção do dono do nome, este que estava vindo em direção ao palco com os Pacificadores ao redor. Estatura mediana, magro, pele pálida, cabelos castanhos liso. Acho que já devo ter o visto em um dos show do Bando, mas não estou bem lembrada. Ele sobre os degraus e fica ao lado direito de Effie. Ela também bateu palmas para o novo tributo mas dessa vez tudo que ele recebeu foi total silêncio.
—Aqui estão os tributos do Distrito 12! — disse Effie animada e com um sorriso enorme nos lábios. — Vamos lá, apertem as mãos!
Nós dois apertamos nossas mãos. Reparei melhor no garoto a minha frente, seus olhos eram castanhos e pareciam vazios. Eu realmente tenho a impressão de que já o vi em alguns dos shows. Somos levados para dentro do Edifício da Justiça e em seguida para uma pequena e iluminada sala, bem chique por sinal. Com tapetes e sofás de um tecido que aparentemente deve ser veludo em tons de vermelho e dourado. Alguns segundos se passaram quando ouvi a porta se abrir, revelando Aimee, Betsy e Deena. Aimee, como imaginava, estava com o rosto molhado pelas lágrimas, Deena já estava com lágrimas se formando nos olhos e Betsy só estava com uma feição triste. Aimee vem me abraçar rapidamente com uma certa força, e retribui na mesma intensidade.
—Vocês tem três minutos. — disse o Pacificador, e fechou a porta em seguida.
—Está tudo bem, eu estou bem... — digo para tranquilizar a mais velha.
—Lily, você não vai conseguir. — ela diz se separando do abraço. — Nós vamos te perder.
—Pelo menos pensem nos momentos bons que passamos! Não se preocupem comigo, tudo bem?
Nossa despedida durou até os Pacificadores arrastar as três para fora. Alguns segundos depois, outra pessoa entra na sala. Jeremy. Ele veio me abraçar e eu retribui.
—Eu queria te salvar, Lily. Mas eu não podia...
—Está tudo bem, Jeremy, está tudo bem! — nos separamos. — Eu juro.
—Eu sei que não está tudo bem, eu te conheço desde quando você era um bebê. Não mente para mim! — fiquei em silêncio. Ele é o único que realmente percebe quando estou bem ou não. — Sei que você acha que não consegue, mas tenta conquistá-los, use sua voz.
—Como minha voz pode me salvar? Eu não sei fazer nada além de cantar!
—Isso pode te ajudar a conseguir patrocinadores, Lily! E é com a ajuda deles que você pode pelo menos viver por bastante tempo naquela arena! Use sua voz e seu dom para música!
—Irei tentar. — digo.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
O trem era incrivelmente luxuoso e havia muita comida nos esperando. Fiquei olhando cada detalhe bastante admirada. Effie, Gavin e eu nos sentamos nas poltronas que haviam lá, estas que não conseguiram decifrar o tecido.
—Pensem pelo lado bom, vocês vão poder aproveitar toda essa maravilha! Mesmo que seja por pouco tempo! — disse Effie com um sorriso. — Eu irei procurar o Haymitch...
—Não precisa, já estou aqui. — ouvimos a voz de um homem e olhei em sua direção. Cabelos loiros longos e com um copo de bebidas em mãos. — Meus parabéns! — disse ele se sentando na poltrona ao lado de Effie. Parabéns? Ele olhou nós dois atentamente. — É, acho que dá para fazer alguma coisa. — Dá para fazer alguma coisa? Sei que nós dois parecemos inúteis, mas não precisa falar desse jeito! O loiro pousou seus olhos em meu rosto e pareceu um pouco pensativo. — Conheço você. — disse apontando para mim.
—Todos no 12 me conhecem. — digo séria.
—Claro que conhecem. Você canta todos os dias na praça com seus amiguinhos. — ele deu uma gargalhada. — Que azar você vir para cá. Normalmente os jovens de quatorze anos não sobrevivem muito na arena.
—Eu imagino.
—Mas não devemos perder as esperanças! — disse a mulher de cabelos lilás tentando amenizar a situação.
Eu já perdi as esperanças. Só meu corpo morto irá sair daquela arena.
—O que vocês dois sabem fazer? — perguntou.
Nós dois ficamos em silêncio total. Não sei as habilidades de Gavin, mas eu com certeza não sei fazer nada além de cantar.
—Bom, teremos que trabalhar melhor nisso. — ele olhou para mim. — Mas talvez a sua voz possa te ajudar no assunto patrocinadores. Iremos treinar bastante para vocês terem patrocinadores.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
—Aquele seu vestido da Colheita é incrível. — disse um homem negro de cabelos pretos. — Cinna. — se apresentou.
—Lily.
—Onde você conseguiu aquele vestido? Confesso que fiquei bem curioso visto que as pessoas do 12 se vestem diferente.
—Nem eu sei, na verdade. Sempre tive ele a minha vida inteira.
—Seu vestido ficou bem famoso entre as pessoas da Capital. Você já é conhecida por causa dele.
Eu o olhei bem. Nunca o havia o visto na televisão. Com certeza era novo.
—Você é novo aqui, não é? — pergunto. — Nunca te vi antes.
—É verdade. Esse é o meu primeiro ano nos Jogos.
—E te deram logo o Distrito 12? — normalmente os novatos ficam com o 12, já que é indesejado pelos outros.
—Eu que escolhi ficar com o Distrito 12. — ele disse sem dar explicações. — Então, Lily, como você sabe, é costume dos Jogos refletir o que mais identifica o Distrito.
Assenti com a cabeça. Para a cerimônia de abertura você deve vestir algo que sugira a principal atividade de seu distrito. Distrito 11: agricultura. Distrito 4: pesca. Distrito 3: fábricas. Isso significa que, por sermos do Distrito 12, Gavin e eu teremos que usar alguma coisa que tenha haver com minérios. Como os macacões soltos dos mineiros não são exatamente adequados, nossos tributos normalmente acabam usando uniformes não apropriados e chapéus com lanternas na cabeça. Teve um ano em que nossos tributos ficaram completamente nus e cobertos de pó preto para representar a fuligem do carvão.
—Sim, nós somos mineiros.
—É, mas eu não quero focar nisso. Como você já é bem conhecida pelo seu vestido de arco-íris, irei misturar isso com o carvão.
Fiquei confusa com o que ele disse, mas já imaginava o pior.
—Você não tem medo do fogo, não é? — disse e eu neguei com a cabeça.
Uma hora depois eu estava com um macacão preto colado de gola alta que ia até meus joelhos com ombreiras com detalhes dourados, também havia uma espécie de saia, também na cor preta com detalhes dourados, a saia só cobria a parte frontal do meio das minhas pernas e a parte traseira, então era totalmente aberto nos dois lados da perna, nos pés uma bota de cano alto de salto médio. Meu rosto estava totalmente livre de maquiagem e meu penteado era um rabo de cavalo alto e bastante volumoso. Gavin estava com o mesmo macacão que eu, mas sem a saia e nos seus pés estavam uma bota de cano curto simples na cor preta. Nós dois estávamos com uma capa preta que ia até nossas coxas. Duas coisas, ou seríamos as estrelas da noite ou os fracassados.
—Lembrem-se, não é fogo de verdade. — disse Cinna com uma espécie de tocha em mãos, essa que tinha chamas arco-iris, bem diferente das chamas que estou acostumada. — Essas roupas foram feitas para que vocês não sintam nada.
—Parece bem real para mim. — disse Gavin.
—Essa é a ideia. — ele respondeu. — Estão prontos? — assentimos. — Não tenha medo.
—Eu não estou com medo. — digo dando um sorriso fechado. Isso não é nada comparado ao que vou enfrentar daqui alguns dias.
Gavin e eu subimos em nossas carruagens, onde nossos cavalos eram pretos como carvão. Ele parecia estar bastante nervoso, já eu estou acostumada com os olhares sobre mim. Eu tocava e cantava na frente de vários cidadãos do 12, os olhares de toda Panem não vai ser muito diferente, não é?
Alguns segundos depois nossa carruagem começou a andar, e logo nós ficamos visíveis para o público. Todos começaram a gritar quando nos viram. Eu sorria e acenava sem entender muito o porquê de tanta vibração, até ver eu mesma nos telões. Chamas. Estávamos em chamas! Iguais as chamas que Cinna mostrou, chamas arco-íris. Eu continuava sorrindo e acenando, aparentemente eles gostaram de mim, isso é bom, não é?
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
O meu pior pesadelo começou, Centro de Treinamento, onde os tributos treinam por quatro dias onde são avaliados cuidadosamente. Eu ficaria longe das armas, visto que sou péssima com todas elas, sei que deveria treinar com elas para aprender e melhorar, mas era algo que não queria.
Naquele momento, todos estavam enfileirados para realizar um treinamento de agilidade, como a escalada em uma escada horizontal alta. Se alguém caísse poderia se machucar bem feio dependendo da altura. Eu não tinha muita agilidade e confesso que não sei como vou atravessar essa escada. Os meninos se davam bem devido aos braços fortes, principalmente os Carreiristas. Respirei fundo quando percebi que estava chegando a minha vez, vi umas três pessoas caindo e se machucando, duas delas sendo garotas de outros Distritos, estava com medo de me machucar também. Minhas mãos alcançaram a haste e logo fiquei pendurada, qualquer erro eu irei cair no chão e provavelmente me machucar feio. Eu tinha uma leve vantagem, posso não ser forte nos braços mas sou forte nos dedos, por isso eles eram os responsáveis pelo meu equilíbrio. Senti olhares sobre mim enquanto avançava nas outras hastes para chegar do outro lado. Pousei com cuidado quando cheguei do outro lado e andei para outro setor.
—Como fez aquilo? — ouvi uma voz de uma menina, me virei e vi a garota do Distrito 9, Dawn, se não me engano, aparentemente tinha uns doze anos. Cabelos castanhos claros cacheados e olhos castanhos escuros quase preto. — Nunca vi uma garota se sustentar naqueles hastes com os dedos.
—Bom, eu tenho os dedos fortes por causa dos instrumentos musicais, deve ser por isso. — digo mostrando meus dedos cheios de calos para ela.
—Você toca? — perguntou e eu assenti com a cabeça. — O que?
—Violão, violino... Me dou bem com todos os instrumentos, mas meu sonho sempre foi testar o piano. — sorri. — Aliás, sou a Lily.
—Eu sei. — ela sorriu. — Sou a Dawn.
—Muito prazer. — continuo com um sorriso.
—Aquele seu vestido da Colheita é lindo, onde conseguiu?
—Não poderei responder essa pergunta, porque nem eu mesma sei. — dou um riso fraco. — Sempre tive ele, desde quando me entendo por gente. — realmente é verdade, eu não sei como consegui aquele vestido e minha família nunca quis me contar. — Você tem doze, não é? — ela assentiu com a cabeça.
—E você tem quantos anos?
—Quatorze. Sou apenas dois anos mais velha que você. — sorri. — O que acha de ficarmos juntas e aprender mais coisas? — sugeri.
—Tudo bem! — disse com uma felicidade genuína.
Ver aquela garotinha me fez ter uma pontada em meu coração. O fato deles colocarem crianças como ela, tão puras e inocentes nesse reality apenas por vingança e diversão. Sei que não irei conseguir protegê-la, mas farei o máximo para garantir sua segurança.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
Mais um dia no Centro de Treinamento e novamente fiquei ao lado de Dawn. Ela era uma ótima escaladora e sabe diferenciar vários grãos e até mesmo algumas plantas. Por eu viver na floresta com o Bando, eu aprendi a diferenciar algumas plantas. As comestíveis, as venenosas. Isso vai ser bem útil na arena já que não sei caçar. Dawn e eu estávamos indo para o setor de fogueira, ela andava tão distraída conversando comigo que não viu o Carreirista do 1 a sua frente e acabou esbarrando nele sem querer, este que virou com raiva e a empurrou com força no chão. Eu imediatamente me abaixei para ajudá-la a levantar e ver se ela estava bem.
—Olha por onde anda garota! — ele gritou.
—Me desculpa... — ela disse com a voz meio fraca
—Se estivéssemos na arena você estaria lascada em minhas mãos! — diz apontando o dedo em sua direção.
—Ei! Ela já pediu desculpas! — intervi, mesmo que seria bastante arriscado. — Foi um acidente! Ela é apenas uma criança!
—Olha só, a garotinha sem sobrenome está tentando defendê-la, vai fazer o que? Vomitar arco-íris em mim? — ele riu debochado. — Você não pode fazer nada contra mim, olha para você, uma garotinha do Distrito 12 que não consegue segurar uma arma! O que está fazendo aqui afinal?
—Eu estou aqui porque eu não tive escolha! Diferente de você que está aqui porque escolheu! Você teve os privilégios de treinar e de escolher vir para cá!
—Claro, você vive no Distrito mais pobre de Panem! É mais do que óbvio que não teve escolha.
—Posso viver no Distrito mais pobre, mas pelo menos sou rica de dignidade, diferente de você não é mesmo?
Isso fez com que seu sorriso debochado se transformasse em um olhar de raiva, ele estava quase avançando em mim quando outra pessoa se aproximou e ficou entre eu e o garoto do 1. Gavin.
—Acho que não vão gostar de uma briga aqui. — disse. — É contra as regras outro tributo atacar o outro, se não quiserem ter problemas, é melhor parar com isso. Como disse a supervisora, teremos bastante tempo para isso na arena.
O garoto do 1 ficou um pouco pensativo antes de falar algo.
—Tá. — ele se rendeu. Isso fez com que eu ficasse aliviada, até ele se aproximar de mim. — Mas fique ciente que na arena você vai ser a primeira da minha lista. — disse em um tom ameaçador antes de ir embora com os outros Carreiristas.
—Você está bem? — perguntei para Dawn, esta que confirmou com a cabeça. — Dá próxima vez não peça desculpas, apenas se afaste, okay? — ela assentiu.
—Obrigada, Lily. — disse com um sorriso. Logo ela olhou para Gavin, fazendo eu o olhar também. — Obrigada por nos defender.
—É, obrigada mesmo. Você teve bastante coragem.
—Eu seria um covarde se não fizesse algo. — ele deu um sorriso fraco e saiu de perto de nós duas sem dizer mais nenhuma palavra.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
—Por que resolveu interferir na briga? — pergunto para Gavin.
Já era de noite, todos estavam praticamente dormindo. Eu saí para andar pelo alojamento e encontrei Gavin na sala de estar, e queria tirar essa dúvida.
—Somos do mesmo Distrito, devemos ajudar um ao outro quando precisar, não é?
—Depende, só vai haver um vencedor.
—Eu sei disso, mas senti que precisava interferir. — um silêncio ficou entre nós por alguns segundos. — Aliás, você foi boa naquele setor de agilidade, como conseguiu se sustentar com os dedos?
—Sou musicista, consequentemente tenho dedos fortes por causa do violino e do violão. Você mais do que ninguém deveria saber disso, já me viu tocando no 12.
—É, eu deveria mesmo. — mais alguns segundos de silêncio. — O que pretende fazer na apresentação individual?
—Eu não sei, não sou boa em nada. Só sei tocar instrumentos e cantar.
—Se pudesse usar as habilidades musicais, você tiraria a nota máxima. — ele riu e eu soltei uma gargalhada.
Gavin parece ser uma pessoa legal. O único contato que tivemos foi agora.
—Podemos fazer um acordo. — começo a dizer e ele me olhou atentamente. — Podemos ser aliados nos Jogos junto com a Dawn. Ajudaremos uns aos outros, e se caso ficarmos vivos no final, a gente vê quem morre. O que acha?
Ele pareceu um pouco pensativo antes de responder.
—Fechado. — apertamos nossas mãos.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
Cinco.
Essa foi a minha nota.
O que eu vou fazer com uma nota cinco? Como vou conseguir patrocinadores desse jeito?
Nós iremos ser preparados para a entrevista, eu fui com Haymitch primeiro e Gavin foi com Effie.
—Bom, passarinha. — ele começou a dizer. — Você tirou uma péssima pontuação, então temos que ver um outro jeito de conseguir patrocinadores para você. Já fez bastante sucesso no desfile, então temos que dar um jeito de fazer com que você consiga patrocinadores na entrevista.
—O que você sugere?
—Cante. Sua voz pode ajudar você com patrocinadores na arena, pode ajudar com que gostem de você.
Foi o que Jeremy disse na nossa despedida.
—Tudo bem. Só preciso de um violão.
—Irei conseguir para você.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
—Você está incrível! — disse Cinna quando terminou de me aprontar.
Olhei no espelho e vejo que eu realmente estava incrível. Meu vestido era um tomara que caia, na parte do busto havia espécie de penas, mas depois era tecido liso, o vestido era rodado e um pouco volumoso, parecendo de princesa, na saia também havia espécie de penas, o vestido era em tons de azul e rosa. No pé era uma sandália rose. Meu cabelo estava preso em um coque chique com uma mecha solta na frente. Minha maquiagem era bem simples, Cinna queria que lembrassem de mim na arena, ainda mais que irei cantar na entrevista, portanto, era um esfumado marrom com cintilante e um gloss transparente para realçar a cor natural dos meus lábios.
—Estou mesmo! Nem me reconheço. — sorri. — Qual o objetivo das penas?
—O objetivo é você parecer um pássaro. Você canta e nada mais do que perfeito você parecer um pássaro.
—Haymitch que me chama de passarinha. — eu ri. — Mas ficou lindo, muito obrigada!
—No final da entrevista, Caeser vai mencionar um botão. Você vai para o centro e espera o show acontecer. — assenti com a cabeça.
Fui levada para a sala de espera onde todos os tributos estavam. Alguns olharam para mim e outros nem repararam na minha presença. Fiquei ao lado de Gavin, este que cumprimentei com um sorriso. Ele estava com um terno vinho e uma camiseta cinza, seu cabelo penteado para o lado. Estava bem elegante. Logo minha vez chegou e sou levada para a entrada do palco. Respirei fundo, me preparando para minha entrevista, preciso fazer as pessoas gostarem de mim e talvez eu consiga sobreviver a base de patrocinadores na arena.
—Do Distrito 12. Conhecida por vocês como a Garota Arco-Íris. Uma salva de palmas para Lily!
Caminhei até o palco com um sorriso no rosto, onde Caeser me recebeu e nos sentamos nas cadeiras que havia no palco. Preciso pensar como se eu estivesse no Distrito 12 cantando para as pessoas de lá, fácil.
—Lily! Seja muito bem-vinda!
—Obrigada Caeser, é um prazer estar aqui. — digo ainda com um sorriso no rosto.
—Aquele seu vestido da Colheita foi o motivo de muitos elogios aqui na Capital. Ainda mais com a sua entrada triunfal no desfile. De onde veio aquele vestido?
—Olha, muitas pessoas me perguntaram isso. Mas eu realmente não sei, só sei que eu o tenho desde que me entendo por gente.
—Poxa que pena, queria a história completa dele. — disse rindo. — Mas me diga, Lily, é verdade que você não tem sobrenome? — neguei com a cabeça. — Por que? Seus pais não quiseram?
—Na verdade eles não tiveram oportunidade. — dou um riso fraco. — Não tenho pais, nunca soube da existência deles. Minha família é um grupo de pessoas que gostam de ser chamados de Bando. Fui resgatada e acolhida por eles. Esse é o motivo de eu não ter um sobrenome, disseram que a briga para decidir foi tão grande que decidiram deixar apenas Lily.
—Eu sinto muito por isso, Lily. — ele disse segurando minha mão. — Lily, um passarinho me contou que você canta. É verdade?
—Sim. Inclusive quero cantar uma música para vocês. Posso? — a plateia gritou em animação, indicando que sim.
Uma pessoa trouxe um violão para mim. A plateia estava em total silêncio esperando eu começar. Comecei a tocar as notas da música no violão.
No words appear before me in the aftermath
Salt streams out my eyes and into my ears
Every single thing I touch becomes sick with sadness
'Cause it's all over now, all out to sea
Goodbye, goodbye, goodbye
You were bigger than the whole sky
You were more than just a short time
And I've got a lot to pine about
I've got a lot to live without
I'm never gonna meet
What could've been, would've been
What should've been you
What could've been, would've been you
Did some bird flap its wings over in Asia?
Did some force take you because I didn't pray?
Every single thing to come has turned into ashes
'Cause it's all over, it's not meant to be
So I'll say words I don't believe
Goodbye, goodbye, goodbye
You were bigger than the whole sky
You were more than just a short time
And I've got a lot to pine about
I've got a lot to live without
I'm never gonna meet
What could've been, would've been
What should've been you
What could've been, would've been
What should've been you
(What could've been, would've been)
What could've been, would've been you
(Could've been, would've been)
(Could've been, would've been)
Goodbye, goodbye, goodbye
You were bigger than the whole sky
You were more than just a short time
And I've got a lot to pine about
I've got a lot to live without
I'm never gonna meet
What could've been, would've been
What should've been you
Eu não percebi que algumas lágrimas se formavam em meus olhos enquanto eu cantava, mas respirei fundo para elas não caírem. Aquela música era para a minha família, um adeus. Ouvi os aplausos da plateia e sorri olhando para Caeser.
—Você é incrível! Com certeza gostaram bastante de você aqui. — ele sorriu. — Olha, seu estilista disse que tem mais uma surpresa para nós e pediu para apertar esse botão. — ele disse mostrando um botão ao lado de sua poltrona.
Eu lembro que Cinna disse para eu ir para o centro quando o Caeser falasse de um botão. Me levantei, deixando o violão ao lado da poltrona e fui para o centro. Caeser aperta o botão, imediatamente tudo ficou escuro, se não fosse por um holofote direcionado para mim, este que começa a ter gotas de chuva na direção do meu vestido, mas não chuva de verdade, e sim efeito do holofote. Meu vestido que antes era azul e rosa foi se transformando em um vestido com as cores do arco íris em tons pastéis. A plateia vibrou e gritos animados ecoaram seguidos por aplausos. O holofote apagou e logo as luzes voltaram ao normal e me sentei novamente na poltrona.
—Seu estilista foi um gênio! Ela não está maravilhosa, pessoal? — disse Caeser e a plateia gritou em animação. — Boa sorte na arena. Uma garota talentosa como você não merece um fim trágico. — ele segurou a minha mão. — Senhoras e senhores, do Distrito 12, Lily! — ele se levanta, me levantando junto, e levanta nossas mãos para o alto. A plateia novamente vibrou e gritos e aplausos foram ouvidos.
Posso não ter conseguido uma boa nota na avaliação individual, mas acho que essa entrevista vai ser a salvação dos meus problemas naquela arena, pelo menos até certo ponto.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
Cinna me recebeu com um abraço assim que cheguei na sala de lançamento. Eu estava completamente nervosa, eu tremia como nunca. Quais as chances de eu morrer no banho de sangue? Quais as chances de eu ter uma morte completamente dolorosa? Ao nos separarmos, ele colocou uma jaqueta em mim e ajeitou meu cabelo, optei por deixar ele solto mesmo.
—Sabe, eu não posso apostar em ninguém. Mas se eu pudesse, minhas fichas iriam todas para você.
—Por favor, não perca suas fichas comigo.
—Confie mais em si mesma. — ele me abraçou novamente. — Boa sorte Garota Arco-Íris.
Quando estava faltando dez segundos para o lançamento, começo a caminhar até o círculo de metal que me levaria para a arena. Eu estava tremendo de nervoso e nem escondia isso. Entrei no círculo de metal e olhei para Cinna quando o cilindro de vidro abaixa em torno de mim. Ele faz um sinal para eu ficar de cabeça erguida. O cilindro começa a subir e por uns quinze minutos fico em total escuridão. Em seguida, sinto o círculo de metal me empurrando para fora do cilindro, em direção ao ar livre. Por um instante, meus olhos ficam ofuscados pela intensa luz do sol e a única coisa que consigo sentir é um vento forte em minha direção.
—Senhoras e senhores, está aberta a Septuagésima Segunda Edição dos Jogos Vorazes.
Sessenta segundos é o tempo que nos mandam permanecer em nossos círculos de metal até que um som de gongo nos libere e tudo começar. Eu estava tremendo e minhas mãos estavam suando de nervoso. Olhei em volta procurando Gavin e Dawn, mas estou tão nervosa que não consegui achá-los. Meu olhar foi para a boca da Cornucópia, havia armas e mochilas para todo o lado. Com certeza meu destino não seria aquele lugar. Meu objetivo é achar Dawn e Gavin e sair daqui o mais rápido o possível.
Meus pés se movem rapidamente assim que escuto o som do gongo. Andei devagar enquanto procurava os meus dois aliados. Foi questão de segundos quando vi uma lança vir em minha direção, fazendo eu desviar da arma. Olhei para quem lançou e foi o garoto do 1. É claro, ele disse que eu seria o primeiro alvo dele na arena. Ao longe vi a pequena Dawn, também me procurando. Corri em sua direção antes do garoto do 1 alcançar sua lança. A peguei pelo braço e a puxei com força, não achei Gavin, mas com certeza ele correria atrás de nós duas ao ver em que direção estamos indo. Corremos até adentrar na floresta, ao saber que estávamos longe de algum perigo, sentamos no chão. Minha respiração estava ofegante e não era só a minha.
—Ei! — ouvi a voz de Gavin se aproximando. Olhei em sua direção e ele realmente estava se aproximando. Fiquei surpresa ao ver uma espada e uma mochila em suas mãos. — Ainda bem que correram, a coisa está feia lá na Cornucópia. Mas consegui pegar isso lá.
Ele se sentou ao nosso lado e começamos a ver a mochila que ele pegou. Uma garrafa de água, carne seca, um par de meias, fósforos e uma corda. A garrafa de água estava vazia, o que significa que teremos que procurar água o mais rápido o possível. Graças a Gavin, vamos ter algo para se defender e algo para guardar nossa água.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
Umas duas noites já haviam se passado, quinze pessoas já haviam morrido. Nós três ainda estamos vivos. Recebemos ajuda de patrocinadores, acho que realmente minha entrevista deu certo em relação a isso. Resolvemos nos separar para achar comida, marcamos um ponto de encontro e ensinei a eles o assobio de quatro notas que os Tordos repetiam, esse seria nosso sinal para sabermos que estamos bem. Eu fui em uma direção enquanto os outros dois iam em direções diferentes. Achei algumas frutas que podem ser consumidas e algumas plantas também. Voltei para onde seria nosso ponto de encontro e meu mundo caiu quando vi o corpo de Dawn no chão. Corri até seu corpo e me ajoelhei, o colocando sobre meus joelhos, comecei a afagar seus cabelos. Quem foi que fez isso? Será que foi o garoto do 1 por vingança? Vi um corte profundo em seu estômago. Sem perceber eu já estava chorando. Ela era uma garota tão meiga, não merecia isso, não merecia estar aqui. Ouvi Gavin se aproximando e ele se ajoelhou ao meu lado olhando a pequena garota em meus joelhos.
—Eu sinto muito, eu deveria ter ficado com você, não deveria ter me separado de você. — digo com a voz embargada.
—Está tudo bem... — começou a dizer com a voz fraca. — Você precisa vencer, Lily...
—Eu não sou capaz disso.
—Você é... Você consegue... — disse me olhando e uma lágrima sua caiu. — Canta para mim, por favor...
—Claro. — respirei fundo para tentar controlar a minha voz e conseguir cantar para ela. Vasculhei uma música em minha mente para ela. Preciso atender seu último pedido. — You're headed for heaven... — comecei a cantar, com a minha voz fraca e trêmula devido a tristeza que me consumia. — The sweet old hereafter...
And I've got one foot in the door
But before I can fly up
I've loose ends to tie up
Right here in the old therebefore
I'll be along
When I've finished my song
When I've shut down the band
When I've played out my hand
When I've paid all my debts
When I have no regrets, right here
In the old therebefore
I'll catch you up
When I've emptied my cup
When I've worn out my friends
When I've burned out both ends
When I've cried all my tears
When I've conquered my fears
Right here
In the old therebefore
When nothing is left anymore
I'll bring the news
When I've danced off my shoes
When my body's closed down
When my boat's run aground
When I've tallied the score
And I'm flat on the floor
Right here
In the old therebefore
When nothing is left anymore
Vejo que ela não piscava mais, indicando que havia perdido sua vida. Fechei seus olhos com a minha mão e voltei a chorar por sua morte. A tristeza estava me consumindo até algo se misturar com ela. Raiva. Raiva por ter matado uma pobre garotinha de doze anos. Uma garota que não merecia esse fim trágico. Uma garota que não merecia estar nessa arena. Olhei para onde seria a possível câmera que estivesse me filmando, senti meus olhos ferverem de raiva.
—When I'm pure like a dove... — continuei cantando a música, mas dessa vez olhando para a câmera e com uma voz mais firme e potente devido a raiva que eu sentia. — When I've learned how to love...
Right here
In the old therebefore
When nothing is left anymore
Meu olhar voltou para a pequena, observo minhas lágrimas cairem. Tudo está tranquilo e quieto. Então, de maneira quase fantasmagórica, o tordo reproduz minha canção. Por um instante, permaneço lá sentada, observando minhas lágrimas se derramarem em seu rosto. O canhão de Dawn soa. Inclino-me para a frente e pressiono meus lábios na sua têmpora. Não queria sair de perto dela, quero ficar aqui até me matarem. Mas por um momento o desejo de vencer se instalou em minha mente. Vencer por ela.
Todos esperam que eu saia junto com Gavin, deixando seu corpo para atrás para ser recolhido pelo o aerodeslizador. Olhei para o lado e vi um amontoado de flores silvestres brancas com amarelo. Coloquei seu corpo delicadamente no chão e peguei um punhado dessas flores, ajeitei as flores em cima de seu ferimento e coloquei suas mãos em cima para segurar. Me levantei e comecei a andar junto com Gavin, mas novamente me virei para a câmera atrás de mim. Toquei os três dedos médios em meus lábios e ergui para que todos lá fora pudessem ver o meu sinal. Após isso, voltamos a andar sem rumo pela a arena.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
—Fique atenta, não se sabe quando ele pode aparecer. — disse Gavin.
Assenti com a cabeça. Os únicos vivos eram Gavin, eu e o garoto do 1. É claro que eles querem que lutamos corpo a corpo. Quem diria que eu conseguiria chegar entre os três finalistas. Gavin por ter treinado espada no Centro de Treinamento tem muito mais vantagem que eu nessa luta, por isso ele andava na frente enquanto eu ficava atrás dele. Foi questão de segundos quando vi o Carreirista avançar em nós dois. Fui jogada para atrás e cai de bunda no chão. Uma luta de espada com lança começou. Fiquei surpresa ao ver a agilidade de Gavin e o jeito que ele tem com a espada, ele deve ter aproveitado bem os dias no Centro de Treinamento. O garoto do 1 jogou o meu companheiro para longe e se aproximou de mim com a lança em mãos e um sorriso diabólico nos lábios. Eu recuava até minhas costas baterem em uma árvore. Já estava esperando meu fim, ele quer me matar. Fechei os olhos esperando o pior. Mas nada aconteceu. Abri os olhos novamente e vi o corpo dele caindo no chão, morto. Gavin estendeu sua mão e me ajudou a levantar. O dia estava amanhecendo. E só aí que percebo que sobrou nós dois, não há mais tributos além de nós.
—Sobre nosso acordo... — começo a dizer, mas ele me interrompe.
—Você merece sair viva, Lily.
—Eu? Mas por que eu? — pergunto confusa.
—Porque você tem motivos para voltar. — ele deu um sorriso triste.
—Você também tem.
—Não, eu não tenho. Não sou nada além de um inútil que não presta para nada. Meus pais não precisam de mim, já que sempre fui a segunda opção deles, porque sempre preferiam meu irmão mais velho. Se eu morrer, não vai fazer diferença. Já você é diferente. Você tem sua família. O 12 precisa de você, precisa da sua voz. Você é importante e todos gostam de você!
—Mas eu fui uma inútil nessa arena! Não fiz nada além de cantar e viver com a sua proteção!
—Está aí mais um motivo para você vencer. — ele se aproximou de mim. — Mostre para todos que uma garota de quatorze anos do Distrito 12 que não sabe segurar uma arma sequer, que apenas usou a sua voz a seu favor, pode sim vencer os Jogos Vorazes. Volte para casa, viva a sua vida. Você tem mais motivos do que eu para isso.
Ele realmente estava falando sério? Ou ele está fazendo isso apenas para me distrair e me matar?
Me surpreendi quando ele me abraçou, demorei alguns segundos para retribuir.
—Adeus, Lily. — disse quando nos separamos. — Você tem um futuro brilhante pela frente. Foi um máximo conviver com você e realizar meu sonho de conversar contigo, mesmo que seja nessas circunstâncias.
—Adeus, Gavin. — eu dei um sorriso fraco. — Você foi incrível.
Ele retribuiu o sorriso. Olhou para onde estaria a câmera nos filmando e se afastou de mim. Gavin segurou a espada e apontou para si mesmo, ele deu mais uma encarada na câmera antes de acertar seu estômago em cheio. Seu corpo caiu no chão e segundos depois, o canhão indicando sua morte soou. Coloquei a mão em meu rosto, sentindo ele molhado por causa das lágrimas. Os trompetes começaram a tocar e logo começo a escutar a voz de Claudius Templesmith.
—Senhoras e senhores, tenho o prazer de anunciar a vitoriosa da septuagésima segunda edição dos Jogos Vorazes, Lily! Eu apresento o tributo do Distrito 12!
Vejo o aerodeslizador, que antes pegava os mortos, se materializar acima de minha cabeça e uma escada é jogada. Pelo menos vou voltar para casa e ver minha família, não é? Respirei fundo antes de começar a subir os degraus.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
Espanto, tristeza.
Era o que eu estava sentindo naquele dia.
O exato momento em que cheguei no Distrito 12 após a Turnê da Vitória, essa que não sei por qual motivo eu comecei a fazer depois que sai da Capital, sendo que normalmente ela demora uns meses para acontecer, pronta para reencontrar minha família depois de muito tempo longe deles, crente que não iria conseguir daquela arena com vida, recebo a pior notícia de todas.
"Lily, eu não sei como, mas estávamos estranhando o sumiço deles depois da sua vitória nos Jogos. Fomos até sua casa e vimos os corpos deles empilhados, havia sangue para todo o lado, ninguém sabe o que aconteceu. Eu sinto muito."
Eu perdi minha família, a única família que eu tinha. Logo agora que eu voltei e teria uma boa condição para nos manter. Eu não saia mais da minha casa, essa que agora fica na Aldeia dos Vitoriosos. Minha companhia era os instrumentos. As vezes eu saia para ir para a floresta, mas apenas para lá.
Ouvi alguém bater na porta de casa. Estava na sala tentando compor alguma música para me distrair. Levantei do sofá, deixando o violão encostado no objeto e fui até a porta, a abri e vejo dois homens, aparentemente da Capital. O que eles fazem aqui?
—Posso ajudar?
Os dois homens se afastam, e fico surpresa ao ver o homem com seu terno preto e seus cabelos brancos com seus olhos de serpentes fixos a mim.
—Presidente Snow... — digo, ainda um pouco surpresa. — Quanta honra.
—Senhorita Lily, preciso resolver um assunto pendente com você, imediatamente.
—Ah, claro. Podem entrar. — dei espaço para eles entrarem, e assim fizeram. — Fiquem a vontade.
Os homens decidiram ficar em pé, enquanto Snow se sentou no sofá, seu olhar foi para o meu violão, este que pegou e começou a olhar.
—Você surpreendeu a todos com a sua vitória. Usando apenas sua voz e seu dom com a música. Ninguém esperava que uma garota de quatorze anos do Distrito 12 venceria desse jeito.
—Não foi só eles que se surpreenderam. — me sentei em uma poltrona. — Qual seria o assunto que te trouxe até o 12 para resolver?
—Quanta pressa. — disse colocando o violão onde eu havia deixado e me olhou.
—Ah, eu disse isso porque o senhor é um presidente, tem coisas mais importantes para resolver, não quero te enrolar.
—Que bom que pensa desse jeito. — ele sorriu. — Sabe, Lily, eu andei te observando, desde quando eu te vi na Colheita. Seu jeito fez com que algumas dúvidas surgissem e por isso tive que tomar algumas atitudes.
—Quais seriam essas atitudes?
Snow apenas estendeu sua mão para um dos homens, e um deles colocou uma pasta em sua mão, esta que ele me entregou. Fiquei confusa no início, mas comecei a ver seu conteúdo. Era uma árvore genealógica dos Snows, o que me fez ficar mais confusa ainda. Olhei os nomes de todos e fiquei perplexa quando vi o último nome.
Lily Snow.
—O que isso significa? — pergunto o olhando.
—Não ficou óbvio, Lily? — ele sorriu novamente. — Há sangue dos Snows em suas veias.
—Significa que sou sua neta? — seu sorriso fez com que eu confirmasse minha resposta. — Mas, como o senhor descobriu?
—Eu tenho pessoas e um sistema ótimo para descobrir o que eu quiser. Não foi difícil descobrir que você é minha neta.
Eu ainda estava perplexa. Eu tinha um avô? E ele ainda é o Presidente Snow? Não sei se acho isso bom ou ruim.
—Minha querida Lily, sei que deve estar confusa sobre isso tudo acontecer de um jeito repentino. Mas lembre-se que você não tem ninguém.
—Como sabe que eu não tenho ninguém? — pergunto um pouco desconfiada.
—Não estou vendo ninguém nesta casa a não ser a senhorita. Além de que ouvi boatos sobre um grupo do... Bando, não é? — assenti com a cabeça. — Haviam morrido de uma forma bem misteriosa. Venha viver comigo na Capital, como minha neta, como uma Snow.
—Eu... Não sei...
—Você não tem mais ninguém, só tem eu, e ainda tem sorte de eu querer você em minha vida, ao meu lado, como minha neta. Eu poderia muito bem deixar você sozinha nesse lugar, mas estou querendo que venha comigo, ter uma vida que merece.
—Mas agora eu sou mentora dos tributos do 12, não seria melhor eu viver aqui?
—Podemos resolver essa questão. Você pode vir para o 12 junto com Effie Trinket realizar a Colheita, mentorear os tributos ao lado de Haymitch Abernathy, e se caso haver um vencedor, você fica aqui no 12 até terminar a Turnê da Vitória e voltar para a Capital. — novamente fiquei pensativa. — Você não tem nada a perder. Está sozinha, isso se não for por mim.
—Como posso saber que quer realmente me ter como neta publicamente?
Ele sorriu antes de responder.
—Eu não estaria aqui se não quisesse. Você só tem eu de família, Lily, você não tem mais ninguém além de mim. Eu sou seu avô, e tudo o que quero é que você faça parte da minha família oficialmente. O que me diz?
Fiquei pensativa mais uma vez. Isso era loucura! Como que eu fui de uma garota orfã e pobre que vivia de música e de tesseras das inscrições para os Jogos Vorazes para a neta do presidente? Mas por parte ele está certo, eu não tenho mais ninguém além dele, não tenho nada a perder. Pelo menos agora tenho alguém da minha família, já que a minha família adotiva está morta.
—Se este resultado estiver certo, tudo bem. Irei para a Capital viver com o senhor, como sua neta.
—Ótimo. Prepare suas coisas, vamos partir agora.
Assenti com a cabeça. Peguei meu violão e fui para o meu quarto, onde coloquei todas as minhas coisas em uma pequena mala. Na verdade, eu nem tinha muita coisa, apenas meu vestido que usava em toda Colheita, meu caderno de músicas, o pano bordado com meu nome que estava comigo quando fui encontrada nos limites do 12 e uma pulseira que também foi encontrada comigo, uma pulseira prata com pingentes de lírios, não usava muito ela com medo de perder, mas agora não irei tirar de meu pulso, para lembrar da minha família que me acolheu e cuidou de mim. Coloquei ela em meu pulso e fechei minha mala e voltei para a sala com a mala em uma mão e o violão em outro.
—Não tem necessidade de levar este violão, lá você vai ter instrumentos de qualidade para suas músicas. — disse Snow, ou melhor, meu avô, quando me viu.
—É porque ele é bem importante para mim, quero levar ele comigo.
Esse violão foi o primeiro que ganhei quando estava começando a participar dos shows do Bando. Ele era preto e havia bastante marcas de uso, mas mesmo assim era lindo e muito importante para mim.
—Certo.
Ele se levantou e fez um sinal para que um dos homens pegassem minha mala, e assim um deles fez. Saímos da minha casa, que agora vai ser antiga casa, e fomos até a estação de trem, que não ficava longe da Aldeia dos Vitoriosos. Não iria me despedir de ninguém, não tenho amigos aqui no 12 e não tive muito contato com Haymitch depois que voltamos.
Apesar disso acontecer de um modo repentino, eu posso ficar feliz que tenho alguém da minha verdadeira família comigo. Posso tentar descobrir mais sobre meu passado já que terei melhores fontes.
De uma garota orfã que nem tinha um sobrenome, para neta do presidente de toda Panem.
Agora sou Lily Snow, neta de Coriolanus Snow.
━━━━━━━━ ❆ ━━━━━━━━
Passando aqui em plena madrugada para postar o prólogo da fanfic nova, que literalmente tem 8689 palavras. Queria começar o capítulo um já com a Lily sendo neta do Snow, por isso o prólogo ficou IMENSO. Espero que não se importem😃
Esse prólogo foi mais para mostrar como a Lily venceu os Jogos e ao descobri que é neta do Snow.
E sim, o Cinna vai ser estilista do 12 a partir desta edição! Como eu disse no capítulo introdutório, esta fanfic vai ter bastante mudanças!
Quero agradecer a EllyGolden por ter me ajudado a escrever a cena da entrevista em relação ao vestido da Lily! Obrigada vida🩵🫶🏻
Acho que não tenho mais nada para falar aqui. Se caso tiver, falo no próximo capítulo.
Peço desculpas se tiver algum erro ortográfico, eu tento evitá-los ao máximo, mas tem vezes que passa despercebido.
Vejo vocês no próximo capítulo💜✨️
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top