❪ 𝐎𝟗 ❫ ┆ ❛ 𝐓𝐇𝐄 𝐄𝐕𝐈𝐋 𝐒𝐄𝐄𝐃

EPÍLOGO
a semente do mal

                HANNAH ENTROU NA IGREJA COM UM BELO VESTIDO DE algodão e linho meio azulado e flores nas laterais de seu cabelo dourado num coque baixo perfeito.

Se assemelhava a um verdadeiro anjo habitando a face da terra em seus primórdios. Exceto pela graça, pois apesar do pequeno sorriso de canto, paz de espírito e energia radiante, para os mais atentos, era o que menos se via nela. Hannah deveria ter desconfiado que a ideia de sua mãe não terminaria bem, mas uma vez que se encontravam arruinadas e desestabilizadas, justamente por não possuírem mais uma figura masculina na família, o desespero falou mais alto.

Enquanto dava passos mais largos em direção ao altar, ouvia a madeira sob seus pés ranger e suando frio, desviou o olhar para os bancos marrons enfileirados. Ao contá-los um por um, a imagem dos convidados sorrindo para si ia se perdendo entre o vislumbre de cada criança morta outrora, com seus olhos arrancados e nervos expostos, voltando a sua mente devagar, como uma lenta canção, um terrível pesadelo.

A de seu pai também, quando era exatamente ele quem devia estar a conduzindo para aquele castigo eterno. O que quer que houvesse se infiltrado nele, levando aqueles anjinhos consigo e sua benevolência junto, roubou também de si a felicidade. Miller pode sentir o gosto amargo da vida falsa e sem sentido que teria se aproximando, queria ter forças para renunciar a tudo.

O sorriso de Caleb era estonteante, o único que, compreensivelmente, alegre, achava-se digno daquele amor.

"Qual amor?", era a pergunta retórica em questão, se o coraçãozinho de Hannah batia somente por duas pessoas em especial.

── Você está linda! ── murmurou o rapaz.

Hannah virou o rosto sentindo um embrulho no estômago, mas depois voltou a sorrir.

E numa lastimável coincidência, o responsável por aquela cerimônia fatídica, era justamente o atroz conselheiro Goode.

Ela pensou que pudesse se livrar dos assassinos de Sarah, das pessoas que a levaram ao matadouro, mas agora ceava com eles.

Solomon estava lá também, de vigia pelo fracasso particular da loira, sentado no último banco com os olhos inclinados, contente de alguma forma. Saboreando sua vitória.

Algum tempo depois do início da celebração, pode notar a ausência dos Berman quando a tão aclamada pergunta se fez presente: "Você, Hannah Miller, aceita receber Caleb como seu legítimo esposo?"... E prosseguiu. Queria que Devina a salvasse, mas de algum modo, ela não veio. Hannah dissera "sim" quando sentiu a pressão de todos os cidadões de Union e principalmente de sua mãe sobre ela, olhares terrívelmente assustadores se prenderam à curiosidade das próximas palavras que saíriam de seus lábios.

Mesmo que quisesse dizer "não" e voltar atrás, parecia infeliz demais da sua parte fazê-lo agora. Caleb também dissera "sim" sem ao menos pestanejar, sabendo que ganhara o maior presente de toda a sua vida, ao ter em mãos quem ele sempre desejou. Contudo, faltava a confirmação final, e Elijah encarou os dois antes de terminar a fala. Duvidando da sinceridade por parte dela, pensou que ela fosse fraca o bastante para recuar.

──  Se alguém tem algo contra esta união, fale agora, ou cale-se para sempre.  ── manifestou, encarando seriamente cada pessoa ao redor.

A garganta de Hannah coçou, sua consciência gritava para que intervisse, se sentia tão zonza que achou que fosse cair no chão a qualquer momento.

Sua mão foi puxada e ouviu o barulho de algo despencando ao seu lado. Era Caleb num gemido estridente, o qual fez todos da igreja se levantarem de seus assentos, gritando em desespero. Ela olhou pro chão, primeiro acreditando que ele havia tropeçado, mas quando sangue jorrou de sua barriga, espirrando em seu queixo, notou que um atentado assustador recaíra sobre eles.

As pessoas começaram a caminhar agitadas e Hannah se abaixou próximo ao homem pressionando seu abdômen, havia um cabo de madeira entalado em seu interior, que não podia ser removido ou o fluxo continuaria mais intenso.

Elijah se aproximou numa corrida da janela, avistado um vulto parado próximo a floresta. Enquanto Miller se erguia com o vestido todo manchado sem saber ao certo o que fazer. No entanto, se recordou de ter sentido o impulso do vento aumentar próximo ao seu ouvido segundos antes da tragédia se concretizar, algo dizia que o objeto veio do lado externo da casa e se colocando atrás do conselheiro, praticamente travou, apertando os olhos, se dando conta de que era uma flecha.

Reconhecendo a silhueta a poucos metros de distância, pois aquelas pupilas em tom de esmeralda, além de toda a raiva exposta neles jamais deixariam mentir. Era Devina, com a capa negra de Sarah, já que a sua de rubi feita a mão havia sido enterrada com Fier. Seu cabelo preso numa trança lateral, muma aparência decidida, afinal, ela realmente apareceu!

Segurando um arco feito de madeira, só que sem a flecha. Devie fizera mesmo aquilo, ela atirou contra ele, um sorriso largo surgiu em seus lábios ao compreender que seu plano havia sido executado perfeitamente.

Bom, pelo menos, até aquele momento.

Sentiu seu corpo ser lançado contra a parede do fundo da assembleia quando Louco Thomas a empurrou com seu ombro rígido, se achegando a eles para avistar melhor. Havia uma marca de ferro no centro de sua testa, devido ao castigo que recebera. Ele ainda estava com raiva por todos que votaram a favor dele ser castigado, principalmente o Goode mais novo e também estava ciente do apreço do conselheiro pela ruiva rebelde, então sorriu maléficamente, prestes a dar mais uma cartada devastadora, da qual Union sequer perceberia:

── Vejam! É Devina, Devina Berman! ── se voltou para os presentes no local, gritando ao apontar contra ela ── A semente deixada por Sarah Fier para nos atormentar! Precisamos... Precisamos nos livrar dela! Imediatamente!

── Cale essa boca! ── Elijah olhou no fundo dos olhos do homem, desferindo um soco certeiro no mesmo.

Mas quando caiu, Thomas apenas começou a rir descontrolado e segundos depois, se recompôs satisfeito.

── Ela é a verdadeira semente do mal! Precisamos purgá-la! ── ergueu o punho ── QUEM-VEM-COMIGO?!

Houve uma quietude incômoda, tirando o frenético ranger de dentes de Caleb. Até que no próximo minuto, passos mais pesados afundaram a madeira do corredor, fazendo cada um ali direcionar seu campo de visão para aquela caminhada intensa. Um segundo homem foi até o púlpito, coçou a nuca e após deixar todos intrigados com seus suspiros nervosos, revelou um sorriso diabólico nos lábios, dizendo:

── Vamos caçar essa bruxa! ── era Solomon, ele praticamente bradou, incitando aquela multidão e agarrou a toxa na lateral interna da igreja, incentivando todos a iniciarem uma nova caçada. Caminhando para fora do lugar.

Seu irmão ficou boquiaberto com o inteiro atrevimento do mesmo, contudo, não resmungou uma palavra sequer a respeito. Na verdade, era tarde demais, as pessoas já corriam atrás dele cegamente, acreditando naquela possibilidade, dispostos a fazerem o que quer que ele ordenasse.

── Não, por favor, não! ── Hannah implorou, sendo derrubada pela multidão ── Parem com isso! Já chega! Não foi o bastante o que fizeram com a Sarah?! NÃAAAO!! DEIXEM A DEVIE EM PAAAZ!!

Aquele berro doloroso se ouviu até mesmo a quilômetros de distância, fazendo pássaros acampados nas árvores levantarem vôo. A Miller o deixou escapar já farta de tamanha dor, cobrindo os lábios com os dedos em seguida, ajoelhada no centro do lugar, arrependida de tudo. Sentindo suas veias explodirem de ódio, mais de si mesma do que qualquer um ao redor.

Mas infelizmente ele foi ignorado.

E Caleb parecia ter sucumbido a morte quando o olhou de relance.

Devina notou a movimentação abrupta que se iniciava por Union. Aquilo não lhe cheirava bem, parecia um vislumbre da noite passada, uma continuação mais nefasta e agressiva que ainda estava por vir. "Deus queira que não!", imaginou. Ela tinha certeza que havia feito sua parte, se Hannah fosse mesmo inteligente, por certo que a seguiria, mas não esperaria nem mais um instante por ela. Precisava salvar a si mesma antes de qualquer coisa.

E correu pelo vale, se infiltrando na floresta, rápida como uma corsa sedenta por água, e ela de fato estava, louca para encontrar o rio. O rio sempre ditava o caminho dos desamparados, feito um bom aliado, ao menos sempre foi o que seu pai lhe dizia. Seguir seu curso costumava ser a melhor opção quando se está perdido, em todos os casos. Por isso desejava achá-lo. Talvez houvesse um outro vilarejo próximo.

Os gritos aumentavam em suas costas, gritos de rancor. A ocasião tinha o mesmo gosto infernal da noite anterior, um sabor amargo. A única coisa incomum em comparação era a luz do dia, e mesmo ela era incapaz de impedir a atrocidade daqueles homens.

Toda vez que ouvia andares apressados, se escondia, respirava e, observava. Alguns daqueles trogloditas eram realmente ágeis, de modo que chegavam perto de conseguir vê-la e aproveitavam para aumentar seus passos, a perseguindo. Porém, conforme aprendera rapidamente com seu pai memorizando a estratégia de caça que lhe havia sido passada anteriormente, desconsiderou a palavra recuar e decidiu os enfrentar, seguindo em frente. Primeiro mirou nos pés correndo atrás dela, depois puxou uma flecha e outra, depois outra, acertando suas pernas, fazendo algum deles caírem pelo percurso, manchando o verde da grama com sangue.

Saltou para uma parte larga de mata fechada, onde arbustos se entrelaçavam, rasgando a barra de seu vestido e afundou entre a neve que já se formava aos montes e, parecia a engolir.

A cada minuto que Berman ouvia um suspiro profundo, tinha a certeza de que estava indo pelo caminho correto. Era como o doce sibilar de Fier curando seus ouvidos e guiando pelo trajeto correto, sempre sentia como se Sarah caminhasse lado a lado com ela.

Até que acelerou mais um pouco pelo curto bosque e parou, sem ouvir mais os gritos dos homens selvagens atrás de si, sobre uma grandiosa pedra pontiaguda, estreita acima do rio, descansando suas pernas e fôlego, quando ao se curvar para ajeitar o arco, uma mão apertou seu ombro, a surpreendendo:

── Te achei! ── se esquivou, escutando um sussurro diferente contra o rosto, o qual se converteu em choque.

Ergueu o arco em posição de ataque, ela se espremeu, atordoada. Assombrada pela voz de Elijah. Contudo, reconheceu que alucinou, no entanto, havia mesmo uma voz ali de alguém paralisado diante de seus olhos, do outro lado da pedra grandiosa sobre a qual seu corpo tremia.

── O quê?!... ── seus lábios se entreabriram conforme o cérebro ainda girava em êxtase ──  Merda! Eu podia ter te acertado!

O alívio envolveu os poros de sua pele os fazendo ouriçar, especialmente quando reconheceu o vestido azul todo surrado em meio as árvores opacas, seu coração pulou desgovernado, era ela... A sua amada Hannah. E mesmo que parecesse um típico devaneio, os olhos azuis tristonhos confirmaram que não se tratava apenas da sua fatídica imaginação. Havia muita verdade na forma como eles imploravam por remição e na maneira que a desejavam.

── Desculpa, Devie. Eu sinto muito. Sinto muito mesmo.

── Tudo bem. Está tudo bem. ──  abriu os braços, enquanto a assistia correr amedrontada para eles, se aconchegando contra seu peito  ──  Você está a salvo aqui agora!

O cheiro doce que vinha de suas madeixas onduladas fez Berman fechar os olhos por um instante, imaginando ambas em uma casa, seguras e vivendo uma vida normal, se beijando loucamente sob a luz do luar e sorrindo pela gratidão eterna de poderem ficar juntas. Também jurou ouvir uma pura canção, que embalava sua respiração, a qual por sua vez, dançava de mãos dadas com Sarah e Hannah. Parecia vir de uma harpa e estava sendo cantarolada por ninfas.

O fato de Miller ter escolhido a ela e deixado aquele casamento tenebroso para trás, aqueceu seu coração. De modo que fez o tempo parar por um mísero instante. Ela se importava, afinal. Foi o que concluiu. Não sentia mais a solidão lhe sufocar.

As mãos delas apertavam a cintura da mais alta e o nariz deslizava pela curva de seu pescoço, o corpo tão pequeno e curvilíneo diante do seu ereto e tenso, arfou e  segurou seus ombros num abraço. Foi como receber um pingo de paz que há tanto procurava, um sorriso de orelha a orelha surgiu, ressaltando suas sardas sobre as bochechas.

──  Eu nunca mais quero ver a minha mãe. Tudo de ruim que aconteceu na minha vida, foi graças a ela.  ──  afirmou, chorosa.

Lágrimas pesadas cobriam seu semblante avermelhado.

── Nunca mais vamos voltar para aquela vila. ──  garantiu, segurando a lateral de seu rosto, olhando no fundo de seus olhos para que entendesse que não estava blefando ──  Eu te amo.

A visão de Hannah sobressaltou ao escutar a declaração que fora dita de maneira tão repentina e terna, tinha se esquecido de como era ouvir aquela frase de forma tão sincera e mais do que isso, dos lábios da pessoa que mais desejava. Uma nova lágrima rolou no alto de sua maçã direita e sentiu o rosto de Devina cobrir o seu. O vento frio as empurrava uma contra o corpo da outra, como se colaborasse com aquele momento tão esperado, mesmo a luz do dia se tornou propícia e agradável. Elas esbarraram os seios, movimentando seus quadris, enquanto a loira infiltrava seus dedos delicados manchados de sangue no cabelo vermelho de Berman, que mal se importou.

Foi a melhor sensação que sentira no último mês, aquilo não só aqueceu a sua pele, fez o seu coração paralisado ferver outra vez, batendo acelerado como as asas de um corvo. Ela moveu seus lábios desesperadamente contra os da mais alta, os juntando num impulso, suas línguas se encontraram no céu da boca e foi como se seus pés flutuassem acima das nuvens. O beijo se intensificou ao modo que o cantarolar dos pássaros se tornou mais vívido, o resvalar de silhuetas, a respiração tão próxima, a aflição de se consumirem com o devido prazer, cada centímetro de seus corpos vibrava, a dor da saudade que se dissipou lentamente. Encostaram suas testas, observando o brio de paixão que surgia em suas pupilas, sentindo o suor sobre as peles quentes, esfriando lentamente.

── Eu também, Devie. ──  retribuiu ── E não quero mais te machucar...

── Só vamos seguir o rio...  ──  aconselhou, se apressando.

E então tomou sua mão direita, apertando sua palma.

── Vejam! Lá estão elas! ──  o berro que explodiu na floresta as pegou desprevinidas.

Olharam para baixo, aflitas, havia uma fileira de pessoas carrancudas segurando tochas que brilhavam fortemente nas sombras, a população de Union estava toda ali presente novamente. Merda!, imaginou. Desviaram os olhos ao entorno, não havia como correr ou saltar dali de cima sem se ferir, um pânico cresceu dentro de Devie e pensando na segurança de Miller, encarou a borda do rio gelado abaixo de ambas, a empurrando pelo contorno das folhagens que o cercavam, rapidamente saltando sobre as pedras menores, dando a volta para que pudessem escapar da fileira de tais homens ragubentos que se aproximavam. Mas uma pancada acertou Berman em cheio, a fazendo soltar de Hannah, derrubando a menina entre as pedras.

──  Pensam que vão a onde? ──  seu nariz sangrou, escorrendo até o topo dos lábios. E atirando seus olhos para o céu, avistou Solomon sob o clima cinzento. Apertou os dentes com força, notando que ele as havia encurralado, que era ele quem comandava a caçada desta vez.

── O quê?.... ──  arrastou-se, procurando manter a calma e o equilíbrio.

Entendeu naquele momento que estava certa por desconfiar de sua pessoa.

──  DEVIE!  ──  Miller do outro lado gritou, em pânico, sendo erguida pelo Goode que apertou seu braço fino e delicado.

Espremendo os olhos, de alguma forma conseguiu manter o foco, mas procurando pelo arco e suas flechas, não os encontrou em lugar algum. Tudo ainda girava. Talvez houvessem rolado pela superfície plana da pedra indo de encontro ao rio, quando caiu de peito e sua vista embaçou.

── Acaso, pensam que não conheço essa floresta como a palma das minhas mãos?  ──  se gabou.

──  Deixa ela em paz! ── cambaleando, limpou o pó de sua saia e inclinou seus olhos esmeraldas repletos de raiva contra os dele.

── É melhor se render, Devina!  ──  foi a vez de Elijah dizer, então seu rosto se virou para o lado direito da floresta.

Mal acreditando em como aquele traidor ainda podia estar a salvo.

Todos que acusaram Sarah se reuniam para condenar novas almas, naquele lugar vasto, como uma espécie de colmeia peçonhenta prestes a ferroá-las, pois mais uma vez, foram as vítimas escolhidas. Se questionava quando aquilo iria parar, parecia uma coisa sem fim. Uma perseguição pessoal e descabida. O ódio explícito em suas feições, rosnavam feito bichos para elas, podia ver a saliva escorrendo ao canto das bocas.

──  É a mim que vocês querem, não é? ──  Berman tentou negociar ── Se soltarem Hannah, eu vou com vocês. Caso contrário, me jogo no rio. E vocês nunca mais vão me ver!

O queixo da loira despencou ao notar a gravidade de suas palavras. Não queria ficar sozinha mais uma vez, o desespero foi tamanho que chegou a se jogar de bruços, sentindo as mãos pesadas de Goode a impedirem de tocar o chão, a prendendo entre seus braços, enquanto se debatia loucamente.

Apesar que o que sua amada dissera, seguiu como uma grande ideia dentro de si mesma, um tanto melancólica quanto esperançosa. Devina ainda pensava a respeito da única saída possível que teriam diante daqueles selvagens.

──  Devie, não!

── Calada! ──  Solomon deu um passo a frente, a apertando ainda mais.

Porém Hannah se desvencilhou, chutando a perna direita dele, o fazendo cair de joelhos e gritar de dor, e pelo barulho, parecia tê-la quebrado. A jovem correu e tomou a mão de Devina, visualizando rapidamente a meia lua formada ao entorno, não havia uma passagem sequer em meio a eles, fechavam um círculo cruel com o fogo no alto das madeiras que carregavam em mãos. Por isso Miller recuou, caminhando de encontro as águas, sabia que tinha de arriscar e não parecia justo sair como perdedora pela segunda vez, a outra a encarou por um curto instante e sem compreender o que pretendia, confusa, esperou ela dizer:

── Nada, nunca mais, vai nos separar! ──  prometeu.

Apertou as sobrancelhas, sentindo um vazio no peito, seu braço foi esticado para trás, as mãos genuínas da mais baixa a apertando enquanto um breve asseno com a cabeça lhe dava a certeza de que o plano, qualquer que fosse, não era seguro, mas nescessário. Piscando algumas vezes com os cílios já úmidos pela aflição que se externava em forma de lágrimas, encorajou a primeira a não desistir. Ao invés disso, a ensinou a confiar e repetir seus passos. Porém Berman congelou ao se dar conta do que Hannah esperava com aquilo, ela queria pular... E seus pés estavam cada vez mais próximos do vão entre a pedra e as águas agitadas.

Não pensou muito, apenas tentou puxá-la de volta, vendo a expressão intrigada do Goode que ergueu a mão tentando capturá-las com o orgulho e recentimento entalados no peito, percebendo o que estava prestes a acontecer, como um caçador se negando a perder as presas.

Contudo, a loira insistiu e com uma força absurda, agarrou a primeira impedindo que ele a tocasse e se desequilibrando na beira da pedra, sentiu seu pé esquerdo pender no vazio, um formigamento em seu peito se iniciou e as borboletas que se debatiam em seu estômago, despencaram junto de seu corpo magro, o medo era real. O pé direito acompanhou o primeiro e o fôlego faltou em seus lábios, sobrando espaço apenas para um grito abafado. Devina agarrou sua mão, sendo levada junto, no mesmo ritmo.

Saltaram em queda livre, sendo engolidas pelo rio agitado. Os moradores se aproximaram da borda espiando a situação, abismados e ao se inclinar viram sangue explodir entre as águas, seus corpos desapareceram. Elijah sentiu suas pernas estremecerem, de alguma forma bizarra, a certeza de que Devina jamais voltaria, o deixou desesperado. Por mais desagradável que tudo aquilo fosse, era o mais certo a se pensar. Haviam dezenas de pedras lá embaixo, impossível de qualquer um sair ileso.

Além disso, havia o clima gélido que fazia as águas congelarem ao ponto de queimar os ossos.

E foi assim que voltaram para a vila, dando a devastadora notícia, primeiro a viúva Miller que, desmaiou em plantos e, em seguida, a família Berman. Abgail apenas sacudiu a cabeça ao ouvir aqueles homens contarem o que viram, ela foi a primeira a assimilar a notícia, seu pai permaneceu no terreno da casa, tentando ser forte. Mas ela disparou em direção ao segundo andar, fraquejando, entrado em seu quarto, o qual agora estava vazio e permaneceria assim para sempre, ela era a única das irmãs vivas e aquilo a dilacerou por dentro, sua vida não tinha mais sentido algum, sentou-se ao chão chorando compulsivamente e implorou para ser levada junta. Ela não merecia estar viva, ela não queria continuar, na verdade e ninguém podia exigir tanto dela.

Mas ao erguer o olhar embaçado por um instante, enxergou sobre a cama de Devina uma espécie de papel dobrado e, sentando-se sobre ela, deslizou seu rosto contra os cobertores, sentindo o cheiro da jovem. Desdobrou o papel, percebendo se tratar de uma carta, ansiosa, se concentrou e, buscou prestar atenção:

A CARTA DE DEVINA BERMAN

          "    É ruim acreditar que a nossa história não terminou com um final feliz, não é? E olha que eu costumava ser bem mais otimista que você. Mas não posso mentir, quando acordei essa manhã, sabia que de alguma forma o meu fim estava próximo. Não imaginei que terminaria hoje, na verdade, queria que tivesse durado mais...

Queria que as pessoas me conhecessem de verdade. Nos últimos dias, não tive tempo de ser eu mesma. Precisei ser uma mulher corajosa, o bastante para deixar minhas fraquezas a parte, mas isso não é algo fácil de se fazer. E não é nem metade de quem eu sou.

Talvez seja forte, mas não corajosa, ainda tenho medo.

Sei como é sentir as veias de minha garganta se fecharem e arder com todos os meus pesadelos, que me paralisam e assombram todas as noites.

Deus sabe que tentei, tentei e, tentei. Mas enquanto o diabo estiver por aí, vocês não estarão seguros. Talvez... Talvez esteja se perguntando como possa achá-lo? Primeiro, olhe para si mesmo e se certifique de que não está compactuando com esse mal.

Sério, você tem de fazer a diferença.

Segundo, preste atenção nos poderosos, os bondosos que se dizem dispostos a entregarem suas vidas sem receber nada em troca. Isso jamais aconteceria de novo, não vai haver um novo salvador. Essas pessoas mentem. E mentira é como um tipo de doença cruel e símbolo nato da maldade.

A verdade liberta. Não esqueça.
Sarah acreditava nisso.

Agora, Abigail.
Esteja de olho nos Goode.
Como bem sabes, Elijah foi a razão de minha desgraça. E peço incessantemente a você, me vingue! Por todo o amor que já sentiu por mim um dia. Sou eu agora quem precisa sentir algo. Preciso sentir o cheiro do sangue dele contra a natureza, ouvir seu grito profundo de dor. Do contrário, jamais estarei em paz.

E também firme seus olhos sobre Solomon, foi ele quem expôs Sarah, alguma coisa aconteceu entre eles antes de que ela fosse levada a forca."

De sua amada irmã que,
anseia por justiça.
Devina Berman
__________________

Seus olhos se arregalaram em surpresa, pela primeira vez, em meio a tanta dor e caos, Abbie sentiu que finalmente tinha um propósito. Ela sabia exatamente o que precisava ser feito, graças a Devina. E ela faria, acima de tudo, vingaria suas irmãs.

FIM


₍ 001 ₎ Oie, amores!
Sei que vocês querem
me matar nesse momento...
AAAA! Mas esse final era
realmente necessário e já
estava escrito desde o começo.
Bom, esse é o último cap de
Evil Seed, mas antes que me
cancelem rs... Haverá um bônus
ele será postado em breve. ♡♡

₍ 002 ₎ Esperam que tenham
gostado do final! Eu sei que
ele foi bem melancólico, mas
não podíamos esperar outra
coisa de um drama/romance.
Foi muito bom ter vcs por aqui!
Espero que continuem
acompanhando a saga ♡♡

₍ 003 ₎ Vejo vocês no
bônus e nas próximas
fanfics. Bjnhs! ♡

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