05 | a talk in the libray
۞ ⌇「 CAPÍTULO CINCO:
UMA CONVERSA NA BIBLIOTECA 」
O VAPOR DO CHÁ QUENTE NA XÍCARA atinge meu rosto, me aquecendo e causando uma sensação boa enquanto leio concentrada, mas dessa vez, a leitura não se trata de um dos incontáveis livros da biblioteca, e sim um artigo que encontro na internet. Hoje cheguei antes mesmo de Wong estar aqui, o que me permitiu ter tempo o suficiente para organizar tudo e começar mais um leitura usando o notebook. E foi por acaso que encontrei o site cujo arquivo estava falando justamente sobre minha casa: Asgard.
Nele é falado sobre a cultura do meu lar e alguns dos nossos deuses, incluindo Thor, Loki, Frigga, as Amazonas e as Valquírias... não que tudo o que leio seja verdade, há muitas partes fictícias demais ou distorcidas demais, mas em sua maioria, conta com exatidão sobre Yggdrasil, os Nove Reinos, a ponte do arco-íris e principalmente sobre Thor, o Mjolnir e sua participação nas guerras ocorridas na Terra contra Loki e Ultron. E outra parte interessante e que prende minha atenção são as páginas que contam sobre mim e minhas irmãs, "as nobres guerreiras amazonas". Um sentimento nostálgico toma conta de meu peito conforme lembranças invadem minha mente, embora o texto apenas aborde sobre como também contribuímos com os Vingadores.
Mas a parte que também me atrai é durante a citação sobre Sokovia e Ultron, pois o autor do texto conta sobre a morte de Pietro Maximoff, que heroicamente se sacrificou para salvar Clint Barton e um garotinho... e eu assisti a cena de perto, pouco antes de também ser atingida.
Assim como Wanda, Pietro se voltou contra Ultron e nos ajudou. Nenhum de nós teve tempo o suficiente para conhecê-lo melhor, mas posso dizer que ele foi um amigo que fiz durante a batalha. Pietro era engraçado, talentoso e suas habilidades eram impressionantes, e as poucas vezes que nos falamos, no curto período de tempo que tivemos, foram as únicas que pude esquecer sobre toda a ameaça que Ultron representava, pois Pietro trazia um pouco de calmaria para todo o caos. Ele foi um rapaz bom, apesar de todo seu passado. E sua morte com certeza foi injusta e precoce. Ele não merecia, assim como Wanda não merecia perder o irmão da forma como aconteceu.
— Quem é ele? — A voz atrás de mim me assusta, me fazendo soltar um gritinho involuntário e esbarrar na xícara de chá, fazendo-a cair da borda da mesa e se estilhaçar no chão.
— Por Odin! — Exclamo, vendo pelo canto do olho Stephen se sentar do outro lado da mesa e de frente para mim, embora minha atenção esteja nos cacos de vidro espalhados pelo chão da biblioteca. — Wong vai me matar. — Lamento, juntando os pedaços com urgência, ao mesmo tempo que olho para Strange como se pudesse matá-lo ali mesmo. — Quer me matar do coração?
— Não é essa a intenção. — Ele responde simplesmente, com um sorriso brincalhão no canto dos lábios, como se a cena o divertisse.
— Podia bater na porta da próxima vez.
— Eu bati, você não ouviu. — Retruca, o que me faz apenas formar um bico de desagrado enquanto torno a me sentar, deixando os cacos de vidro sobre a mesa. Tenho muita sorte de já ter bebido todo o chá antes desse pequeno desastre, caso contrário Wong com toda certeza me expulsaria da biblioteca sem remorso. — Eu soube que esteve fora do Kamar-Taj ontem.
Ele comenta, o que me faz erguer uma das sobrancelhas enquanto o encaro, agora com um ar divertido no rosto, ao mesmo tempo que fecho a aba da internet que estava lendo.
— Ficou com saudade? — Ele balança a cabeça com a pergunta.
— Só fiquei curioso.
— Então minha vida é interessante para você? — Novamente a resposta o faz rir enquanto apenas dá de ombros.
— Não coloque palavras na minha boca. — Sorrio também, fechando o notebook e concentrando minha atenção nele, confirmando com um aceno.
— Sim, eu estive fora. Assuntos familiares.
— Com suas irmãs? — Estreito os olhos, afinal, não me lembro de ter comentado com ele a respeito delas.
— Sim. Como sabe?
— Fui eu quem te operou o ano passado, lembra? Vocês estavam em todos os noticiários, tanto em Sokovia como em Nova York, e estão na internet para quem quiser pesquisar. — Explica, o que me faz balançar a cabeça. Faz todo sentido, uma vez que hoje em dia tudo parece ser compartilhado para todos que quiserem ver. — Você é de Asgard?
Repuxo os lábios em um sorriso.
— Eu acho que já sabe a resposta. — O alfineto, dando de ombros. — O quanto de mim você pesquisou na internet?
— Não muito, já que você mesma pode me contar.
— Então a minha vida é mesmo interessante para você. — Constato com um sorriso convencido, e ele solta uma risada contida pela insinuação.
— Curiosidade.
— Sei. — Finjo acreditar, embora no fundo realmente acredito que seja apenas curiosidade devido à minha origem, uma vez que não haveria qualquer outro motivo pelo qual alguém se interessaria em saber mais sobre mim. — Sim, eu sou de Asgard. — Confirmo por fim. — O que mais quer saber, Stephen?
O tom de desafio o faz erguer uma das sobrancelhas, apoiando os ombros sobre a mesa numa postura analítica.
— Você é uma divindade ou coisa assim?
— Não, sou apenas uma guerreira.
— E por que você está aqui e não lá? Seja lá onde Asgard for. — Questiona, o que me faz apenas soltar um suspiro.
— Eu não preciso mais estar em Asgard. A história é longa.
— Ok. Mas com tantos lugares para ir, por que vir para cá? O que a Terra tem de tão interessante?
— Pessoas. — Respondo com um sorriso. — Eu tenho muitos amigos aqui, e minhas irmãs estão aqui também. Acho que a Terra se tornou o lar que Asgard deixou de ser.
— Amigos como o cara da foto? — Meu sorriso agora se transforma em algo triste, que faz as lembranças dolorosas novamente tomarem espaço na mente e no coração, mas confirmo, pois apesar do curtíssimo tempo que tivemos, Pietro foi um amigo tanto quanto os outros.
— Sim, amigos como ele. — Stephen parece notar o tom melancólico, pois hesita antes de fazer a próxima pergunta, mas sua curiosidade parece vencer.
— Mas você está no Nepal longe de todos.
— Eu tenho amigos mas também tenho minha própria vida. Além do mais, eu posso conjurar um portal e ir até eles em qualquer lugar que estiverem, então a distância não é um problema.
— Justo. — Ele ri, e dessa vez, decido que é a minha hora de fazer as perguntas.
— Mas e você Stephen, o que pode me contar sobre si mesmo além do fato de ser uma pessoa brilhante, mas extremamente arrogante?
— Acha que sou arrogante?
— Metido também. — Dou de ombros, embora um sorriso presunçoso cresça em seus lábios.
— Mas também me acha brilhante. — Solto uma risada involuntária, balançando a cabeça e fingindo indiferença.
— Viu, metido. — Nós rimos juntos, mas ele acaba por soltar um suspiro enquanto seus olhos se fixam em um ponto qualquer da mesa.
— Não há muito para saber sobre mim. — Continua. — Me formei em medicina, costumava ser um cirurgião muito bom, mas sofri um acidente e agora estou aqui buscando uma cura.
— Você está enganado. — Respondo diante do que ele diz, o vendo franzir as sobrancelhas. — Eu tenho certeza que há muito mais sobre você que vale a pena ouvir, como por exemplo o fato de ter um grande instinto de ajudar as pessoas, mesmo que negue ou sequer perceba isso.
Stephen não parece entender, pois uma ruga de interrogação se forma entre suas sobrancelhas.
— Eu sou médico, salvar as pessoas é meu trabalho.
— Sim. Mas salvar a vida de pessoas não tem a ver apenas com a medicina. Pessoas salvam pessoas todos os dias, de diversas maneiras possíveis, e isso é algo muito nobre e bonito. — Explico, o que o faz apenas permanecer com o olhar sobre mim, parecendo intrigado com algo que parece chamar sua atenção, embora eu não saiba o que de tão impressionante possa ter dito além de uma verdade em que eu acredito. Por fim, ele balança a cabeça antes de me responder.
— Como alguém como você pode sempre estar isolada e sozinha nessa biblioteca? — Questiona, o que me pega totalmente de surpresa. Não era isso o que eu esperava ouvir.
— Alguém como eu?
— Sim, alguém com essa facilidade para se comunicar e se expressar. — Explica, me olhando de uma maneira tão intensa que me sinto tímida. — Você é genuína, Europa.
O elogio me faz sorrir, pois soa sincero.
— É a coisa mais gentil que já disseram para mim. — Confesso, com um agradecimento implícito na frase, e que ele parece entender, pois retribui o sorriso, ainda com aquele olhar intenso e que me deixa sem graça. Coço a garganta antes de mudar de assunto. — Você devia cortar o cabelo e fazer a barba. Sua aparência é de alguém pelo menos cinco anos mais velho.
O clima se torna descontraído de novo, pois Stephen ri ao balançar a cabeça. Seus dedos percorrem o caminho de sua barba, analisando seu comprimento.
— É, bom... eu já tentei, mas ainda não tenho firmeza o suficiente nas mãos. — Conta, o que me faz torcer a boca e me inclinar para a frente.
— Stephen, quanto mais você mesmo se limitar, mais difícil vai ser se livrar das suas doenças. Você consegue. — Afirmo com covicção, o vendo parecer pensativo diante disso, como se avaliasse as possibilidades de tentar um corte de cabelo sem causar um estrago, embora, nesse caso, o problema possa não ser as mãos trêmulas e simplesmente a falta de jeito.
Mas antes que possa me dar qualquer resposta, a figura de Wong adentrando no cômodo nos interrompe.
— Bom dia.
— Wong, bom dia! — Exclamo, rapidamente me debruçando sobre a mesa, de forma que meu corpo possa esconder a xícara quebrada. — Como você está? Teve uma boa noite de sono? Aposto que sim, está com uma aparência ótima.
Puxo assunto — de uma forma um pouco mais exagerada do que deveria — e o mesmo estreita os olhos em minha direção, claramente desconfiado.
— O que você aprontou?
— Eu? Nada, absolutamente nada. Está tudo sob controle aqui. — Afirmo com um sorriso nervoso, ao mesmo tempo que vejo Stephen se levantar de forma discreta e caminhar para trás do bibliotecário. Com o gesto, vejo que os pedaços quebrados da xícara agora estão em suas mãos, sem eu ao menos ter visto o momento em que os pegou. Isso faz com o que ajeite minha postura, me levantando e pegando o notebook nas mãos com um sorriso aliviado. — Nada de livros caídos ou xícaras quebradas.
Stephen prende um sorriso do outro lado do cômodo, balançando a cabeça enquanto esconde os pedaços quebrados da porcelana atrás de seus livros.
— Eu preciso ir. Até mais Wong. — Ele se despede, dando um simples aceno para mim antes de sair. Sorrio mais uma vez para o guardião, também me afastando.
— Eu também preciso ir. Bom te ver, Wong.
E então saio apressada sob o olhar ainda desconfiado dele, soltando um longo suspiro de alívio quando alcanço o corredor. Ao menos uma bronca consegui evitar, o que para mim já é grande coisa. Mas não sou capaz de ir muito longe, pois agora é a Anciã que me aborda ao me encontrar, ao lado de três outras pessoas que eu não conheço. A julgar por sua feições desconhecidas e suas roupas simples, imagino que são recém chegados ao Kamar-Taj.
— Que bom que a encontrei. — A Anciã me diz com um sorriso. — Esses são Kal, Yumi e Jasper, vieram do Japão até nós em busca de auxílio espiritual. — Ela então volta seu olhar gentil para os três. — Essa é Europa, uma de nossas Mestres.
Seus olhares curiosos sobre mim fazem com que eu também lhes ofereça um sorriso simpático.
— É um prazer conhecê-los. Sejam muito bem-vindos.
— O prazer é nosso. — Yumi é quem responde, gentil, mas também tímida, pelo que posso perceber. Ela me lembra minha irmã, Belona, e imediatamente a acho extremamente fofa.
— Vocês receberão o auxílio que buscam aqui, sendo guiados ao autoconhecimento e ao espírito. — A Anciã continua com a voz calma, lhes transmitindo confiança antes de olhar em minha direção novamente, com firmeza e cumplicidade. — E Europa será a responsável por ensiná-los.
Suas palavras me fazem engasgar, e pareço perder o ar por alguns segundos.
— O que?
a amizade começando
a crescer
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