04 | caliope
۞ ⌇「 CAPÍTULO QUATRO:
CALÍOPE 」
AO PASSAR PELO PORTAL, VEJO uma sala bonita e elegante, situada em um dos últimos andares de um prédio bem no centro de Londres. As cores claras preenchem todo o ambiente, ao mesmo tempo que um cheiro de rosas invade meu nariz. Calíope definitivamente tem bom gosto, como sempre teve. E não demora para que sua cabeleira ruiva entre em meu campo de visão, me oferecendo um sorriso que eu prontamente retribuo.
— Você não podia ter esperado pelo menos eu tomar café da manhã?
Brinco, vendo-a revirar os olhos enquanto caminha até mim, mas ao invés de me abraçar, ela apenas passa reto, o que me faz virar em sua direção e ver uma mesa grande e repleta de coisas para comer atrás de nós. E quando digo repleta, realmente me refiro à uma variedade enorme de frutas, pães, queijos, sucos e chás. Abro a boca em um enorme O, vendo minha irmã erguer uma das sobrancelhas enquanto cruza os braços, com uma expressão brincalhona no rosto.
— O que você estava dizendo mesmo? — Sorrio.
— Que você é a irmã mais incrível do mundo. — Corrijo rapidamente, e em resposta, Calíope apenas balança a cabeça antes de andar até mim e me abraçar. Só então percebo o quanto estava com saudades. — Eu senti sua falta.
— Eu também, pequena. — Quando nos separamos, volto meu olhar para a incrível mesa de café da manhã, ainda sem acreditar no que meus olhos veem.
— Você fez tudo isso sozinha?
— Definitivamente não. — Não é Calíope quem responde, e sim uma mulher alta, de longos cabelos escuros e olhos verdes que se aproxima de nós. — Ela teve ajuda.
— Europa, essa é a Atena. — Minha irmã a apresenta com um sorriso tímido. — Minha namorada.
Não consigo evitar a surpresa.
Calíope sempre foi a única entre todas as quinze que nunca quis ou pensou em se relacionar com alguém, muito pelo contrário. Ela sempre deixou claro o quanto relacionamentos não eram para ela e que só lhe seriam um empecilho. E agora, eu a deixo sozinha por dois anos e isso acontece.
Mas ao sair do meu estado de choque inicial, sorrio para a linda mulher que conquistou minha irmã. Ela com certeza deve ser uma santa. Na verdade, qualquer um que seja capaz de conquistar Calíope, Andrômeda ou Hera, sempre serão santos para mim.
— Muito prazer Atena. — A cumprimento, vendo-a retribuir com um sorriso igualmente gentil.
— Muito prazer também, Europa. Calíope fala muito de vocês. — Alterno meu olhar entre ela e a ruiva.
— Há quanto tempo vocês estão juntas?
— Oito meses.
— O que? — Minha voz sai mais alta que o desejado enquanto a encaro com descrença. — Posso saber por que só estou sabendo disso agora?
— Por que eu não queria espalhar pra todas ainda, e eu sabia que se te contasse você fofocaria para nossas irmãs e para Asgard inteira. — Calíope revira os olhos, ao mesmo tempo que eu apenas abro a boca de maneira ofendida, cruzando os braços e assumindo um bico emburrado.
— Isso é uma mentira. — Ela levanta uma sobrancelha, duvidando totalmente de mim.
— É mesmo?
— Não se preocupe com isso, Europa. — Atena diz ao meu lado. — Cá entre nós, eu também não resisto a uma boa fofoca, e o nosso relacionamento não é mais um segredo, então...
— Eu gostei dela. — Declaro, sorrindo para a morena, que retribui enquanto minha irmã solta uma risada anasalada.
— Você gosta de todo mundo.
— Há exceções. — Torço o nariz ao pensar em uma exceção em particular com quem sou obrigada a conviver todo dia no complexo.
— Você pode me contar sobre ela enquanto comemos. — Sugere, indicando a mesa onde nós três nos acomodamos, com ela na cabeceira e Atena e eu ao seu lado nas pontas. Olho para todas as opcões de comida disponíveis ali, não sabendo por onde começar, mas tendo certeza que comerei cada uma. — Então, quais as novidades?
Minha irmã questiona enquanto toma um gole de seu chá. Eu, por outro lado, mordo uma fatia generosa do pão de açúcar em meu prato.
Essa é a razão para nossa reunião hoje. De tempos em tempos desde que todas fomos embora de Asgard, Calíope me convoca para que eu lhe dê notícias sobre nossas irmãs, já que, pelo visto, eu sempre sou a que leva as notícias. E na verdade, tanto eu quanto ela passamos a fazer disso um hábito, pois desde então sempre procuro saber sobre todas, o que estão fazendo, com quem estão, se estão bem ou se precisam de ajuda, pois mesmo de longe, tentamos cuidar umas das outras.
— Por onde eu começo? — Indago.
— Por Vega, por favor.
— Vega está em Hell's Kitchen, aparentemente trabalhando com um demônio.
— Um demônio? — Calíope exclama, parecendo surpresa e preocupada.
— Daredevil, se preferir, mas não se preocupe, é um demônio do bem. Ele atua como um tipo de vigilante.
— Como um demônio pode ser do bem? — Agora é Atena quem pergunta, mas apenas dou de ombros, dando outra mordida em mais um pedaço do meu delicioso pão.
— Como eu falei, ele age como um vigilante contra os crimes da cidade. Mas o importante é que eles estão se ajudando e ela não corre perigo. — Minha irmã balança a cabeça em confirmação.
— Ok. E quanto à Elara?
— Em Wakanda. Bucky Barnes está passando por um tratamento para retirar a programação do Soldado Invernal enquanto hiberna, e ela permaneceu no país com ele. — Conto brevemente, não deixando de admirar o quanto minha irmã é forte por enfrentar tudo isso ao lado do homem que ama. O amor deles é algo muito bonito de se ver, e tenho muito orgulho disso e de tê-los ajudado para que fosse possível. — Enfim, Métis ainda está em Asgard vigiando Loki, e Dione está na Inglaterra. Ela foi uma das únicas a permanecer fora da vista de problemas, tirando o fato de que está na companhia de uma pessoa cujo o nome é confidencial, para o momento. Nem ela mesma sabe que eu sei.
— Como assim confidencial? — Calíope pergunta desconfiada, porém não lhe dou uma resposta, e a mesma parece entender rapidamente o motivo. Se é confidencial, a informação não deve ser compartilhada, uma vez que nem eu mesma deveria saber. — Certo, continue.
— Bom, Syn estava no México, mas se mudou para Nova York e está envolvida nos estudos de Erik Selvig, Darcy e a antiga namorada do Thor, a Jane. — Continuo explicando. — Pandora está na Grécia e Catania no Japão, as duas aparentemente apenas levando uma vida comum como Dione, e Belona está em Brentwood.
— E quanto à Thebe, Zandy, Andrômeda e Hera?
— Da última vez em que chequei Thebe ainda estava em Asgard e Zandy está em Nova York trabalhando em conjunto com um tal de Frank Castle. E bom, as outras duas... — Não concluo a frase, mas a ruiva solta uma risada sem humor, balançando a cabeça enquanto repousa sua xícara de volta no pires.
— Ela sempre ficam para o final. — Faço uma careta para concordar, soltando um suspiro.
— Andrômeda está no Queens, participando de lutas clandestinas e apostando dinheiro nelas. E Hera é a única que está fora de Midgard e de Asgard. A última localização que tenho é em Lugarnenhum, mas levando em conta que se muda de cinco em cinco dias, já pode estar em outro lugar. — Calíope me acompanha em um suspiro, pois Andrômeda e Hera sempre são as que mais se metem em confusão ou as que mais permanecem longe, embora, na verdade, Andrômeda venha andando mais "comportada" em vista do padrão dela mesma.
— Eu só consegui acompanhar até a Dione. — Atena comenta, pois de fato são muitas informações sobre muitas de nós ao mesmo tempo. Sorrio com isso, balançando a cabeça.
— Você se acostuma.
— Andrômeda está por perto, isso é bom. — Minha irmã continua com o olhar longe. — Mas Hera estar tão longe é algo que me preocupa.
— Ela sabe se cuidar. Mas ficarei de olho, por precaução. — Garanto, vendo-a confirmar enquanto cruza os dedos sobre a mesa, voltando seu olhar concentrado para mim.
— Certo. Já me atualizou sobre as outras treze, mas quero saber de você agora. Quais são as suas novidades? — Solto um suspiro com isso, sentindo o chá esquentando meus dedos através da porcelana.
— Bom, as coisas estão um pouco tensas no Kamar-Taj. Um dos antigos mestres roubou páginas de um importante livro para drenar poder da dimensão negra, onde um ser chamado Dormammu existe, e isso definitivamente não é algo que queremos que aconteça. — Percebo a expressão no rosto das duas mudar, preocupadas.
— É perigoso?
— Mais do que imagina.
— Ok, e o que estão fazendo para impedir?
— Nós temos a Anciã. Ela é a melhor e com certeza pode impedir que essa ameaça se torne física nesse mundo. — Explico, vendo, porém, Calíope ainda preocupada com a informação.
— Tudo bem, mas e se ela não conseguir? — A grande ênfase que dá na palavra "não" faz com que um arrepio percorra todo meu corpo em um calafrio que gela minha espinha.
— Bom, eu tenho um plano B. — Afirmo, mesmo que isso seja uma completa mentira dita apenas para não deixá-la ainda mais tensa, e vendo-a erguer uma das sobrancelhas em resposta.
— Você tem um plano B? — Ela novamente enfatiza, dessa vez a palavra "você" como se isso não passasse muita confiança.
— Qual o problema comigo?
— Eu espero que esteja certa Europa, pois pelo pouco que já me contou, não há nada que nós outras possamos fazer contra esses seres de outras dimensões. Você e os seus magos precisam resolver essa ameaça, seja lá qual for. — Ela soa autoritária, mas ao mesmo tempo percebo um tom de súplica em sua voz, e de repente, sinto todo o peso da responsabilidade de proteger esse plano de Dormammu nos ombros.
— Eu sei. Confie em mim, estou trabalhando nisso. — Garanto, embora não tenha realmente certeza. Se a Anciã não conseguir, então que outro mago poderoso pode nos ajudar? Apesar de Mestre, eu certamente estou bem longe de ser uma Maga Suprema, assim como todos os outros do Kamar-Taj.
— A vida de vocês é bem agitada. — Atena comenta de onde está, mordendo um pedaço de torrada enquanto alterna o olhar entre nós duas. Dou um sorrisinho com isso.
— Entre gigantes de gelo, elfos negros, exércitos chitauri, Loki e robôs assassinos, a maior agitação sem dúvida foi a maioria começar a namorar ao mesmo tempo. — Conto, não conseguindo evitar a fofoca, o que arranca uma risada das duas mulheres. — Elara definitivamente causou uma revolução entre as Amazonas.
— Não posso dizer que não fico feliz com isso. — Atena brinca, olhando de maneira apaixonada para a ruiva ao seu lado, que por sua vez, balança a cabeça para mim.
— Você está exagerando. E fala como se nunca tivessem namorado antes.
— Mas no momento em que todas saímos de Asgard, estávamos todas solteiras. — Argumento. — De quinze, já foram três. E eu não duvido que mais entre pra lista daqui um tempo.
— Mas e quanto a você, Europa? Não tem ninguém? — Minha mais nova cunhada questiona, o que me faz rir enquanto degusto agora da mesma torrada que ela. Sorte a minha que Calíope não dá a mínima para o quanto eu costumo comer.
— Com certeza não. Acho que serei uma das únicas a me manter fora dessa estatística. — Respondo simplesmente, pois essa é a mais pura verdade.
É claro que já me envolvi com alguns rapazes em minha juventude em Asgard, mas hoje em dia simplesmente não consigo me ver em um relacionamento com ninguém. Diferente de minhas irmãs, o amor não quis me encontrar, e eu estou bem com o fato se ser uma frigideira sem tampa. No momento, tenho preocupações muito maiores.
• • •
Quando retorno ao Kamar-Taj, a primeira coisa que faço é ir de encontro à Anciã. Já é fim de tarde, o sol se põe no horizonte e ela se encontra em sua habitual sala, degustando de uma carne com curry vermelho, um prato típico da culinária tailandesa. O delicioso cheiro aguça meus sentidos, mesmo que eu tenha passado a tarde toda comendo na casa de Calíope.
— E então? — A mestre questiona ao notar minha presença conforme me aproximo. — Como foi rever sua irmã depois de tanto tempo?
— Foi muito bom. Não sabia que estava com tanta saudade até vê-la. — Sorrio, me sentando de frente para ela. — Calíope está namorando. — Conto empolgada, não conseguindo guardar a informação apenas para mim.
Essa é uma notícia boa demais para ser um segredo, e na verdade, a própria Atena me confirmou que não é, então...
— Isso é bom, eu acho. — A Anciã responde com um sorriso. — E a saudade é um sentimento curioso. Bom até certa dose, doloroso se prolongar demais. — Comenta, me vendo apenas assentir em resposta antes de mudar de assunto. — Ela sabe sobre Dormammu?
— Sim, ela sabe que existe essa ameaça, mas não tentará intervir. Calíope tem consciência de que Dormammu está além de seu alcance. — Explico, passando os olhos sobre os livros em cima da mesa, livros esses pertencentes à coleção particular da Anciã.
— Assim é melhor. É extremamente perigoso lutar contra algo que não se conhece. — Eu a olho com isso, erguendo uma das sobrancelhas enquanto minha cabeça pende para o lado.
— Nós conhecemos Dormammu?
— Nossos conhecimentos se estendem além do deles.
— Mas isso vai ser suficiente? — A mestre não responde a pergunta, porém em seu olhar vejo que ela também teme por isso... todos tememos. Por fim, apenas muda de assunto.
— Além do mais, nós temos uma vantagem. — Ela não expõe em palavras ao que se refere, mas conhecendo-a como conheço, entendo bem o que quer dizer.
— Strange. — Deduzo, vendo-a confirmar com um aceno.
— Ele é um mago promissor, e aprende muito mais rápido do que a maioria. Strange tem muito potencial.
— Eu penso o mesmo. Ele é um homem impressionante. — Comento, de repente com os pensamentos longe sobre o médico e futuro feiticeiro do complexo, com sua leve arrogância, mas uma inteligência realmente admirável.
— Impressionante... como mago. — A Anciã corta meus pensamentos, me olhando de forma suspeita e me deixando sem graça, o que me leva a coçar a garganta para disfarçar.
— Sim, como mago. Claro.
Sigo conversando e debatendo assuntos importantes com ela por mais um longo tempo, e quando me encaminho até meu quarto, o relógio já marca 21h, e não vejo Wong, Mordo e nem Stephen ao longo do percurso. Sequer os vi hoje. Mas amanhã o dia é longo, e há muita coisa para se fazer.
a caliope 🥺
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