03 | master europa

۞ ⌇「 CAPÍTULO TRÊS:
MESTRE EUROPA 」

NO DIA SEGUINTE, STEPHEN COMEÇA seu treinamento com a Anciã logo cedo, de modo que não o vejo nem mesmo no refeitório. Faz sol do lado de fora do Kamar-Taj, um dia bom e quente, e o pátio externo rapidamente enche de alunos para praticar a magia usando os anéis de acesso ou praticar as outras artes ensinadas no complexo. Apesar de ser uma das magas com mais tempo aqui, não possuo confiança o suficiente para ensinar os meus conhecimentos aos novos alunos, mesmo sob a insistência da Anciã. E é por isso que me encaminho até a biblioteca, decidida a fazer algo que está em meus planos há algum tempo, mas que não havia colocado em prática ainda. E com um largo e simpático sorriso no rosto, abordo Wong no local com extrema educação e charme. Ou pelo menos tento.

— Wong. — O cumprimento, mas minha tentativa de o ludibriar apenas com simpatia não chega sequer a passar disso, pois ele me olha de modo desconfiado no mesmo momento.

— O que você quer? — Solto uma risada anasalada com a pergunta.

— Por que você acha que eu quero alguma coisa? Eu não posso apenas vir passar um tempo e bater um papo com um amigo? — Seu olhar de total descrença em mim me faz soltar um suspiro, me dando por vencida e soltando um resmungo frustrado, pois é claro que Wong não acreditaria. — Tudo bem, me pegou. Eu vim te fazer uma proposta.

Confesso, me sentando sobre uma das cadeiras e apoiando o queixo sobre a mão, vendo-o me olhar com uma das sobrancelhas erguidas em desconfiança enquanto organiza alguns papéis.

— Proposta?

— Sim. Eu quero ser a sua ajudante aqui na biblioteca, te ajudando a organizar todos os livros e tudo o mais, e em troca, eu te consigo um CD autografado da Beyoncé. — Proponho sem rodeios, conseguindo uma real expressão dele agora, pois o mesmo parece bastante surpreso com o que ouve. E quem não ficaria? A minha proposta não é pouca coisa.

— Que tipo de proposta é essa? — Indaga, parecendo ainda mais desconfiado, mas também surpreso.

— Sejamos sinceros Wong, Mordo é muito melhor em ensinar os novos alunos do que eu, e apesar de sempre aprender coisas novas, alguns dias são muitos monótonos para mim aqui, e como a biblioteca é um lugar que gosto de ficar, pensei que poderia juntar o útil ao agradável. — Conto, escondendo um outro motivo crucial para minha decisão, mas que Wong não precisa de muito para entender. Ele me conhece bem para saber que isso também inclui o fato das pessoas no geral não serem muito próximas de mim ou sequer deixarem com que eu me aproxime. Engulo em seco o fato do quanto isso é humilhante e é o único motivo que me faz querer desistir de tudo e voltar para minhas irmãs. Mas eu não teria coragem de verdade, o Kamar-Taj se tornou o meu lar, apesar de tudo.

— Me conta mais sobre esse CD autografado. — Wong pede por fim, o que faz o sorriso em meu rosto voltar enquanto o encaro de maneira sugestiva.

— Modéstia à parte, eu sou muito boa em conseguir as coisas que eu quero. — Não escondo o quanto o fato me deixa levemente convencida. — Já te contei da vez em que descobri o paradeiro do namorado da minha irmã quando os Estados Unidos inteiro estava atrás dele e ninguém tinha conseguido encontrar?

— Deve ser uma história impressionante. — O bibliotecário diz apenas, balançando a cabeça. — Tudo bem, eu aceito. Com a condição de que você tome muito, muito cuidado aqui dentro... mesmo sabendo que isso é algo impossível para você.

Sorrio contente, erguendo uma das mãos como um escoteiro faz e prometendo algo que sei que não conseguirei cumprir nem nascendo de novo, mas que o faço mesmo assim.

— Vou tentar o meu melhor, prometo. — Wong suspira, abandonando seus papéis para caminhar até uma pilha de livros, pegando-os e os colocando a minha frente.

— Ok, comece com esses então.

• • •

Passar a tarde mergulhada em livros e mais livros pode ser um tédio para alguns, mas para mim é uma calmaria que me permite sonhar histórias de outras pessoas e adquirir ainda mais conhecimento. Eu simplesmente amo. Tudo bem que ler e organizar os livros em seus respectivos lugares são coisas bem diferentes, mas ainda assim, é um ambiente familiar e com o qual me identifico.

E é justamente neles que estou imersa quando escuto vozes se aproximando, a de Wong, principalmente, acompanhado de um dos magos.

— Essa sessão é só para mestres, mas se eu autorizar, outros podem usar. Devia começar com Máximas Básicas. — O guardião diz, aparecendo em meu campo de visão com Strange atrás de si. Ergo minhas sobrancelhas com isso, surpresa por sua aparição tão cedo na biblioteca. E ele também nota minha presença, parando de seguir Wong e se colocando ao lado da mesa onde estou.

— Europa. — Sorrio com o cumprimento.

— Stephen. Me perguntei quanto tempo você demoraria para aparecer aqui. — Comento, e agora é ele quem ergue uma das sobrancelhas de maneira sugestiva.

— Estava me esperando?

— Não seja tão convencido. — Retruco com um balançar de cabeça. — A maioria dos magos não são lá muito fãs de livros, então demoram a visitar a biblioteca o máximo que podem. Achei que fosse o seu caso. — Explico, o vendo negar no mesmo instante.

— Definitivamente não, e não parece ser o seu também. — Diz, se aproximando um passo e me olhando de forma cúmplice. — Está escondida aqui, Mestre Europa?

Sorrio, balançando a cabeça diante do que escuto. Eu sabia que não demoraria muito para que ele descobrisse que, não apenas uma maga, sou também mestre, embora seja a única mestre do complexo a não dar aulas. Com isso, apenas dou de ombros enquanto estreito os olhos em sua direção.

— Se eu disser que sim, vai me denunciar?

Ele repuxa os lábios em um sorriso, mas não tem tempo de me responder, pois Wong coça a garganta ao nosso lado, atraindo nossa atenção e nos olhando com uma carranca no rosto.

— Como está seu sânscrito? — Pergunta à Stephen, voltando ao assunto que o trouxe ali e procurando por mais livros para o entregar. Volto à minha própria tarefa com isso, pois Wong não é uma pessoa para se querer contrariar.

— Sou fluente em google tradutor. — Strange responde simplesmente, recebendo um livro de espessura fina em mãos.

— Védico, sânscrito básico.

— E aqueles ali? — Sua atenção agora está nos escritos da Anciã, e Wong não faz nenhuma cerimônia para lhe explicar sobre os mesmos.

— É a coleção particular da Anciã.

— Então são proibidos?

— Nenhum conhecimento no Kamar-Taj é proibido, somente algumas práticas. Aqueles livros são avançados demais para quem não for um Mago Supremo. — O bibliotecário explica, ao mesmo tempo que Stephen pega um em mãos, o folheando. Percebo que esse é justamente o livro do qual Kaecilius roubou algumas páginas, e Strange parece ver o mesmo.

— Esse tem páginas faltando.

— É o Livro de Cagliostro, um estudo do tempo. — Explico, vendo-o olhar para mim por breves instantes, mas então voltar ao objeto em suas mãos. — Um dos rituais foi roubado por um antigo mestre, Kaecilius.

— Logo depois que amarrou o antigo bibliotecário e decepou sua cabeça. — Wong completa, o que faz a atenção de Stephen recair sobre ele, ao mesmo tempo que reviro os olhos enquanto balanço a cabeça.

— Bem sutil, Wong. — Ele dá de ombros, continuando.

— Agora eu sou o guardião desses livros, então se um volume dessa coleção for roubado de novo eu saberei, e você estará morto antes de sair do complexo. — A ameaça parece surtir efeito por poucos segundos, pois Strange torce os lábios e balança os ombros antes de lhe responder.

— E se estiver só atrasado? Tem alguma taxa a ser paga? Mutilação, talvez? — Sua tentativa de piada não dá muito certo. Mesmo assim, prendo um sorriso entre os lábios apenas pela expressão de ambos os homens diante da situação constrangedora. — As pessoas costumavam me achar engraçado.

Stephen comenta, e agora Wong demonstra uma reação, franzindo as sobrancelhas e lhe entregando todos os livros em mãos.

— Elas trabalhavam pra você?

— Ok. — Strange não responde, mas diante de sua expressão e entonação, sei que Wong acertou em cheio em sua suposição e pode ter ferido seu ego. — Adorei a nossa conversa. Obrigado pelos livros, pela história horripilante e pela ameaça à minha vida. — Dizendo isso, ele se afasta, pronto para se encaminhar em direção à saída da biblioteca, mas então dá meia volta e para diante de mim com o olhar curioso. — Se você é mestre, por que não está ensinando?

Dou de ombros para a pergunta.

— Ensinar não é o meu forte.

— É uma pena. — Ele lamenta, se afastando novamente, mas virando o rosto de modo que consiga me olhar por cima do ombro. — Eu te escolheria como professora.

Não respondo ao comentário, mas um sorriso toma conta de mim, pois mesmo não sabendo se o que foi dito por ele foi apenas por educação, é bom saber que pelo menos há alguém que confiaria seu aprendizado a mim. E isso não é pouca coisa. Me pego tão intertida no pensamento que mal percebo o olhar de Wong em minha direção, me olhando como se desconfiasse de algo.

— O que? — Questiono, vendo-o dar de ombros simplesmente e se afastar. Não estranho a atitude, já que Wong constantemente é assim, e apenas volto à minha tarefa.

• • •

No dia seguinte, o tempo não se encontra ensolarado como o anterior, e sim com nuvens escuras e uma garoa fina que atinge à todos no pátio externo. Ninguém parece com ânimo para fazer qualquer coisa, e incluo a mim mesma nisso, porém uma ligação que recebo logo pela manhã faz com que eu me arrume e caminhe até a sala da Anciã, que se encontra tomando o seu familiarizado chá.

 — Bom dia, Europa. — Ela me cumprimenta quando me aproximo, me oferecendo uma xícara do líquido quente e que o cheiro denuncia ser mel. — Servida?

— Obrigada. — Nego com um sorriso, muito embora eu só queira tomar um café da manhã bem reforçado. — Só vim lhe informar que precisarei me ausentar do Kamar-Taj por algumas horas.

Ela franze o cenho com o que escuta.

— Algum problema?

— Nenhum, mas minha irmã solicitou minha presença. — Explico, vendo-a balançar a cabeça simplesmente. Apesar do meu dever para com o complexo e o mundo da magia, a Anciã nunca interfere nos assuntos relacionados às minhas irmãs ou à Asgard quando preciso resolvê-los.

— Entendo. Volte para o jantar, pelo menos. — Sorrio, confirmando em um aceno.

— Pode deixar.

Assim, me caminho para fora de sua sala, andando pelos corredores e chegando até a biblioteca, onde deixo um recado para Wong explicando minha ausência e então sigo até um dos pátios externos, que se encontra quase vazio devido ao tempo. Uso o anel de acesso para conjurar um portal que me leva até Londres, onde Calíope já se encontra a minha espera.

a interação dos dois

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