Cap.6 Apenas Mirai
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Capítulo 6 - Apenas Mirai
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A noite na liga estava silenciosa. Mirai aproveitou para cumprir com suas funções, olhando a papelada que mais um dos "funcionários" entregou. Chegava a revirar os olhos. Tá que os objetivos da liga não necessitavam disso, mesmo que para os fins uma renda alta fizesse total diferença, mas a ideia era tão boa que o próprio All for One aprovou. Francamente, não era difícil de ser providenciado, principalmente para a garota que possuía uma inteligência acima da média. Seu mantra era prático e facilmente induzido, o que convencia a qualquer um. Afinal, vilões ralé adoram dinheiro e, no fim, era mais fácil contratar pessoas com individualidades fracas e descartáveis do que envolver a liga em missões desnecessárias. Analisando os papéis sobre a enorme mesa de reuniões, um tanto quanto desgastada, resolveu fazer uns ajustes que para muitos seriam supérfluos, mas no fundo iriam adorar.
— Agora vejamos. — Bateu a caneta na ponta dos lábios, gostava de fazer tudo à mão. — Preciso terminar meus trabalhos, senão vou repetir o semestre, mas primeiro preciso focar na liga: no momento temos uns dois quartos vagos e apenas Compress, Toga, Twice, Dabi e às vezes Magne ficam aqui quando querem dormir. Se eu mandar uma faxineira resolver o pulgueiro de cada um, eles vão matá-la com toda certeza, aí ferrou, então vou mandar uma diarista pros banheiros e só, de resto vamos aos gastos idiotas. — Parou de falar para pôr em prática as coisas que traria para a liga. Os vilões podiam até reclamar, mas no fim adoravam o fato de ter tudo a seu dispor, tendo que se preocupar apenas com as ordens de Shigaraki. E era para isso que estava ali, no fundo era um belo suporte.
Quando acabou, colocou na lista outra cama, uma de casal com cabeceira de ferro, e juntou cerca de oitenta mil a mais para acrescentar no lucro.
Aquela era a lavagem de dinheiro perfeita e agora poderia se concentrar nos estudos. Afinal, a vilania não lhe pertencia.
...
A garota encarava o relógio, entediada, e por esse motivo resolveu sair. Se tinha algo que sentia falta além de sua própria liberdade, era a forma louca como se divertia quando não estava à disposição de Shigaraki. Rapidamente, catou todos os papéis que já estavam em ordem e os levou até o quarto, deixando-os sobre a mesa de canto. Sabia que Shigaraki não tinha tempo ou sequer paciência para conferir outro trabalho que não fosse o dele.
Mirai retirou as roupas e vestiu uma calça jeans de lavagem escura, uma camisa de malha azul e um sobretudo preto — este, claro, pertencia ao azulado. Colocou um par de tênis, puxou um gavetão do armário onde deixava suas peças íntimas, afastou as peças e puxou uma pequena caixa de madeira com o apelido que ganhou quando completou idade suficiente para aprender a atirar, ou seja, 10 anos. Ali, em uma letra detalhada, estava escrito "Babygirl". Nunca gostou muito de tal apelido, preferia "Queeny", porém se apegou a ele graças ao pai. Abriu a caixa com carinho, apreciando a peça metálica que carregava o mesmo apelido: uma Glock 9mm. Pegou a arma descarregada e o pente com as 17 balas, colocou a arma no quadril e o pente no bolso e, sem se importar, saiu do covil determinada a se divertir.
...
Não foi surpresa alguma encontrar o estande "A Vingança do Rei" aberto; era um dos poucos estandes profissionais que ficava aberto 24 horas. Mirai adentrou o local sorrindo, conhecendo muito bem cada canto daquele lugar. Foi até o estande mais próximo, preparando-se para atirar. A sensação era única, não importava quantas vezes tivesse atirado.
Depois de calibrar o alvo e empunhar a arma, atirou diversas vezes, surpreendendo-se pelos espaçamentos. Quando puxou a tarja para verificar, ficou orgulhosa: apesar de não atirar há muito tempo, conseguiu acertar o tiro no mesmo lugar pelo menos três vezes.
— Realmente é igualzinho a andar de bicicleta; aprendeu uma vez, jamais esquece. — Sorriu, alisando a arma na mão esquerda, e não pôde impedir a enxurrada de memórias enquanto ainda olhava para a arma:
Alguns anos atrás antes de ser obrigada a se juntar a Tomura:
A garota tinha acabado de completar dez anos. Como de costume, Hikai dera uma festa extremamente extravagante; dessa vez, a temática fora a Barbie, e até mesmo uma "Barbie humana" foi contratada.
— Escuta, Hikai, você não está exagerando? — o Incubus comentou ao ver o rostinho da garota com as sobrancelhas contorcidas. No entanto, o próprio Hikai sorriu.
— Vocês dois são jovens, por isso se compadecem, mas ela precisa sentir o que é ser normal. Afinal, é a minha princesinha, minha babygirl. — Sussurrou. — Deixe-a aproveitar...
A memória foi cortada novamente conforme ouviu o barulho de tiro sendo disparado. Mirai balançou a cabeça e apertou o botão, dispersando o alvo. Colocou os fones abafadores e engatilhou a arma, mirando novamente no alvo. Mais uma lembrança recorrente surgiu:
Um dia após o aniversário de 10 anos:
Mirai estava toda feliz com os inúmeros presentes e a presença das pessoas que tanto gostava. Batidas na porta do quarto a tiraram do transe.
— Babygirl, tenho um presente pra você. — Ao ouvi-lo, ela se endireitou na cama. Hikai se aproximou com uma caixa de madeira; no topo, estava entalhado o mesmo apelido carinhoso, Babygirl. — Vamos, babygirl, abra. — Colocou a caixa sobre a cama. Ela demorou alguns minutos, mas no fim cedeu, e os olhos brilharam de forma misteriosa.
Naquele dia, aprendeu o que era uma pistola. Dois dias depois, deu o primeiro tiro, sentindo a pele entre os dedos rasgar de leve devido ao impacto do disparo.
O barulho do tiro mais uma vez a despertou. Após diversas tentativas, tirou os fones abafadores e puxou novamente o alvo, conferindo que os tiros dessa vez foram péssimos.
"Mas que droga está acontecendo comigo hoje?" Pensou, afinal, estava nadando em lembranças e, mesmo que não admitisse, tinha dias que se sentia sozinha.
— Quer saber, se isso não está funcionando, acho que uma visitinha na boate fará toda a diferença! — A garota foi até o caixa do local e solicitou um cofre por tempo indeterminado. E claro, pagou em dinheiro. Guardou a arma e as balas, além de pendurar a chave junto com o diamante. Puxou o celular da bolsa e chamou um táxi, seguindo para a tão aclamada Red Velvet...
Não era novidade que Mirai conseguia entrar naquele lugar com tanta facilidade. O segurança da vez era um desconhecido, mas bastou mandar uma mensagem para o barman com quem tinha feito amizade para adentrar o local, indo direto para o bar.
— Faz tempo, princesa. — O homem de sorriso doce olhou para as vestes simples dela, ficando em dúvida. Nas poucas vezes em que conversaram, ela sempre esteve exuberante.
— Alguém precisa ensinar aquele brutamontes que sou VIP. — Ironizou.
— Se você vier com aquele vestido da outra vez, aposto que ele não pediria suas credenciais. — Gargalhou. Ela tentou se lembrar da peça e, quando conseguiu, riu satisfeita.
— Aquele vestido não existe mais... Enfim, quais são as atrações de hoje? — Se inclinou no balcão.
— As mesmas de sempre: strippers gostosas no A1, boate no A2 e negócios no A3. — Revirou os olhos.
— Estava falando das bebidas, Peter. O que você pode me dar sem álcool, por favor? Já basta o último maluco que me seguiu quando enchi a cara. — Revirou os olhos ao recordar da cena, pensando em como preservava tão pouco que nem conseguia absorver o que poderia ter acontecido se Shigaraki não a tivesse encontrado. Sua individualidade estava lenta demais para se defender e não tinha o costume de andar armada.
— Nesse caso, que tal uma taça de sangria sem vinho? — Piscou.
— Olha... Não faço ideia do que é isso, mas aceito. — Riu. Peter demorou um pouco para retornar, atendendo a todos no processo e preparando as respectivas bebidas. Quando Mirai provou do néctar estupidamente doce, sentiu o estômago agradecer.
— Isso é bom, doce demais, porém... Bom.
— É que a sangria leva vinho. Sem ele, fica um pouco doce mesmo, e olha que nem açúcar coloquei. — Ela respirou tranquilamente. Peter era o mais próximo de uma amizade saudável que tinha.
— Nesse caso, obrigada. — Se inclinou no balcão e deu um beijinho na bochecha dele. — Vou de A1 hoje, quem sabe não aprendo a dançar desse jeito. — Piscou, se levantando e seguindo até o fundo do primeiro andar, onde o palco iluminado pelas mais diversas cores se fazia presente. Olhou em volta e viu algumas strippers dançando e outras atendendo clientes. Sentou-se em uma das cadeiras e se pôs a observar. O ambiente era tão embebido em luxúria que não pôde negar as lembranças da noite nos braços de Shigaraki. Seu rosto chegou a esquentar enquanto bebia a sangria rapidamente. Desviou o olhar para o lado e sentiu o cheiro de cigarro. Automaticamente, se pegou procurando o responsável por isso.
Foi então que notou, na terceira poltrona à direita a partir de sua visão, um homem de cabelos espetados muito bem acomodado no acolchoado. Enquanto a destra repousava no braço da poltrona, ele ordenava que a mulher virasse, e a mesma obedecia. Mirai apertou os dedos no copo de coquetel antes de beber, pois quando o viu sorrindo, desejou muito sentar naquele colo e beijar aquela boca. E como não tinha muito apego à vida, resolveu se aproximar.
— Então é assim que você se diverte. — Sussurrou, atraindo a atenção leve do moreno que, em seguida, voltou a observar a mulher em trajes de couro que dançava à sua frente.
— Você não deveria estar aqui. — Ironizou, e ela se sentou no braço da poltrona.
— Se for parar pra pensar, não deveria estar em tantos lugares... — Se abaixou novamente, dessa vez praticamente encostando no corpo dele. — Então esse é o seu tipo. Não sabia que gostava de peitos.
Foi a vez dele rir.
— E que homem não gosta? — A resposta era vaga, mas bastou para que ela se levantasse.
— Justo. Leva ela para o A3; uma dança privativa valeria mais a pena. — Piscou. Era terrível. Se afastou até o bar e pediu outro drink, notando o moreno indo em sua direção e sorrindo. — Desistiu da dança, gatinho? — Dabi pediu uma cerveja.
— Uma certa garota de perfume cítrico estragou minha diversão. — Ela sorriu ao ouvi-lo.
— Que peninha... O que será que essa garota pode fazer para te compensar? — Apontou para si mesma enquanto apoiava a cabeça na mão esquerda, com o cotovelo apoiado no balcão. Dabi se aproximou e tomou a cerveja de uma vez.
— Se não fosse a mulher do Shigaraki, seria tudo tão... interessante. — Mirai não sabia como reagir a isso. Desde quando virou a mulher do líder da Liga? E pior, era isso que estavam dizendo?
Respirou tranquilamente ao se levantar da banqueta.
— Homens... Vocês deveriam aprender a dividir. — Terminou de beber a sangria e se levantou, o indicador da mão direita ralhou pelo peitoral do moreno. — Que desperdício... — Se atreveu um pouco mais e tocou os lábios dele, porém teve a mão segurada.
— Não me tente, Mirai. — Dabi disse, com um tom sério. Ela se afastou.
— É uma pena. — Sorridente, a garota foi ao balcão e pagou a conta antes de retornar para a Liga. Decidiu que pegaria a arma depois.
...
Já passava das duas da manhã quando Mirai ouviu um burburinho no primeiro andar. Decidiu descer para entender o que estava acontecendo e não se surpreendeu ao encontrar Toga apontando uma faca para o pescoço de Shigaraki. Da escada, pôs-se a observar o que acontecia.
— Você não vai fazer nada, Tomura? Isso está me aborrecendo. — O olhar da loira parecia mais sanguinário do que o normal. Mirai observou o azulado retirar a mão que cobria o rosto e olhá-la seriamente.
— Tudo na sua hora. Não vou colocá-la em perigo à toa, e quando chegar a hora, iremos destruí-lo pessoalmente. — A loira pareceu se acalmar enquanto a lilás na escada observava seriamente a situação. Não fazia a menor ideia do que havia acontecido, mas claramente a paciência de Shigaraki se extinguiu. Por ora, decidiu retornar ao quarto; de qualquer forma, saberia pelo próprio líder ou por Toga o que estava acontecendo.
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Notas finais: A sangria é uma bebida ou coquetel feita com base numa mistura de vinho sumo de fruta, pedaços de frutos e açúcar. Aqui em casa tomamos sem o vinho o substituindo pelo suco de uva e retirando o açúcar por que se não fica muito melado e é uma delícia.
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