4.Lembranças
Por Diane,
Haviam se passado três anos desde que eu vim morar com a família Von Stain e depois de tudo que aconteceu comigo essa foi a melhor decisão que tomaram ao meu respeito, agora com treze anos consigo entender um pouco melhor o estado de minha mãe, demorei muito nesse tempo para voltar a sorrir e me senti acolhida por essa família que agora também faz parte de mim.
Gloxinia e Gerheade me pediram para os chamar de tio e tia e assim o fiz todos os dias e após a aula eu ia correndo visitar minha mãe no hospital que o próprio Gloxinia mandou construir na mansão, falei para ele que aquilo não era necessário afinal ter um hospital iria gastar muito dinheiro mas o mesmo me explicou que era o mínimo que poderia fazer pela minha mãe e que aquilo não passava de bens materiais que não fariam falta, não para alguém da realeza. No início não entendi, então perguntei para Harlequin que realeza era essa que tanto comentavam que todos quando viam se curvavam, então ele me explicou que seus pais eram os próximos sucessores do Trono de um lugar conhecido como Fairy Florest, um reino pequeno porém muito rico com muitos aliados e de uma beleza que eu nunca havia visto antes, cada foto que ele me mostrava eu ficava mais maravilhada e pensava quando é que poderei conhecer aquele lugar.
Arlequim e Elaine se tornaram parte fundamental da minha vida, Elaine era como uma irmã pra mim e Harlerquin, bem... nos éramos chegados. Minha vida finalmente estava perfeita e reconstruída eu sabia que não seria assim para sempre.
· · • • • ✤ • • • · ·
Quando completei quinze anos uma carta do banco veio até nós a carta de Megadozer informando que estava na hora de eu cumprir com o acordo. Minha mãe havia sido bem minuciosa no contrato deixando claro que eu Diane Gupsy deveria aprender a me virar sozinha, ou seja, novamente ficaria isolada e ao fim daquela carta derramei minhas lágrimas incessantemente, eu não queria ficar sozinha. Demorei três anos para me acostumar e construir essa nova aliança a qual chamo de família e mais dois anos para me sentir completa e agora eu teria que abandonar tudo e não teria opção?
Fiquei no meu quarto chorando por duas horas até King bater a porta, pedi para que ele não entrasse, eu estava horrível havia chorado muito mas ele me conhecia e sabia que precisava de alguém. Então calmamente abriu a porta e ao me ver deitada na cama chorando simplesmente se sentou e posou minha cabeça em seu colo fazendo carinho em meus fios.
— Escuta Diane estou aqui para o que você precisar, não precisa se sentir sozinha. — Sussurrouu acariciando meus fios com tanto carinho que a única coisa que fiz foi me permitir chorar mais e mais.
— King você não sabe o que está acontecendo ou você esqueceu daquela conversa que tivemos em Megadozer? —Apenas estendi a mão para ele e entreguei a carta, o mesmo me olhou confuso antes de pegar o papel amassado de minhas mãos.
— Eu já havia me esquecido Diane. — Um silêncio pairou pelo quarto enquanto ele lia a carta, quando terminou amassou o papel e arremessou do outro lado do quarto. —Isso é um absurdo! Vou falar com meu tio. Tem que ter alguma coisa que ele possa fazer, não vou permitir que isso aconteça relaxa Diane, daremos um jeito nisso! — Me sentei para encará-lo ele apenas depositou um selinho no canto dos meus lábios se levantou e foi em direção a porta assim que ele saiu eu levei meus dedos até o local, faziam três meses desde que nos beijamos pela primeira vez e por consequência aquele foi o meu primeiro beijo e aparentemente foi o dele também. Nossa relação ficava cada vez mais estranha, o que começou com uma simples amizade, hoje desabrocha em um sentimento que me deixa totalmente confusa.
Resolvi levantar e tomar rumo da minha vida, desci silenciosamente as escadas e andei até o escritório do Tio Gloxinia, coloquei as mãos na maçaneta e antes de abrir a porta pude ouvir toda aquela conversa:
—Eu tentei King! Você acha mesmo que eu quero que elas saiam daqui? Olhei esse contrato inúmeras vezes nem com a minha posição posso interferir nisso, Matrona foi esperta ao adicionar aquela cláusula que segundo ela vai preparar sua filha para vida!
—Por que ela fez isso tio? Porquê?! Diane não merecia passar por tal coisa.
— Certas coisas meu querido sobrinho não há como compreender, não no momento. Quando você for um pouco mais velho vai entender que tudo que Matrona fez foi para o bem dela, afinal Diane vai lhe dar com pessoas da pior espécie. Imagine porcos que estão há meses sem comer e quando vem um prato de comida disputam por ele até somente um sobrar e devorar toda refeição não restando nem o prato.
— Tio você sabe exatamente quem são essas pessoas, não sabe? E seu silêncio quanto a isso não faz sentido! Você conhecia bem demais a mãe dela e conhece mais alguém daquela família. — A afirmação de King me deixou em alerta.
— Digamos meu sobrinho que o pai de Diane foi uma pessoa extremamente importante na minha vida, meu único amigo e pela família dele farei tudo ao meu alcance. - Fiquei sem acreditar no que ouvi. Todo esse tempo Goxínia conhecia meu pai, mas nunca me falou nada. Eu precisava descobrir mais, então entrei na sala sem avisar e recebi o olhar de ambos os homens confusos com a minha aparição repentina.
— Diane querida o que faz aqui?
— Tio Gloxinia quem é o meu pai? - fui direto ao ponto.
—Seu pai?
— Não adianta tio, ela deve ter ouvido tudo atrás da porta, era a mesma pergunta que eu ia fazer.
— Ok- ok, sente -se querida. Tenho muito a contar pra você. — Apenas obedeci e me sentei, King me acompanhou se sentando ao meu lado e segurei sua mão. Gloxínia observou tudo e permaneceu em silêncio em relação a nós dois e começou a contar a história:
— Diane como você sabe Megadozer foi uma cidade construída a partir de um projeto de um homem muito rico e ambicioso que queria ter sua própria versão da Wall Street e levantou a cidade do nada, por quinze anos seu Império foi absoluto, até que a toxicidade daquele lugar começasse a afetá-lo, mesmo tendo um grande coração e uma mente brilhante seu pai não me escutou quando informei que morar no mesmo lugar que se trabalha estava o afetando, só percebeu isso com o tempo. O problema é que já era tarde demais e com isso ele sumiu do mapa sem deixar notícias, a última coisa que fez antes de sumir foi passar o Império para o nome de sua única herdeira, cláusula assinada pela sua mãe, mesmo escutando tudo isso saiba que Dolor era um grande homem, seu pai foi uma pessoa maravilhosa traída pela própria ambição.
Eu não fazia ideia do porquê mas estava chorando, talvez fosse pelo fato de não ter conhecido meu pai ou ainda por esta ser a primeira vez que escuto falarem dele sentir os braços de King envolvendo e deitei minha cabeça em seu ombro enquanto sua outra mão acariciava no meu cabelo.
"Então esse é o nome do meu pai Dolor..." — Pensei
— Obrigada Tio, o senhor foi a primeira pessoa a falar do meu pai. Nunca pensei que isso fosse possível. — Recompus minha postura limpei as lágrimas que caíram em meu colo.
— Eu deveria ter feito isso antes querida, só não sabia como abordaria tal situação e te ver assim tão disposta a escutar e compreender, mostra que você amadureceu bastante Diane, mesmo que não seja a hora e sinto muito ter que impor esses termos a você. Você e Arlequim se tornaram adultos antes do tempo e apesar das circunstâncias me deixaram orgulhosos. - Nós apenas sorrimos com as palavras de Gloxinia em seguida nos olhamos com carinho enquanto King acariciava o topo do meu dedo indicador. — A quanto tempo isso esta rolando?
— Isso o quê? — King se fez de desentendido enquanto eu fiquei vermelha de vergonha.
— Vocês acham mesmo que podem me enganar? A quanto tempo estão juntos?
— Err...ju-ju-juntos? — King começou a gaguejar, toda vez que ficava nervosos aquilo acontecia.
— Nós estamos juntos a três meses, na verdade não estamos juntos! A não ser que um beijo nos torne namora...Eunãoseioqueestáacontecendo. — Falei rápido em seguida levei a minha mão a boca para tapa-la, sempre reajo de forma negativa quando estou sobre pressão e Gloxinia gargalhou alto com minha situação.
— Crianças esse relacionamento inocente de vocês me agrada e muito, se Matrona estivesse aqui diria o mesmo e depois viraria para o Harlequin com um olhar assassino antes de mandá-lo ter juízo ou o caparia! — Observei King engolir seco as últimas palavras de seu tio enquanto eu apenas dava uma leve gargalhada. Ficamos ali conversando mais um pouco sobre o passado de meu pai e as possibilidades de minha mãe acordar depois falamos sobre os pais de King e assim construímos uma tarde só de lembranças, pena que seria a minha última com essa família.
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