Diga, Parte 2
Tira a maquiagem pra que eu possa ver
Aquilo que você se esforça pra esconder
Agora somos só nos dois, já podes parar de fingir
Mas cala essa boca e me diz com o olhar, quem era você até me encontrar
Se agora és diferente, o que eu fiz que te fez mudar...
O sol mergulhava no horizonte, tingindo o céu de laranja e púrpura. A cidade parecia mais silenciosa naquela tarde, como se o mundo estivesse conspirando para amplificar o som da sua respiração pesada e dos pensamentos que martelavam em sua cabeça. Você estava parada na varanda do pequeno apartamento que um dia foi seu refúgio com Bakugou Katsuki, mas agora parecia mais uma prisão emocional.
As lembranças dançavam em sua mente como fantasmas que você não conseguia exorcizar. O jeito como ele te olhava nos primeiros dias, com uma intensidade que fazia seu coração disparar, era agora uma sombra distante. As brigas haviam se tornado frequentes, transformando o amor em algo doloroso e eram sempre pelo mesmo motivo. E hoje, enquanto ele saía sem olhar para trás, você se perguntou pela milésima vez se havia algo em você que ainda o fazia ficar.
Dentro do apartamento, os resquícios de uma discussão recente ainda estavam presentes. A mesa da cozinha com pratos intocados, a cadeira que ele derrubou ao sair, e o som oco da porta batendo ecoando no seu peito. Sua mão tremia enquanto segurava uma xícara de café frio, incapaz de encontrar consolo na bebida amarga.
O silêncio entre vocês havia se tornado o maior inimigo. Ele não era o tipo de homem que sabia colocar sentimentos em palavras, mas você aprendeu a ler os pequenos gestos: a forma como ele arrumava seu travesseiro à noite, como deixava um café quente ao lado da cama antes de sair cedo para treinar. Ainda assim, esses gestos não eram mais suficientes.
Você precisava ouvir. Precisava que ele dissesse que ainda valia a pena.
A noite caiu, e ele voltou para casa mais tarde do que o habitual. Quando entrou, o cheiro familiar de Katsuki — um misto de suor e algo levemente amadeirado — preencheu o espaço. Ele tirou os sapatos e olhou para você rapidamente, mas desviou o olhar como se a presença dele fosse um incômodo.
— Você vai continuar fingindo que eu não estou aqui? — Você finalmente perguntou, a voz baixa, mas carregada de frustração.
Ele parou no meio do corredor, as costas ainda voltadas para você.
— Eu não estou fingindo. — Ele respondeu, sem se virar.
— Então por que parece que eu sou invisível pra você? — Sua voz subiu, a frustração transbordando.
Ele suspirou, passando as mãos pelos cabelos bagunçados antes de finalmente se virar para te encarar.
— Você acha que é fácil pra mim? Acha que eu não estou tentando? Depois de toda essa confusão?!
Seus olhos encontraram os dele, e você viu algo mais profundo do que a raiva usual: cansaço.
— Se você está tentando, Katsuki, eu não estou vendo. — Você respondeu, sentindo as lágrimas brotarem.
Ele deu alguns passos na sua direção, parando a poucos metros de distância.
— Você acha que eu gosto disso? — Ele perguntou, a voz mais baixa, mas ainda carregada de emoção. — Acha que eu gosto de não saber o que dizer, de te magoar com meu silêncio ou com minhas ações brutas?
— Então por que você não tenta, pelo menos uma vez? — Você implorou, a voz quebrando. — Diga que ainda me ama, que a gente ainda tem uma chance.
Ele ficou em silêncio, os punhos cerrados ao lado do corpo. Você sabia que ele estava lutando contra algo dentro de si, mas dessa vez você precisava que ele vencesse.
— Eu... — Ele começou, mas as palavras pareceram escapar.
Você balançou a cabeça, decepcionada, e deu um passo para trás.
— Eu não posso continuar assim, Katsuki. Eu preciso de mais, não dá para prometermos mudar e continuarmos caindo nos mesmos erros, meses após meses, olha só no que nós tornarmos? Duas desconhecidos dentro da própria casa.
Ele observou você se afastar, as costas dele curvadas como se estivesse carregando o peso do mundo. E então, de repente, ele se moveu. Antes que você pudesse processar e ele também, estava na sua frente, segurando seu rosto com ambas as mãos.
— Eu não quero te perder. — Ele finalmente disse, a voz rouca e desesperada.
Você sentiu o ar escapar dos pulmões enquanto as palavras dele finalmente preenchiam o vazio entre vocês.
— Então me prova, Katsuki. Prova que você ainda está aqui.
Ele te puxou para um beijo, e foi como se o tempo parasse. Não havia mais brigas, silêncios ou mágoas. Apenas o calor dos lábios dele nos seus e o som das respirações entrecortadas.
O beijo foi apenas o começo. Ele te guiou até o sofá, onde vocês se sentaram lado a lado, ainda próximos o suficiente para sentir o calor um do outro. Ele segurou sua mão, algo que raramente fazia, e finalmente começou a falar.
— Eu sei que sou um idiota. — Ele admitiu, olhando para o chão. — Mas você é a única coisa que faz sentido e eu gosto disso.
Você apertou a mão dele, incentivando-o a continuar.
— Eu só... eu não sei como mostrar isso. Eu não sei ser bom com palavras e simplesmente odeio quando te faço chorar pela minha ignorância, quando brigamos por causa da porra do meu gênio ou quando você é posta em uma posição desconfortável devido as minha prioridades. Isso não é amor Sn é o meu gênio e o pertencimento que me impedem de dobrar e eu sei que preciso conciliar a ambos pois você merece mais.
Você respirou pesado, ele sempre era intenso desse jeito, as brigas eram sempre pelos mesmo motivos, Katsuki não conseguia te incluir na vida de vocês, ele estava cada vez mais distante e quando conseguiam a sensação de afastamento coincidiam em brigar por motivos banais, aos poucos o sentimento que tanto cultivaram durante anos, pareceu pesado e exaustivo, ainda assim nenhum dos dois quis desistir ou simplesmente cair fora.
— Não precisa ser perfeito, Katsuki. Eu só quero que você seja honesto.
Ele levantou o olhar para encontrar o seu, e a intensidade nos olhos dele era quase esmagadora.
— Vou fazer o que for preciso pra gente ficar bem.
Você se inclinou para abraçá-lo, sentindo o corpo dele relaxar contra o seu.
Naquela noite, vocês dormiram juntos no sofá, entrelaçados, como se o mundo lá fora não existisse. Pela primeira vez em muito tempo, o silêncio entre vocês não era pesado. Era reconfortante.
E quando a manhã chegou, trazendo consigo a luz suave do sol, você acordou com ele ainda ao seu lado. Katsuki estava de olhos fechados, mas a mão dele ainda segurava a sua.
Você sabia que não seria fácil, que ainda haveria dias em que o orgulho dele complicaria as coisas. Mas, naquele momento, você também sabia que ele estava disposto a tentar.
E isso era tudo o que você precisava.
🔺🔻🔺🔻🔺
A tempestade havia cessado, mas o eco das palavras da noite anterior ainda pairava no ar. O sol da manhã entrava pelas frestas da cortina, iluminando o quarto que agora parecia diferente. Katsuki estava sentado na beira da cama, o olhar perdido na luz suave que invadia o espaço. Você ainda dormia ao seu lado, os traços serenos contrastando com a intensidade dos últimos dias.
Ele não conseguia parar de te olhar. Não porque nunca tivesse feito isso antes, mas porque, naquele momento, tudo parecia mais claro. Era como se, depois de tanto tempo tentando evitar o óbvio, ele finalmente entendesse. Você era mais do que ele merecia, mas, ao mesmo tempo, a única coisa que ele queria.
Você acordou lentamente, sentindo a brisa suave que entrava pela janela. Virou-se, encontrando os olhos dele fixos em você. Por um segundo, ficou sem saber o que dizer. Não era típico de Katsuki te olhar assim, tão desarmado. Era como se ele estivesse te vendo pela primeira vez — ou talvez como se estivesse tentando memorizar cada detalhe.
— Bom dia. — Sua voz saiu suave, mas hesitante.
Ele não respondeu imediatamente, apenas inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos e olhando para o chão. Quando finalmente falou, a voz dele estava mais baixa do que o habitual.
— Eu preciso te dizer uma coisa.
Você se sentou, a expressão curiosa e ligeiramente preocupada. Katsuki raramente era direto quando se tratava de sentimentos. Ele preferia ações às palavras, mas algo no tom dele te fez prestar atenção.
— Eu não sou bom com isso. — Ele começou, ainda evitando te encarar. — Mas... eu não quero mais perder tempo fingindo que não me importo. Eu... eu te amo.
As palavras saíram rápidas, como se ele precisasse se livrar delas antes que mudasse de ideia. Quando finalmente olhou para você, havia uma vulnerabilidade nos olhos dele que você nunca tinha visto antes. Era o Katsuki mais verdadeiro, despido de todas as camadas de raiva e orgulho que costumavam protegê-lo.
Seu coração acelerou, e por um momento, você não conseguiu responder. Não porque não sentia o mesmo, mas porque aquela era uma confissão que você nunca esperou ouvir de forma tão honesta.
— Katsuki... — Você começou, a voz embargada. — Eu também te amo. — As lágrimas finalmente caíram, mas dessa vez eram de alívio.
Ele respirou fundo, como se aquelas palavras fossem o alívio que ele precisava. Sem dizer mais nada, ele estendeu a mão, segurando a sua com firmeza. Não havia necessidade de mais explicações. Tudo o que precisava ser dito estava ali, na forma como os dedos dele se entrelaçavam com os seus.
Os dias seguintes foram diferentes. Não porque vocês mudaram quem eram, mas porque agora havia uma nova compreensão entre vocês. Katsuki, embora ainda explosivo e teimoso, fazia mais esforços para mostrar o que sentia. Ele te trazia café sem reclamar, te esperava para treinar mesmo que isso o deixasse impaciente, e, às vezes, simplesmente te observava enquanto você fazia algo simples, como ler ou mexer no celular.
Você também se esforçava. Aprendeu a interpretar os silêncios dele como algo mais profundo, um jeito de dizer que ele estava presente mesmo quando não tinha palavras. Era uma dança delicada, mas que funcionava porque vocês dois queriam fazer dar certo.
Uma noite, enquanto vocês caminhavam pela cidade iluminada, Katsuki segurou sua mão de repente, puxando você para um beco tranquilo. Seu coração disparou com o gesto inesperado, mas o olhar dele estava mais suave do que de costume.
— O que foi? — Você perguntou, rindo nervosamente.
— Só... — Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Eu queria te agradecer. Por não desistir de mim.
Seu peito apertou com a sinceridade na voz dele. Katsuki raramente agradecia por qualquer coisa, mas você sabia que isso era importante.
— Eu nunca desistiria de você, Katsuki. — Você respondeu, colocando a mão no rosto dele. — Mesmo que você me teste o tempo todo.
Ele riu, aquele som rouco e familiar que você tanto amava. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ele te puxou para um beijo. Foi diferente dos outros — menos urgente, mais profundo. Era como se ele estivesse colocando tudo o que sentia naquele momento, te mostrando sem palavras o que às vezes tinha dificuldade em dizer.
Mais tarde, de volta ao apartamento, vocês se sentaram no sofá, dividindo uma pizza e rindo de coisas banais. A leveza no ambiente era algo novo, mas bem-vindo. Pela primeira vez em muito tempo, você sentia que tudo estava exatamente onde deveria estar.
— Você ainda acha que eu sou impossível? — Ele perguntou de repente, a sobrancelha arqueada em um misto de desafio e brincadeira.
— Absolutamente. — Você respondeu, sem hesitar.
Ele revirou os olhos, mas o sorriso nos lábios dele mostrava que não estava realmente ofendido.
— Mas é por isso que eu te amo. — Você acrescentou, surpreendendo-o.
Ele ficou em silêncio por um momento, apenas te olhando. Então, com um gesto que era puro Katsuki, ele bagunçou seu cabelo e disse:
— Eu também te amo, sua idiota.
Vocês riram, e naquele momento, tudo parecia mais fácil. Mais simples. Como se, finalmente, vocês tivessem encontrado o equilíbrio entre o caos e o amor.
As semanas se transformaram em meses, e vocês continuaram construindo algo juntos. Não era perfeito, mas também não precisava ser. Vocês eram dois indivíduos imperfeitos que, de alguma forma, se encaixavam.
E, toda vez que a vida parecia difícil, você lembrava daquelas noites em que a chuva batia contra a janela, e tudo parecia desmoronar. Porque, no final, o que realmente importava era que vocês estavam juntos — e dispostos a lutar um pelo outro.
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