05 | Visitas ao cemitério
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ROYAL EVERDEEN
MEU ESTÔMAGO ainda estava quentinho quando deixei os três para trás com uma desculpa que eu precisava tomar banho.
Não uma desculpa total, minha mente culpada adicionou. Eu realmente precisava de um banho bem gelado para reverter toda essa sujeira que parecia envolver a minha alma.
Subi as escadas, ainda ouvindo as risadas do meu irmão se mesclar com xingamentos baixinhos de mamãe. Desejei estar lá para saber o motivo de tal reação, mas... eu teria meu momento.
Antes, eu precisava confirmar que tudo fora uma grande loucura da minha cabeça doida de adolescente cheia de hormônios tentando encontrar um sentido cheio de adrenalina em uma vida pacata.
Eu aguentaria a culpa e a vergonha se isso significasse que eu estaria errada. Que Nikolai não tinha nada relacionado a essa história toda. Que a bússola que ele mencionou em sua ligação, não era a mesma que homens terríveis que tiveram coragem de espancar uma mulher indefesa estavam procurando.
Por favor, pedi, em frente a porta do escritório super protegido do meu pai. Por favor, peguei meu grampo do cabelo. Por favor, não seja nada.
Depois de assistir a um tutorial no YouTube com Sarah em uma das noites que passamos juntas com baldes de pipoca, acho que eu me garantia. Queríamos assaltar inocentemente a adega do Sr. Cameron, mas ela não sabia onde ele escondia a chave. Então tudo que tínhamos era grampos de cabelo e um tutorial.
Não conseguimos concluir nosso plano por conta do irmão mais velho de Sarah, Rafe. Mas eu ainda me lembrava do passo-a-passo.
E esperava que não fosse apenas uma ladainha do site... Clic.
Encaro impressionada o trinco e toco na maçaneta, girando ela. Não consigo controlar os pulinhos quando a porta destrava e é aberta. Encaro os dois lados do corredor e entro no escritório, tomando cuidado para não fazer barulho ao fechar a porta novamente.
A energia me pega de surpresa, o ar não ventila, como se estivesse sido trancado nesse cômodo. Tento não pensar em abrir as janelas para entrar uma brisa fresca, considerando que não era para eu estar aqui dentro.
Sento na cadeira do meu pai, atrás da mesa e abro seu notebook, encontrando a tela inicial. Com senha.
Tento a data do nascimento do meu irmão, então a minha, então a data que meus pais se casaram, que conseguiram se estabilizar... Nada. Começo pelos nomes a seguir. Jaden. Lizabeth. Nikolai. Royal. Everdeen.
Solto um suspiro longo quando leio "senha incorreta" novamente.
Então abro as duas gavetas do meu lado esquerdo e remexo nos papéis ali dentro. Apenas contratos e listas telefônicas e folhas para que Nikolai assinasse. As duas gavetas do lado direito são trancadas.
Rodo o escritório com meus olhos e paro no cabideiro com o sobretudo do meu pai. Cruzo os dedos e pego impulso para sair da cadeira, me aproximando daquele casaco e vasculhando todos os bolsos.
Meus dedos se enroscam em um bolinho de chaves que tilintam ao chocarem uma com as outras. Contenho a animação que perfura meu peito e volto para as gavetas, me abaixando para estar na altura delas.
Abro a segunda primeiro, encontrando pastas com nomes e sobrenomes das pessoas que, logo, eu descubro que trabalham para e com o meu pai. Passo o nome dos Cameron sem dar muita bola.
Não é uma surpresa e nem uma novidade que os Everdeen tem o contato dos Cameron para qualquer ajuda que precisassem.
Não quando meu avô foi melhor amigo do avô da Sarah e meu pai é do pai da Sarah. Acho que essa ligação que os Everdeen sente com os Cameron será passada de geração em geração.
Ou, ao menos, é uma história que as duas famílias gostam de contar nos jantares.
É na primeira gaveta que encontro um mapa dobrado, uma fotografia de uma bússola — uma bússola idêntica àquela que é da posse de John B. Afasto o computador de meu pai do lugar e abro o mapa na mesa, então deixo a fotografia em cima do mapa.
Há lugares marcados.
Aqui em Outer Banks.
Pego a fotografia de cima do mapa e analiso ela, então viro entre meus dedos, encontrando um nome escrito por caneta azul. Redfield. Então pontos de interrogação são seguidos do nome.
Aquela letra...
Um barulho depois da porta me faz cortar o pensamento no meio. Com o coração prestes a saltar do peito, agarro meu celular do bolso e começo a tirar fotos. Fotos do mapa e da fotografia. Então dobro o mapa como estava e coloco a fotografia em cima.
Estava prestes a enfiar os dois na gaveta quando uma carta lá dentro chama a minha atenção.
Recolho ela com delicadeza, lendo a frase: "Não conte nada a ele, Teddy. Dentro do envelope tem o valor para comprar o seu silêncio. Se recebeu e está de acordo, mande-me de volta esta carta". Reviro a gaveta. Nada mais.
Quem quer que meu pai estivesse comprando, aceitou o suborno.
Tiro foto da carta também, apenas por garantia e coloco tudo no lugar. Tranco as gavetas e guardo o moinho de chaves. Alcanço a porta e saio por ela. Acabo de fechá-la quando meu irmão irrompe pelo corredor, saindo da minha porta.
— O que você estava fazendo no escritório de papai?
— Eu não estava no escritório — respondi rapidamente. — Acabei de chegar aqui, bati na porta para falar com ele e percebi que não estava. — Soltei uma risadinha e percebi tarde demais que pareço mais nervosa do que engraçada. — E você? — Mudo de assunto, mexendo no meu cabelo. — Estava me procurando?
Jaden ainda estava com as sobrancelhas franzidas quando encarou a porta um pouco atrás dele, por onde ele acabara de sair.
— Estava. Que papo é esse de que JJ Maybank atirou na praia?
Deixo um suspiro sair, sem saber se eu estava prestes a me cansar com a próxima interação ou aliviada por ele não ter continuado com dúvidas sobre o escritório.
*
Redfield.
Com uma pequena pesquisa em meu laptop, eu descobri que esse nome era bem comum por Outer Banks. A Torre de controle se chamava Redfield, mas o que ela teria a ver com a bússola?
E por que meu pai queria isso?
Mesmo com as provas agora passadas para o meu computador, eu não conseguia acreditar. Não conseguia ajustar a realidade em que Nikolai, meu pai e o prefeito dessa Ilha, pagava dois homens ruins o suficiente para bater em uma viúva e caçar adolescentes a tiros.
Sentada na cama em cima das minhas pernas cruzadas, deixei o meu rosto mergulhar nas minhas mãos e puxei meus fios negros e lisos para trás, a franja logo voltando para o lugar.
O sol já estava começando a esfriar e logo, logo o céu ganharia uma cor alaranjada.
Se eu saísse agora para ir visitar essa Torre, conseguiria chegar em casa para o jantar. Mas havia algo martelando em meu peito e cabeça que me fez continuar rolando a tela do notebook, procurando por mais informações.
Talvez John B tivesse mais informações que qualquer site desses que estou entrando. A bússola está em sua posse e ele afirma ser dele.
Será que sabe que meu pai está envolvido com isso? Ele parecia bem por dentro da história quando visitou a Sra. Lana, revelando a bússola. E os olhos dela ao ver o objeto em questão... Aquilo era medo.
Um medo crível, quase palpável.
Cheguei ao fim das páginas, sem mais links para entrar, sem mais informações, além de uma lista de pessoas com esse sobrenome e a Torre de controle.
Fecho a tela do laptop e me apresso para preparar um banho com bastantes sais cheirosos na banheira. Eu precisava pensar e analisar a situação. Talvez estivesse olhando pro lugar errado, entendendo as coisas erradas. Talvez a bússola não fosse mesmo de John B.
Vai ver era do meu próprio pai e ele queria ela de volta e John B e seus amigos apenas aumentaram sobre a perseguição com os caras.
Mas a cena da Sra. Lana deixa esse pensamento em aberto. Deixa dúvidas que não quero me aprofundar.
Prendo meu cabelo em um coque alto e descarto minhas roupas, entrando na banheira cheia e com bastante espuma um tempo depois. Um suspiro sai entre meus lábios e não consigo evitar selar os olhos com alívio.
Meus ombros relaxaram nas paredes da banheira e deixo com que minha mente viaje.
Para longe, mas não tanto.
Ainda consigo ouvir quando meu celular, ao lado da banheira, começa a tocar. Abro meus olhos e seco minhas mãos para pegar o celular e atender Sarah Cameron.
— Seu irmão não pareceu de boa quando saiu daqui logo após descobrir a história de que aquele Pogue tava com uma arma perto de você. — Ela dispensa qualquer cumprimento.
Gemo em concordância, lembrando do quanto foi difícil tirar Jaden do meu pé mais cedo. Não quis saber se ele ia atrás de JJ ou se ia apenas sair balbuciando sobre isso por aí, mas eu não podia pensar nisso agora.
Nem em JJ com uma arma, nem no medo indescritível que eu senti naquele momento e depois dele.
— Oi, Sa.
— Certo, oi. Você está bem? Achei que ia vir acompanhar seu irmão até aqui mais cedo.
— Tive algumas coisas para fazer para... a Sra. Lana. — Não foi bem uma mentira.
— Ela está bem? Foi um saco o que aconteceu com o marido dela. — De fato. — Mas e aí? Conseguiu algumas respostas?
— Ah...
— Qual é — ela pareceu derreter. — Eu te conheço desde antes de você descobrir o que era omitir um fato. Além do mais, eu vi o olhar que deu a Sra. Lana quando ela foi atrás do marido. Como também sei que você ia investigar.
— E não pensou em oferecer ajuda? — Perguntei, risonha, mesmo pensando que não queria mesmo ela nesse assunto.
— Investigar é um tédio. Deixei você fazer o trabalho duro e me contar o que descobriu.
— Certo — cuspi, ainda humorada. — Não descobri muito. Apenas um nome que pode me dar mais respostas. Redfield.
Sarah ficou em silêncio, provavelmente pensando, do outro lado da linha.
Eu não podia contar para ela que a Sra. Lana foi agredida por homens que perseguiram os Pogues com uma arma no cais e que meu pai estava em uma ligação bem estranha falando que queria uma bússola que estava na posse de John B e que parecia que todos queriam ela.
Que machucariam por ela.
Talvez se eu descobrir o que significa para John B, as respostas simplesmente... brilhem.
— Não tem nada a ver com a Torre — disse antes que ela concluísse, mesmo sem ter pesquisado. Eu seguiria meu instinto sobre isso.
— Não sei sobre nenhuma Torre, ia falar da família Redfield. — Meus ouvidos ficaram mais atentos e eu quase esqueci que estava pelada, deitada em uma banheira. — Eu não sei muito sobre ela, apenas que tem uma cripta inteira para a família em um cemitério, mas... Pode ser, certo?
Certo.
Eu sinto que poderia pular agora de onde estou para lançar um monte de beijos para Sarah, mas apenas me levanto da banheira, ainda com sabão escorrendo pelo meu corpo, dispensando Sarah tão rapidamente que ela não consegue se despedir.
Enrolo-me em uma toalha e saio tão molhada para o meu quarto que eu já sei que ouvirei bastante de mamãe.
Mas não foco nisso, não agora.
Agarro o laptop com as duas mãos e depois volto a barra de pesquisas, entrando naquele link com nomes. Meus olhos passaram rapidamente entre todos os nomes. A árvore genealógica dos Redfield.
Não sabia quem tinha criado um site sobre isso e até fiquei curiosa se tinha sobre as árvores genealógicas de todos da Ilha, mas não me demorei nisso.
Esbugalhei minhas íris diante a geração de atualmente. A geração dos Redfield que não carregam mais esse sobrenome.
John B Routledge.
Volto para as fotos que tirei das coisas que encontrei no escritório de papai. A foto da bússola, frente e verso, com o nome Redfield escrito com algo pontudo no ferro. Um "R" estranho, mas familiar...
Então passo para as fotos do mapa, dos lugares marcados. O motel que Scooter se hospedava com Nicholas é um dos lugares, onde a bússola devia estar antes que ele saísse para navegar em uma tempestade. Então, talvez... Sarah comentou sobre uma Cripta dos Redfield.
Talvez tenha algo lá.
Talvez meu pai, qualquer que seja sua motivação, tenha marcado esses lugares para saber se tinha alguma coisa escondida.
E se ele já foi procurar e encontrou, duvido que reste provas pra 'trás... além de um coveiro. Talvez o cuidador do lugar saiba me dizer se viu Nikolai perto das Criptas. Se ele saiu com alguma coisa que não entrou com ele.
Então, talvez, eu possa procurar essa coisa aqui dentro e me aproximar um passo da verdade.
Analiso a tela do computador, a informação que por pouco eu não deixo escapar por entre meus dedos e estudo os caminhos que eu posso seguir agora.
Posso simplesmente ignorar tudo isto, fazer vista grossa e continuar com a minha tediosa vida. Então essa dúvida ficaria pelo resto dos meus dias, me assolando sempre que eu arriscasse um olhar para meu pai. Então... não seria melhor do que aqueles homens que entraram e espancaram uma viúva.
Seria pior do que eles e viveria o resto dos meus dias nas sombras do "e se...".
Ou... Eu colocaria um short jeans que mal cobria minhas nâdegas, uma blusa preta de mangas finas que se arrastavam até os meus pulsos e deixavam parte dos meus ombros para que os ventos beijassem, um contorno totalmente fechado também preto, guardaria meu celular no bolso e escaparia quando a noite caísse.
Para um cemitério. De noite.
Estou totalmente ciente de que é assim que os filmes de terror começam quando eu me esgueiro para fora da casa, pego minha bicicleta — com o pneu já consertado — e pedalo até o meio entre as duas vidas em Outer Banks.
E saber disso e continuar pedalando até estar em frente aos portões de grade do cemitério é o que deve me fazer ainda mais idiota.
Minhas pernas se arrepiam quando eu deixo minha bicicleta na grade ao lado do portão, então rastejo até um ponto escondido, que eu sabia que a grade estaria rompida e meu corpo passaria.
Não é frio que me assola quando com um pouco mais de passos, eu deparo-me com lapides. Evito abraçar o meu próprio corpo e repito o plano inicial — que eu fiz durante a viagem de bicicleta até ali.
Primeiro encontraria a Cripta da família Redfield, então, se eu não encontrasse nada para mim ao chegar la e dar uma... bisbilhotada, então iria atrás do coveiro com algumas perguntas e umas notas de dólar, claro.
Se ele não me fornecesse nenhuma resposta, então estaria no ponto zero de novo e talvez ficasse desesperada o suficiente para procurar pela casa inteira qualquer coisa sobre os Redfield.
Mas eu já esperava todo o calafrio que meu corpo estava tendo ao passar pelos túmulos com apenas a lanterna do meu celular. Ou os arrepios ocasionalmente nas partes descobertas, um frio que sussurrava medo cobrindo a minha pele com carícias.
Eu esperava e temia tudo isso.
O que eu não esperava mesmo era encontrar quatro figuras em frente a Cripta Redfield.
Eles parecem tanto no mundinho deles, discutindo sobre alguma coisa que parecia realmente importante para ser discutida às escuras, em um cemitério, que quando notaram a minha presença, os quatro soltaram gritos.
Eu, uma humana frágil, que estava segurando o medo com toda a minha força, acabei liberando ele quando me assustei com o susto deles.
Idiotas!
Meu Deus... Coloco a palma da mão no meu coração e abaixo o celular, não sentindo falta da luz pois o loiro estava com uma lanterna na testa.
— Royal? — É Kiara quem me reconhece primeiro, se recuperando do susto e tentando se recompor. — O que você está fazendo aqui?
Tento não rir da forma como JJ literalmente se inclinou todo no susto para trás dos amigos. Eu podia jurar que o motivo de seu silêncio inicial fora pela vergonha por saber que eu notei.
Então tinha John B, o mais perto da Cripta, que agora tinha uma respiração irregular e revirava os olhos com o que parecia alívio por ser eu.
Kiara, apesar da dúvida e da curiosidade e do atual susto, parecia mesmo prestes a pular no meu pescoço. Mas essa era uma reação normal se pensarmos que ela tinha esse desejo constantemente depois dos últimos dois anos.
Pope bufava alguma coisa, empurrando JJ de cima dele.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Devolvi a pergunta, pois não sabia como me desdobrar nesse momento.
— Ah, não. — JJ empurrou levemente Kiara para o lado para ficar na minha frente. — Perguntamos primeiro. Você está na minoria e se não quiser que te enterremos agora mesmo, responda.
Pope e John B pareciam levemente assustados com as palavras do amigo, que devia ser tão leve com eles em outro momento, sozinhos.
Mas eu apenas continuei sorrindo sem dentes e definitivamente, sem humor para ele.
— Cavalheiro, como sempre, JJ — adicionei, mas ele sabia que eu só estava ganhando tempo.
— Com você — ele devolveu —, sempre, Pequeno Mal.
Faço um esforço considerável para ignorar o arrepio que começou na minha espinha dorsal e sei que tive mais sucesso em disfarçar do que realmente não sentir. Maldito apelido.
Pope urra de medo e só então percebo que ele estava estudando a porta da Cripta e que de lá, uma cobra tinha se arrastado. Meu coração bate desgovernado e engulo um grito abafado, meu corpo me levando a recuar.
Mas com tanta gente recuando dela, é claro que a cobra mocassin d'água — como tava gritando JJ — veio logo se arrastar para onde eu estava recuando. Dessa vez eu não consegui controlar o grito quando senti ela se arrastar por cima do meu contorno.
John B, o mais próximo de mim, agarrou meu pulso em um reflexo e me puxou para trás. JJ tomou a frente na hora, imitando latidos de cachorro mesmo depois que a cobra rastejou para longe.
— JJ, cala a boca! — Kie... Kiara repreendeu e quase agradeci pra ela.
— Vai acordar os mortos, cara — murmurou Pope.
— Elas têm medo de cachorro — argumentou JJ. — Todo mundo sabe disso.
— É, e você imitou um cachorro surpreendentemente mal — elogiei com uma mão na cintura. Eu só não sei se ele levou como um elogio.
— E o que você fez, Rainha Kook? — Certo, esses apelidos só me causavam raiva. — Além de gritar como uma menininha.
— Eu sou uma menina, idiota! — Disse ao mesmo tempo em que Kiara murmurou um machista.
— Espera aí — ele falou de repente, segurando os ombros de John B e conseguindo a atenção de todos nós. — Se há uma, provavelmente há várias.
Revirei os olhos em conjunto com Kiara. Ela percebeu na mesma hora e bufou, dando as costas para mim. Eu resolvi dar as costas para JJ que retornou a latir por alguns minutos.
Então Pope começou a sussurrar algo para os amigos e eu sabia que era para que eu não ouvisse. Mesmo assim, ouvi.
Eles estavam procurando alguma coisa ali, como eu. Talvez a mesma coisa, mas certamente não pelos mesmos motivos. Se eles arriscassem um pensamento que o meu pai estavam envolvidos, isso certamente teria sido passado na minha cara.
E eles tentaram entrar da forma mais burra impossível, que é removendo uma porta de concreto que não era removida a séculos.
Quase reviro os olhos com a estupidez e digo, em um tom de voz que faz todos pararem de murmurar para eu não ouvir:
— Eu posso ajudar.
Quatro cabeças se viram em minha direção de forma sincronizada e me pego, novamente, analisando a reação de cada um. JJ estava desconfiado, igual Kiara. John B estava prestes a negar, mas foi Pope que perguntou:
— Como você ajudaria?
Virei levemente para a porta da Cripta e apontei para o buraco que tinha um pouco acima da porta. Talvez alguém tenha quebrado, ou tenha rachado ao passar do tempo. Mas era espaço o suficiente para que eu passasse.
— Certo, Pope não fez a pergunta certa aqui. — Seguro a vontade de querer morrer quando JJ interrompe, tentando parecer normal depois de latir para cobras. — Por que você nos ajudaria?
A pausa que eu dei foi longa.
E eles perceberam na hora minha hesitação de contar alguma verdade. Talvez não John B e Pope, mas Kiara e JJ certamente entenderam que tinha muito rolando ali do que um simples acaso.
E que eu não falaria.
Não confiava neles e não devia.
Mas eu podia ajudá-los a ver se tinha alguma coisa dentro da Cripta e então, se achássemos algo, todos teriam suas respostas e partiriam para seus caminhos.
Sabendo de tudo isso sem que eu tivesse que verbalizar e entendendo as consequências de me enterrar viva, Kiara apenas soltou um suspiro:
— É, ela pode passar. — Agora os olhares estão nela. — Não me olhem assim. Não confio nessa vadia tanto quanto vocês, mas ela é o que tem a menor estrutura aqui.
JJ riu na hora e soletrou com os lábios:
— Gnomo.
— Babaca.
— Ta, certo. — John B interrompeu. Ele deu um passo à frente, para mim. Nossos olhos se conectaram mesmo na escuridão. — Se estiver pensando que vai pegar o que quer que ache e fugir, nos deixando no escuro, repense, Royal Everdeen.
Em outras palavras: Aquilo era importante para ele e se eu destruísse suas chances de obter respostas, então ele não pensaria duas vezes em correr atrás de mim. Os quatro facilmente podiam me encurralar em uma corrida pelo cemitério.
Não que eu tivesse pensando mesmo em trai-los. Eu não era uma megera.
Não desse tipo.
— Ameaça entendida, Routledge.
Volto minha atenção para a porta da Cripta antes que ele terminasse de erguer as sobrancelhas, talvez impressionado por eu saber o seu sobrenome pouco usado. Se ele soubesse das pesquisas que andei fazendo nos últimos dias, não acho que ele ficaria tão tentado em confiar em mim.
Levantei a cabeça para encarar o buraco cheio de galhos crescendo de outras árvores ali perto e teias de aranha. Inconscientemente mordisco meus lábios, sentindo minha mão latejar por ter que tocar naquilo para afastar.
Talvez o meu nojo de sujeira e bichos sejam ultrapassados demais da normalidade e não acho que pedir para que algum deles faça isso vá me dar muita credibilidade.
Ou postura.
Mesmo assim, uma mão interrompe a minha de levantar para afastar aquelas teias de aranha e galhos velhos e mofados. Encaro JJ mal fazendo esforço para se erguer sobre mim, um braço esticado para afastar aquelas coisas para mim.
Engulo em seco e não penso no que pode significar. No que ele pode lembrar.
Acho que ele também quer evitar quando, ao terminar de afastar tudo, se volta para mim.
A lanterna em sua testa ilumina o meu rosto e eu tento não estreitar os olhos com incômodo geral. Então JJ Maybank se encosta na porta de concreto e flexiona os joelhos para me dar o apoio para subir.
Parecendo esperar a decisão do amigo de me incluir, os outros finalmente avançam para me ajudar.
Piso nas mãos juntas de JJ, tendo ajuda das mãos de John B para me impulsionar para cima e Pope se inclina por JJ para afastar os galhos que voltaram. Juro que seguro com força a minha vontade de virar para ele e sorrir em gratidão.
— Tem alguma ideia do que estamos procurando? — Perguntei, na altura do buraco, minhas mãos apoiando na fenda para me dar impulso no momento seguinte.
Mas enquanto espero a resposta, de qualquer um, o levantar dos braços faz com que a blusa suba um pouco e o hálito de JJ bate contra a minha barriga, causando arrepios desnecessários e desagradáveis.
É John B quem responde, com as mãos apoiadas nas minhas costas para ajudar no impulso:
— Vai saber quando encontrar.
Aceno, passando o meu celular com a luz acesa para Kiara ao lado de Pope que estende a lanterna para mim. Me impulsiono para cima, passando minha cabeça primeiro pelo buraco e com um movimento treinado e cuidadoso por causa das minhas antigas aulas de balé, caio de pé dentro da cripta.
Com a ajuda da lanterna, estudo o ambiente.
— Você está viva? — JJ pergunta, com um tom que parecia dizer diga que não. — Seu coração está batendo e tal?
— Você gostaria que não houvesse resposta? — Devolvi com uma pergunta, que não teve nenhuma resposta. Aponto a lanterna para os pontos ocos, mas nem estreitando os olhos eu consigo enxergar direito. — Estenda mais uma luz.
John B rapidamente o faz, com um murmúrio que parece desesperado.
Ele queria estar em meu lugar. Queria estar aqui dentro, vendo a coisa que eu estava procurando. Eu quase podia sentir ele dizer que se sairia melhor do que eu. Por mais que eu divide que ele realmente vá dizer isso quando eu sair, com uma pasta, uma correspondência, daqui.
Onde encontrei entre os caixotes.
Leio a mensagem inicial. "Para o Bird." Quem é Bird? Voltei para o buraco pelo qual entrei. Não tinha como ultrapassa-lo com o embrulho. Eu tinha que entregar primeiro.
Hesitei por um minuto, pois, eles podiam me trair.
Mas não era esse o pensamento principal? Não fora esse o dilema que eles acabaram de sair? Então talvez eu devesse enfrentá-lo também e não confiar, mas perceber que não podia fazer nada além do contrário.
Sem alternativas.
Eu não deveria ter me voluntariado para entrar aqui. Para estar tão indefesa.
Tentando não me dar um soco no rosto, eu passo o embrulho pra fora, cuja mãos agarram com rapidez. Espero pelos passos apressados, pela fulga, pelo abandono e traição.
Espero tanto por tudo isso que me assusto quando ouço uma voz de repente:
— Não vai sair daí não?
Murmuro uma resposta sem sentido para Kiara e dou um pulo para alcançar o começo do espaço com as minhas mãos. Quando faço o mesmo processo de planar no chão sem qualquer ajuda, o ar frio do cemitério volta para mim.
— Isto é do meu pai — revelou John B, não tão incrédulo, surpreso, talvez.
Esperançoso, certeza.
Passei minhas mãos pela minha roupa, me incomodando com a sensação de teias de aranha me arranhando o corpo. Pode ser que Pope tenha me ajudado um pouco com isso, mas eram demais lá dentro.
Quase podia senti-las em meu cabelo.
— Código vermelho. — Encaro JJ, soprando a fumaça da sua maconha. Quando foi que ele começou a fumar? — Traficantes!
— Ah, de boa, JJ — faço graça, não dando bola. — São só os seus amigos.
JJ me olhou, contorcendo a face em um deboche, imitando a expressão que eu usei pra falar de forma exagerada.
— São os caras que estavam na casa da Sra. Lana — John B murmurou.
— O quê? — Quase grito.
Mas Kiara já está avançando em minha direção, me obrigando a correr também com um "vai, vai, vai!"
Nos abaixamos atrás de uma lápide larga. Apagamos as luzes e meu peito vibra quando eu ouço o barulho de um carro se aproximando e vozes.
— Acha que são eles? — Questiona Kiara para JJ que se inclina para fora do esconderijo para ver.
— O amigo ali tá armado — É resposta o suficiente para que meus ossos congelem.
Não.
Eu não podia ficar ali.
Solto um xingamento antes de avançar pela escuridão abaixada, ouvindo os outros me acompanharem. Nos aproximamos do portal com força e Pope toma a frente, pulando para ultrapassar o portão.
Mas seu short fica preso.
— Depressa! — JJ apressa.
Apoio meu pé em um espaço do portão para me elevar, mas mãos firmes na minha cintura me ajudam melhor. Quando vejo por mim, já estou do outro lado, correndo atrás da minha bicicleta.
A ideia de pedalar para a noite e ser encontrada por eles me agarra, mas eu não tenho outra opção. Apenas se eu sair agora. Talvez a confusão que os outros 4 estão fazendo disperse a atenção de mim.
Mas então eu os trairia.
E não descobriria nada do que me arrisquei para descobrir.
— Merda — sussurro, largando a bicicleta e passando por John B que está segurando a mão de JJ com a arma.
Me inclinando no portão, puxo Pope, ouvindo o tecido do seu short rasgar. Ele verbaliza contra, mas não temos tempo para isso. Kiara é a única que parece entender de verdade ao me ajudar.
Conseguimos tirar Pope do portal.
Mas o short dele ficou.
— Legal! — JJ riu recuando para a van de John B, eu recuava para a minha bicicleta. —Vamos, cara. É só seu pipizinho.
— Ei! — John B grita e só percebo que é comigo quando ele corre até mim e agarra minha bicicleta. — Entra na Kombi, agora.
Então ele corre para colocar a bike na van e praticamente me empurra para dentro, onde Pope está tentando se cobrir o máximo possível com sua boxe marcada.
É impossível não rir com a situação.
John B pisa fundo e nos tira do cemitério, com a única prova de que estivemos ali sendo o short de Pope.
Talvez seja pela adrenalina em conjunto, mas continuo rindo mesmo quando o cemitério já ficou para trás ou quando JJ acende outro cigarro.
E pela minha surpresa, eles riem comigo.
Espero que estejam gostando!
A aventura com os Pogues começou. Vai ser meio conturbado no início e super entendo quando vocês xingam eles (até gosto, porque aqui todos defendemos a supremacy Royal 🛐
Masssss, lembrem-se que, para eles, ela nunca passou de uma Kook megera e sem personalidade.
Até isso se ajustar, vai ser um processo intenso. Lembrem disso quando forem xingar o John B, beijos 😘
Como eu não postei por esses dias, vocês ganharam outro capítulo amanhã. Até lá!
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