7. 3 dias
🦋 CALLIE
Rafe tinha uma maneira bem esquisita de me controlar. Eu nunca me considerei uma garota fácil de iludir, conquistar ou enganar mas me sentia assim com ele. Meio boba. Ele me dava um sorriso e me olhava com aqueles olhos tão azuis e eu me derretia, praticamente implorava pela sua boca e pelo seu calor. Talvez eu esteja um pouco viciada na sensação que ele me trazia, aquela sensação deliciosa de estar viva.
Eu não queria ir na sua casa agora. Não o conhecendo há tão pouco tempo e não depois da bronca do seu pai na sexta-feira mas ele me convenceu. Só filmes e no quarto dele, sem incomodar ninguém. Não podia trazer assim tantos problemas.
Rafe estava me mostrando sua casa antes de tudo. Parecia grande e vazia mas extremamente aconchegante, me deixava pensativa sobre nosso futuro e se eu acabaria frequentando muito aqui e ficando mal acostumada. Eu já estava mal acostumada com a liberdade de beija-lo sempre que eu quisesse.
— Nossa — murmuro assim que entramos em seu quarto, provavelmente pela vigésima vez desde que começamos esse tour.
— Gostou?
— É praticamente do tamanho da minha casa — admito mas acho que isso ele já sabia.
Rafe dá risada e se joga em sua cama, levando suas mãos pra trás da sua cabeça.
— Vem cá — ele chama, abrindo um sorriso. Vários pensamentos passam pela minha cabeça e me impedem de pular em cima dele. — Está com medo de deitar na mesma cama que eu?
Me surpreendo com sua capacidade tão certeira de ler minha mente mas me sento ao seu lado de maneira meio torta, com meus pés apoiados no chão.
— Claro, medo de não resistir e acabar arrancando minhas roupas — admito em tom de brincadeira.
— Geralmente causo essa reação nas garotas.
Reviro os olhos.
— Você é mesmo um idiota.
— E você não é muito ciumenta... — diz, se sentando também.
Cerro meus olhos.
— Está tentando me provocar ciúmes? — questiono.
Ele sorri.
— Talvez.
— Talvez?
Rafe usa seu braço direito pra me puxar pra cima dele o que me deixa quase nua por eu ter escolhido vir de saia. Mas logo não consigo pensar nisso já que ele me beija com vontade e calor, afastando qualquer pensamento da minha mente. Dessa vez seus lábios tinham gosto de whisky, o que me fazia questionar se alguma vez eu já havia visto ele sem álcool no organismo.
Suas mãos seguram minha bunda, prendendo meu quadril contra o seu mas pra minha surpresa ele se afasta.
— O que quer fazer? — pergunta.
Preciso de alguns segundos para conseguir raciocinar, sentir todo o seu corpo pode ser bem distrativo.
— A casa é sua, porque não me diz você?
— Pipoca e um filme? — sugere. — Podemos acender um baseado também.
— Perfeito — concordo, saindo de cima dele e me sentando em sua cama. Ele se senta também. — Onde estão as pessoas dessa casa?
Sua expressão automaticamente não fica muito boa.
— Olha, preciso que mantenha a calma.
Obviamente isso faz meu coração quase sair pela boca.
— Isso não é bom...
— Meu pai e a Sarah estão no hospital... — ele começa, num tom de voz ameno e estranho pra ele. — Parece que foi alguma coisa com o John B.
— Espera, o quê? — pergunto, me pondo de pé.
Por que o JJ não me ligou? Por que ninguém me ligou? Porra... Cadê meu celular? Imediatamente corro os olhos pelo quarto em busca da minha bolsa.
— Ele tá bem! — Rafe diz, pegando minha mão. — Parece que machucou o pulso mas não foi grave.
Isso me deixa mais tranquila.
— Mas o que aconteceu?
— Algo a ver com o Topper.
A menção a Topper forma uma careta em meu rosto.
— Você estava no meio? — questiono, desconfiada.
Imediatamente ele solta minha mão.
— Claro que não Callie! Eu estava esperando você sair.
— Mas que merda... — murmuro, dando de ombros.
Eu não sabia se podia acreditar nisso, não sabia se suas palavras eram realmente verdadeiras, não quanto a isso.
— Confirma com o JJ se não confia em mim — ele diz, seu tom de voz fica rude.
Não queria que ele ficasse chateado agora.
— Eu confio — digo, olhando em seus olhos.
Rafe assente mais pra ele do que pra mim e me tranquilizo por ver que minhas palavras o atingiram da maneira que eu esperava.
— Certo — ele diz, passando a mão pelo cabelo. — Qual filme?
— Algum ruim! — eu peço. Se tivesse que assistir alguma tragédia eu juro que me jogaria pela janela.
— Vou pedir a empregada pra fazer pipoca.
— E eu vou acender esse baseado.
Ele sorri.
— Perfeito.
Suas mãos puxam minha cabeça na direção da sua, selando nossos lábios em um beijo mais demorado do que o ideal. Isso me deixa sem fôlego. Não tenho tempo de pensar em nada pra dizer antes dele sumir pela porta.
Imediatamente tiro meu celular da bolsa, discando o número de JJ. Enquanto o telefone chama eu tento fazer o mínimo de barulho possível ao encostar a porta. JJ só atende depois de aproximados um milhão de toques.
— JJ — digo, aliviada. — O que aconteceu com o John B?
Ele demora alguns segundos pra responder.
— A porra do Topper empurrou ele, ele podia ter morrido.
Eu odiava esse garoto.
— O Rafe...? — murmuro, torcendo pra que ele me entenda.
JJ pragueja alguma coisa que demostrava desaprovação em seu tom de voz.
— Eu não vi ele, ok?
Isso me acalma um pouco e me faz sentir culpada por ter duvidado de sua palavra.
— O John B está bem? — pergunto, me sentando na cama.
— Sim. A Sarah me ligou hoje cedo e disse que ele já acordou, só está um pouco confuso.
E então isso me deixa confusa.
— Sarah? O que está acontecendo?
— Acho que eles estão juntos ou algo assim — há certo humor na sua voz mas eu não achava isso engraçado.
— O John B e a Sarah? — questiono, soando mais di que incrédula. — A princesa Kook?
JJ ri pelo outro lado do telefone.
— Está com ciúmes?
— É claro que não.
— Que bom, foi você que deu um fora nele — me lembra.
— Ele dormiu com a Molly!
— Você já disse isso — resmunga, aumentando o tom de voz. — De qualquer maneira é bom que esteja com o psicopata do Cameron, pelo menos não vai ficar no meio de todo o drama envolvendo os dois e a Kie.
— Ah... O nono ano.
— É. Ela está soltando fogo pelas ventas como a porra de um dragão.
Uma risada escapa de meus lábios e JJ ri comigo no telefone gerando uma sensação gostosa em meu peito. A sensação de poder contar com alguém.
— Se cuida John — eu digo, agora mil vezes mais do que nunca.
— Você também. A gente se vê.
Encaro o telefone por alguns segundos depois de desligar a chamada e o enfio de volta na bolsa, tentando manter a posição em que já estava. Abro a porta em seguida e me sento na cama pra procurar um filme pra assistir, me demorando um pouco demais ao ler as sinopses. Me entedio rápido e acendo o cigarro, dando pelo menos uns dois tragos até que Rafe apareça.
Em sua mão há uma bandeja com pipoca, duas latas de refrigerante e um pote pequeno de sorvete. Sorrio pra ele, me derretendo com seu cuidado. Não me lembrava da última vez que um garoto me levou pra cama apenas para ver um filme.
— E então? — ele pergunta, colocando a bandeja na cama.
— Refrigerantes na latinha? — o provoco, dando mais um trago no cigarro.
Rafe revira os olhos e toma o cigarro da minha mão.
— Mantém o gás por mais tempo — explica.
O observo com um sorriso no rosto enquanto ele traga o baseado entre seus dedos.
— Isso é tão Kook.
Rafe enfia a mão no balde de pipoca e joga na minha direção.
— E tem comida de galinha pra você.
— Eu adoro comida de galinha — respondo, pegando algumas pipocas que caíram em meu colo e colocando na boca.
🦋
Não prestamos muita atenção no filme. Quer dizer, pelo menos não depois que a pipoca e o baseado acabaram. Estar com ele ali me... Acendeu um fogo um tanto inesperado e Rafe pareceu se divertir com minha inabilidade de manter as mãos afastadas dele. Foi uma longa hora de amassos que me deixaram sem fôlego e vergonhosamente molhada.
Eu com certeza não queria parecer desesperada mas me intrigava o fato dele não tentar nada. Talvez me respeitasse mais do que eu merecia ou talvez só não quisesse transar comigo, o que pelo volume em sua calça parecia mentira.
Nós conversamos sobre a época de escola enquanto estávamos deitados lado a lado. Ele me conta que quase reprovou no primeiro ano por conta de matemática e eu digo a ele que era a primeira da turma, gerando uma crise de risos em Rafe. Na cabeça dele esse não era muito meu estilo. Reviro os olhos por suas piadinhas de nerd e garanto que apesar disso ninguém mexia comigo já que meu gancho de direita era conhecido pelo pessoal do Cut.
Imediatamente Rafe parou com as piadas.
Rafe vai ao banheiro e quando volta insiste que eu o siga até o lado de fora para que me mostre sua tão adorada moto e motivo de sua última briga com o pai. Era bonita e vermelha, parecia um modelo caro mas eu não entendia nada de automóveis então só podia supor. Rafe monta nela e faz algumas manobras — que pareciam um pouco perigosas até mesmo pra mim, então estaciona bem na minha frente.
Bato palmas enquanto ele tira o capacete.
— Então, essa é a tal moto?
— É — responde, fazendo uma careta feliz que beirava a vergonha. — Meu pai me deu o maior esporro por ela.
— Ela é legal.
Rafe funga algumas vezes enquanto passa a mão pelo estofado e mexe em seus bolsos de maneira estranha antes de se virar pra mim. Algo em sua maneira de agir me deixava desconfiada, ele não conseguia parar de mexer as mãos ou ficar quieto em um só lugar.
— Quer dar uma volta?
— Seria ótimo — assinto, me aproximando. Ele se afasta um pouco, desviando seus olhos dos meus. Puxo seu queixo com minha mão, o forçando a me encarar.
Seus olhos azuis quase pareciam escuros por conta da dilatação da sua pupila. Largo seu rosto, me sentindo estranhamente traída
— Rafe, andou cheirando?
— Não — responde prontamente.
Me sinto ainda pior com sua mentira. Ergo meu dedo em sua direção.
— Não minta pra mim, consigo ver nos seus olhos.
Rafe me encara e seu lábio inferior treme, ele passa as mãos no cabelo várias vezes enquanto murmurava palavras desconexas.
— Eu só estou preocupado, queria relaxar — explica.
— Certo mas não minta!
— Rafe! — ouço e nos viramos em direção ao som.
Um cara moreno de cabelo comprido vinha em passos largos na nossa direção fazendo com que instintivamente eu recue. Rafe ergue o braço e se posiciona na minha frente.
— Callie, fica atrás de mim — murmura.
Isso não faz eu me sentir melhor.
— Barry! E ai cara!
— E ai cara?! — o tal Barry indaga.
Seu punho se fecha e um barulho horrível ecoa quando ele se choca contra o rosto de Rafe. Rafe cambaleia em minha direção, pisando no meu pé e me deixando irada com esse filho da puta que acabou de aparecer.
— Ei! — eu grito, saindo de trás de Rafe.
Barry tem um sorriso debochado, exibindo seus dentes de ouro e seu total desprendimento com as leis de agressão.
— Fica quietinha ai princesa.
Tenho vontade de socar a sua cara e mil pensamentos passam pela minha cabeça antes de fazer isso. Só um consegue me deter. Se eu fizesse algo errado ele poderia descontar no Rafe.
— Callie, não se mete — Rafe pede, novamente se enfiando na minha frente.
— Eu tenho cara de otário? Hein? — indaga Barry. — Responde porra.
— Não — Rafe murmura.
Barry não se convence e puxa Rafe pelo pescoço, o afastando de mim. Sinto raiva e tristeza, um bolo na garganta que crescia a cada momento. Eu sentia medo.
— Solta ele! — grito.
— Está me devendo e agora com juros, você me entendeu? — Barry pergunta, jogando Rafe no chão.
Rafe parecia perdido, seus olhos não conseguiam se focar em um só lugar e a cocaína com certeza não ajudou nisso.
— Eu-eu vou pagar cara, só preciso de um pouco mais de tempo.
Barry puxa Rafe pelo cabelo, fazendo com que ele olhe em sua direção.
— Você tem 3 dias tá legal? 3 dias ou eu juro que acabo com você.
— Barry, eu preciso de... — Rafe tenta falar mas é interrompido.
— 3 dias!
Barry solta a cabeça de Rafe e o ergue do chão com violência. Não consigo entender o que ele pretendia até que Barry leva o braço de Rafe até o cano da moto. Rafe grita enquanto sente seu braço queimar e isso é o suficiente para ativar toda a raiva que eu tentei controlar.
Me jogo contra Barry com toda força, tentando empurra-lo para que ele solte Rafe. Funciona. Mas ele me empurra de volta, me atirando no chão e ralando minhas pernas.
— Fica longe gatinha — diz, com um sorriso.
Rafe levanta e imediatamente empurra Barry.
— Não encosta nela! — ele grita.
Barry dá risada e estala outro soco no rosto de Rafe que dessa vez cai sentado no chão. Rafe geme e eu me arrasto em sua direção, temendo pelo pior.
Barry pega o capacete no guidom da moto.
— 3 dias e eu vou ficar com isso como garantia — avisa, subindo na moto.
Permanecemos estáticos enquanto o observávamos se afastar. Engulo a seco, a realidade do que aconteceu me atingindo como um soco, e cambaleio na direção de Rafe.
— Rafe, você está bem? — pergunto, tentando ajuda-lo a ficar de pé.
— Não encosta em mim!
Recuo enquanto o observo se levantar sozinho mas instintivamente inclino minhas mãos em sua direção quando ele tropeça.
— Rafe, eu só...
Ele desvia de mim com violência.
— Já disse pra não encostar em mim! — ele grita, jogando as mãos pro alto. —Porra! Que merda, porra!
Me sinto culpada. Na verdade, me sinto de muitas maneiras, principalmente uma idiota. Não consigo conter as lágrimas que resolvem escorrer por todo o meu rosto me dando a sensação de fraqueza. Tento limpa-las, tento fazer com que todos esses sentimentos sumam.
— Não chora, tá legal? — ouço Rafe dizer, com o tom de voz mais ameno.
Ergo meu rosto em sua direção e percebo a mudança em sua expressão. Seu rosto machucado antes domado pela raiva parecia arrasado e seus dedos sujos por conta do gramado tocam minha bochecha com carinho. E eu deixo que ele me conforte.
Rafe me puxa contra si e afundo meu rosto em seu peito, me permitindo chorar como uma criança de uma maneira que não estava acostumada. De certa forma parecia extremamente normal estar ali com ele... E sentir aquelas coisas. Mas eu não sei se deveria.
— O que aconteceu? — murmuro, tentando olhar pro seu rosto que parecia turvo em meio as lágrimas.
— Eu tô devendo uma grana pra ele.
— Ele te ameaçou Rafe! — exclamo, a dor visível em meu tom de voz. — Queimou a porra do seu braço!
— Isso não é nada. Eu vou arrumar o dinheiro e vai ficar tudo bem.
Me solto dele e o encaro, completamente incrédula com suas palavras. Isso não é nada. Nada?
— Porra! — grito, querendo espernear como uma criança. — Eu achei que... Achei que...
— Tá tudo bem! — Rafe tenta se aproximar.
Dou de ombros.
— Preciso ir pra casa...
— Callie!
Não respondo e praticamente corro pra longe dele, tentando controlar meus pensamentos e forçando minhas pernas a fugir por mais que meu coração queira voltar.
— A gente se vê depois.
Oi gente! A todos que puderem comentar e votar eu agradeço. Edits de Rafe e Callie estão sendo postados na minha conta do tktk: @hemmoskr. Até mais.
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