4. Perdendo a postura

🦋 CALLIE

As vezes, mesmo em uma ilha, o clima ficava uma porcaria. Nublado, úmido e quente. Praticamente o inferno na terra. Eu havia acabado de sair do banho e meu cabelo já estava grudado em minha testa, mesmo estando vestida de shorts e camiseta.

Meu ventilador de teto que rodava entre trancos e barrancos não dava conta de ventilar todo o quarto o que torna inevitável o meu alívio quando desço as escadas, indo pro lado de fora. O Malone's tinha ar condicionado e assim que eu chegasse lá me sentiria melhor.

Sigo em direção a minha bicicleta.

— Callie!

Mas não era possível. São sete e meia da manhã, pelo amor de Deus, esse garoto não dormia? Me viro pra Rafe que parecia estar vestindo algum tipo de pijama de moletom e chinelos. Sua expressão estava eufórica e beirava a confusão.

— Rafe? — pergunto, me aproximando. — Vou começar a achar que está me perseguindo.

Ele engole a seco.

— Me desculpe eu...

— O que está fazendo aqui? — corto qualquer que seja sua desculpa.

— Ontem, depois que te deixei aqui... Eu fui pra casa.

Cruzo os braços.

— Que bom que foi.

— E eu não consegui dormir — ele prossegue mas percebe que não estava fazendo muito sentido. — Olha, eu garanto que fiz de tudo pra conseguir mas não rolou. Porque eu estava me sentindo um idiota.

— Eu não estou entendendo o que tenho a ver com isso — sou sincera, ficando preocupada com o rumo da conversa.

— Estava pensando em você.

Minha boca se abre como se estivesse pronta para soltar uma resposta mas nada sai. Encaro seus olhos buscando alguma palavra, qualquer coisa que eu pudesse dizer que fizesse algum sentido.

— Rafe... — é tudo o que sai da minha boca.

Ele dá dois passos em minha direção.

— Devia ter te beijado — diz. — Eu quis te beijar mas eu não beijei.

— Por que? — pergunto, me sentindo um pouco tonta.

— Porque estava com medo.

— Você? Com medo?

— É. Porra, eu não lido bem com rejeição, tá legal? — murmura, dobrando a cabeça de uma forma esquisita. Rafe desvia o olhar, parecendo procurar algo que não estava realmente ali. — E você está sempre com pedras na mão de prontidão pra jogar na minha testa.

— Isso não é verdade — me defendo.

— Claro que é. Você odeia os Kooks e tudo bem, as vezes eu também odeio mas não queria que me odiasse.

Rafe olha pros lados com os olhos um tanto perdidos, parecia não saber exatamente onde estava ou com quem estava falando. Será que ele realmente queria estar falando isso pra mim?

— Eu não te odeio — garanto, me aproximando mais dele. — Você está bem?

Seus olhos encontram os meus e ele começa a respirar profundamente numa tentativa de se acalmar.

— Não, porra. Eu... Eu estou bem — pragueja, quase como se tentasse se convencer disso.

— Usou alguma coisa?

Ele me olha nos olhos, agora parecendo um pouco mais com si mesmo.

— Tive uma discussão com meu pai, nada demais.

— Rafe...

Rafe me interrompe selando seu lábios contra os meus. É duro, urgente, como se jogar de um prédio em chamas num ato de desespero e então se torna suave, macio e tão carinhoso que quase causa dor. Sua boca tinha gosto de maconha e whisky mas estranhamente parecia perfeita combinado com o hortelã da minha pasta de dente. Sua língua se enrosca na minha, seus braços me puxavam pela cintura com força não querendo que eu me afastasse. E eu não queria me afastar.

A única coisa que eu queria era que durasse mas infelizmente perdemos o fôlego depois de sabe-se lá quanto tempo. Nos afastamos, mantendo nossos narizes encostados um no outro. Nossa respiração descompassada estava em perfeita harmonia, nossos peitos subiam e desciam no mesmo ritmo.

— Eu preciso dormir e não ia conseguir dormir sem fazer isso — ele admite, ainda junto a mim.

Me inclino e selo novamente nossos lábios, tentando arrancar dele o que quer que ele pudesse me oferecer. Subitamente me pergunto a razão por não ter feito isso antes... Parecia estranhamente certo.

— Eu tenho que ir trabalhar — murmuro, afastando nossas bocas.

Um gemido frustrado escapa de sua garganta gerando arrepios em todos os pêlos do meu corpo.

— E eu preciso dormir — ele concorda.

Me afasto um pouco e tiro seu cabelo da testa deixando sua cara amassada e cansada ainda mais visível.

— Acho que seria uma boa.

Ele leva sua mão até a minha, que ainda está no seu rosto, e a puxa até sua boca, beijando a ponta de meus dedos. É um gesto íntimo e eu adoro isso.

— Posso te dar uma carona? — pergunta e exibe um sorriso tão angelical que me questiono a origem dele.

— Eu iria adorar.

Rafe me puxa pela mão até o seu carro e abre a porta do carona pra mim como se estivéssemos em um filme. O observo dar a volta e se sentar no banco do motorista. Imediatamente ele liga o ar e o som, deixando em uma rádio que parecia tocar country antigo. Eu não conhecia muito bem mas ele parecia gostar.

Trocamos algumas palavras no caminho até o Malone's mas não realmente engatamos em uma conversa. Rafe dirigia devagar e bocejava o tempo todo, não queria distrai-lo e gerar um acidente apesar do trânsito na ilha ser mínimo. Ele me olhava sempre que podia e isso me ruborizava quase todas as vezes, gerando borboletas em minha barriga. Uma parte de mim dizia que eu deveria matar cada uma delas.

— Que horas você sai hoje? — Rafe pergunta, assim que estaciona em frente ao Malone's.

— As dez.

— Estarei lá.

Sorrio parecendo um pouco incrédula e Rafe se aproxima para selar seus lábios nos meus em um beijo rápido. Saio do carro um pouco tonta, tentando fazer com que meu cérebro funcione da maneira correta pra que eu não caia de cara da areia.

— Não corre e presta atenção! — eu grito quando percebo que ele já havia arrancado.

Consigo ver seu sorriso antes dele sumir virando a esquina.

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