22. Porque odeio o Topper

🦋 CALLIE

Certo, é muito fácil se acostumar com a vida fácil dos Kooks. Hoje mesmo me peguei desejando um banho de banheira com um monte daqueles sais aromáticos, então apenas me levantei da cama e fui até a casa gigantesca do meu namorado. Rafe estava de bom humor hoje e me fez experimentar comida japonesa — e crua — que ele havia pedido de um restaurante cujo prato mais barato eu não conseguiria pagar.

Não me importei muito.

Mas ele usou do meu estômago cheio de comidas deliciosas e um sexo um pouco mais bruto que o normal para conseguir de mim o que ele queria, que eu fosse na festa de aniversário do Topper. Estando completamente extasiada e com as pernas ainda tremendo acabei topando, o que agora parecia ter sido uma péssima decisão.

Eu não conhecia aquelas pessoas, não gostava de Topper e não estava afim de sorrir para Kooks. É apenas a natureza. Fomos criados em lados separados e ensinados a se odiar, eu não podia culpa-los mas também não iria me martirizar. Encaro o teto bonito e engessado do quarto de Rafe, esparramada em sua cama gigantesca enquanto pensava em uma desculpa.

Não pensei em nenhuma então apelo pra sinceridade.

— Quer mesmo que eu vá? — pergunto, fazendo careta.

Rafe se vira pra mim, com as duas mãos na cintura.

— Já conversamos sobre isso.

— Eu sei mas sinto que você não estava pensando direito — provoco, com um sorriso.

Ele não sorri pra mim então sei que havia perdido. Não custava tentar...

— Por favor — pede, quase fazendo um beicinho.

— Eu odeio o Topper!

— Por que?

Abro a boca em choque por ele querer que eu liste os motivos e imediatamente me sento, pronta para argumentar.

— Ah, certo. Por que odeio o Topper. Vamos lá — ironizo, começando uma contagem nos dedos. — Ele tentou afogar o John B, fez chacota de mim várias vezes, deu uma surra nos garotos, denunciou a história do barco pra polícia e o JJ acabou preso por isso. E em seguida, é claro, decidiu tentar matar o John B pela segunda vez. Mas realmente, são coisas atoa.

Rafe não consegue argumentar contra nada disso.

— Certo. Você tem seus motivos mas acho que seria legal ir, você pode se aproximar um pouco mais dos meus amigos e...

— Seus amigos me odeiam — resmungo, o interrompendo.

— Eles não te odeiam, você só é Pogue então é natural pra eles manterem a distância.

— Isso é tão elitista.

Rafe suspira e se aproxima. Ele se agacha para ficar na minha altura, colocando seus dedos quentes na minha coxa exposta. Vendo seus olhos desse ângulo minha vontade acaba sendo de tirar toda a roupa.

— Olha, eu só quero que você se sinta bem. Eu sei que toda a história com seus amigos te deixa magoada e também sei que os meus não vão chegar perto de substitui-los mas acho que deveríamos tentar. Para podermos nos sentir parte de algo juntos. Em algum momento vocês tem que interagir sem ser enquanto você traz copos.

Certo, dessa vez ele tinha razão. Se somos um casal então devíamos nos comportar como um e não ficar fugindo de todos os eventos sociais da ilha.

— Tudo bem, eu vou mas se eu me cansar nós vamos embora.

Ele sorri, ficando de pé.

— Imediatamente — diz e então dá uma volta. — Como estou?

Gostoso o suficiente para eu ter certeza que não merecia tudo isso. Rafe vestia uma camisa listrada em tons de marrom e creme com os dois últimos botões abertos, exibindo sua corrente dourada. Bermuda clara e chinelos. Hoje, especialmente, dava pra ver um resquício de sua barba no queixo. Literalmente suspiro.

— Lindo, como sempre.

Ele abre um sorriso.

— Eu sei.

— Então porque me perguntou? — resmungo, cruzando os braços.

— Gosto de palavras de afirmação.

Fico de pé, dando uma voltinha também.

— Ainda bem que não preciso de nenhuma delas.

— Hoje você está especialmente Kook — Rafe provoca, fazendo com que eu revire os olhos.

Escolhi meu melhor vestido, um azul escuro com as costas nuas. Havia me maquiado, colocado brincos e até mesmo minha sandália de salto. Por Deus, eu até enrolei as pontas do cabelo!

— Talvez consiga evitar alguns olhares tortos de quem não me conhece.

Rafe sorri pra mim e se aproxima, juntando nossos quadris. Suas mãos vão até o meu rosto fazendo com que nos encarássemos. Ele beija a ponta do meu nariz.

— Eu te amo — diz, dessa vez me dando um selinho. — Porra, eu te amo pra caralho.

Sinto meu rosto ficar quente.

— Por que isso?

— Só queria que você soubesse — diz, simplesmente.

Isso derrete meu coração e me faz envolver seu pescoço com os braços, ficando na ponta dos pés mesmo de salto.

— Eu também te amo — respondo, selando nossos lábios.

O caminho até a casa de Topper é curto já que ele e Rafe são praticamente vizinhos. As pessoas estavam espalhadas por toda a entrada da grande casa, e quando digo grande é grande mesmo. Maior que a de Rafe. Franzo minha sobrancelha tentando não pensar nas diferenças sociais dos dois lados da ilha apesar de ter a impressão de que todo o Cut caberia nesse terreno.

Rafe me puxa em direção a varanda da porta de entrada onde Topper e um bando de garotos conversavam. Eu os conhecia de vista mas admito que nunca realmente havia me esforçado pra gravar seus nomes. Rafe cumprimenta todos com um toque nas mãos e para bem ao meu lado.

Imediatamente abro um sorriso.

— Oi gente — digo, tentando soar simpática e então me viro pro dono da casa. — Feliz aniversário Topper.

Topper sorri, um sorriso estranhamente sincero.

— Obrigado Callie — responde. — Tem bebidas ali e o pessoal está todo no jardim então... Fiquem a vontade.

Rafe dá um toque em sua mão e me puxa pela casa. Nós atravessamos a quantidade exorbitante de gente que está na sala e conseguimos chegar no jardim. Havia uma piscina enorme e vários adolescentes dançando em volta dela sem pensar no risco de afogamento. Sou guiada até um barril de cerveja e observo em volta enquanto Rafe serve dois copos para nós.

— Tem muita gente aqui, ele realmente conhece todo mundo? — pergunto, fazendo esforço para falar alto e ser ouvida.

Rafe estende meu copo em minha direção.

— Não mas assim que é divertido.

— Pagar bebidas pra desconhecidos... Muito divertido.

Dou um gole na cerveja sentindo seu gosto. Estava gelada e era infinitamente melhor do que a que nós, Pogues, costumávamos tomar em nossas festas. Isso me faz quase acabar com o copo.

— É uma coisa Kook — Rafe responde, parando bem ao meu lado.

— Ser idiota?

— Dá pra parar de resmungar?

Suspiro, percebendo que estava sendo uma chata.

— Certo, vou me esforçar — dou de ombros, usando a mangueira para colocar mais da cerveja em meu copo. — Ah, ali vem aquela vaca.

A tal Jenna peituda que parecia muito interessada em levar um soco no nariz se aproximava. Outras três garotas estavam com ela, entre elas, a menina ruiva que a acompanhou no Malone's. Consigo ouvir a risada de Rafe por meu comentário nada sutil.

— Elas eram da nossa turma no colégio — explica, erguendo a mão em um aceno. — E aí garotas.

— Oi Rafe — elas dizem, quase em uníssono.

Desde quando ele era simpático?

— Oi pra vocês também — digo, chamando a atenção pra mim.

A tal Jenna me olha de cima a baixo.

— E você é? — pergunta.

— A namorada — a garota ruiva murmura.

— Minha namorada, Callie — Rafe responde, passando a mão por meu ombro.

Jenna parece surpresa.

— Ah, namorada? Não estávamos sabendo. É um prazer Belly.

Ela sai de perto e as garotas a acompanham. Faço careta, completamente chocada com o que havia acabado de acontecer. Parecia que eu fazia parte de um daqueles filmes adolescentes dos anos 2000.

— Belly? — indago, olhando pra Rafe.

Ele dá risada e então dá um gole na bebida.

— Eu te disse que as garotas Kook eram um saco.

— Estou começando a entender o porque está comigo.

Rafe beija o topo da minha cabeça.

— Você fica linda irritada.

— Preciso beber — anuncio, virando meu copo de uma única vez.

Certo, os amigos de Rafe não eram assim tão ruins. Eles faziam piadas, enchiam a cara e falavam sobre garotas assim como qualquer Pogue faria, a única diferença é que suas referências, lugares e preferências eram meio distantes. Me arrancou alguns sorrisos apesar de não ter me esforçado para entrar na conversa, eu não sabia como fazer isso quando o assunto eram pessoas que eu não conhecia.

Quando Kelce tirou com a cara de Jenna eu tive que gargalhar.

Rafe dança comigo algumas vezes, se empanturra de salgadinhos e bebe mais cerveja do que consigo acompanhar. Ele parecia feliz e bem satisfeito e eu também estava por acompanha-lo. Brindávamos a cada novo copo de cerveja e gritávamos quando as pessoas em volta faziam isso. Rafe me puxa pela mão e me leva até a varanda, me encostando na parede.

Sinto o volume do seu quadril contra mim.

Fico na ponta do pé e selo nossos lábios misturando seu gosto de cerveja com o meu. Seu beijo é gostoso, divertido, com aquele ritmo e desenvolvimento que apenas uma festa e vários copos de bebida poderiam dar. Seus lábios descem por meu pescoço fazendo com que eu fique vergonhosamente molhada. Rafe me deixava assim com muita facilidade.

Me afasto e ele faz biquinho.

— O Topper tem um quarto, sabia? — murmura no meu ouvido.

Dou risada e me afasto, não querendo invadir e batizar o quarto de Topper na primeira vez em sua casa.

— Sem chance — digo, dando de ombros.

Nesse momento Topper passa correndo por nós com uma garrafa de vodka na boca e pula dentro da piscina sem nenhuma cerimônia, gritando a plenos pulmões. Eu não o conhecia direito mas estranhei seu comportamento hoje, parecia exagerado e não natural...

— O Topper está bem? — pergunto, num tom mais alto que deveria. — Ele parece...

— Completamente maluco? — Rafe sugere, passando o braço em volta de minha cintura. — Ele está. Não tem estado bem desde o furacão.

— Ah... — murmuro, franzindo as sobrancelhas. O álcool começando a ficar em excesso me fazia pensar algumas coisas. — Não sente falta dela? Sua irmã?

Rafe me olha, parecendo confuso com minha pergunta e então dá um bom gole na sua bebida.

— As vezes mas nunca fomos realmente próximos, não como sou da Wheezie ou como irmãos geralmente são — explica.

Me pergunto o quanto dele realmente se importava com a morte da própria irmã.

— Por que?

— Sempre fomos diferentes.

Desvio os olhos, bebendo mais cerveja e tentando pensar em outra coisa. Eu não queria discutir sobre isso, até porque não sou eu quem devia dizer a ele como se sentir mas parecia estranho. Errado.

Kelce aparece acenando as mãos em nossa direção.

— Cara, você precisa ver isso!

Kelce arrasta Rafe para perto da piscina enquanto um de seus amigos fazia alguma nojeira no beer-pong, nojeira essa que eu não estava interessada. Incentivo Rafe a ficar com seus amigos enquanto dou uma volta pela casa, curiosa com todas essas coisas chiques.

É um inferno atravessar a sala lotada e quando chego na frente da casa vejo duas pessoas quase transando no gramado então chego a conclusão que as festas Kooks não eram assim tão diferentes das nossas. Abro minha bolsa e tiro um isqueiro e um baseado, o acendendo em seguida. Trago a fumaça enquanto me divertia com as luzes que piscavam no chão.

— Ah, olha só quem está aqui.

Faço careta, já reconhecendo Barry pelo tom de voz. Me viro pra ele que estava mais bem vestido que o normal... Não é possível que ele havia sido convidado!

— Por que está aqui? — pergunto, apagando o cigarro. Internamente me lamento por ter sido interrompida.

— Recebi uma encomenda — responde, se aproximando. — E você?

— Não interessa, Barry — sou ríspida, dando de ombros. — Não devia estar falando com você.

Consigo ouvir sua risada e seus passos, até que Barry para bem do meu lado.

— Eu ia te ligar mas já que te vi... Preciso do seu serviço na semana que vem.

— Que horas?

— Dessa vez logo pela manhã mas vai durar um pouco mais de tempo. Preciso que vá ao continente.

Faço careta, eu odiava sair da ilha. Era sempre tão trabalhoso...

— Minha folga é na quarta.

Ele assente.

— Combinado — antes que ele dê de ombros o ouço falar novamente. — Rafe, oi!

Me viro e lá estava ele. Rafe Cameron com uma cara curiosa que misturava incredulidade, desconfiança e raiva.

— O que está falando com ela? — é a primeira coisa que ele diz.

— Nada importante, apenas perguntando sobre o Topper — Barry responde, se aproximando de Rafe. — Viu ele por ai? Tenho encomenda.

— Não, eu não vi — Rafe é ríspido.

Barry sorri pra mim antes de dar meia volta e entrar na casa, me deixando sozinha ao lado do meu namorado carrancudo. Seguro sua mão.

— Vamos Rafe... — o puxo.

Ele me acompanha.

— O que ele queria?

— Estava enchendo o saco como de costume.

— Ele não estava te incomodando? Se ele tiver feito alguma gracinha eu juro que...

Paro de andar, olhando bem em seus olhos.

— Dessa vez ele não fez nada — garanto, passando minha mão por seu rosto.

Rafe respira profundamente, desfazendo o vinco em sua testa.

— Eu quero ir pra casa — murmura, desviando os olhos.

— Por que?

— Eles compraram coca e... Eu não...

Dispenso suas explicações.

— Não se preocupe. Nós podemos ir.

— Claro.

Seguro sua mão e deixo que ele me guie para seus amigos, para que assim possamos nos despedir. Eu não havia fumado meu baseado então estava empolgada pra ir embora, fazer isso com o Rafe a acabar nua em sua cama. Parecia perfeito, muito mais perfeito do que uma festa lotada de Kooks. Estamos passando pela varanda quando a cerveja decide agir no meu cérebro fazendo com que eu me choque contra uma garota.

— Ei, olha por onde anda! — a garota grita.

Me viro, já me sentindo mal por toda minha produção e educação ter ido por água abaixo com um único ato. A culpa em meu rosto é substituída por um semblante divertido no momento que percebo que havia esbarrado em Jenna. Todos estavam olhando agora e Rafe entra na minha frente.

— Calma ai, Jenna. Não precisa de tanto.

O empurro pro lado, querendo olhar na cara daquela vadia.

— Se guardasse seus peitos talvez você ocupasse menos espaço — rebato. É, eu não tinha muitas papas na língua estando sob efeito de álcool.

Consigo ouvir um coro de choque.

— O quê?

— Callie... — Rafe murmura, tentando me puxar pela mão.

Olho nos olhos dele.

— É bom não se meter — o ameaço.

Rafe ergue as mãos em rendição e dá dois passos pra trás.

— Quem você pensa que é? — Jenna questiona, vindo em minha direção.

Eu passei minha infância inteira brincando de luta com o JJ, se eu fosse ela manteria uma distância maior.

— Eu devia perguntar o mesmo pra você já que está achando que todo o mundo gira em torno do seu umbigo. Se toca.

— Porque não aprende a se vestir melhor antes de abrir a porra da boca?

Essa vaca. Eu amava o meu vestido.

Pego impulso com o punho e atinjo um soco na sua bochecha. Ela cambaleia pra trás mas se recompõe, pulando em minha direção e agarrando meus cabelos. Malditas mulheres que só brigam usando isso. Agarro no seu também e o puxo pra trás, tentando fazer com que ela se afaste de mim mas não funciona, então agarro a alça de sua blusa e a puxo de uma única vez, arrancando ela bem na mão.

Jenna se afasta, me olhando com a boca entreaberta enquanto segurava seus peitos no sutiã.

— Roupas de grife não são muito resistentes — digo, tentando tirar meu cabelo do rosto.

A pessoas em volta de nós começam a gritar.

— Eu vou matar você! — Jenna grita, pegando impulso pra vir na minha direção.

Antes que ela chegue atinjo outro soco em seu rosto, dessa vez no nariz, e ela cai no chão. O gancho de direita de John Jacob Maybank nunca falhava.

— Adorei te ver tentar — digo, jogando o pedaço de sua blusa em cima dela.

Rafe me olha em completo choque mas não diz uma única palavra enquanto me segue pela festa. Nós paramos na cozinha para que eu arrumasse meu cabelo no vidro do forno elétrico e seus amigos logo se reúnem em volta de nós.

— Caralho, Callie — Kelce diz, com a voz arrastada de tanto beber. — Tem uma mão pesada.

— Experimenta ir pra escola no Cut — rebato, mesmo que meu punho doesse no momento.

— E essa, senhoras e senhores, é minha namorada — Rafe diz, me puxando pelo ombro para beijar minha testa.

Dou risada, achando tudo isso patético.

— Vocês são dois malucos — Kelce continua e então ergue o copo. — Mas um brinde a isso.

Os garotos em volta de nós erguem seus copos e gritam, espirrando cerveja em todos nós. Eu dou risada enquanto Rafe me pega no colo, me apoiando em seu ombro. Nunca imaginei que me enturmaria por socar um deles...

Finalmente esse tão esperado momento🤣 O que vocês acharam?

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