11. Cúmplice
🦋 CALLIE
Isso tinha que ser a porra de um pesadelo.
Como eu havia parado nessa situação? Como não pude perceber o que estava pra acontecer? Ele tinha uma arma! O que eu achei que ele faria com aquilo? Devia te-lo impedido, gritado, batido nele, qualquer coisa. A pessoa que atirou na xerife não podia ser o Rafe Cameron que eu conheci, eu me recusava a acreditar nisso. Não o Rafe que esteve comigo no ultimo mês, beijando cada parte do meu corpo e me enchendo de mensagens todo dia pra se certificar que eu estava bem.
Eu não podia acreditar que dois lados da mesma moeda poderiam ser assim tão diferentes.
Não sei por quanto tempo eu corri mas há essa altura mal conseguia sentir minhas pernas, eu também calçava sandálias então meus pés estavam doloridos e com certeza amanheceriam cobertos de bolhas. Minhas lágrimas haviam secado e meu corpo cansado não conseguia produzir mais, minha cabeça doía pelos milhões de pensamentos que eu insistia em ter.
Acho que nunca senti tanta decepção em minha vida.
Já estava quase saindo da área mais isolada da ilha quando vejo a cabeleira de John B entre a grama alta. Ele também se locomovia devagar, sugerindo que passava pelo mesmo problema que eu.
— John B! — grito.
Ele se vira, varrendo o lugar com os olhos e finalmente me encontrando. John B corre de volta em minha direção enquanto eu corro pra ele.
— Callie?
— Eu sinto muito — murmuro.
Me jogo contra seus braços e o envolvo em um abraço, sentindo seus músculos tensos contra os meus. Eu choro, botando pra fora toda a frustração que se acumulou em mim durante o caminho até aqui. John B afaga o meu cabelo, numa tentativa de me acalmar, como ele sempre fazia em todas as vezes que eu ficava nervosa. Eu sentia falta dele, da sua amizade.
— Eu não... Eu não sabia que ele faria aquilo eu... Não acredito que ele fez aquilo.
Ele me afasta para olhar em meus olhos.
— Você está tremendo.
Dou risada, mesmo não tendo um pingo de humor pra isso.
— Você também.
John B pega minha mão.
— Vamos...
— Espera, pra onde? — pergunto, me soltando.
— Preciso encontrar o pessoal.
— Não — eu digo, de prontidão.
— O quê?
Me afasto.
— Não — repito. — Eu não pedi por isso eu só... Eu só queria fazer o que era certo e então... Eu não posso mais. Me desculpa.
Forço meus pés cansados e minhas pernas doloridas a correrem pra longe dele e pra longe de toda essa confusão. Eu queria apoia-lo mas não conseguiria fazer isso na frente de todos eles. O julgamento no olhar de cada um deles quando olhassem pra mim, como se fosse eu quem tivesse puxado o gatilho, como se estar com Rafe me fizesse a pior pessoa do mundo.
Quando chego em casa estou destruída fisicamente e psicologicamente. Já era quase noite mas meu pai graças a Deus não está em casa então consigo subir pro meu quarto sem nenhuma pergunta. A primeira coisa que faço é ir pro chuveiro, desejando mais que tudo esfregar minha pele como se a água pudesse lavar todos os meus pecados, e quem sabe os pecados dele. Mesmo embaixo da água quente, não consigo relaxar e as lágrimas tomam meu rosto até se tornarem soluços dolorosos.
Por que?
Por que Rafe Cameron havia entrado na minha vida como a porra de uma montanha russa e me atropelado dessa maneira? Por que dessa vez meus sentimentos tomaram conta de mim? Por que eu não o odiava?
Eu queria respostas mas nada vinha até minha mente e isso me perturbava. Meus pensamentos eram muito mais claros quando ele não estava em minha vida. Me sento em minha cama e me enrolo no cobertor, sentindo o cheiro dele nos travesseiros. Meu telefone apita com uma nova mensagem de voz dele e não consigo me controlar para não ouvir imediatamente.
— Callie, não pode abrir a boca, tá legal? Me desculpa. Eu não queria fazer aquilo, você sabe que não mas ela ia atirar no meu pai. Eu não podia deixar isso acontecer. Ela ia atirar no meu pai. Me desculpa por gritar com você... Eu... Eu fiz o que achava certo. Me perdoa. Por favor me liga quando ouvir isso.
Sua voz parecia arrasada. Os soluços entre as frases, o tom deprimente de seu pedido de desculpas, seu choro descontrolado. Aquieta meu coração e me faz acreditar que alguma coisa boa ainda existia dentro dele, aquela coisa que sabia o que era certo e errado e que sentia remorso por seus erros. Me pego desejando poder voltar no tempo e impedi-lo de fazer isso, desejando que possamos apagar esse dia da nossa história.
Não podemos.
Não o respondo. Algumas lágrimas escorrem por meu rosto conforme o tempo passava mas o aperto em meu peito não encontrava um alívio. Em algum momento da noite eu durmo e essa é a primeira vez que sonho com Rafe Cameron.
🦋
Quando acordo está de dia e me sinto ainda pior que ontem. Meu estômago doía de fome, meus pés estavam cobertos de bolhas e os músculos de minhas pernas ameaçavam de soltar dos ossos. Eu sentia meu rosto inchado e o nariz entupido de tanto chorar.
E eu sentia falta dele.
Rafe sorria pra mim em meu sonho. Nós estávamos na praia e parecíamos felizes. Foi tão real. Seu toque, seu beijo, seu cheiro... Foi como se ele realmente estivesse ali mas não estava. Atrevo a me dizer que em breve ele estaria longe, preso em alguma cadeia cumprindo pena por assassinato... Meu pensamento me deixa enjoada.
Meu pai me manda um bando de mensagens perguntando se eu estava bem já que não havia descido pro café e não dava as caras desde ontem. Garanto a ele que sim, temendo perguntas as quais eu não queria responder. Papai me avisa que irá pescar agora a tarde.
Me forço a comer alguns biscoitos água e sal, tentando dessensibilizar um pouco meu estômago. Não consigo comer muitos e como estava com dor preferi me manter deitada, assim pelo menos alguma parte de mim sentiria conforto.
— Callie! — eu ouço gritarem do lado de fora.
Pelo tom da voz imagino ser JJ e reflito um milhão de vezes os prós e os contras de atende-lo, antes de realmente me levantar. Enfio minha cara na varanda e faço um sinal pra ele ir pra porta, rezando pra que as notícias não sejam ainda piores.
Se é que havia como piorar.
Me enfio embaixo de minhas cobertas e espero enquanto ele sobe. Meus lábios tremem no momento que ele entra e me pergunto quanto tempo aguento sem chorar.
— Callie, você tá um caco — ele diz assim que fecha a porta.
Me ergo um pouco em minha cama, juntando o pouco de forças que eu tinha pra tentar ter uma conversa com ele.
— Agora não JJ — resmungo. — Não preciso ouvir sermão agora.
JJ vem até mim e deposita um beijo no topo da minha cabeça. Ele se senta de frente pra mim, buscando meu olhar e consigo ver a expressão preocupada em seu rosto.
Eu sabia que não estava bem mas eu ficaria.
— Estão atrás do John B. Acham que ele matou a xerife.
— O quê?
— Precisa ajudar ele, Callie — JJ murmura, segurando minha mão.
Permito que seus dedos afaguem os meus enquanto eu tentava refletir sobre o que fazer. John B não havia atirado na xerife e isso eu sabia muito bem mas... Não sabia se podia admitir que foi o Rafe.
— De onde surgiu essa história?
Uma risada desacreditada escapa de seus lábios e no mesmo momento JJ solta minha mão.
— Dos Cameron! — diz, se exaltando. — De quem mais? Porra, eu não acredito que está assim tão cega.
Novamente eu sinto vontade de chorar.
— Ele não quis fazer aquilo, ele só queria proteger o pai. Ele faz de tudo pra proteger o pai o tempo inteiro e... — me engasgo. — Ele só quer ser apreciado.
— E o John B tem que pagar por isso?
— Não — respondo, de prontidão. — Ele não tem.
— Precisa falar a verdade — insiste.
— Eu não posso. Não eu — choramingo. — Por favor JJ.
— Por que?
Por que? Sarah também estava lá, ela pode muito bem defender o seu namorado, enquanto isso eu defendia o meu. Não que seja uma defesa... Eu... Não sei por que faria algo assim mas não me imaginava dedurando o Rafe. Por mais errado que ele estivesse nessa situação, por mais errado que ele seja.
Por que eu faço isso?
— Eu o amo — admito, sentindo as lágrimas escorrendo por meu rosto. — E essa é provavelmente a coisa mais egoísta que vou dizer em toda minha vida.
JJ se levanta, parecendo enojado pelo o que eu havia acabado de dizer.
— Merda — pragueja, dando de ombros.
— Eu estou apaixonada por ele e eu me odeio por isso porque ele é ruim — prossigo, sentindo minha voz falhar. — Mas aconteceu. Eu não acho que ele possa se ajudar...
— Mas acha que você pode? — ele me interrompe, em um rompante.
Abaixo minha cabeça de modo a olhar para minhas mãos. Eu sentia vergonha, não queria encara-lo. Como eu poderia encarar depois do que disse? Depois do que me tornei.
Cúmplice.
— Eu escolhi acreditar que sim mas eu não sei mais se realmente acredito.
— A Callie que eu conheço jamais diria isso — ele diz e sentia o peso de sua decepção em cada palavra que saia de sua boca.
— JJ.
— É verdade! O John B vai ser preso Callie, ele vai pra cadeia por algo que ele não fez e você escolhe ficar em silêncio porque está apaixonada? — grita, aumentando meu fluxo de lágrimas. — Você é a pessoa com o maior senso de justiça que eu já conheci e é isso que você tem pra mim? É isso que você tem pro nosso amigo mais antigo?
E o que ele tinha pra mim? JJ mal aparecia desde o começo desse verão e agora estava precisando da minha ajuda? A Sarah parecia bem mais próxima de todos eles ultimamente, provavelmente por ter tempo livre pra ficar acompanhando eles pra cima e pra baixo. Ela podia ajuda-los. Não dependia de mim.
— Vai embora — digo.
— O quê?
— Eu disse pra ir embora! — grito, ficando de pé. Abro a porta. — Não preciso do seu julgamento e não preciso que esfregue meus erros na minha cara! Eu não sou perfeita e você também está longe de ser.
JJ revira os olhos mas passa pela porta.
— Não reconheço você — resmunga.
— E eu não posso fazer nada a respeito disso — digo, para suas costas.
Bato a porta e me jogo embaixo de meus cobertores. Eu estava cansada de tudo isso, de todos eles. Eu só queria minha vida de volta da maneira que ela costumava ser.
Oi gente. Muuuuuuuuito obrigada pelos votos e pelos comentários. Me animaram demais a continuar a escrever! Até breve com mais um capitulo e lembrem-se que votos e comentários me deixam feliz e me dão aquele gás extra :)
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