there's no light

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O QUÃO IGNORANTE PODEMOS SER?
Buscando tão desesperadamente uma luz para seguir nos mais sombrios pesadelos, sempre procurando algo bom no ruim — nada de bom pode vir de um tsunami, arrebatando tudo pelo seu caminho e causando somente a vasta destruição.
Tentamos de alguma maneira encontrar essa luz e olhamos o passado somente para nos torturar com a ideia de que o pior já passou e finalmente poderemos respirar, o maremoto não foi nada além de um mar em ressaca.

Que mentira mais doce.

Conhecia essa mentira muito bem pois eu a tinha contado para mim milhares de vezes. Quando busquei a luz e tudo que encontrei no caminho foram correntes para me aprisionar em constantes regressões ao passado.
Se fechar meus olhos neste momento serei levada até as memórias de quando era jovem e ingênua, acreditando que minha vida estava nos trilhos certos de uma única direção.

Me acomodei nestes sonhos apenas para descobrir que tudo foi um delírio.

No meu pior momento eu pude ver que não haveria uma luz.

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Tinha seis anos a primeira vez que senti a terra parar de girar.

Era tarde da noite e estava chovendo, tinha acontecido o fim de semana todo. Relâmpagos e trovões ecoavam pelos céus escuros seguidos pela ventania, assoviando sobre o telhado. As gotas que caíam violentamente pareciam afiadas e batiam contra o vidro da janela alto o suficiente para me acordar.
Desci até a sala onde vi meus pais brigando, algo que fizeram bastante nos últimos dias. Ao notar que estava ali, minha mãe veio até mim e lembro de sua voz abafada pelo barulho externo me dizendo para arrumar as malas pois estávamos partindo.

Assustada demais para mexer meus pés tudo que consegui foi olhar para meu pai e ver sua expressão desolada sendo iluminada pelos flashes de luz... eu percebi que não podia deixa-ló.
Naquela noite minha mãe foi embora de casa com minha irmã mais nova, nos deixando para buscar sua felicidade.

Não a julguei ou a culpei por isto, sei que foi a melhor decisão a se tomar e se ela estivesse feliz com isto, eu também estaria. Eu fiz minha própria escolha e escolhi ficar. Ser forte por ele, garantir que Charlie não iria desmoronar.

Infelizmente o medo de voar não me permitia visitá-la durante as férias — sentia como se meu coração fosse saltar para fora do peito só de imaginar flutuando dentro de algo tão pesado. Não era para mim.

Isso tornava as raras ocasiões que nos víamos em momentos únicos para serem aproveitados.

Nas semanas que Bella nos visitava, estavamos juntas a maior parte do tempo.
Uma vez quase a perdi enquanto brincávamos de esconde esconde na delegacia, lembro da sensação aterrorizante que me tomou. Charlie trabalhava em algum caso sobre desaparecimento recente, não queria que fosse minha irmãzinha ali.
Nós a encontramos trancada dentro de um dos armários depois de vinte minutos.

Eu aproveitei cada segundo que minha irmã passou aqui mas quando ela ia embora... voltava a ficar sozinha.

Isso até o Charlie me contar sobre um velho amigo. Fiquei tão ansiosa quando soube que ele tinha filhos da minha idade que não conseguia ficar parada no carro a caminho de sua casa. Eu finalmente teria uma amiga.

Seu nome era Rachel Black, uma filha mais velha como eu. Tive certeza que nos tornamos inseparáveis desde o dia onde nos conhecemos.
A pior parte é que Rachel estudava no colégio da reserva enquanto eu ia para a escola na cidade, mas todos os dias depois de cada dia de aula, pedia que Charlie me levasse até sua casa e passávamos o resto da tarde juntas.

Muitas vezes usamos seu irmão mais novo em cobaia de nossas experiências gastronômicas.

Jacob e Rachel eram os irmãos que eu tanto queria ter e talvez tenha me tornado superprotetora quando o assunto eram os dois. Bella estava longe mas eu tinha Jacob para puxar na orelha quando fazia algo errado — como jogar terra nos cabelos Rachel.

No ensino médio Rachel e eu continuamos indo para escolas diferentes, sempre com coisas novas para contar uma pra outra no fim do dia. Como quando o garoto mais lindo que ela já tinha visto sentou ao seu lado na aula de história... ela estava tão empolgada.

Mas eu me sentia mal por isso.

Ela conheceu novos amigos, em breve eu não faria parte de sua vida.

Eu temia perde-la e isso é egoísmo.

Não percebi que eu tinha sido aquela que se afastou. Recusando seus convites para irmos até a praia ou me esquivando quando ela me chamava para ficar de bobeira em sua casa. Ela tinha essa nova vida, eu não queria atrapalhar.

Depois de algumas semanas desde a última vez que tínhamos saído, Rachel me chamou para um lual e pela sua voz no outro lado da linha soube que ela não aceitaria um não como resposta.

Lembro de estar olhando para as chamas carmesim que dançavam alegres umas com as outras antes de sumir em pleno ar. Haviam cerca de oito pessoas ali e nenhuma delas era familiar se não Rachel que dançava e sorria com uma outra menina.
Percebi que estava na hora de ir embora e foi quando nossos olhos se encontram por entre o fogo.

Tudo em minha volta pareceu desfocar e no fim encolhi meu corpo sob a jaqueta jeans manchada para conter o arrepio que me percorreu desde o dedão até a ponta do nariz. Desviou dos que falavam com ele e notei quando o mesmo começou a caminhar diretamente até mim. Com um meio sorriso nos lábios, o mais alto estendeu sua mão até mim e disse simplório:

— Paul. — meu cérebro gritava para fugir correndo e por este motivo demorei alguns segundos para estender minha mão.

— M-Maya. — tive certeza de estar gaguejando, desejei ser atingida por um raio naquele momento.

Paul não soltou minha mão, continuou olhando-me como se procurasse por algo em mim... poderia parecer uma tola, mas esperava que ele encontrasse.

— essa é a amiga da qual te falei mas pelo que vejo, você já se apressaram nas apresentações. — a voz de Rachel estava próxima ou longe de nós? Não saberia responder. — tinha certeza que vocês se dariam bem.

Paul e eu conversamos durante toda a noite, nas pedras, afastados de todo aquele pequeno caos que se localizava próximo a fogueira. Só nós dois existíamos naquele instante, um ao lado do outro.
Enfeitiçada por tudo aquilo que o cercava, meus olhos não conseguiam desviar dos seus.

Eu deveria ter ido embora no momento que soube que ele seria minha ruína.

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