45. Attempts in vain

Humilhação. Essa era a palavra perfeita para descrever como eu estava me sentindo naquele momento. Eu sabia que merecia, claro, depois de tudo o que fiz. Não dava pra culpar Calista por rir de mim junto com Zara, especialmente depois da minha descida desastrosa no toboágua. Mas isso não tornava mais fácil de engolir. Era como se cada gargalhada das duas fosse uma faca girando dentro de mim.

Quando desafiei Robby, parte de mim achou que isso pudesse impressioná-la. Que talvez, só talvez, ela me olhasse como antes. Com aquele brilho nos olhos, aquele sorriso genuíno que parecia dizer "eu confio em você". Mas, ao invés disso, o que eu recebi foi sarcasmo. Um "arrasou, meu amor" que soou mais como uma piada do que um elogio.

No fundo, eu sabia que ela estava certa em agir assim. Eu tinha ferrado com tudo. Com nós dois. Mas isso não tornava mais fácil vê-la se afastar de mim. E pior ainda, vê-la rindo e se divertindo com Zara como se eu fosse o motivo do espetáculo do dia.

Respirei fundo, tentando ignorar a sensação de fracasso que subia pelo meu peito. "Hoje eu ganho um beijo dela", foi o que pensei ao acordar. Mas agora, parecia que o mais perto que eu chegaria disso seria o gosto salgado da água do toboágua.

E, como se o dia não pudesse piorar, lá estava ela. Maria.

A visão daquela garota era suficiente para me fazer querer socar alguma coisa. Ou alguém. E claro, Yuri estava com ela, o fiel escudeiro. A dupla dinâmica da destruição. Os dois tinham um talento especial pra piorar qualquer situação, além de me lembrar o quanto fui fraco e idiota, e eu sabia que hoje não seria diferente.

Senti meus punhos cerrarem involuntariamente quando eles se aproximaram, especialmente quando percebi que Maria estava indo direto na direção de Calista. Eu não sabia o que ela planejava, mas conhecia aquele olhar. Era o mesmo que ela usava antes de dizer algo que sabia que causaria o máximo de dor possível.

Antes que eu pudesse me mover, senti uma mão no meu ombro. Era Yoon, meu amigo, e talvez a única pessoa com a cabeça no lugar o suficiente para me impedir de fazer algo idiota.

— Kwon, baixa a bola. — Ele disse, com um tom firme, mas sem perder a calma. — Se você quiser mesmo consertar as coisas com Calista, não vai ser arrumando confusão agora.

Eu sabia que ele estava certo, mas isso não tornava mais fácil controlar a raiva.

— Não tô arrumando confusão. — Murmurei, embora minhas mãos cerradas dissessem o contrário.

Do outro lado, ouvi Tory rindo. Ela estava encostada em uma espreguiçadeira, observando a cena como se fosse um reality show.

— É, mas parece que quem tá mais alterada hoje é a própria Calista. — Disse, apontando com o queixo na direção dela.

Segui seu olhar e vi Calista rindo. Mas não era um riso qualquer. Era aquele riso que eu conhecia bem demais. Um riso perigoso, que sempre vinha antes de um furacão. E, claro, Maria estava a poucos passos dela, com aquele sorriso presunçoso estampado no rosto.

Eu murmurei um "merda" baixinho, sentindo meu coração acelerar.

— Ela vai matar a garota.

Tory deu uma risadinha, cruzando os braços.

— Sinceramente, eu adoraria assistir isso.

Mas eu não. Porque, por mais que Maria merecesse, sabia que isso só pioraria as coisas. E não queria que Calista saísse machucada, física ou emocionalmente, depois de tudo.

Enquanto eu observava Maria se aproximar, vi o olhar de Calista mudar. Ela estava pronta para atacar, com aquele sorriso afiado e o corpo levemente inclinado para frente, como se já estivesse calculando o próximo movimento.

A tensão no ar era palpável. Ao meu redor, as pessoas começaram a notar o clima pesado e se viraram para assistir, como se fosse inevitável que algo acontecesse.

E, sinceramente, talvez fosse mesmo.

E eu decidi que seria melhor se me aproximasse, de alguma forma. No entanto, sentar do outro lado do bar aquático, com Yoon ao meu lado, não fazia absolutamente nada para aliviar a tensão que corria por mim. Meu olhar estava fixo em Calista, ainda rindo com Zara como se não tivesse a menor intenção de me deixar entrar naquele mundo dela. Mesmo depois de me dizer que tinha me perdoado, era óbvio que ela ainda estava brava. E Calista brava... Bom, isso me dava medo. Não era o tipo de raiva explosiva, barulhenta. Era pior, era silenciosa, afiada, como uma faca escondida que ela não hesitaria em usar.

Yoon percebeu minha inquietação.

— Você vai acabar enlouquecendo, cara. Relaxa, dê tempo ao tempo.

Eu balancei a cabeça.

— Não posso esperar. Eu já tô começando a perder a cabeça com isso.

Ele apenas suspirou e voltou a beber sua água de coco, enquanto eu mantinha os olhos em Calista. E então vi Maria outra vez. Claro que ela não deixaria as coisas tão calmas quanto estavam.

Ela estava com aquele maldito nariz enfaixado, consequência da última vez que ela tentou se meter na vida de Calista. A garota não tinha limites, e, para piorar, parecia encontrar uma nova maneira de se enfiar no caminho de todo mundo. Eu a vi se aproximar de Calista, e minha mandíbula travou.

Maria abriu aquele sorriso presunçoso que fazia meu sangue ferver, mas, para minha surpresa, não começou com as provocações de sempre. Pelo contrário, parecia... Amigável? Ou, pelo menos, fingia ser. Eu a vi dizer algo para Calista, que riu, mas não com aquele riso divertido. Era o riso cínico, o mesmo que ela usava quando estava prestes a derrubar alguém.

A conversa entre elas parecia estar longe de ser pacífica. Maria ofereceu uma bebida para Calista, um gesto que me fez franzir o cenho. Vi Calista hesitar por um momento antes de aceitar.

Yoon inclinou-se para mim, murmurando.

— Isso não tá estranho pra você?

— Muito. — Respondi, observando Maria se sentar perto de Calista e Zara como se tivesse todo o direito do mundo.

Yoon riu baixo.

— Acha que ela envenenou a bebida? Sei lá, essa garota é louca o suficiente pra isso.

Eu ri, mas foi um riso nervoso. Não achava que Maria tivesse coragem de fazer algo tão extremo, mas, com ela, nunca se sabia.

E então, para piorar tudo, Yuri apareceu. Ele foi direto cumprimentar Calista, e isso já era o suficiente para fazer meu sangue ferver. Eu odiava a maneira como ele se aproximava dela, sempre com aquele ar de quem achava que sabia o que era melhor para ela. Ele era um problema que eu ainda não tinha resolvido, mas, naquele momento, meu foco era outro.

Porque Calista estava prestes a beber a maldita bebida.

Sem pensar muito, me levantei.

— Calista!

Ela parou no meio do movimento, me encarando com aquela expressão que me dizia para não me meter.

— O que foi agora, Kwon? — Ela perguntou, irritada.

Eu não respondi. Em vez disso, fui até ela, peguei sua mão com firmeza e disse.

— Vem comigo.

Ela bufou, tentando puxar a mão de volta.

— Você não pode simplesmente sair me arrastando por aí, sabia?

Ignorei. Eu sabia que ela estava irritada, mas não ia deixar ela ficar ali com Maria e Yuri nem por mais um segundo. Continuei andando, puxando-a comigo, até encontrar um canto mais isolado do parque.

Atrás de uma cascata de água, havia um pequeno túnel, escuro e úmido, onde quase ninguém passava. Parecia o único lugar onde eu poderia falar com ela sem a interferência de ninguém.

— Kwon, o que você tá fazendo? — Ela perguntou, claramente frustrada.

Soltei a mão dela, mas fiquei entre ela e a saída do túnel, não dando espaço para ela simplesmente ir embora.

— O que eu tô fazendo? Eu tô te tirando de perto daquela gente, Calista. O que diabos você tá pensando, aceitando uma bebida da Maria?

Ela cruzou os braços, me olhando com aquele misto de raiva e exasperação que só ela sabia fazer.

— Sério? Você tá me arrastando pra cá só por causa disso?

— Sim! — Respondi, a voz saindo mais alta do que eu pretendia. — Você sabe o que ela é capaz de fazer. Por que diabos você aceitaria qualquer coisa vinda dela?

— Talvez porque eu sei cuidar de mim mesma? — Ela respondeu, levantando as sobrancelhas. — Não preciso que você fique bancando o herói, Kwon.

Eu ri, mas era um riso sem humor.

— Cuidar de você mesma? Tá falando sério? Porque, pelo que eu tô vendo, você tá brincando com fogo e nem percebe.

Ela deu um passo à frente, me encarando de perto.

— E o que você quer que eu faça, hein? Fique longe de todo mundo só porque você não gosta deles? Já quebrei o nariz dela uma vez, posso fazer de novo se for preciso, então eu garanto que estava numa zona segura.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma.

— Não é isso. Eu só... Me preocupo com você, tá legal?

Ela ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos nos meus. Eu sabia que estava sendo exagerado, mas, ao mesmo tempo, não conseguia evitar. Não depois de tudo o que já tinha acontecido.

— Você se preocupa comigo, não é? — Ela perguntou, a voz mais baixa agora. — Então talvez você devesse começar a me ouvir, ao invés de me arrastar por aí como se eu fosse uma criança.

Fiquei sem palavras por um momento, encarando-a sem saber o que dizer. Ela estava certa, claro, mas isso não tornava mais fácil admitir.

— Calista... — Comecei, mas ela ergueu a mão, me interrompendo.

— Não. Se você realmente quer consertar as coisas entre nós, Kwon, precisa começar a me tratar como uma igual...

Eu suspirei, sentindo o peso das palavras dela. Talvez ela estivesse certa. Talvez eu precisasse parar de tentar controlá-la e começar a confiar nela.

Mas, ao mesmo tempo, sabia que não ia ser tão fácil assim. Estar com ela ali, debaixo da cascata, em um túnel que parecia um refúgio de toda a confusão ao redor, fazia meu coração bater tão rápido que eu mal conseguia respirar. Cada palavra que ela dizia me atingia como um golpe, e eu sabia que ela estava certa. Eu sempre fui impulsivo. Sempre estraguei tudo no desespero de tentar consertar as coisas rápido demais.

Ela colocou as mãos delicadas nos meus braços, me olhando nos olhos, e disse com uma calma que me desarmou completamente.

— Kwon, está tudo sob controle. A única coisa que realmente está me consumindo é essa briga entre nós dois.

Aquelas palavras foram a minha ruína. Antes que eu pudesse pensar, antes que pudesse segurar a explosão de emoções dentro de mim, me ajoelhei diante dela. Não era um gesto calculado. Era instinto puro. Peguei a mão dela, segurando com força, e olhei para cima, implorando.

— Por favor, Calista... Acaba com isso. Acaba com o meu sofrimento.

Ela franziu o cenho, surpresa, e começou a dizer algo, mas eu a interrompi antes que ela pudesse continuar.

— Eu tô à beira de enlouquecer. De cometer um crime de ódio ou algo assim! Eu não consigo, Calista, não consigo passar mais um segundo aceitando você agir como se eu fosse o inimigo. Eu sei que fui um idiota, o maior de todos, e que nem mereço o seu perdão. Mas, por favor... — Minha voz falhou por um segundo, e eu apertei os olhos, tentando me controlar. — Só olha pra mim. Só finge, pelo menos, que você não me odeia de novo.

Ela riu. Não de forma cruel, mas suave, quase como se eu tivesse dito algo bobo. E talvez eu tivesse.

— Levanta, Kwon. — A voz dela era tranquila, mas firme.

Eu respirei fundo e obedeci, me levantando lentamente. Dei um passo para mais perto dela, sem soltar a mão dela, que parecia ser a única coisa me mantendo em pé. Entramos um pouco mais no túnel, as gotas de água da cascata caindo ao redor como uma cortina, nos isolando ainda mais. Meus cabelos estavam molhados, as roupas grudadas no corpo, mas nada disso importava. Tudo o que importava era que estávamos ali, juntos, tão perto.

Eu não conseguia parar de olhar para ela. O rosto dela estava úmido, com pequenas gotas escorrendo pela pele. Mas o que mais me prendia eram os olhos dela, que agora tinham uma intensidade que fazia o ar parecer mais pesado.

Ela começou a falar de novo, e sua voz era um sussurro, mas cada palavra parecia uma avalanche.

— Eu não te odeio, Kwon. Na verdade, eu nem sei se algum dia consegui te odiar.

Essa declaração me fez rir baixinho, e ela deu um pequeno sorriso, como se estivesse esperando essa reação.

— Você sempre me irritou, claro. — Ela continuou, revirando os olhos de leve, mas com um sorriso ainda maior. — Mas eu sempre me importei demais com você. É por isso que eu sabia que não era ódio. Era algo a mais. Sempre foi algo a mais. É impossível te odiar quando você ocupa tanto espaço na minha mente... E no meu coração.

Eu pisquei, tentando processar o que ela tinha acabado de dizer. Meu coração disparou de novo, mais rápido do que nunca.

— Então, não. Eu nunca te odiei. Eu só... — Ela suspirou, e os olhos dela pareciam mais suaves agora. — Eu só estou tentando processar tudo. E, sinceramente, uma competição de chutes idiota não era exatamente a melhor forma de tentar me reconquistar.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Eu sei. Eu fui um idiota. Eu estava em pânico, Calista. Eu não sabia o que fazer. Você me deixa assim, entende? Nervoso, desconcertado. Sempre deixou.

Ela abriu um sorrisinho, e por um momento parecia que ela ia dizer algo, mas eu não dei tempo. Não podia esperar mais.

— Kwon, eu...

Antes que ela terminasse, me inclinei e a beijei.

Foi um impulso, uma explosão, como tudo o que eu fazia. Por um segundo, ela ficou imóvel, surpresa, talvez pela primeira vez, eu tivesse a pegado desprevenida. Pensei que ela fosse me afastar, e meu coração parou. Mas então ela cedeu.

Ela emaranhou os dedos no meu cabelo, me puxando para mais perto, e eu não consegui me conter. Segurei sua cintura com firmeza, a puxando para mim, enquanto aprofundava o beijo.

A sensação era avassaladora. Cada segundo daquele beijo parecia apagar todas as semanas de distância, todos os momentos de dúvida e arrependimento. Era como se eu estivesse despejando toda a minha frustração, todo o meu medo de perdê-la, naquele beijo.

Eu a pressionei contra a parede do túnel, sem querer soltá-la, nem por um segundo. Sentir ela tão perto, os lábios dela nos meus, os dedos dela nos meus cabelos... Era como se, finalmente, tudo estivesse no lugar.

E naquele momento, eu sabia, eu faria qualquer coisa para nunca mais perdê-la.

Quando Calista se afastou do beijo, encostou a cabeça no meu ombro, suspirando como se tentasse organizar os próprios pensamentos. A voz dela veio baixa, quase um sussurro, mas cheia de uma honestidade que me atingiu no peito.

— Às vezes eu só queria viver num conto de fadas da Disney... Onde no fim das contas, sempre tem um final feliz.

Eu sorri, segurando o rosto dela com as duas mãos, obrigando-a a me encarar. Ela parecia cansada, mas ao mesmo tempo, havia uma centelha de esperança nos olhos dela que eu reconhecia.

— A gente vai ter um final feliz, Calista. Eu prometo.

Ela desviou o olhar por um segundo, rindo suavemente, mas parecia estar processando minhas palavras. Depois balançou a cabeça, como se quisesse afastar aquele momento de vulnerabilidade, e disse.

— Eu sei. Mas talvez, pra isso, eu precise sumir do mapa por um tempo... Quem sabe uma viagem pra Coreia?

Ela riu, mas a ideia ficou presa na minha cabeça.

— Eu te levo sem pensar duas vezes. — Minha voz saiu séria, firme. Porque eu levaria mesmo. Eu estava morando sozinho, e não tinha nada me prendendo além dela. Se Calista dissesse que queria ir, nós arrumaríamos as malas e iríamos no mesmo dia.

Por um momento, ela pareceu considerar a ideia. Ficou ali, em silêncio, mordendo o lábio inferior, com aquele olhar distante que ela tinha quando estava pesando todas as possibilidades. Mas então, ela riu, colocando a mão no meu peito.

— Nada mal. — A voz dela saiu um pouco mais leve, e os olhos dela desceram para o meu abdômen, com aquele sorriso travesso que só ela conseguia fazer.

— Você consegue levar alguma coisa a sério? — Perguntei, rindo enquanto revirava os olhos.

Ela deu de ombros, com aquele ar debochado.

— Dá um desconto pra mim, Kwon. Zara me fez experimentar todos os sabores de caipirinha, então o álcool já está começando a me deixar grogue.

Ela riu, e eu não consegui evitar de acompanhá-la. Mas então, sua expressão mudou, ficou mais séria de repente, e ela continuou.

— Agora falando sério... Ainda não dá pra gente fazer isso... — Ela apontou para nós dois. — Em público. Silver descobriu. Kreese provavelmente também. Não dá. A gente vai precisar fingir que estamos brigados de verdade.

Eu franzi o cenho, já sentindo a frustração subir pelo meu corpo como fogo.

— E se a gente simplesmente ligar o dane-se pra esses velhos?

Ela me olhou como se eu fosse louco. O que, talvez, eu fosse.

— Tá maluco? Sabe-se lá o que eles podem fazer. — A risada dela foi nervosa, e dava pra ver que só de pensar na possibilidade, ela ficava tensa.

Eu dei de ombros, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.

— Então foge. Volta pro Cobra Kai. Kreese é mais fácil de lidar que Silver. E ele parece... Sei lá, arrependido do que aconteceu no torneio.

Calista balançou a cabeça quase imediatamente.

— Isso é loucura, Kwon.

— É, eu sei que é. Mas se você se sentir mais segura, pode ficar com a Zara ou... — Eu hesitei. Parte de mim não queria nem terminar a frase. Mas, finalmente, soltei. — Ou com o Kenny. Por mais que o baixinho seja abusado, é mais seguro que ficar com o Silver.

Ela balançou a cabeça, claramente dividida.

— E o Miyagi-Do? Parece um dojô com senseis mais tranquilos.

Eu sabia que ela estava certa, mas ouvir isso ainda me deixava incomodado. O pensamento dela perto de Robby, treinando ao lado dele, me dava vontade de socar uma parede.

— É verdade... — Admiti, respirando fundo. — Por mais que eu odeie te imaginar no time inimigo, principalmente com aquele maldito do Robby, eu só quero que você esteja segura. E quero estar com você. Então, se for a única maneira de dar certo... Que seja assim.

Ela abriu a boca para responder, mas eu continuei.

— Mas, se o Robby der uma de engraçadinho pra cima de você, eu juro que não vou hesitar em quebrar as pernas dele.

Ela revirou os olhos, soltando um suspiro exagerado.

— Tudo bem, gênio. Vamos tentar isso. Mas, por enquanto, eu ainda estou brava com você.

Antes que eu pudesse responder, ela deu um tapa no meu peito.

— Ai! — Passei a mão onde ela tinha batido, fingindo dor. — Provavelmente vai ficar vermelho, sabia?

Ela ergueu uma sobrancelha, claramente não se importando.

— Ótimo. Você merece, Kwon.

Mas, antes que eu pudesse retrucar, ela me puxou pela nuca, me beijando de novo.

Dessa vez, o beijo foi ainda mais intenso, mais profundo, como se ela estivesse despejando tudo o que estava sentindo. E eu retribuí com igual intensidade, segurando sua cintura com força, como se tivesse medo de que ela desaparecesse.

Naquele momento, com a cascata caindo ao nosso redor, a água nos molhando, nada mais importava. Só nós dois. E pela primeira vez em muito tempo, eu senti que as coisas finalmente estavam começando a se encaixar.

Eu me afastei do beijo, respirando fundo, tentando acalmar o coração que parecia querer sair do peito. Calista estava tão perto, tão minha naquele momento, que a ideia de deixá-la ir parecia insuportável. Mas ela suspirou, ainda com a respiração pesada, e colocou as mãos no meu peito, como se quisesse criar uma barreira para evitar que eu a puxasse de volta.

— É melhor voltarmos. — A voz dela saiu suave, mas decidida. — Vou arrumar minhas coisas essa noite e vou ficar na casa do Kenny... Se tudo der certo. Ele mora aqui em Marietta, e você e a Zara só estão de passagem. Ficar no hotel seria mais arriscado.

Só de pensar nela indo para outro lugar que não fosse comigo já me deixava inquieto. Cruzei os braços e levantei uma sobrancelha.

— Eu tô falando sério, Calista. Você pode ir pro meu quarto quando quiser. Sempre que precisar.

Ela deu uma risadinha curta, passando a mão pelo meu rosto molhado, com um olhar entre o divertido e o carinhoso.

— Pode deixar, gênio.

Mas antes que ela pudesse se afastar, eu segurei a mão dela, entrelaçando nossos dedos com firmeza. Não queria, nem por um segundo, que ela achasse que podia escapar de novo.

— Calista... Eu não vou mais te deixar escapar. Nunca mais.

Ela me olhou, surpresa por um momento, mas então um sorriso suave curvou seus lábios.

— Eu estava contando com isso.

Com as mãos ainda unidas, nós saímos do túnel, passando pela cascata de água que nos escondia. Era como se o mundo lá fora fosse outro, como se algo entre nós tivesse finalmente mudado de verdade.

De longe, Zara já nos viu e começou a gritar.

FINALMENTE! Até que enfim, o meu casal explosivo favorito se resolveu! Será que a gente pode soltar fogos?

Ela estava claramente bêbada, gesticulando de maneira exagerada, e isso me arrancou uma risada involuntária. Calista, ao meu lado, começou a rir também, balançando a cabeça.

— Essa garota não existe... — Ela murmurou, apertando levemente minha mão enquanto caminhávamos em direção ao bar aquático.

Foi então que percebi que Maria e Yuri estavam mais afastados agora, rindo de algo entre eles. A tensão que sentia em relação à presença delas parecia ter se dissipado um pouco, mas a desconfiança ainda estava lá, no fundo.

No balcão, Calista pegou o copo que Maria havia lhe dado mais cedo e, antes que eu pudesse reagir, levou-o aos lábios.

— Calista, não! — Gritei, estendendo a mão, mas já era tarde demais. Ela já tinha bebido um gole.

Ela me olhou com o cenho franzido, confusa com a minha reação exagerada.

— Relaxa, gênio. Eu tô bem.

Passei a mão pela nuca, nervoso, e disparei.

— Foi a Maria que te deu essa bebida. Vai que tem alguma coisa aí.

Calista soltou uma gargalhada curta, balançando a cabeça como se achasse aquilo impossível.

— Essa piranha não teria coragem de tentar algo contra mim de novo. E se tentasse, estaria cavando a própria cova.

Eu não pude evitar de sorrir. Ela era destemida de um jeito que me deixava completamente encantado. Passei os braços ao redor da cintura dela e deixei um beijo no maxilar.

— Eu amo como você é agressiva.

Ela riu, me empurrando levemente pelo peito.

— Não sei se isso foi um elogio, mas vou fingir que foi.

Antes que eu pudesse responder, Zara, com os braços levantados como se estivesse no meio de uma festa, gritou novamente.

— Ah, não! Não quero ser vela! Vamos pra piscina, todo mundo!

Olhei para Calista, que revirou os olhos, mas acabou dando de ombros.

— Acho que não temos escolha.

Seguimos Zara até a área da piscina, onde Samantha, Devon, Kenny, Yoon e alguns outros do Miyagi-Do já estavam. O ambiente estava descontraído, cheio de risadas e vozes altas, e a luz colorida dos refletores refletia na água, criando um efeito quase mágico.

Kenny estava no canto, brincando de jogar água na Devon, que ria alto enquanto tentava desviar. Yoon estava mergulhado até os ombros, parecendo mais interessado em observar as meninas do que participar das brincadeiras. Samantha conversava com uma garota que eu não conhecia, enquanto Robby estava afastado, mexendo no celular.

Zara praticamente pulou na água, criando um pequeno tsunami que molhou metade das pessoas ao redor. Eu olhei para Calista, que parecia dividir o mesmo pensamento, "Não acredito que estamos no meio disso."

Mas, por mais caótico que fosse, havia algo reconfortante na cena. Pela primeira vez em muito tempo, as coisas pareciam um pouco mais... Normais. E, com Calista ao meu lado, eu sabia que poderia lidar com qualquer coisa que viesse pela frente.

Depois de horas mergulhando, jogando água, rindo e competindo de forma surpreendentemente amigável com as outras equipes, era quase surreal ver aquele ambiente tão descontraído. Até mesmo as rivalidades mais ferrenhas pareciam ter sido deixadas de lado por algumas horas. Eu estava mais leve do que em meses.

Calista tinha esse efeito sobre mim. Ela podia me fazer esquecer o peso de tudo, pelo menos por um tempo. Era como se, com ela por perto, o resto do mundo perdesse um pouco da importância.

Eu estava no canto da piscina, rindo de algo que Yoon disse, quando Tory se aproximou, com aquele olhar sério que só ela conseguia carregar mesmo em um ambiente como esse.

— Kim quer vocês a gente no treino extra em uma hora. — A voz dela cortou a leveza do momento como uma lâmina.

Revirei os olhos. Claro que a sensei Kim não ia nos deixar em paz por um dia sequer. Eu sabia que ela estava determinada a nos moldar em máquinas de luta perfeitas para a competição, mas às vezes parecia que ela ignorava o fato de que éramos humanos também.

— Ótimo, mais uma noite quebrando o corpo. — Murmurei, balançando a cabeça enquanto saía da água.

Eu joguei uma toalha sobre os ombros e olhei em direção à Calista, que estava sentada na beira da piscina. Ela parecia diferente agora, como se toda a energia que tinha antes tivesse evaporado. Sua postura estava mais lenta, os ombros caídos, e o olhar parecia distante.

Caminhei até ela, secando o rosto no processo, e sentei ao seu lado, deixando nossas pernas mergulharem na água novamente.

— Ei, você tá bem? — Perguntei, tentando captar o que passava pela mente dela.

Ela virou o rosto para mim, e um pequeno sorriso apareceu em seus lábios, mas não alcançou os olhos.

— Só estou com muito sono, aparentemente.

Algo naquela resposta não me convenceu completamente. Calista não era de admitir fraqueza, nem mesmo o cansaço. Se ela estava dizendo isso, provavelmente tinha algo mais ali.

— Quer que eu te leve pra casa? — Perguntei, preocupado, inclinando-me um pouco mais para ela.

Ela balançou a cabeça devagar, ainda com aquele sorriso cansado no rosto.

— Tá tudo bem, gênio. Eu ainda preciso cuidar da Zara, que daqui a pouco vai cair no chão de tão bêbada.

Minha preocupação aumentou.

— Você tem certeza? Posso dar um jeito de voltar mais tarde.

Ela deu uma risadinha fraca, a voz saindo arrastada, como se fosse um grande esforço responder.

— Tá tudo bem, de verdade. Você tem que treinar. E, se eu ficar muito cansada pra dirigir, pego carona com a Samantha.

Eu ainda não estava convencido. A maneira como os olhos dela piscavam mais devagar e o tom preguiçoso na voz me incomodavam. Mas eu sabia que insistir só a irritaria. Ela era teimosa e orgulhosa, e eu também sabia que, no fundo, ela realmente conseguia se cuidar.

Segurei o rosto dela entre minhas mãos, fazendo com que seus olhos se encontrassem com os meus.

— Você se cuida, tá ouvindo?

Ela sorriu de lado, o sorriso ganhando um pouco mais de vida.

— Você também.

Me inclinei e a beijei. Um beijo lento e cheio de significados que eu não conseguia colocar em palavras. Não queria deixá-la ali. Não queria sair sem saber exatamente o que estava acontecendo com ela. Mas eu tinha que ir, e ela sabia disso.

Quando me afastei, ela passou os dedos levemente pelo meu rosto.

— Vai logo antes que a Kim mande a Tory vir te arrastar.

Suspirei, levantando-me a contragosto, mas sem soltar a mão dela até o último momento.

— Qualquer coisa, me liga. Não importa a hora.

Ela assentiu, ainda sorrindo.

— Vai treinar, Kwon. Eu vou ficar bem.

Dei alguns passos para trás antes de me virar e começar a caminhar em direção ao vestiário, mas meu peito estava apertado. Algo em mim dizia que eu deveria ficar, que eu deveria ignorar Kim, Tory, Yoon e qualquer treino, e ficar ali com ela. Mas Calista era forte, sempre foi.

Eu sabia que ela podia lidar com qualquer coisa. Mas isso não tornava mais fácil deixá-la para trás.

Peguei a toalha com uma das mãos e a joguei sobre os ombros enquanto seguia atrás de Tory e Yoon. Mesmo com os pés movendo-se automaticamente, minha mente continuava fixa em Calista. Toda vez que eu tentava me convencer de que ela estaria bem, alguma dúvida insistia em se infiltrar. A imagem dela, com aquele sorriso cansado e o olhar meio distante, parecia presa na minha cabeça.

— Relaxa, Kwon. — Tory falou de repente, quebrando meu fluxo de pensamentos como se pudesse ler minha mente. — A Calista sabe muito bem se cuidar. Ela não precisa que você fique igual uma babá ambulante.

Eu sabia que ela estava certa. Calista era forte, mais forte do que a maioria das pessoas que eu conhecia. Mas isso não tornava mais fácil deixar ela ali, especialmente com o incômodo que eu sentia no fundo do peito, como se algo estivesse errado e eu não soubesse o quê.

— É, eu sei. — Murmurei, assentindo, mesmo que a preocupação ainda pesasse em cada passo.

Chegamos na saída do parque, e meu olhar ainda se voltou instintivamente para trás, quase como um reflexo, na esperança de avistar Calista mais uma vez. Foi nesse momento que ouvi a voz irritantemente familiar de Maria, cheia de malícia, cortando o ar.

— Tchauzinho, Kwon!

Meu corpo travou por um segundo, e eu virei a cabeça em direção à voz dela. Lá estava ela, acenando com aquele sorriso presunçoso que fazia meu sangue ferver. A audácia dessa garota era inacreditável. Depois de tudo o que ela tinha feito, depois de tudo o que Calista já tinha enfrentado por causa dela, Maria ainda tinha coragem de continuar com essas provocações infantis?

Minha primeira reação foi querer devolver na mesma moeda, gritar alguma coisa que a colocasse no lugar dela, mas segurei a língua. Xingá-la ou entrar no jogo dela só daria a satisfação que ela queria. Em vez disso, revirei os olhos e simplesmente a ignorei, virando as costas e seguindo meu caminho.

Mas, por dentro, eu estava fervendo. Essa garota tinha sorte de Calista não estar por perto. Eu já podia imaginar o que aconteceria se ela ouvisse Maria com essas gracinhas. E, sinceramente, eu nem precisava intervir. Calista já devia estar no limite com ela. Se Maria continuasse provocando, não duvidava que ela mesma acabaria enterrando a própria reputação, talvez ganhando mais ossos quebrados no processo.

Conforme continuava andando, respirei fundo, tentando me acalmar. Não valia a pena perder a cabeça por ela. Eu precisava usar isso como combustível, transformar essa irritação e preocupação em algo produtivo.

Enquanto seguíamos em direção ao dojô, Yoon comentou algo que eu não prestei atenção. Meu foco já estava mudando. A lembrança de cada provocação de Maria, cada momento de tensão entre mim e Calista, e até mesmo o olhar preocupado dela enquanto me pedia para treinar, tudo isso girava na minha mente, se transformando em motivação.

O dojô parecia mais escuro e mais quieto do que o habitual quando entramos. Sensei Kim já estava lá, como sempre, com aquela postura rígida e expressão que misturava expectativa e desaprovação. Eu sabia que ela esperava que déssemos o nosso melhor, que ultrapassássemos nossos limites.

E eu estava determinado a fazer exatamente isso.

Afinal, cada soco, cada chute e cada gota de suor agora carregava um propósito maior. Não era apenas sobre vencer na competição ou impressionar Kim. Era sobre me provar, para mim mesmo, para Calista e para qualquer um que ousasse duvidar de nós.

Com essa determinação, respirei fundo, ajustei a faixa e me preparei para dar tudo de mim naquele treino.

Obs: Simplesmente a manip PERFEITA, que uma das minhas leitoras favoritas de Dangerous Blow fez. Muito minha bestie, obrigada pelo carinho com essa história, always_dreming  🫶🏻

Obra autoral ©

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