44. A bet

Correr na chuva nunca foi exatamente algo que eu consideraria divertido, mas dessa vez... Foi diferente. Cada gota que caía parecia lavar um pouco do peso que eu estava carregando, mesmo que, no fundo, ele ainda estivesse lá. Cheguei à mansão encharcada, o cabelo preso de qualquer jeito e a respiração ofegante. Eu havia perdido o táxi, claro, e não tive escolha senão vir correndo do hotel até aqui. Talvez fosse loucura. Talvez fosse estupidez. Mas, honestamente? Valeu a pena.

Eu precisava vê-lo. Precisava ouvir o que Kwon tinha a dizer, mesmo que ainda estivesse com raiva. Mesmo que a imagem dele beijando outra garota ainda estivesse estampada na minha mente como uma tatuagem indesejada. Mas enquanto eu corria, com o som da chuva abafando meus pensamentos, percebi que a raiva não era tão simples assim. Ela já não era tão intensa. Era como uma onda recuando lentamente na areia. Eu já o havia perdoado, ainda que não conseguisse admitir isso com tanta clareza, nem para ele, nem para mim mesma.

Mas isso não significa que seria fácil. Eu precisava de tempo. Tempo para processar tudo, para garantir que Kwon entendesse que ele não podia continuar agindo por impulso e esperando que tudo se resolvesse como em um passe de mágica.

Assim que abri a porta da mansão, minhas roupas encharcadas deixaram uma poça no chão de mármore, e o som dos meus passos ecoou pelos corredores. Meus braços estavam gelados, o tecido molhado grudando na minha pele, e eu estava prestes a subir direto para o meu quarto quando o vi.

Terry.

Ele estava parado no meio do hall, as mãos cruzadas atrás das costas, a expressão dura como uma estátua de mármore. Ele não precisou dizer nada para que eu soubesse que ele sabia. Droga.

— Calista — Ele disse com aquela voz controlada, quase fria —, entregue o celular.

Franzi o cenho, fingindo confusão, mesmo sabendo que era inútil.

— O quê?

— Você me ouviu. O celular. — Ele deu um passo à frente, a postura rígida. — Eu sei muito bem onde e com quem você estava. Não me teste. Entregue o celular agora.

Senti o peito apertar como se algo estivesse me sufocando. Ele sabia. É claro que ele sabia. Terry sempre sabia de tudo. Mas isso não significava que eu ia facilitar as coisas para ele.

— Você não pode controlar minha vida como bem entende. — Rebati, cruzando os braços em desafio.

Ele arqueou uma sobrancelha, sua expressão permanecendo inabalável.

— O celular... Ou o garoto.

Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Minha garganta secou instantaneamente, e eu soube que não tinha escolha. Por mais que eu odiasse admitir, Terry sabia exatamente como manipular a situação para conseguir o que queria.

Relutantemente, enfiei a mão no bolso e puxei o celular, ainda com a tela bloqueada. Vi as notificações de Kwon piscando, mas não tive nem tempo de olhar para elas. Estendi o aparelho para Terry, minha mandíbula travada, e ele o pegou com a mesma calma que sempre exibia, como se estivesse lidando com algo trivial.

— Ótimo... — Disse ele simplesmente. — Você pode subir para o seu quarto agora. Se você se comportar e parar de se encontrar com aquele asiático imbecil, talvez eu pense em devolver o celular em breve.

Senti meu sangue ferver, mas mantive minha expressão o mais neutra possível. Sem pensar muito, levantei o dedo do meio na direção dele e murmurei um "velho geriátrico."

Vi um breve franzir de testa no rosto dele antes de virar as costas e começar a subir as escadas. Meu coração estava batendo rápido, a mistura de raiva e frustração crescendo dentro de mim como uma tempestade.

Quando cheguei ao corredor do meu quarto, tentei engolir o nó que se formava na minha garganta, mas foi difícil. Tudo parecia sufocante. Terry, suas regras, suas manipulações, a distância forçada entre mim e Kwon.

Fechei a porta do quarto atrás de mim, encostando a cabeça nela por um momento. Inspirei profundamente, tentando me acalmar, mas a cena de Kwon ajoelhado no elevador voltou à minha mente.

— Idiota. — Murmurei para mim mesma, mas senti um sorriso involuntário se formar nos meus lábios. Ele tinha sido tão... Dramático. Como sempre. O jeito que ele juntou as mãos, implorando como se sua vida dependesse disso, era tão exagerado que quase parecia um show. E, ainda assim, foi sincero.

Suspirei, me afastando da porta e indo direto para o banheiro. O peso da roupa molhada começava a me incomodar, e eu precisava de um banho quente para aliviar o frio e, talvez, o cansaço emocional.

Enquanto a água quente escorria pelo meu corpo, fechei os olhos e deixei a mente vagar. Mesmo que eu quisesse manter a raiva por mais alguns dias – por orgulho, talvez – sabia que já tinha perdoado Kwon. Sempre acabava perdoando. Mas ele precisava aprender a não agir por impulso, a não tomar decisões estúpidas que complicavam ainda mais as coisas.

Mas, acima de tudo, precisava aprender que, independentemente de tudo, eu ainda me importava com ele. E isso era algo que nem mesmo Terry Silver poderia mudar.

Depois do banho, me vesti com uma camiseta larga e um short confortável. O calor da água ainda parecia emanar da minha pele, mas não era suficiente para me fazer sentir completamente melhor. Havia uma tempestade dentro de mim que nenhum banho quente conseguia acalmar. Saí do banheiro, apagando a luz atrás de mim, e me joguei na cama com um suspiro pesado, como se o peso do dia inteiro tivesse me esmagado.

Passei a mão no rosto, tentando organizar os pensamentos, mas era inútil. As notificações no celular que Terry havia confiscado pareciam um lembrete cruel de que algo importante poderia estar ali, a poucos toques de distância. O que Kwon tinha enviado? Será que era algo sobre o sair para algum lugar? Ou talvez... Um pedido de desculpas mais elaborado? Eu odiava admitir, mas parte de mim queria desesperadamente saber.

— Que droga, Kwon. — Murmurei, me virando de lado na cama. Ele conseguia ser tão irritantemente persistente. Mesmo quando eu dizia para ele me deixar em paz, ele continuava ali, no meu pensamento, na minha mente, como uma sombra que não desaparecia.

Fechei os olhos, mas não consegui evitar que minha mente continuasse a funcionar a mil por hora. Talvez fosse exagero da minha parte, mas, sem o celular, parecia que eu estava desconectada do mundo, isolada. Nunca fui apegada a tecnologia, mas agora, sem aquele pequeno dispositivo, tudo parecia muito mais difícil. Como eu ia me comunicar? Enviar um pombo correio? Gritar pela janela?

Dei uma risada amarga e virei de barriga para cima, encarando o teto. A mansão estava silenciosa, mas o caos na minha mente era ensurdecedor. Os pensamentos vinham em ondas, se misturando e se contradizendo. Uma parte de mim queria perdoar Kwon de uma vez, esquecer o que aconteceu e voltar para aqueles momentos leves e quase perfeitos que tínhamos antes de tudo desmoronar. Mas outra parte... Outra parte queria continuar brava. Queria que ele sentisse o mesmo peso que eu estava carregando.

— Idiota. — Murmurei para mim mesma, sem saber se estava falando dele ou de mim.

Apoiei o braço sobre os olhos, tentando bloquear a luz fraca que entrava pela janela. Talvez eu precisasse disso. Um tempo. Talvez esses dias separados fossem necessários para que ele entendesse que, mesmo quando o coração quer perdoar, há um processo. Uma ferida não cicatriza do dia para a noite.

Ainda assim, a imagem dele ajoelhado no elevador voltou à minha mente. Dramático, como sempre. Ele conseguia fazer até mesmo um pedido de desculpas parecer parte de um filme. Me perguntei se ele sabia o quanto aquilo mexeu comigo. Provavelmente, não. Ou talvez ele soubesse e fosse exatamente por isso que tinha feito.

Mas ele correu na chuva, lembrei a mim mesma, soltando um suspiro longo. Quem faz isso hoje em dia? Quem faz isso na vida real?

Ficar brava era mais fácil do que admitir que eu ainda me importava, que ele ainda tinha espaço no meu coração. Mas mesmo com toda a raiva que eu queria manter por perto, havia algo reconfortante em lembrar que ele estava ali, que ele não desistiria tão facilmente.

Mas e quanto a mim? Eu conseguiria manter essa fachada por mais tempo? Eu conseguiria olhar para ele sem deixar que a mágoa transparecesse? O fato era que eu já havia perdoado Kwon, mesmo que ainda doesse admitir isso. O problema não era ele, era o que vinha junto. Terry, o controle sufocante, as ameaças. O peso de estar constantemente sob vigilância.

Fechei os olhos novamente, tentando afastar esses pensamentos. Precisava descansar, mesmo que não conseguisse dormir. Minha mente estava cansada, mas continuava girando como um relógio quebrado.

Talvez amanhã fosse diferente. Talvez eu pudesse encontrar alguma forma de escapar, de reconectar, de tentar ser... Normal, pelo menos por um dia. Talvez eu encontrasse um jeito de fazer tudo isso valer a pena. E talvez, só talvez, eu conseguisse olhar para Kwon e lembrar do porquê de tudo isso ter começado.

Mas agora, enquanto o silêncio da mansão parecia me engolir, eu só queria um momento de paz. Só um.

⋆౨˚ ˖

Estava encostada no balcão da cozinha, mordendo uma maçã, cada mordida mais mecânica que a anterior. O tédio era insuportável, e a sensação de ser uma prisioneira na própria casa só piorava tudo. Terry estava por perto, como sempre, com aquele olhar de águia que parecia ler pensamentos. Eu sentia que até respirar na direção errada seria motivo para ele me interrogar. Suspirei, encarando a maçã como se ela fosse a responsável pela minha situação.

O som da campainha ecoou pela casa, e por um segundo meu coração acelerou. Salvação? Talvez, quem sabe? Deixei a maçã no balcão e corri para a porta antes mesmo de pensar, quase tropeçando no tapete de tanta pressa. Terry, claro, estava logo atrás, me seguindo como uma sombra. Quando abri a porta, vi Zara parada ali, com aquele sorriso que só ela tinha, e senti um alívio instantâneo.

Tentei disfarçar o sorriso que veio ao meu rosto, mas foi impossível. Ela era exatamente o que eu precisava naquele momento. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Terry se adiantou, sempre com aquela postura de quem está no comando.

— Pois não? — Perguntou ele, a voz firme e desconfiada.

Zara, sem perder o ritmo, lançou um sorriso despreocupado.

— Vim buscar a Calizinha pra um passeio — Disse, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Eu quase ri. Calizinha? Ela realmente sabia como irritar Terry e ao mesmo tempo fazê-lo hesitar.

Terry franziu o cenho, claramente analisando cada palavra dela. Antes que ele pudesse dizer algo, Zara continuou, casual, mas com uma pitada de provocação.

— Vamos sair juntas e sozinhas.

Não resisti e dei uma risadinha, me virando para ela.

— É tipo encalhadas vão à luta?

Zara deu de ombros, fingindo indiferença.

— É tipo mulheres que não precisam de homens pra se divertirem.

Terry cruzou os braços, a desconfiança estampada no rosto.

— Mais alguém vai?

Zara suspirou, revirando os olhos como se estivesse lidando com uma criança teimosa.

— Ah, vamos lá, tio. Dá um tempo. Eles terminaram e continuam brigados. Vou arranjar outro namorado melhor pra ela hoje.

Tive que morder o lábio para não rir alto. Zara sabia exatamente como jogar com ele. Terry pareceu considerar, mas ainda estava ressabiado. Seus olhos passaram de Zara para mim, avaliando se ele podia confiar.

— Volte à antes das dez. E sem celular. — Sua voz era fria, cortante.

Revirei os olhos, tentando não transparecer o quanto aquilo me irritava.

— Tudo bem. — Respondi, num tom quase entediado.

Antes que ele pudesse mudar de ideia, me virei para Zara.

— Vou me arrumar.

Zara entrou comigo, e assim que estávamos fora do alcance de Terry, ela praticamente correu comigo até o meu quarto. Fechei a porta atrás de nós, soltei um suspiro longo e me joguei na cama por um segundo.

— Graças a Deus que você veio me tirar da prisão.

Ela se sentou na beirada da cama, rindo.

— Não podia te deixar em cárcere privado, né? Além disso, sei que a turma toda vai estar no parque aquático hoje... Inclusive o Kwon.

Parei de imediato, já de pé, com o guarda-roupa aberto enquanto escolhia algo para vestir. Peguei um vestido leve e um biquíni, me virei para ela e ergui uma sobrancelha.

— Não foi você que disse que ia me arranjar um namorado novo?

Zara riu alto, jogando a cabeça para trás.

— Ok, mesmo que o Kwon tenha sido um babaca, eu ainda prefiro vocês dois como endgame. O isqueiro e a gasolina.

Sorri de canto, apreciando o jeito como aquilo soava.

— Gosto disso — Murmurei, mais para mim mesma.

Enquanto colocava o biquíni por baixo do vestido, minha mente já estava em outro lugar. Kwon estaria lá. Parte de mim queria continuar irritada, fazer ele sofrer só um pouco mais. Mas outra parte, bem lá no fundo, queria ver se ele estava tão empenhado quanto dizia estar. E se fosse o caso... Bem, talvez o parque aquático fosse o cenário perfeito para testar isso.

Zara me observava com aquele olhar de quem sabia mais do que dizia. Ela sempre conseguia enxergar o que eu tentava esconder, mesmo de mim mesma.

— Vai ser divertido, Cali. Confia em mim.

Eu suspirei, mas não consegui conter o sorriso que já surgia.

— Espero que você esteja certa.

Ela piscou, levantando-se.

— Sempre estou.

Peguei minha bolsa, ajustei o vestido e respirei fundo. A prisão temporária de Terry estava ficando para trás, e, por um dia, eu podia fingir que tudo estava bem. Que era só mais um dia normal. Que eu não tinha um drama inteiro esperando para ser resolvido.

Nós fomos até a garagem e dei o livre arbítrio para ela escolher do que queria andar. Zara não economizou, escolheu logo o Maserati MC20 como se estivesse escolhendo um par de sapatos para um dia casual. Meu primeiro instinto foi revirar os olhos. Claro que ela ia direto para um carro que gritava olhem para mim. Encostei-me na porta da garagem, cruzando os braços enquanto ela corria os dedos pela lataria impecável.

— Você sabe que a gente vai chamar a atenção de Marietta inteira, né? — Perguntei, sem nem tentar esconder o tom zombeteiro.

Zara deu de ombros, abrindo um sorriso largo e descarado.

— Adoraria ostentar um pouquinho com a grana do velhote.

Eu não consegui segurar o riso. Essa era a Zara que eu conhecia.

— É esse o espírito. Se for pra sair "escondida", que seja em grande estilo.

Ela deu uma piscadela e abriu a porta do motorista, deslizando para dentro com a facilidade de quem já estava acostumada a esse tipo de luxo. Suspirei e contornei o carro para o lado do passageiro, me jogando no banco e ajustando o cinto. Assim que ela ligou o motor, o ronco poderoso tomou conta da garagem, e eu me permiti sorrir. Silver provavelmente surtaria ao saber que estávamos usando uma das suas "naves" para um passeio casual. Talvez bater o carro não fosse uma má ideia...

— Está liberado bater — Comentei, olhando para Zara com um sorriso de canto. — Pelo menos algum prejuízo ele tem que ter nessa vida.

Ela riu alto, ajustando os óculos escuros.

— Não me tenta, Calista. Eu sou bem capaz.

Saímos da mansão com um rugido de motor que parecia ecoar por todo o bairro. Senti o vento bagunçando meu cabelo assim que Zara abriu os vidros. Estávamos livres, pelo menos por hoje. O rádio ligou automaticamente, e Zara começou a trocar de estações, em busca de algo que prestasse.

— Summerhits, Zara. Nada de jazz chique ou notícias, por favor.

— Relaxa. Eu sei o que estou fazendo.

Ela finalmente encontrou uma estação decente, e, por pura coincidência, minha música favorita começou a tocar.

I don't know why — Murmurei, quase num sussurro, antes de abrir um sorriso.

Zara percebeu na hora.

— Olha só quem está animada agora. Vai, canta.

E foi exatamente o que fizemos. Cantamos a plenos pulmões, desafinando em algumas partes, mas sem nos importar. A batida da música, a estrada aberta e o fato de que, por um breve momento, o mundo parecia normal, tudo isso me fez esquecer, nem que fosse por alguns minutos, o peso que eu carregava todos os dias.

Zara dirigia como se o Maserati fosse uma extensão dela. A cada curva, a cada aceleração, eu sentia a adrenalina se misturando com a sensação de liberdade. O céu estava limpo, e o sol refletia na lataria brilhante do carro, quase ofuscando minha visão.

— Você está sorrindo muito — Comentou Zara, olhando para mim de relance enquanto eu balançava a cabeça no ritmo da música.

— Estou me sentindo livre. — A frase saiu antes que eu pudesse me conter, mas era a verdade. Não sabia quando teria um momento assim de novo, sem Terry me seguindo como uma sombra ou as paranoias do Silver me cercando.

Ela assentiu, como se entendesse exatamente o que eu estava sentindo.

— Então aproveita, Cali. Hoje é o seu dia.

Eu queria acreditar nisso. Queria me convencer de que, pelo menos por hoje, eu poderia fingir que minha vida era só isso: música alta, risadas com Zara e a promessa de um dia inesquecível no parque aquático.

Enquanto o Maserati cortava a estrada, com o vento batendo no meu rosto e a voz da Zara preenchendo o ar ao meu lado, me peguei pensando em Kwon. O que ele estaria fazendo agora? Será que ele ainda estava tentando pensar em um jeito de reconquistar meu perdão? Balancei a cabeça, tentando afastar a imagem dele de joelhos, implorando dramaticamente.

Não. Hoje não era o dia para isso. Hoje era para ser leve. Era para ser sobre mim e Zara, sobre escapar de tudo.

— Calista? — Zara chamou, tirando-me dos meus pensamentos.

— O quê?

— Não fica com essa cara de quem está pensando em coisas complicadas. Guarda isso para depois.

Ri baixinho, apertando o cinto um pouco mais firme enquanto ela acelerava.

— Ok, ok. Só dirige, Zara.

Ela piscou de novo, acelerando ainda mais, e eu decidi me permitir aproveitar. O parque aquático estava à nossa espera, e eu faria questão de guardar cada minuto desse dia na memória.

Assim que chegamos ao parque aquático, já no estacionamento, senti um frio no estômago que nada tinha a ver com o vento quente da manhã. Eu sabia que ele estaria lá. Não era surpresa nenhuma, mas ainda assim... Ver Kwon era sempre uma mistura de emoções. Olhei pela janela do carro antes mesmo de Zara desligar o motor e o vi de longe, perto da entrada. Ele andava de um lado para o outro, inquieto, como um daqueles cachorrinhos que ficam esperando o dono voltar para casa. Era quase cômico, mas me tirou um sorriso de canto, que tratei de apagar assim que percebi.

Zara percebeu meu olhar e soltou uma risadinha.

— Ah, lá está ele. Como sempre, desesperado.

— Não me provoca, Zara. — Revirei os olhos, mas não pude deixar de soltar uma risada curta.

Ela apenas deu de ombros e desligou o carro, saindo antes de mim. Quando dei a volta para o lado dela, Zara já estava ao meu lado, passando o braço em torno dos meus ombros como se fosse minha guardiã oficial.

— Olha, hoje é um dia de garotas. Nada de drama. Se o Kwon quiser impressionar, ele que faça por merecer. A gente vai se divertir, e ele que corra atrás.

— Certo, certo, mas você sabe que não consigo ignorar ele completamente, né? — Murmurei enquanto caminhávamos em direção à entrada.

— Claro que não. Você tem o coração mole demais pra isso. Mas, por favor, deixa ele suar um pouco, pelo menos.

Eu ri, apertando o passo com ela. Ao nos aproximarmos, vi que Kwon parou de andar e ficou parado na porta, os olhos fixos em mim como se eu fosse desaparecer se ele piscasse. O jeito que ele parecia tão... Aliviado ao me ver me aqueceu por dentro, mas eu tratei de esconder isso. Ainda estava irritada. Ainda tinha muito o que processar sobre tudo o que ele tinha feito, mas saber que ele estava ali, esperando por mim, era bom.

— Você veio... — Ele disse assim que passamos por ele. O tom era quase alarmado, como se ele ainda não acreditasse que eu realmente apareci.

Eu dei um sorriso pequeno, quase imperceptível, e acenei brevemente, sem me deter. Antes que pudesse responder, Zara já estava me puxando pela mão, praticamente me arrastando para longe dele.

— Vamos, antes que você se esqueça de que hoje é dia de diversão, não de reconciliação.

Ela me levou direto para a área do bar dentro da piscina. Eu adorava aquela parte do parque, as cadeiras de piscina espalhadas estrategicamente, o som de risadas e música leve ao fundo. O cheiro de cloro misturado com protetor solar me trazia uma sensação estranha de nostalgia.

Zara apontou para uma mesa onde Samantha LaRusso e Devon estavam sentadas.

— Melhor companhia do que Tory, com certeza.

Eu ri, balançando a cabeça enquanto olhava para elas. As duas pareciam relaxadas, Samantha com um drink colorido na mão e Devon ajeitando os óculos de sol enquanto ria de algo que Sam dizia. Zara e eu caminhamos até elas, mas não sem antes um pensamento indesejado invadir minha mente, Axel.

A raiva subiu como uma onda inesperada, quente e avassaladora. Eu ainda queria acertar as contas com aquele idiota. Ele não tinha ideia do quanto havia me magoado. Toda a confusão que ele causou, toda a dor que me fez passar... E tudo por ciúmes? Era patético.

— Não faça essa cara agora, Cali — Disse Zara, me tirando dos pensamentos.

— Que cara?

— A cara de quem está tramando como derrubar Axel. — Ela sorriu de canto. Zara parecia ter a habilidade de ler minha mente. — Isso pode esperar. Hoje, a única coisa que você vai derrubar é um coquetel.

Eu suspirei, deixando a tensão escapar com a respiração. Ela tinha razão. Eu ainda teria minha chance com Axel, mas não seria hoje. Hoje, eu queria aproveitar. Zara era boa em me lembrar de viver o momento, e por mais que eu estivesse grata por isso, parte de mim ainda sentia aquela raiva latente, quase como um lembrete de que não deixaria passar tão fácil.

Assim que chegamos ao bar, as garotas nos cumprimentaram com entusiasmo, e Zara já pediu dois drinks antes mesmo de nos sentarmos. Enquanto isso, deixei meu olhar vagar pelo parque, buscando, inconscientemente, um vislumbre de Kwon. Eu não conseguia evitar. Ele estava aqui, e por mais que eu quisesse focar no presente, ele fazia parte disso, quer eu gostasse ou não.

Mas, por enquanto, eu me permitiria fingir. Fingir que tudo estava bem. Fingir que hoje era só um dia leve, entre amigas, sob o sol brilhante e o som das risadas ao nosso redor. Eu precisaria dessa memória para me agarrar quando a realidade voltasse a bater à porta.

O tempo parecia passar mais devagar, mas de uma forma boa, como se cada segundo fosse uma pausa no caos da minha vida. Sentada ali no bar com Zara, Samantha e Devon, me senti, por um momento, uma adolescente normal, sem os pesos que costumam me cercar. As risadas eram leves, e o assunto ia de um lado para o outro, completamente aleatório, mas era exatamente disso que eu precisava.

— Ok, ok, mas sério, ninguém pode negar que Shawn Mendes é o pacote completo. — Zara falava com convicção, batendo a mão na mesa como se estivesse fazendo um discurso na ONU.

Eu revirei os olhos, segurando o riso.

— Ele é fofo, admito. Mas você já ouviu a voz do Bruno Mars? Sem chance, ele ganha de qualquer um.

— Bruno Mars é meio... Baixinho demais, não acha? — Devon provocou, arqueando a sobrancelha com um sorrisinho travesso.

— Altura não é tudo, Lee. — Retruquei, apontando para ela com meu copo. — O homem é pura energia, e aquela voz? Insuperável.

— Vocês são doidas. — Samantha interveio, rindo. — Não tem como competir com o Tom Holland. Ele é literalmente o Homem-Aranha, gente. E aquele sotaque britânico? Pelo amor de Deus.

— Ah, claro, o garoto legal que pode escalar paredes. — Zara zombou, balançando a cabeça. — Juro, gente, o Shawn é mais pé no chão.

— Literalmente. — Acrescentei, soltando uma risada, e Zara me deu um empurrãozinho de leve no braço.

Devon se inclinou para frente, olhando para todas nós.

— Vocês estão todas erradas. O Jaden Smith é o verdadeiro pacote. Ele é bonito, talentoso e tem um estilo impecável. Sem contar que ele é tipo... Super filosófico.

A conversa continuou assim por um tempo, saltando de um crush famoso para outro. Era engraçado como, por um breve instante, conseguimos deixar de lado nossas diferenças e rivalidades. No tatame, talvez fôssemos adversárias, mas ali, éramos só garotas rindo, compartilhando nossas preferências e defendendo nossas paixões com o fervor de quem realmente se importa.

Mas, como sempre, a tranquilidade não durou muito. Estava no meio de uma frase, explicando com veemência por que "Treasure" era a melhor música de Bruno Mars, quando o barulho de passos atrás de mim me fez virar a cabeça.

E lá estava ele. Robby.

Ele andava em direção à área do bar com aquele jeito confiante que sempre parecia irritar alguém. E, claro, Kwon não estava longe. Ele estava ali perto, conversando com alguém, mas assim que viu Robby, a postura mudou. O corpo ficou tenso, o maxilar travado. Eu quase podia sentir o ar mudar ao redor deles, como se uma tempestade estivesse se formando.

— Ah, não. — Murmurei, já sentindo a confusão no ar.

Zara, ao meu lado, bufou, rolando os olhos dramaticamente.

— Ignore. Só ignore. Se esses dois quiserem se matar, é problema deles.

Eu dei uma risadinha baixa, tomando um gole do meu drink.

— Aposto que Kwon vai querer brigar só pra se mostrar.

— Cem por cento. — Zara concordou, cruzando os braços e observando a cena com um sorriso irônico. — Ele vai fazer o maior show, só pra ver se você presta atenção.

— Eu pagaria pra ver. — Respondi, rindo, mas, por dentro, sentia a tensão crescente.

Robby finalmente se aproximou mais da área onde estávamos, e Kwon já estava caminhando na direção dele, os dois trocando olhares que não deixavam dúvidas sobre a animosidade entre eles. Era quase engraçado, se não fosse potencialmente tão desastroso.

Samantha olhou de Kwon para Robby e depois para mim, levantando as sobrancelhas.

— O que tá rolando entre esses dois?

— Longa história. — Respondi, suspirando e apoiando o queixo na mão.

Devon cutucou Samantha e sussurrou algo que eu não ouvi, mas as duas começaram a rir, provavelmente imaginando o drama que estava prestes a acontecer.

E ali estava eu, dividida entre querer assistir ao espetáculo e simplesmente levantar e ir embora para evitar o desastre anunciado. Mas, sinceramente, parte de mim queria ver o que Kwon faria. Ele sempre tinha esse jeito de exagerar nas coisas, especialmente quando se tratava de me impressionar.

Se ele ia brigar ou não, eu não sabia. Mas uma coisa era certa, o drama estava apenas começando.

Zara puxou meu braço com mais força do que eu esperava, me arrastando em direção ao que eu sabia que seria um espetáculo de egos e provocações. Eu protestei, tentando recuar.

— Zara, pelo amor de Deus, deixa eles se matarem sozinhos! — Reclamei, mas ela só revirou os olhos, como sempre, ignorando qualquer tentativa minha de ser sensata.

— Vamos logo, Calista, isso vai ser hilário! — Disse, já me empurrando para mais perto da "arena" improvisada, onde Robby e Kwon pareciam prestes a transformar um chute em algo digno de um torneio mundial.

Quando chegamos, pude ouvir a conversa se desenrolando. Aparentemente, Kwon tinha desafiado Robby para uma aposta, o que não me surpreendia nem um pouco. Ele vivia tentando se provar, e se fosse uma oportunidade de se exibir, especialmente na minha frente, ele não perderia por nada.

— Você chuta, depois eu chuto. Quem atingir mais alto, vence. — Kwon dizia com aquele tom confiante, quase arrogante, enquanto cruzava os braços e lançava um olhar de canto para mim.

— E o que eu ganho com isso? — Robby perguntou, franzindo o cenho, mas com um sorriso que não escondia o desafio em seus olhos.

— Se você ganhar, pode ficar com meu quarto no hotel. — Kwon sorriu. — Mas, se eu ganhar, seu quarto é meu.

Robby deu uma risada baixa, balançando a cabeça como se não acreditasse.

— Tudo bem, negócio fechado. — E assim, a competição começou.

Eu me encostei em uma pilastra próxima, cruzando os braços e tentando conter o riso. Zara, ao meu lado, cutucava meu ombro repetidamente, só para me provocar.

— Olha só ele se exibindo. Isso é pra você, sabia? — Ela sussurrou, mal disfarçando a diversão na voz.

— Para com isso. — Dei uma risadinha baixa, tentando manter uma expressão neutra, mas já prevendo o que viria. Kwon adorava um espetáculo.

Robby foi o primeiro. Ele deu alguns passos para trás, respirou fundo e, com uma técnica até que impressionante, conseguiu chutar alto o suficiente para atingir a parte média da cascata do brinquedo. As pessoas ao redor aplaudiram, admiradas, mas eu só conseguia pensar no quanto Kwon iria dramatizar sua vez.

E, claro, ele não decepcionou.

Kwon deu um passo à frente, todo teatral, e fez questão de olhar de canto para mim antes de se preparar para o chute. Quando finalmente o fez, foi mais alto que o de Robby, atingindo quase o topo da cascata. As pessoas aplaudiram ainda mais alto, mas ele ignorou todos, voltando ao chão com um sorriso estampado nos lábios, direto para mim.

Eu bufei, cruzando os braços, mas não consegui evitar um pequeno sorriso sarcástico.

— Uau. — Disse, com um tom propositalmente exagerado e falso.

Ele franziu o cenho, claramente ofendido, mas antes que pudesse responder, virou-se para Robby.

— Vou pegar a chave do seu quarto depois. Não se preocupe, eu deixo suas malas no corredor. — Disse, provocando, enquanto Robby revirava os olhos, claramente aborrecido.

Quando Kwon finalmente se aproximou de mim e de Zara, ele parecia estar cheio de si. Aquele sorriso presunçoso que eu conhecia tão bem estava ali, enquanto ele me olhava de cima a baixo.

— Você está linda. — Disse, já estendendo a mão como se fosse colocar na minha cintura, mas eu interceptei, segurando sua mão no ar.

— Belo chute. Era o melhor que você tinha? — Perguntei, arqueando a sobrancelha e lançando um olhar desafiador.

Ele riu, incrédulo.

— Como é que é?

Dei de ombros, fingindo indiferença.

— Quero tentar também.

Os olhos dele se estreitaram ligeiramente, surpresos, enquanto eu apontava para o imenso toboágua, o "Tubo Insano".

— Se eu chutar mais alto, você desce ali.

Ele olhou para o toboágua, depois de volta para mim, soltando uma risada nervosa.

— Tá brincando, né?

— Tá com medo de perder, gênio? — Provoquei, com um sorriso desafiador, sabendo muito bem que ele não poderia recuar agora.

Ele cruzou os braços, ainda rindo.

— Eu não tenho medo de nada. Vai em frente, dinamite.

Ajeitei os shorts e puxei o biquíni, certificando-me de que não sairia do lugar. Fechei os olhos por um momento, ouvindo as vozes dos meus treinadores na mente. Silver e Wolf podiam ter muitas falhas, mas eram excelentes senseis, e eu sabia que poderia usar o que aprendi com eles para me destacar. Respirei fundo, corri, e com toda a força e técnica que pude reunir, chutei.

Quando meu pé atingiu a cascata, a água chacoalhou violentamente, e o barulho dos aplausos e gritos me fez perceber que eu tinha acertado o topo.

Virei-me para Kwon, dando de ombros como se não fosse nada, mas com um sorriso vitorioso escondido.

— Odeio o fato de você ser incrível em tudo o que faz. — Ele murmurou, balançando a cabeça, mas não conseguindo esconder um sorriso divertido.

— E você ama isso. — Respondi, piscando para ele. — Mas agora... Você tem um toboágua pra descer.

Ele olhou novamente para o "Tubo Insano", visivelmente tentando manter a compostura enquanto engolia em seco. Ao fundo, Robby começou a provocá-lo, e as pessoas ao redor começaram a gritar o nome de Kwon, quase como uma torcida forçada.

Zara, ao meu lado, apenas cruzou os braços e sussurrou para mim, rindo.

— Isso vai ser divertido.

Enquanto Kwon subia lentamente as escadas do toboágua, o grupo o seguia com um entusiasmo cômico, como se estivessem acompanhando uma cerimônia solene. Zara, claro, não perdia a oportunidade de fazer comentários ácidos, enquanto Samantha e Devon riam e tagarelavam sobre o quão engraçado era vê-lo tentando manter a pose.

— Ele tá tão confiante, né? — Samantha comentou, mas com um sorriso de quem sabia que era tudo fachada.

— Coitado, mal sabe o que o espera. — Devon riu, enquanto Zara apenas balançava a cabeça.

— Conheço ele o suficiente pra saber que tá apavorado. — Murmurei, cruzando os braços enquanto caminhávamos.

Zara virou o rosto para mim com um olhar divertido.

— Ah, ele tá sim. Aposto que tá lembrando da vez da roda gigante.

Eu ri, lembrando-me de como Kwon ficou teorizando sobre todos os possíveis desastres enquanto estávamos lá em cima. "E se a roda travar? E se o vento aumentar? E se a gente simplesmente cair?" Ele tentou disfarçar o nervosismo, mas foi impossível não perceber.

Quando nos aproximamos da base do toboágua, a tensão parecia aumentar. Algumas pessoas ainda gritavam o nome de Kwon, incentivando-o como se ele fosse um herói prestes a enfrentar um dragão. Olhando para o topo, ele parecia minúsculo, um mero ponto contra o céu. Eu podia imaginar sua expressão de "por que eu aceitei isso?", mesmo sem vê-lo claramente.

E então, ele desceu.

O grito dele começou como um som abafado lá do alto, crescendo à medida que ele despencava em uma velocidade absurda. Era quase cômico como aquele som desesperado ia aumentando até que ele emergiu na piscina no final do toboágua, em uma onda que molhou metade das pessoas ao redor.

Zara e eu gargalhávamos tanto que tive que me segurar nela para não cair. Quando ele finalmente apareceu na superfície, tossindo e cuspindo água, olhou diretamente para mim com uma expressão que tentava, sem sucesso, ser imponente.

— Viu só? Nunca fujo de um desafio. — Ele declarou, ainda com água escorrendo do rosto e praticamente pingando drama.

Eu não consegui segurar o riso.

— Ah, é, arrasou, meu amor. — Respondi, com sarcasmo suficiente para fazê-lo revirar os olhos, mas o sorriso em seus lábios não se desfez.

Zara deu um passo à frente, apoiando-se no meu ombro enquanto ainda ria.

— Adoro quando você se humilha pra chamar a atenção dela. Quebra toda essa sua pose de machão.

A reação dele foi imediata.

— O que você disse, sua... — Ele começou, mas Zara simplesmente deu um aceno exagerado, já me puxando para longe.

— Tchauzinho, Kwon. — Ela disse, com aquele tom debochado que era quase impossível de ignorar.

Caminhando de volta ao bar, eu passei a mão no rosto, ainda rindo, e disse

— Preciso de uma caipirinha bem gelada depois dessa.

— Concordo plenamente. — Zara respondeu, erguendo o braço como se estivesse propondo um brinde imaginário.

Quando nos sentamos perto do bar, pedimos duas caipirinhas de morango e nos deixamos afundar nos assentos, finalmente aproveitando um momento de calmaria. Quando os drinks chegaram, Zara ergueu as mãos dramaticamente.

— Ah, finalmente os refrescos. — Declarou, como se fosse o ponto alto do dia.

Eu ri e tomei um longo gole pelo canudo, saboreando o doce gelado que descia pela garganta, já pronta para fazer um brinde a nós mesmas. Mas, então, algo prendeu meu olhar.

Ao virar para trás, ainda com o canudo entre os lábios, vi algo que imediatamente me fez perder o humor. Maria estava chegando. E, como se não bastasse a presença dela, que já era motivo suficiente para me fazer revirar os olhos, ela não estava sozinha. Sua equipe inteira a acompanhava, como uma comitiva de puxa-sacos prontos para obedecer qualquer ordem.

E entre eles... Yuri.

Suspirei profundamente, sentindo a irritação borbulhar em mim. Era como se o universo tivesse decidido colocar dois dos maiores incômodos da minha vida na mesma cena. Maria, com sua aura de arrogância inconfundível, e Yuri, o "herói" autoproclamado que parecia achar que precisava salvar minha alma ou algo do tipo.

Zara percebeu imediatamente minha mudança de humor.

— O que foi? — Ela perguntou, antes de seguir meu olhar. Assim que viu o grupo, soltou um longo suspiro. — Ah, não. Lá vem o circo.

Eu tomei outro gole da minha caipirinha, tentando me acalmar, mas não era fácil. Maria parecia sempre saber como estragar qualquer momento bom. Ela se aproximava como se fosse dona do lugar, lançando olhares que deixavam claro que estava ali para causar.

— É pedir muito querer um dia de paz? — Murmurei para Zara, que apenas deu de ombros.

— Bem, pelo menos vai ser divertido assistir você colocar essa piranha no lugar dela. — Ela respondeu com um sorriso malicioso.

Eu não pude deixar de concordar, mesmo que minha paciência já estivesse perto do limite. Se Maria queria estragar meu dia, eu estava pronta para estragar o dela também.

Obra autoral ©

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