29. 𝑭𝑳𝑨𝑺𝑯𝑩𝑨𝑪𝑲 ᯓ


࣪𓏲ּ ᥫ᭡ ₊ ⊹ ˑ ִ ֶ 𓂃 O CAPÍTULO A SEGUIR SE
PASSARÁ NO PASSADO, PORTANTO, NÃO É UMA CONTINUAÇÃO DA CENA DO ÚLTIMO CAPÍTULO, PORÉM, É ESSENCIAL PARA COMPOR A NARRATIVA. LEIAM ATENTAMENTE POIS SERÁ UM CAPÍTULO CRUCIAL PARA A CONTINUAÇÃO DA HISTÓRIA.

BOA LEITURA!

⋆౨˚ ˖

Algumas semanas atrás.

O quarto estava mergulhado em silêncio, exceto pelo som rítmico da respiração de Tory, que já dormia profundamente na cama ao lado. A luz da lua entrava fracamente pela janela, projetando sombras suaves nas paredes. Eu estava deitada na cama, mas o descanso parecia impossível. Meu corpo estava imóvel, mas minha mente era um campo de batalha.

Eu me remexia sob o cobertor, tentando encontrar uma posição confortável, mas o desconforto vinha de dentro. Minha cabeça estava cheia, meu peito apertado, e cada pensamento parecia se empilhar sobre o outro, me esmagando lentamente.

Fechei os olhos, tentando forçar o sono, mas a escuridão atrás das minhas pálpebras trouxe imagens que eu não queria ver. Minha mãe. O rosto dela estava sereno, imóvel... Morto. O caixão parecia maior do que eu lembrava, mas talvez fosse a minha mente distorcendo as memórias. Eu era pequena quando aconteceu, mas aquela cena sempre me perseguia.

O sorriso de Silver apareceu em seguida. Aquele sorriso maldoso, carregado de segundas intenções, como se ele soubesse de algo que eu nunca entenderia. Ele falava, mas suas palavras não faziam sentido. Seus olhos, no entanto, diziam tudo. Ele me via como uma peça em seu jogo. Sempre viu.

Então Kreese surgiu. Sua figura alta e imponente, me analisando com aquele olhar cortante. Ele parecia me julgar, como se cada movimento meu fosse errado, como se eu fosse uma traição viva apenas por existir. Em seus olhos, eu era um obstáculo. Algo que ele precisava controlar ou eliminar.

E então, meus amigos. Zara, Axel e Kenny. Seus rostos flutuavam em minha mente, mas suas expressões eram diferentes. Eram expressões de desprezo, de raiva, de decepção. Eles me consideravam uma traidora, uma impostora. Eu havia ido para o Cobra Kai, o lado que todos eles aprenderam a odiar. Eles não disseram com palavras claras, mas a expressão em seus rostos quando me viram entrar com aquele quimono expondo a cobra em um prateado vívido, valeu mais do que mil palavras.

Meu coração começou a bater mais rápido, e senti o suor escorrer pela minha nuca. Meus dedos apertaram o cobertor com força, como se isso pudesse me ancorar de alguma forma, mas não ajudava.

Abri os olhos de repente, encarando o teto. Eu estava acordada, mas parecia presa em um pesadelo vivo.

Me sentei na cama, passando as mãos pelo rosto, tentando acalmar minha respiração. Meu peito subia e descia rapidamente, como se eu tivesse corrido uma maratona. A luz fraca da lua iluminava o quarto o suficiente para que eu visse Tory, que dormia profundamente.

Ela parecia tão tranquila, tão alheia ao caos que se passava dentro de mim. Eu me perguntei como ela conseguia. Como ela conseguia carregar toda a dor, toda a pressão, e ainda assim encontrar paz o suficiente para dormir.

Me levantei devagar, tentando não fazer barulho, e fui até a janela. A vista dava para a cidade adormecida, luzes brilhando como pequenos faróis na escuridão. Eu apoiei a testa contra o vidro frio, tentando encontrar algum conforto na sensação.

Minha mente ainda estava em turbilhão. Tudo parecia desmoronar ao meu redor. Meu passado, meu presente, meu futuro. Eu me perguntava constantemente se tinha feito a escolha certa ao ir para o Cobra Kai. Kreese e Kim não eram exatamente aliados que inspiravam confiança, mas eles eram o que eu tinha. Ou será que não eram?

Meus amigos, por outro lado, eram a luz no meio dessa escuridão, mas até mesmo isso parecia instável. Cada interação, cada conversa, era carregada de tensão, de segundas intenções que talvez nem existissem de verdade, mas que eu sentia.

Eu cerrei os punhos, tentando afastar os pensamentos. Minha mãe dizia que eu era forte, que eu era capaz de enfrentar qualquer coisa. Mas será que ela diria isso agora? Será que ela estaria orgulhosa do que eu estava fazendo?

Fechei os olhos por um momento, tentando invocar sua voz em minha mente, mas a única coisa que consegui foi o vazio. O silêncio.

Minhas pernas estavam tremendo, e meu peito ainda parecia apertado. Senti as lágrimas começarem a se formar nos cantos dos meus olhos, mas pisquei rápido, recusando-me a deixá-las cair. Eu não choraria. Não agora.

Eu precisava encontrar uma maneira de seguir em frente.

Voltei para a cama, me sentando na beirada. O colchão cedeu sob meu peso, mas o conforto físico parecia insignificante. Meus olhos foram até Tory novamente. Por algum motivo, eu me senti grata por ela estar ali. Mesmo que ela não soubesse o que se passava dentro de mim, sua presença era um lembrete de que eu não estava completamente sozinha.

Respirei fundo, fechando os olhos mais uma vez. Eu precisava acreditar que isso era temporário, que as coisas iriam melhorar.

Talvez não agora, talvez não amanhã. Mas um dia.

O ar parecia pesado, como se algo estivesse pressionando meu peito, me impedindo de respirar completamente. Era sufocante. Cada tentativa de encher os pulmões parecia insuficiente, e eu me sentia como se estivesse me afogando, mesmo fora da água.

Eu olhei ao redor do quarto. O espaço que deveria ser meu refúgio agora parecia me prender, como se as paredes estivessem se fechando lentamente. Eu não podia ficar ali. Não agora.

Levantei-me da cama de repente, os movimentos quase automáticos. Peguei um casaco que estava jogado sobre a cadeira e o vesti, como se isso fosse me proteger do frio ou talvez da minha própria mente. Meu coração estava batendo rápido, não por ansiedade, mas por uma necessidade urgente de sair. De me afastar de tudo.

Olhei para Tory mais uma vez. Ela ainda dormia profundamente, alheia ao tumulto que eu sentia. Quis acordá-la, dizer que precisava de ajuda, mas o nó na minha garganta não me deixava. Eu estava sozinha nisso.

Abri a porta do quarto devagar, tentando não fazer barulho, e saí para o corredor. Assim que a porta se fechou atrás de mim, o silêncio do hotel me envolveu. Era quase opressor. O som dos meus passos no carpete parecia ser a única coisa viva naquele espaço deserto.

Parei no meio do corredor, olhando para os dois lados. Aonde eu iria? Não fazia ideia. Eu só sabia que não podia voltar para o quarto. Meu corpo estava tenso, e meus pensamentos eram um turbilhão. Tudo parecia tão confuso, tão errado.

A iluminação suave do corredor não ajudava a acalmar minha mente. As sombras projetadas pelas luzes pareciam me observar, como se soubessem de algo que eu não sabia. Passei as mãos pelo rosto, tentando me concentrar, mas a sensação de sufocamento não passava.

Eu me encostei na parede, tentando organizar os pensamentos, mas eles vinham em ondas, rápidos e intensos. Minha mãe. Silver. Kreese. Kwon. Zara. Axel. Kenny. Tory. Cada um deles ocupava um espaço na minha mente, cada um trazendo suas próprias complicações, suas próprias demandas.

O corredor parecia interminável, um reflexo da confusão dentro de mim. Eu comecei a andar, sem saber para onde. Meus pés se moviam por impulso, como se algo invisível estivesse me guiando.

A solidão era esmagadora. Mesmo cercada por pessoas que se importavam comigo, eu me sentia sozinha. Talvez fosse culpa minha. Talvez eu estivesse me afastando de propósito, criando barreiras para me proteger. Mas, no fundo, sabia que essa sensação de isolamento era mais profunda do que isso.

Eu parei de novo, encostando as costas na parede, tentando acalmar minha respiração. Por que eu tenho que ser assim? Por que nada parece o suficiente?

Olhei para a janela no final do corredor, a luz fraca da lua iluminando o vidro. O mundo lá fora parecia tão calmo, tão distante do caos que eu sentia por dentro. Talvez eu devesse sair para tomar ar fresco. Talvez isso ajudasse.

Me empurrei para longe da parede, ajustando o casaco ao redor do corpo, e comecei a andar novamente. Aonde eu iria, eu não sabia. Mas uma coisa era certa, eu precisava de espaço para respirar, quando aquele quarto tornara-se tão sufocante com o próprio eco de meus pensamentos.

Minhas pernas pareciam vacilar quando me virei, um impulso quase desesperado me puxando de volta na direção do meu quarto. Mas quando alcancei a porta, algo me impediu de entrar. O corredor parecia mais longo do que antes, e meu coração martelava no peito, como se eu estivesse correndo contra o tempo.

Quase sem pensar, passei pela minha porta e continuei andando. Algumas portas à frente, meus passos pararam. Por um instante, hesitei, minha mão pairando sobre a madeira fria. E se ele não quisesse me ouvir? E se eu fosse apenas uma inconveniência? Mas o aperto no meu peito não me deu escolha. Eu bati na porta.

Uma vez. Duas vezes. Três. Freneticamente, mas tentando conter minha urgência para não parecer desesperada, mesmo que fosse exatamente assim que eu me sentia por dentro.

A porta abriu. Kwon estava lá, o cabelo bagunçado, o olhar meio sonolento, mas alerta ao me ver. Ele franziu o cenho, a preocupação evidente em seu rosto.

— Dinamite? O que houve? Você está bem? Se machucou? — Ele perguntou, dando um passo para frente, os olhos me examinando rapidamente, como se procurasse algum ferimento.

Eu não consegui dizer nada. Em vez disso, meu corpo agiu por conta própria. Um sorriso surgiu em meus lábios, algo sincero, e antes que pudesse hesitar, envolvi meus braços em volta do pescoço dele.

O abraço foi apertado, quase desesperado, mas estranhamente confortável. Ele ficou imóvel por um segundo, como se estivesse tentando processar o que estava acontecendo. Mas então senti os braços dele ao meu redor, um toque firme, mas cuidadoso, como se ele temesse que eu me desfizesse em suas mãos.

Por um momento, o peso em meu peito diminuiu. O mundo ao meu redor parecia menos sufocante, menos aterrorizante. Tudo o que importava era aquele momento, aquele abraço.

Quando finalmente me afastei, ele parecia desconcertado, mas havia algo suave em sua expressão. Um pequeno sorriso surgiu no canto de seus lábios, embora seus olhos ainda carregassem a preocupação.

— Posso entrar? — Perguntei, minha voz baixa, quase tímida.

Ele inclinou a cabeça, o sorriso ganhando um tom brincalhão.

— Claro. Mas não sabia que você fazia visitas à meia-noite. Está precisando de uns beijos, comida ou os dois?

Revirei os olhos, mas não pude evitar sorrir.

— Idiota — Murmurei, dando um soco leve em seu ombro. Ele fingiu que doeu, segurando o braço dramaticamente, o que arrancou uma risada curta de mim.

Ele abriu espaço para eu passar, e entrei no quarto. O espaço parecia exatamente como eu imaginava, organizado, mas com um toque de descuido, como se ele não soubesse o que fazer com metade das coisas que tinha.

Eu me sentei na ponta da cama, sentindo meus ombros relaxarem pela primeira vez em horas. Ele fechou a porta, mas não disse nada. Apenas me observou por um momento, como se estivesse tentando entender o que me trouxe até ali.

— Então, o que aconteceu? — Ele finalmente perguntou, sentando-se na cadeira em frente à cama, os braços cruzados de maneira casual, mas os olhos ainda fixos em mim.

Eu o olhei por um instante, tentando encontrar as palavras certas. Mas elas não vieram. Tudo o que consegui foi um suspiro profundo, meus ombros caindo enquanto deixava escapar a tensão que parecia me consumir.

— Só... Não consegui ficar no meu quarto. Precisava de ar. E, de alguma forma, vim parar aqui — Admiti, sem saber exatamente o que esperava dele.

Ele não riu, não zombou. Apenas assentiu, como se aquilo fizesse sentido.

— Bom, eu não vou reclamar. Mas, se precisar falar sobre isso, estou aqui, mesmo que eu não seja o melhor dos conselheiros, sabe. — Ele disse, o tom leve, mas com sinceridade.

Eu sabia que ele queria entender, queria ajudar. E, de certa forma, só de estar ali, ele já ajudava. Eu não sabia exatamente o que estava sentindo, mas, naquele momento, estar ali com ele parecia a escolha certa.

O silêncio no quarto parecia mais pesado a cada segundo. Eu estava sentada na cama, olhando para minhas mãos enquanto brincava com os dedos, tentando reunir coragem para dizer o que estava preso na minha garganta. Kwon estava na cadeira, olhando para mim com uma expressão que misturava preocupação e curiosidade. Eu precisava falar antes que minha coragem desaparecesse completamente.

— Será que eu posso dormir aqui? — Deixei escapar, minha voz soando mais baixa do que eu pretendia.

Kwon congelou. Por um momento, ele apenas piscou, como se tentasse processar o que eu havia dito. Seu olhar passou de minha expressão para a cama atrás de mim e voltou para mim, como se procurasse alguma explicação.

— O quê? — Ele perguntou, a voz carregada de incredulidade.

Eu cruzei os braços, sentindo minhas bochechas queimarem, mas continuei, tentando não demonstrar o nervosismo que tomava conta de mim.

— Aí! Eu só... Não quero voltar para o meu quarto agora. É estranho, entende? Tory dorme tão pesado que parece que nem está lá. Eu me sinto sozinha. E... — Hesitei, olhando para ele com mais seriedade. — Acho que você também se sente assim, às vezes.

Ele abriu a boca para responder, mas nada saiu. Apenas passou a mão pelos cabelos bagunçados, como se tentasse organizar os pensamentos.

— Você quer... Dormir aqui? Tipo, aqui mesmo? — Ele apontou para a cama, os olhos arregalados.

Eu revirei os olhos, tentando não rir do nervosismo que ele não conseguia disfarçar.

– Não seja idiota. Não estou pedindo nada absurdo. Só... Companhia. Não sei, talvez seja bom para nós dois — Falei, minha voz mais firme agora.

Kwon soltou uma risada curta, mas dava para perceber que ele ainda estava tentando lidar com o pedido.

— Bom, eu nunca pensei que fosse ouvir isso de você, Dinamite. Sabia que em algum momento cairia em meus encantos. — Ele brincou, um sorriso nervoso surgindo no canto dos lábios. — Mas... Tudo bem. Eu acho.

Levantei a mão para interrompê-lo antes que ele começasse a dizer algo que pudesse me fazer desistir.

— Olha, eu sei que pode parecer estranho. Mas eu realmente não consigo voltar para lá agora. E você também sabe o que é ficar preso nos próprios pensamentos, não sabe?

Ele não respondeu de imediato. Apenas olhou para mim com uma expressão que parecia vulnerável, como se minhas palavras o tivessem atingido de alguma forma.

— Sim — Ele admitiu, sua voz mais baixa desta vez.

Eu me inclinei um pouco para frente, segurando a mão dele com firmeza. Senti os dedos dele ficarem tensos no início, mas logo ele relaxou, como se entendesse que eu não estava ali para exigir nada, mas para oferecer algo que ambos precisávamos.

— Talvez seja bom... Para nós dois — Repeti, minha voz quase um sussurro.

Kwon olhou para nossas mãos, depois para mim. Havia algo diferente em sua expressão agora, como se ele estivesse finalmente entendendo o que eu queria dizer. Ele suspirou, passando a mão livre pelo rosto, antes de soltar uma risada curta e nervosa.

— Tudo bem, Dinamite. Mas, só para deixar claro, se alguém perguntar, eu vou dizer que você invadiu meu quarto e me obrigou a isso — Ele disse, tentando aliviar a tensão com mais uma piada.

Eu ri, balançando a cabeça.

— Pode inventar a história que quiser. Só... Não fique falando isso muito alto.

Ele se levantou da cadeira e começou a arrumar o espaço. Puxou um cobertor extra do armário e o jogou sobre a poltrona.

— Então é isso, acho que eu vou para o chão — Ele murmurou, apontando para a poltrona improvisada.

— Nem pense nisso — Rebati, cruzando os braços. — Eu pedi para dormir aqui, mas isso não significa que você tem que se sacrificar.

Ele me lançou um olhar incrédulo, e por um momento, parecia que ia protestar, mas apenas deu de ombros, como se soubesse que discutir comigo seria inútil.

— Tudo bem, senhora dinamite, mas só porque eu não quero ouvir você reclamar amanhã.

Senti meus ombros relaxarem, e um pequeno sorriso surgiu no meu rosto. Talvez essa fosse a companhia que ambos precisávamos.

Nos deitamos lado a lado, e o quarto mergulhou em um silêncio que parecia ainda mais alto do que qualquer conversa. A escuridão era suavemente quebrada pela luz fraca do abajur ao lado, mas mesmo assim, o desconforto era quase palpável.

Eu olhei para o teto por alguns minutos, sentindo a tensão pairar no ar. Meu coração ainda estava acelerado, mas não de ansiedade, e sim daquela estranha energia que ele sempre me provocava. Finalmente, virei meu corpo na direção dele, apoiando o rosto na mão enquanto o observava. Ele estava tão rígido quanto uma estátua, encarando o teto como se aquilo fosse a coisa mais interessante do mundo.

Suspirei, tentando aliviar o clima.

— Sabe, quando te conheci, eu disse para mim mesma que jamais me deixaria levar. — Minha voz quebrou o silêncio, e ele virou o rosto para me olhar, os olhos arregalados, surpreso pela minha declaração repentina. — Eu pensei que nunca me envolveria com você. Que a única coisa que dividiríamos seria o tatame, e só.

Ele franziu as sobrancelhas, um sorriso pequeno e irônico surgindo no canto de seus lábios.

— Ah, é? E o que mudou?

Eu ri baixinho, balançando a cabeça.

— Eu me enganei, Kwon. E agora estamos aqui. — Apontei com a mão, como se o simples fato de estarmos compartilhando aquela cama fosse a prova irrefutável do quanto as coisas mudaram.

Ele soltou um suspiro curto, mas permaneceu em silêncio, me dando espaço para continuar.

— Lembra daquela vez que andamos pelas tubulações? — Perguntei, um sorriso brincando nos meus lábios.

— Difícil esquecer. Ainda tenho pesadelos sobre quase cair de lá — Ele respondeu, o tom carregado de sarcasmo, mas havia um brilho divertido em seus olhos.

— E da briga no karaokê? — Continuei, sabendo que aquela lembrança era uma ferida quase cômica agora para nós dois.

Kwon engasgou com o ar, se virando rapidamente para me encarar, os olhos arregalados.

— Você não vai mencionar isso agora, né? — Ele protestou, mas a indignação dele só me fez rir ainda mais.

— Por que não? Foi um dos momentos mais... Intensos entre nós — Brinquei, dando de ombros.

Ele passou a mão pelo rosto, como se estivesse tentando esconder a vergonha, mas não conseguia evitar o sorriso que agora escapava.

— Você é impossível.

— E você gosta disso — Retruquei, sorrindo enquanto o provocava.

Ficamos em silêncio por um momento, mas dessa vez era um silêncio confortável, algo que parecia diferente do desconforto de antes.

— A verdade é que eu já sentia algo por você desde aquela briga — Admiti, minha voz mais baixa, mas ainda firme. — Só que... Eu era orgulhosa demais para admitir. Até mesmo para mim mesma.

Os olhos de Kwon encontraram os meus, e havia algo em sua expressão que parecia mais suave, mais sincero.

— Desde aquela briga? Isso é sério? — Ele sorriu, mas não de um jeito sarcástico. Era um sorriso genuíno, um que fez meu coração acelerar.

— Não é pra tanto. — Afirmei revirando os olhos, o encarando mais afiada agora — Mas e você, hm?

Ele desviou o olhar por um momento, como se estivesse pensando em como responder. Então voltou a me encarar, um brilho sincero em seus olhos.

— Desde o momento em que bati os olhos em você, sabia que seria um problema — Ele disse, sua voz carregada de algo mais profundo.

– Um problema? – perguntei, erguendo uma das sobrancelhas.

Ele deu um sorriso curto, mas não desviou o olhar.

— Sim, um grande problema. Porque eu sabia que você mexeria comigo de algum jeito. Não sabia como, mas senti isso na hora. E foi só uma troca de farpas para eu ter certeza. — Ele fez uma pausa, o sorriso se aprofundando. — Mas você sabe o que é pior?

— O quê? — Perguntei, a curiosidade tomando conta de mim.

— Que desde aquele momento, eu soube que queria ter você como problema. Só que meu problema.

Fiquei sem palavras por um instante, sentindo minhas bochechas esquentarem com a intensidade do que ele disse. Era tão... Direto, tão Kwon.

— Você é mesmo impossível — Murmurei, rindo baixo.

Ele se virou de lado, apoiando o rosto na mão, espelhando minha posição.

— E você gosta disso — Ele devolveu, repetindo minhas próprias palavras, a voz mais baixa, mas cheia de algo que parecia genuíno.

Era como se o peso de tudo que nos cercava tivesse desaparecido naquele momento. Não havia Kreese, Silver, torneios ou rivalidades. Apenas nós dois, e as verdades que finalmente tínhamos coragem de admitir.

O silêncio voltou por alguns segundos, mas desta vez não era desconfortável. Era como se ambos estivéssemos assimilando tudo o que foi dito, como se cada palavra ainda ecoasse no ar. Foi quando decidi falar, sem realmente pensar muito antes.

— Sabe, Kwon... — Comecei, minha voz mais suave. — Quando isso tudo acabar... O torneio, as rivalidades, o caos... Talvez a gente possa tentar algo mais sério. Algo... Com um rótulo.

As palavras saíram com facilidade, ainda que eu estivesse hesitante. Mas quando olhei para ele, percebi o impacto que causaram. Ele desviou o olhar imediatamente, como se precisasse de um momento para processar. O rubor em seu rosto era evidente, mesmo na luz suave do quarto, e isso quase me arrancou uma risada.

Ele se sentou na cama, passando a mão pelos cabelos bagunçados, como se aquilo pudesse ajudá-lo a pensar.

— Você está falando sério? Tipo, sério mesmo? — Perguntou, virando o rosto para me encarar.

O tom dele era incrédulo, mas não havia dúvida no brilho em seus olhos. Ele queria acreditar.

Eu ri, sentando-me também, encarando-o de perto.

— Sim, gênio. Estou falando sério — Brinquei, colocando ênfase no apelido que eu sabia que o fazia revirar os olhos.

Antes que ele pudesse responder, segurei seu rosto entre minhas mãos. Sua pele estava quente sob meus dedos, e o olhar dele parecia mais intenso do que nunca.

— Você complica tudo, sabia? — Murmurei, tentando manter o tom leve.

Ele abriu um sorriso pequeno, mas não respondeu. Seus olhos se prenderam nos meus, e por um momento, parecia que o mundo tinha parado. Nenhum de nós falou, mas o silêncio não precisava ser quebrado.

Então, ele me puxou.

O beijo foi intenso desde o início, como se carregasse todas as emoções que tínhamos segurado até agora. Sua mão se encaixou na curva do meu rosto, enquanto a outra segurava minha cintura, me puxando para mais perto. Eu me perdi naquele momento, na forma como ele parecia tão vulnerável e tão decidido ao mesmo tempo.

Minha mão deslizou para seu ombro, e então para sua nuca, meus dedos se entrelaçando em seu cabelo. O gosto era de entrega, de algo que finalmente fazia sentido em meio ao caos que vivíamos.

Quando finalmente nos afastamos, nossas testas se encostaram, e ambos estávamos respirando com dificuldade.

— Acho que isso responde à sua pergunta — Ele murmurou, um sorriso pequeno, mas genuíno, surgindo no canto de seus lábios.

Eu ri, o som leve, mas ainda carregado de algo mais profundo.

— É, acho que sim — Respondi, a voz baixa, mas com um tom de certeza que nem mesmo eu sabia que tinha até aquele momento.

Era como se tudo ao nosso redor desaparecesse. Não havia torneios, não havia ameaças, apenas nós dois. E, por um breve instante, isso foi o suficiente. Agora eu posso afirmar que não há nada que possa impedir de nossos caminhos se cruzarem, e mesmo que ocorram milhares de tentativas, mesmo que eu acabe me afastando, já decidi que não posso controlar essa ardência em meu peito, e eu sempre, sempre vou acabar voltando para ele.



Obra autoral ©

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