28. Please, stay with me


⋆౨˚ ˖

I miss you, i'm sorry - Gracie Abrams.

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A noite era cortante, o tipo de frio que parecia se infiltrar pelos ossos, independentemente do quanto você tentasse se proteger. As ruas estavam praticamente desertas, com apenas o som ocasional de um carro passando ao longe. Eu caminhava sozinha, minhas botas ecoando fracamente contra o concreto molhado pela umidade. Cada passo parecia um lembrete do peso da decisão que eu estava tomando, embora não tivesse certeza se era a decisão certa.

O celular ainda estava firme na minha mão, como se fosse um escudo contra o desconhecido. O número desconhecido e a mensagem ameaçadora continuavam gravados na tela, um aviso claro de que não havia como escapar daquela situação. O endereço que recebi era um armazém velho, abandonado há anos, mas que de repente parecia vivo com segredos que eu não queria desvendar.

Meu coração estava acelerado, a adrenalina pulsando em cada célula do meu corpo. As palavras enviadas naquela mensagem ressoavam na minha mente como uma ameaça velada, "Se você não aparecer, sabe o que vai acontecer." Eu não sabia o que significava exatamente, mas podia sentir que não era nada bom.

Ao me aproximar do armazém, tudo ao redor parecia mais escuro. As luzes dos postes piscavam ocasionalmente, lançando sombras instáveis nas paredes de tijolos. O portão estava entreaberto, revelando uma fina faixa de luz vinda de dentro. O cheiro de ferrugem e mofo invadiu minhas narinas, e eu engoli em seco antes de dar o primeiro passo para dentro.

O armazém era cavernoso, com tetos altos e uma escuridão que parecia engolir tudo à medida que a luz das lâmpadas vacilantes se perdia na vastidão. O som dos meus passos ecoava alto demais, como se todo o espaço estivesse amplificando minha presença.

O que eu esperava encontrar? Talvez Silver ou algum dos capangas dele, com seu ar de superioridade e suas palavras manipuladoras. Talvez Wolf, que não hesitaria em me lembrar de como ele gostava de castigar qualquer desobediência. Mas o que eu não esperava era o que aconteceu em seguida.

Quando me aproximei do balcão no centro do armazém, onde algumas luzes fluorescentes quebravam a escuridão, uma figura se destacou da penumbra. Por um segundo, meu corpo congelou. Ele estava ali, sentado como se estivesse esperando há horas, as mãos entrelaçadas diante dele sobre o balcão metálico. John Kreese.

— Calista, você veio.

A voz grave dele atravessou o ar como uma lâmina, cortando qualquer pensamento que eu pudesse ter naquele momento. Meu estômago afundou, e minhas mãos começaram a tremer de novo. O que ele estava fazendo ali? Como? Por que?

— Sensei Kreese? — A surpresa foi evidente na minha voz, mas não consegui disfarçar a nota de pavor que veio junto. Tentei manter o mínimo de respeito pela nova relação de Sensei e aluna que temos, mas eu sentia uma pequena raiva mesclada de medo latente em meu peito.

Ele levantou-se lentamente, seus olhos fixos em mim como um predador analisando sua presa. Mesmo sob a luz instável, seu olhar parecia brilhar com uma intensidade perigosa.

— Você parece surpresa em me ver.

Meu coração estava martelando no peito. O silêncio entre nós era opressor, e o som da minha respiração parecia ecoar pelo espaço.

— Eu... pensei que fosse outra pessoa. — Gaguejei, tentando recompor minha postura.

Ele deu um passo à frente, seu sorriso frio nunca deixando o rosto.

— Ah, sim. Talvez você esperasse ver seu papai ou um dos seus lacaios. Mas não se preocupe, eu vim sozinho.

Isso não era tranquilizador. De jeito nenhum.

— Por quê? O que você quer de mim? — Consegui perguntar, embora minha voz estivesse carregada de tensão.

Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse avaliando a melhor maneira de responder.

— Eu queria conversar. Apenas isso.

Eu dei um passo para trás instintivamente, mantendo os olhos nele. Nada que vinha dele parecia soar como uma simples conversa amigável. Tem algo de muito errado nessa história, e temo que não será nada bom para mim.

— Conversar sobre o quê?

Kreese caminhou em minha direção, cada movimento dele era lento, mas calculado, como se estivesse testando minha reação.

— Sobre escolhas, Calista. Sobre lealdade. E sobre como você está se envolvendo em algo que talvez não compreenda completamente.

Minha mandíbula se apertou.

— Eu sei exatamente o que estou fazendo.

Ele soltou uma risada baixa, mas sem humor.

— Será? Você acha que pode confiar nos outros? Silver? Wolf? Até mesmo no Cobra Kai? Acredite em mim, Calista, lealdade é uma moeda rara. Mas eu sei reconhecer potencial quando vejo.

— Isso aqui não tem nada a ver com o Cobra Kai ou com o seu passado com Silver, não é?

— Ah, mas tem tudo a ver. — Ele se aproximou mais, até estar a poucos passos de distância. — Você está no meio de algo muito maior do que imagina. E se você não tomar cuidado, vai acabar sendo esmagada.

Eu não respondi de imediato, mas minhas mãos se fecharam em punhos ao meu lado. Sua falava soava como uma ameaça, se de fato, não fosse uma.

— Por que você está aqui, Kreese? Por que agora?

Ele hesitou por um momento, o sorriso desaparecendo brevemente.

— Porque você é importante, Calista. Importante demais para desperdiçar com pessoas que não têm sua melhor intenção em mente.

Eu engoli em seco, tentando ignorar a sensação de que ele estava, de alguma forma, conseguindo plantar dúvidas em mim. Eu sabia que seu jogo era como o de Silver, e não podia me deixar levar. Era tudo mentira. Tudo mentira.

— Se você acha que pode me manipular, está perdendo seu tempo.

— Manipular? — Ele riu novamente, mas dessa vez havia algo mais sombrio na risada. — Eu não preciso manipular você. Basta abrir seus olhos.

Ele parou, observando-me com um olhar que parecia furar minha alma.

— Faça suas escolhas, Calista. Mas lembre-se: nem todo mundo ao seu redor é confiável. E às vezes, as pessoas que mais confiamos são as que nos traem.

Isso parecia exatamente com algo que ele faria. Entregar-me confiança, e depois arrancá-la a força.

O silêncio que se instaurou no armazém era opressor, carregado de uma tensão quase palpável. Kreese permaneceu parado por um momento, como se estivesse considerando algo, e então, sem aviso, tirou um charuto do bolso. Ele o acendeu com calma, como se tivéssemos todo o tempo do mundo, antes de soltar uma risada baixa e gutural que fez minha pele arrepiar.

— Você está com medo, Calista? — Ele perguntou, o tom debochado enquanto caminhava em minha direção, o charuto entre os dedos.

Eu não respondi, mas dei um passo instintivo para trás, tentando manter a distância entre nós.

— Acho que deveria estar. — Ele continuou, dando uma longa tragada e soltando a fumaça devagar, como se quisesse me envolver nela. Seus olhos estavam fixos nos meus, uma expressão predatória que fazia meu coração bater como um tambor.

Eu recuei novamente, os pés hesitando, até que senti minhas costas baterem contra a parede fria e úmida do armazém. Um calafrio percorreu minha espinha.

— Você não pode ser uma Cobra Kai — Ele disse, a voz agora mais grave, carregada de algo que parecia ser desprezo. — Você não pertence a isso. Você é apenas mais uma peça no jogo de Silver, não é?

— Do que você está falando? — Retruquei, tentando manter a voz firme, mas havia uma rachadura na minha confiança.

Ele inclinou a cabeça, analisando cada nuance da minha reação, antes de dar outro passo à frente. A fumaça do charuto se espalhou entre nós, me fazendo querer tossir, mas eu segurei.

— Eu sei o que está acontecendo aqui. — Ele apontou o charuto para mim como se fosse uma faca. — Você é parte do plano dele, não é? Ele te mandou para o Cobra Kai para destruir tudo o que construí.

Eu ri, mas foi uma risada nervosa, quase forçada.

— Você está paranóico. Vocês dois são dois velhos paranóicos, na verdade... — Respondi, cruzando os braços para tentar parecer menos vulnerável. — Acha mesmo que eu estou em uma conspiração com Silver? Ele nem me vê como uma pessoa, Kreese.

Ele se aproximou mais, o olhar fixo como se tentasse dissecar cada palavra minha.

— Talvez. Mas eu não descarto possibilidades. E se for o caso... — Ele fez uma pausa, o olhar se estreitando. —  Eu posso acabar com isso aqui e agora.

Meu coração disparou. A ameaça implícita naquelas palavras me atingiu em cheio.

— Está disposto a me matar para vencer Silver ao menos uma vez? — Perguntei, a voz carregada de indignação e medo.

Ele não hesitou.

— Talvez.

Engoli em seco, tentando processar o que tinha acabado de ouvir. Por mais que Kreese fosse um homem manipulador e cruel, a ideia de que ele pudesse estar disposto a me eliminar ali, naquele instante, era aterrorizante.

— Você é um lunático. — Sibilei, tentando não deixar o medo transparecer. — Silver pode ser um psicopata, mas ao menos é esperto o suficiente para saber o que você está tentando fazer. E ele vai atrás de você, Kreese. Com aquele capanga cabeludo dele, com Wolf, com todo o arsenal que ele tiver.

— Eu não tenho medo dele. — Kreese retrucou, a voz baixa e cheia de convicção.

Eu bufei, balançando a cabeça.

— É isso o que você pensa. Mas você não tem ideia do quão pior ele se tornou nos últimos meses. Ele não vai hesitar em te matar, Kreese, e você sabe disso.

Ele deu uma risada baixa, sombria, mas não parecia impressionado.

— E você acha que vai sobreviver no meio disso tudo? É melhor cair fora, garota. Porque com você fora do jogo, talvez as coisas fiquem mais fáceis. Silver ainda é seu padrasto, afinal. Ele deve se importar... De algum jeito. Assim como Kwon parece disposto a afundar a equipe inteira por sua causa.

O nome de Kwon fez minha raiva borbulhar.

— Deixe Kwon fora disso. — Rosnei, dando um passo à frente, ignorando o medo que ainda apertava meu peito.

Kreese me encarou, o sorriso desaparecendo.

— Eu não posso perder essa oportunidade, Calista. Se você não sair do torneio, não sair do Cobra Kai, e, principalmente, não se afastar de Kwon, ele vai sofrer as consequências.

Minha respiração acelerou, e meus punhos se fecharam automaticamente. No que ele estava pensando, afinal? Ele teria coragem?

— Você não vai encostar em Kwon. — Murmurei entre dentes, cada palavra carregada de uma promessa silenciosa.

Ele riu novamente, como se minhas palavras fossem uma piada particular.

— Veremos.

Ele deu a última tragada no charuto antes de apagá-lo contra o balcão com um movimento deliberado.

— Você tem vinte e quatro horas, Calista. Suma. Ou as coisas vão ficar muito mais feias do que você pode imaginar.

Com isso, ele deu meia-volta e desapareceu na escuridão do armazém, me deixando sozinha. Fiquei ali por um longo momento, tentando recuperar o fôlego, tentando acalmar o tumulto de pensamentos e emoções que me consumia. Kreese estava disposto a tudo. E agora, mais do que nunca, eu sabia que o tempo estava se esgotando.

E eu simplesmente caí de joelhos no chão, o impacto reverberando pelo meu corpo como se a gravidade tivesse decidido me punir. Minhas mãos foram direto ao cabelo, puxando levemente enquanto minha cabeça pendia para frente, o peso das palavras de Kreese esmagando minha mente como um martelo.

As lágrimas começaram a cair antes que eu pudesse impedir, quentes e salgadas, escorrendo pelo meu rosto enquanto eu arfava em busca de ar. Meu coração parecia prestes a explodir, batendo com força suficiente para ecoar em meus ouvidos. Eu não sabia o que fazer. Não sabia como agir.

O que Kreese queria era claro. Ele queria que eu fosse embora, que desaparecesse, e a ameaça de machucar Kwon estava gravada em minha mente como uma cicatriz que não sararia. E o pior de tudo? Ele estava certo sobre uma coisa, eu estava me tornando um problema para Kwon. Para todos.

Meu olhar percorreu o chão, os pequenos detalhes do concreto manchado parecendo mais claros do que nunca. O karatê, algo que sempre foi meu refúgio, estava perdendo completamente o significado. O que antes era sobre disciplina, força e superação agora parecia reduzido a rivalidades psicóticas e conspirações incessantes entre homens que não conseguiam deixar o passado morrer.

E o pior pensamento de todos emergiu como uma lâmina cortando minha consciência. E se alguém realmente se machucasse? E se alguém morresse?

A ideia foi como um soco no estômago. Vi flashes de rostos conhecidos, Zara, Tory, Yoon, Axel ou então, Kenny. Pessoas que importam muito para mim. Mas foi o rosto de Kwon que mais se destacou. Sua expressão determinada e às vezes teimosa, o brilho nos olhos quando ele treinava ou ria de algo que eu dizia. Ele era... Tudo, e eu nem sei dizer quando ele se tornou tão importante para mim. Mas a ideia de vê-lo machucado por minha causa era insuportável.

— Isso não pode continuar. — Murmurei para mim mesma, minha voz quase inaudível.

Eu queria lutar. Queria continuar de pé, desafiar Kreese, Silver e qualquer um que achasse que podia me controlar. Mas não era só sobre mim agora. Se eu insistisse em ficar, alguém pagaria o preço, e eu sabia, no fundo, que não podia arcar com essa responsabilidade.

Respirei fundo, o ar entrando e saindo dos pulmões em um ritmo irregular enquanto minhas mãos tremiam. A decisão era dolorosa, como arrancar um pedaço da minha alma. Eu precisava sumir. Talvez não para sempre, mas pelo menos até que essa poeira maldita baixasse.

Fechei os olhos, tentando imaginar a conversa com Kwon. Como eu poderia explicar isso a ele? Ele não aceitaria. Ele ficaria furioso, insistiria que poderíamos lidar com tudo juntos. E, de certa forma, eu queria acreditar nisso também. Mas as palavras de Kreese ecoavam como um sino de alerta.

"Ele vai sofrer as consequências."

Eu me levantei com dificuldade, minhas pernas parecendo feitas de chumbo. Minhas mãos ainda tremiam enquanto eu tentava pensar no que fazer em seguida. A primeira coisa seria voltar ao hotel e pegar minhas coisas. Não podia deixar rastros. E, principalmente, não podia deixar ninguém me seguir.

Com passos vacilantes, saí do armazém. A noite estava fria, o ar carregado de umidade, como se o céu estivesse prestes a desabar. Caminhei pelas ruas desertas, minha mente correndo em mil direções. Cada som, cada sombra, parecia amplificado, como se o mundo conspirasse para me lembrar do quão sozinha eu estava naquele momento.

Quando finalmente cheguei ao hotel, o corredor estava silencioso. A luz fluorescente piscava levemente, lançando sombras desconfortáveis pelas paredes. Abri a porta do quarto com cuidado, tentando não fazer barulho. Tory estava dormindo, seus cabelos espalhados pelo travesseiro enquanto respirava tranquilamente.

Minha garganta apertou. Eu não queria deixá-los. Não queria deixar ele.

Com movimentos rápidos, comecei a juntar minhas coisas. Peguei o essencial, roupas, documentos, meu celular. Olhei para o uniforme Cobra Kai dobrado na cadeira do canto do quarto. Minha mão hesitou, mas, no final, deixei-o lá. Aquilo não me pertencia mais.

Antes de sair, escrevi uma mensagem no celular. Uma simples despedida para Tory e Yoon, algo curto e direto que não os colocaria em risco, as programando para serem enviadas mais tarde, no dia seguinte. Não queria causar esse alarde agora, daria tempo o suficiente para me procurarem. Para Kwon... Não consegui. As palavras não vinham. Como eu poderia dizer a ele que estava indo embora sem parecer uma covarde? Como poderia explicar que isso era por ele, mesmo que doesse tanto em mim quanto nele?

Enquanto descia pelo elevador, minhas mãos tremiam novamente. Cada segundo parecia uma eternidade. Quando cheguei ao saguão, o recepcionista me lançou um olhar curioso, mas não disse nada. Saí pela porta da frente e entrei na escuridão da noite, deixando para trás tudo o que eu tinha construído.

Enquanto caminhava pelas ruas desertas, o peso da decisão me esmagava, mas eu sabia que era a única escolha. Eu precisava desaparecer antes que fosse tarde demais. Por mim. Por Kwon. Por todos.

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Cheguei ao aeroporto com o peso do mundo nas costas. A mala que eu arrastava parecia conter não só as roupas e itens essenciais, mas também todos os pedaços da minha vida que estavam se despedaçando. Olhei em volta, tentando parecer tranquila, tentando convencer a mim mesma de que estava tomando a decisão certa, mas meu coração gritava o oposto.

O lugar estava movimentado, vozes e passos ecoando por todos os lados. Famílias se despedindo, casais trocando abraços, anúncios ecoando pelos alto-falantes. Tudo parecia tão normal, enquanto dentro de mim, tudo era um caos absoluto.

Minhas mãos tremiam enquanto eu segurava meu celular. A tela estava cheia de notificações, mensagens de Tory, Yoon e, claro, Kwon. As mensagens deles finalmente haviam sido entregues, depois de horas de silêncio forçado por meu celular estar no modo avião. Eu sabia que não podia ler as respostas. Sabia que se o fizesse, não teria forças para continuar andando.

Deslizei o dedo pela tela, apagando as notificações sem sequer abrir. Era cruel, mas necessário. A cada segundo que passava, sentia um aperto maior no peito. Eu estava fugindo. Não havia outra forma de encarar isso, mas não podia deixar que eles – que ele – pagassem o preço por algo que eu não conseguia controlar.

Eu já estava quase na fila de check-in quando o celular começou a vibrar. Era ele. Kwon.

Meu coração pulou no peito. Foram centenas de chamadas perdidas durante a noite passada, todas ignoradas, mas agora que ele finalmente tinha conseguido, eu não sabia se tinha forças para não atender. Minha mente dizia para deixar tocar, para seguir em frente, mas meu dedo já havia deslizado pela tela, e a ligação estava conectada.

— Calista? — A voz dele veio como uma explosão, cheia de desespero e alívio ao mesmo tempo. Ele estava sem fôlego, como se tivesse corrido uma maratona. — Onde você está? Pelo amor de Deus, me diz onde você está!

Eu fechei os olhos, respirando fundo. Minha garganta estava apertada, e as palavras pareciam presas. As lágrimas já estavam ameaçando cair, queimando meus olhos.

— Kwon, você precisa me esquecer — Consegui dizer, minha voz saindo mais trêmula do que eu esperava. — Não me procure. Não se envolva mais.

— O quê?! — Ele quase gritou, a indignação e o desespero transbordando. — Do que você está falando? Calista, me diz onde você está! A gente pode resolver isso juntos, eu...

Eu o interrompi, minha voz mais firme agora, mesmo que meu coração estivesse em pedaços.

— Você não entende, Kwon. É melhor assim. Por favor... Não insista.

— Calista, isso não faz sentido! Você está fugindo de quê? Foi o Silver? Foi o Wolf? O que aconteceu?

Eu podia ouvir a raiva misturada à preocupação na voz dele, e isso só tornava tudo mais difícil. Meu aperto no celular ficou mais forte, meus dedos quase brancos.

— Eu não posso explicar agora Murmurei, sentindo as lágrimas finalmente escorrerem pelo meu rosto. — Só... Cuide de você, Kwon. E não deixe nada disso te destruir.

Antes que ele pudesse responder, antes que ele pudesse dizer algo que me fizesse vacilar, eu desliguei a ligação. O som do fim da chamada ecoou na minha mente como um tiro.

Fiquei parada por um momento, respirando fundo e tentando me recompor, mas as lágrimas continuavam caindo. Meu corpo inteiro tremia, e eu senti como se estivesse quebrando por dentro.

É pelo bem dele — Repeti para mim mesma, como um mantra inútil. — É pelo bem dele. Pelo bem de todos.

Mas não importava quantas vezes eu dissesse isso, a dor não diminuía. Era como se algo estivesse sendo arrancado de mim, uma parte que eu nunca mais recuperaria.

Peguei minha mala e segui em direção ao portão de embarque. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, mas eu continuei. Não havia mais volta.

Enquanto caminhava, as palavras de Kreese ecoavam na minha mente, ameaçando Kwon, manipulando tudo como um mestre em seu tabuleiro de xadrez. E, mesmo que eu soubesse que Silver não era melhor, não conseguia me livrar da sensação de que Kreese era a maior ameaça naquele momento.

A voz de Kwon ainda ecoava em meus ouvidos, carregada de desespero e mágoa. Eu sabia que ele não entenderia. Como poderia? Eu estava partindo sem lhe dar uma explicação adequada, deixando-o cheio de perguntas e sentimentos que ele não merecia carregar.

Mas era isso ou colocá-lo em risco. E eu não podia permitir que algo acontecesse com ele. Não com Kwon.

Enquanto eu entregava meu bilhete e passava pelo portão, olhei para trás uma última vez, como se esperasse vê-lo ali, correndo atrás de mim, tentando me impedir. Mas, é claro, ele não estava lá. Ele não sabia onde eu estava.

O avião me esperava, e com ele, uma nova incerteza. Eu não sabia para onde exatamente essa decisão me levaria. Não sabia se estava salvando alguém ou apenas adiando o inevitável. Mas, naquele momento, tudo o que eu sabia era que não podia olhar para trás. Não podia voltar.

Entrei no avião, sentindo o peso da despedida, o peso de tudo o que estava deixando para trás. Enquanto o avião começava a se mover, fechei os olhos, tentando silenciar a voz de Kwon que ainda ecoava em minha mente. Eu precisava acreditar que estava fazendo a coisa certa. Mesmo que isso me destruísse por completo.

Eu me sentei perto da janela, tentando evitar qualquer contato visual com as poucas pessoas que começavam a ocupar os assentos ao meu redor. Meus dedos tremiam enquanto seguravam o celular, o peso do momento sufocante demais para ser ignorado. Tudo o que eu tinha agora eram as escolhas que fiz... E as que ainda doíam demais para enfrentar.

Minha respiração estava pesada, cada vez mais rápida, como se meu corpo estivesse tentando me alertar de algo. Era isso? O início de um ataque de pânico? Não, eu não podia me dar ao luxo de desabar ali, na frente de estranhos. Precisava me recompor, mas a verdade é que eu não sabia como.

Então, quase automaticamente, deslizei pelos aplicativos do celular. Meus olhos pararam em um arquivo de áudio. O arquivo. O único que eu nunca apaguei, não importa quantas vezes eu troquei de aparelho. Só de vê-lo ali, intacto, meus olhos começaram a arder e minha garganta ficou seca.

Com as mãos trêmulas, coloquei os fones de ouvido e apertei o play.

A voz dela.

Minha mãe.

Suave, mas tão firme quanto eu me lembrava, cheia de amor e de algo mais, algo que doía ouvir agora.

— Calista, meu amor... — A voz dela soava hesitante, mas doce. Parecia que ela estava sentada ao meu lado. Eu podia até imaginar sua expressão, o sorriso pequeno e gentil, os olhos que carregavam sempre mais do que diziam.

— Se você está ouvindo isso, é porque eu sabia que um dia você precisaria. Precisaria se lembrar de quem você é, mesmo quando o mundo tentasse te convencer do contrário.

Eu fechei os olhos e inclinei a cabeça contra o encosto do assento, tentando me ancorar naquela voz. Era como se ela tivesse preparado essas palavras para esse exato momento, mesmo sem saber o que estaria acontecendo comigo.

— Você é teimosa, Calista. Meu Deus, como você é teimosa.

Não pude evitar um sorriso amargo. Quantas vezes ela tinha me dito isso em vida?

— Mas isso nunca foi um defeito. É essa teimosia que faz de você quem você é. Faz você lutar pelo que acredita, pelo que acha certo, mesmo quando todo mundo diz para você parar. Você sempre foi assim. Lembra daquela vez que você caiu da bicicleta e cortou o joelho? Eu disse para você descansar, que a bicicleta estaria lá amanhã, mas o que você fez? Voltou para cima dela e tentou de novo. E de novo. E de novo, até conseguir.

Eu me lembrei daquele dia. Era uma memória vaga, mas ela estava lá, enterrada sob tantas outras. Era tão simples, mas naquele momento parecia um reflexo perfeito da confusão em que eu me encontrava agora.

— É claro que essa sua determinação tem um preço, meu amor. Às vezes, você esquece que não precisa carregar tudo sozinha. Você acha que precisa ser forte por todos, o tempo todo, e isso é injusto com você mesma.

Minha garganta ficou ainda mais apertada.

— Mas saiba disso, você é a pessoa mais corajosa que eu já conheci. Mesmo quando está com medo, e, sim, eu sei que você sente medo às vezes, mesmo que tente esconder de mim, você nunca deixa isso te parar. Você enfrenta o mundo de frente, como se ele não pudesse te derrotar. E sabe o que mais? Ele não pode.

Minhas lágrimas começaram a cair, quentes e silenciosas, queimando minha pele como brasas.

— Agora, se você está ouvindo isso, é porque as coisas provavelmente ficaram mais complicadas. Eu sei que você vai acabar convivendo com seu pai... Digo, Silver. E, bem, digamos que ele não é a pessoa mais fácil do mundo.

Eu ri baixinho, mesmo no meio das lágrimas. Claro que ela estava certa sobre ele. Ela sempre esteve.

— Eu sei que ele vai tentar te testar, manipular, talvez até te usar. Ele tem essa coisa, essa... Escuridão, eu só demorei tempo demais para perceber, e achei que com o tempo poderia arrancar isso dele. Mas você, Calista, é diferente. Você não é ele, e nunca será. Você tem algo que ele nunca terá, um coração que realmente se importa.

Cada palavra dela parecia cortar ainda mais fundo.

— Se as coisas ficarem difíceis, e vão ficar, porque a vida sempre encontra um jeito de ser difícil, só lembre-se disso, você não precisa ser perfeita. Você só precisa ser você mesma. Lute pelo que acredita. Não deixe que ninguém, nem mesmo ele, tire isso de você.

Minha mãe fez uma pausa, e eu quase podia ouvi-la respirar do outro lado da gravação. Como se ela estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras.

E quando o mundo parecer grande demais, pesado demais... Apenas lembre-se de que você nunca está sozinha. Eu estarei com você, sempre. Talvez não fisicamente, mas aqui...

Eu toquei meu peito sem pensar, como se tentando sentir sua presença.

Aqui, onde importa.

A gravação terminou, deixando um silêncio pesado no meu ouvido. Mas aquele silêncio carregava algo. Não apenas dor, mas também força. A força que ela sabia que eu tinha, mesmo que agora eu mesma não acreditasse.

Respirei fundo, limpando as lágrimas que não paravam de cair. Eu sabia que precisava ser forte. Só não sabia se ainda conseguia.

Eu me ajustei no assento do avião, tentando controlar a respiração, mas parecia impossível. Meu peito estava pesado, apertado, como se algo estivesse prestes a explodir dentro de mim. Liguei a pequena televisão em frente ao meu assento, mais para tentar desviar a atenção de tudo o que estava acontecendo dentro da minha mente do que por curiosidade genuína, eu sabia que as semifinais estaria prestes a começar, e queria ao menos dar um apoio, mesmo que distante, à quem merece. Mas, assim que a transmissão do Sekai Taikai começou, o mundo parou.

O que eu estava vendo não era um torneio. Era o completo caos.

Competidores lutavam fora dos limites do tatame, sem regras, sem controle. Sangue escorria no chão, golpes eram desferidos sem piedade, e o apresentador... Ele estava desmaiado, jogado em um canto, como se tivesse sido descartado. Eu fiquei congelada, incapaz de acreditar no que estava vendo. Era como se o lugar tivesse virado um campo de guerra.

E, então, eu o vi.

Kwon.

Meu coração parou por um segundo. Ele estava no centro da tela, caindo sobre a câmera, e o rosto dele apareceu mais de perto. Havia sangue escorrendo do nariz, um corte na sobrancelha, e seus olhos... Seus olhos estavam diferentes. Eram olhos tomados por uma raiva que eu nunca tinha visto antes, uma raiva que me assustou.

— Não... — A palavra escapou dos meus lábios em um sussurro tremido.

Minha mente gritava, meu corpo gelou, mas então, em um segundo, tudo se desfez. Antes que pudesse pensar, arranquei os fones de ouvido e me levantei de uma vez, quase derrubando a bolsa que estava no meu colo. Minha respiração estava descompassada, o coração martelando no peito.

— Eu preciso sair deste avião! — Minha voz soou mais alta do que eu pretendia, ecoando pela cabine.

Todos os olhares se voltaram para mim, passageiros e comissários. Eu não me importei. Nada importava além de sair dali.

Uma aeromoça veio correndo na minha direção, tentando parecer calma, mas eu via a preocupação no rosto dela.

— Senhora, por favor, sente-se. O avião está prestes a decolar.

— Eu não posso! — Gritei, a voz saindo embargada. — Por favor, eu preciso sair agora!

— Senhora, tente se acalmar. O embarque já foi encerrado.

Eu a ignorei completamente, empurrando meu caminho em direção à saída. Ouvi mais vozes tentando me impedir, mas era como se estivessem falando uma língua que eu não entendia. Eu precisava sair. Precisava voltar.

— Por favor! Deixe-me sair! Eu não posso decolar!

Alguém tentou segurar meu braço, mas me desvencilhei com um movimento brusco. Finalmente alcancei a saída do avião, e, para minha sorte, a porta ainda estava aberta enquanto verificavam os últimos preparativos. Corri pelo túnel de embarque com o coração disparado, sem olhar para trás.

O terminal estava movimentado, mas nada disso me parou. As pessoas resmungavam enquanto eu as empurrava, desesperada para chegar à saída. Kwon estava machucado. Ele precisava de mim. Eu não podia ficar ali enquanto tudo desmoronava.

Assim que cheguei à entrada, vi um táxi estacionado. Corri até ele, abrindo a porta com tanta força que o motorista me olhou assustado.

— Para o Sekai Taikai! — Gritei, minha voz saindo trêmula e apressada. — Rápido, por favor! Não importa o preço!

O motorista hesitou por um segundo, mas ao ver o meu rosto, pisou no acelerador sem mais perguntas.

Enquanto o carro avançava pelas ruas, meu peito parecia que ia explodir. As imagens da transmissão estavam gravadas na minha mente como uma cicatriz. O sangue, os golpes, a raiva nos olhos de Kwon... Eu sabia que algo muito errado estava acontecendo, algo que ia além do torneio.

Silver, Kreese... Eles tinham transformado tudo em um jogo de poder e destruição. E eu tinha fugido, pensando que estava protegendo todos, mas agora... Agora eu via que estava errada.

As lágrimas começaram a cair, silenciosas, mas quentes. Eu não devia ter fugido. Não podia ter deixado Kwon, Zara, Kenny... Todos eles para trás. Mas principalmente ele. As palavras da minha mãe voltaram à minha mente: "Você é corajosa, mesmo quando acha que não é."

Eu respirei fundo, tentando ignorar o medo que apertava meu peito. Eu precisava voltar. Precisava corrigir isso. Kwon precisava de mim. Eles precisavam de mim. E eu não iria mais fugir.

O táxi cortava as ruas iluminadas e o sol estridente reluzindo, mas eu mal percebia o que estava ao meu redor. Tudo parecia abafado, distante, como se o mundo lá fora não importasse mais. Minhas mãos estavam inquietas no colo, entrelaçadas de forma tão tensa que os dedos já começavam a doer. Mas era a dor dentro de mim que realmente importava, uma dor que parecia estar me rasgando ao meio.

Eu não conseguia parar de pensar no que tinha visto. O sangue no rosto de Kwon, os olhos dele... Tão cheios de raiva, tão diferentes do garoto teimoso e às vezes irritante que eu conhecia. Ele não era assim, pelo menos, ele não é mais assim. Não deveria ser assim. Algo muito errado estava acontecendo, e cada fibra do meu ser sabia disso.

De alguma forma, a culpa parecia queimar mais forte que o medo. Eu sabia que essa droga toda, de alguma forma, era minha culpa. Talvez fosse porque eu nunca tinha dado respostas claras a ele. Talvez fosse porque eu decidi fugir, acendendo uma faísca no tabuleiro de Kreese e Silver, sem sequer perceber. Cada escolha que eu fiz, cada palavra não dita... Parecia que tudo estava culminando nisso.

E se Kreese tivesse decidido que Silver precisava sair do jogo? E se ele realmente estivesse disposto a matá-lo? O pensamento me fazia estremecer. Eu odiava Silver, é claro. Ele era manipulador, cruel, e nunca hesitava em passar por cima de qualquer um para conseguir o que queria. Mas, por mais que odiasse admitir, ele era tudo o que eu tinha. Ele era a única coisa próxima de família que restava para mim.

E, ao mesmo tempo, havia Kwon.

Meu peito apertava tanto que parecia difícil respirar sempre que pensava nele. Kwon era tudo o que importava para mim. Não fazia sentido, mas era a verdade. Ele tinha essa habilidade infeliz de me tirar do sério e me fazer querer socá-lo, mas também de me fazer sentir coisas que eu nunca senti antes. Eu sabia que ele era impulsivo, que agia antes de pensar. Mas isso era parte do que o tornava ele. E, no fundo, era parte do motivo pelo qual eu não podia suportar a ideia de perdê-lo.

Se algo acontecesse com ele... Se ele se machucasse ainda mais... Eu não conseguiria me perdoar. A culpa já era pesada o suficiente, mas a ideia de vê-lo ferido ou pior por minha causa era insuportável. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, quentes e amargas. Eu tentei limpá-las com as costas das mãos, mas elas continuavam vindo, como uma correnteza que eu não podia controlar.

Minha mente estava em um turbilhão, alternando entre as imagens de Kwon machucado, Kreese com aquele olhar calculista, e Silver com seu sorriso frio e desdenhoso. Nenhuma dessas imagens me dava paz. E se Kreese realmente tentasse algo contra Silver? Ele era do tipo que transformava suas manipulações em violência. E se Silver revidasse? Eu sabia do que ambos eram capazes, e tudo isso me fazia querer gritar.

— Por favor, vá mais rápido. — Pedi ao motorista, tentando manter a voz firme, mas falhando miseravelmente. Ele assentiu em silêncio, acelerando um pouco mais.

Meus pensamentos voltaram a Kwon. Eu podia ver a cena com clareza, ele lutando, fora de controle, impulsionado por uma raiva que ele nunca soube como conter. Ele era assim, cheio de emoções que mal conseguia esconder. Mas essa raiva... Essa dor... Parecia ser algo completamente diferente. E se isso fosse o fim dele? E se Kreese o usasse como um peão, ou pior, como um sacrifício em seu jogo doentio contra Silver?

Eu passei as mãos pelo rosto novamente, tentando afastar esses pensamentos, mas era inútil. Eles estavam cravados na minha mente, repetindo-se como um filme de terror. O sentimento de culpa aumentava, sufocante. Talvez, se eu não tivesse fugido, se tivesse ficado ao lado dele... Talvez nada disso tivesse acontecido.

Minhas unhas cavaram nas palmas das mãos, tentando trazer alguma sensação física que distraísse o caos dentro de mim. Mas tudo o que eu conseguia sentir era a dor crescente no peito. O peso de todas as minhas escolhas. A sensação de que eu estava perdendo tudo e todos.

— Isso é culpa minha — Murmurei, quase sem perceber que havia dito em voz alta.

O motorista olhou de relance pelo retrovisor, mas não disse nada. Ele parecia entender que não era algo que ele poderia resolver.

Fechei os olhos e tentei respirar fundo, mas a sensação de sufocamento ainda estava lá. As palavras da minha mãe ecoaram na minha mente, quase como uma prece: "Você é corajosa, mesmo quando acha que não é."

Mas eu não me sentia corajosa agora. Eu me sentia perdida, quebrada, impotente. E, ainda assim, havia algo dentro de mim, uma faísca, que não deixava eu desistir completamente. Kwon precisava de mim. Todos eles precisavam de mim. Eu não podia mais fugir. Não podia mais me esconder. Não importava o que acontecesse comigo, eu tinha que chegar lá. Eu tinha que corrigir isso.

Enquanto o táxi acelerava pelas ruas, passei os braços ao redor do corpo, tentando me proteger do frio que parecia vir de dentro.

— Aguenta firme, Kwon. — Murmurei para mim mesma, minha voz trêmula e embargada. — Eu estou indo. E desta vez, não vou deixar ninguém te machucar.

O táxi parou bruscamente quando pedi para o motorista estacionar na rua que levava ao prédio do Sekai Taikai. Nem esperei que ele desligasse o carro. Abri a porta e pulei para fora, quase tropeçando na calçada. Meu corpo estava em chamas, não de calor, mas de pura ansiedade e medo.

— Ei, moça, você esqueceu de pagar! — Gritou o motorista, mas eu mal ouvi, ou melhor, mal tive tempo de relevar o que ele dizia.

Eu corri como se minha vida dependesse disso. Talvez dependesse, de fato. Talvez fosse a vida de outra pessoa que estivesse em jogo. A cada passo, o som do meu coração martelando nos ouvidos se misturava aos gritos abafados que vinham de dentro do prédio. Algo estava muito, muito errado.

Quando alcancei as portas da arena, meu corpo congelou por um instante. O que estava diante de mim era pior do que eu imaginava, caos absoluto.

Competidores estavam espalhados por todos os lados, trocando socos e chutes sem qualquer regra ou organização. O chão estava salpicado de sangue, pessoas caídas por toda parte, algumas tentando se levantar, outras completamente imóveis. Os gritos eram ensurdecedores, misturados ao som de corpos caindo com impactos secos que faziam meu estômago revirar.

Isso não é um torneio. Pensei, horrorizada. Era uma guerra.

Eu sacudi a cabeça, tentando afastar o choque. Não havia tempo para isso. Eu precisava encontrá-lo. Kwon. Onde ele estava? Ele estava bem? Eu precisava saber.

Comecei a me mover pelo labirinto de lutas, desviando dos competidores e tentando evitar ser atingida por golpes aleatórios. Meu coração batia descontrolado a cada rosto que eu via e que não era o dele.

Por favor, que ele esteja bem. Que ele esteja vivo.

— Ei, você! — Uma voz feminina ecoou acima do tumulto.

Levantei os olhos e vi Maria. A mesma garota da equipe espanhola que eu tinha derrotado sem piedade em uma das lutas anteriores. Seu rosto ainda carregava os hematomas daquela batalha, mas agora havia algo mais nos olhos dela, raiva. Raiva pura.

Ela deu alguns passos à frente, bloqueando meu caminho. As mãos cerradas em punhos, o corpo tenso como se estivesse pronta para atacar.

— Não agora, querida. — Eu bufei, irritada. — Sai do meu caminho.

Mas ela não se moveu. Em vez disso, deu um sorriso cínico, provocador.

— Achou que ia me humilhar e sair impune? Agora é minha vez, Calista.

Eu cerrei os dentes, sentindo a paciência se esgotar. Eu não tinha tempo para isso. Não quando cada segundo que eu perdia poderia custar a vida de Kwon. Mas Maria não parecia disposta a recuar. Ela avançou com rapidez, lançando um soco direto ao meu rosto.

Meus instintos assumiram o controle. Inclinei o corpo para trás, desviando por pouco, e me preparei para revidar. Apesar do desespero em meu peito, minhas mãos estavam firmes, prontas para lutar. Ela queria revanche? Tudo bem. Mas eu não ia perder tempo.

Maria atacava com força, mas sem precisão. Sua raiva a cegava, tornando seus movimentos previsíveis. Eu bloqueei um chute lateral e girei para o lado, desferindo um golpe com o cotovelo contra as costelas dela. O impacto a fez recuar, mas não a parou. Ela gritou, avançando novamente, e dessa vez tentei não me segurar. Acertei um chute baixo em sua perna, desequilibrando-a, seguido por um soco direto que atingiu seu maxilar.

Ela cambaleou, mas ainda assim tentou lançar outro golpe em minha direção. Meu sangue fervia. Eu estava cansada, irritada, e não tinha paciência para lidar com isso agora. Em um movimento rápido, segurei o pulso dela, girando o corpo e aplicando uma chave que a derrubou no chão com força.

A garota gemeu de dor, tentando se levantar, mas eu já estava pronta para finalizar. Com um chute no lado do rosto, ela caiu inconsciente.

Eu soltei um suspiro pesado, minhas mãos tremendo levemente. Não havia satisfação naquela vitória. Apenas frustração. Mas eu não tinha tempo para me lamentar. Kwon ainda estava lá no meio de toda a multidão de lutadores enlouquecidos, e eu precisava encontrá-lo.

Passei por cima do corpo desmaiado de Maria e voltei a correr, ignorando os olhares ao meu redor. Minha mente era um turbilhão de pensamentos e emoções, mas uma coisa estava clara, eu não pararia até encontrá-lo. Não importava o que fosse necessário enfrentar.

Eu corri pelos corredores destruídos, o som de gritos e golpes ecoando ao meu redor como uma trilha sonora de caos absoluto. Cada passo era pesado, cada respiração um esforço, mas eu não podia parar. Meu coração estava disparado, e meus olhos varriam o lugar freneticamente, procurando por ele. Kwon. Onde ele estava?

O cheiro de suor, sangue e adrenalina preenchia o ar, me deixando quase nauseada. O local parecia um campo de batalha repleto de corpos caídos, gritos de dor e de fúria, e lutas acontecendo por todos os lados. Era como se o mundo inteiro tivesse perdido o controle, e eu estava presa bem no meio disso.

Foi quando meus olhos captaram uma cena que me fez congelar por um instante. Tory.

Ela estava ali, enfrentando Zara. As duas pareciam completamente focadas uma na outra, como se o resto do caos ao redor não importasse. O olhar de Tory era de puro desafio, enquanto Zara parecia transbordar de raiva. Elas trocavam golpes brutais, sem hesitar, cada movimento carregado de intensidade.

Eu quis me aproximar, quis fazer algo para acabar com aquilo, mas sabia que não tinha tempo. As duas estavam em uma batalha que parecia pessoal, e nenhuma delas desistiria até que uma fosse ao chão. Eu precisava seguir em frente.

Me virei, engolindo o nervosismo que crescia em mim, e continuei correndo. Foi quando o vi.

Kwon.

Meu coração quase saiu pela boca. Ele estava lá, no meio de tudo, enfrentando Axel.

Axel parecia uma força da natureza. Seus golpes eram rápidos, precisos e carregados de uma raiva que eu nunca tinha visto nele antes. Era como se ele estivesse lutando para descarregar cada pedaço de ciúme, frustração e amargura que sentia por causa de mim.

Kwon não estava em uma posição melhor. Seu rosto estava machucado, havia sangue escorrendo da lateral de sua cabeça, mas seus olhos... Eles estavam diferentes. Era como se ele estivesse tomado por uma ira que não cabia dentro de si, uma fúria quase incontrolável.

Meu corpo travou por um momento ao ver os dois, mas o instinto logo tomou conta de mim. Eu precisava chegar até eles. Eu precisava impedi-los antes que fosse tarde demais.

Mas o caminho até eles era um verdadeiro inferno. Entre eu e eles, havia competidores enlouquecidos, lutando como se suas vidas dependessem disso. Eu não tinha escolha. Se quisesse chegar até Kwon, teria que passar por eles.

O primeiro foi um garoto da equipe canadense. Ele veio na minha direção com um chute alto, mas eu bloqueei com o antebraço, girando rapidamente e acertando um soco direto em seu estômago. Ele cambaleou para trás, mas antes que pudesse se recuperar, desferi um chute giratório que o derrubou no chão.

Outro lutador veio logo em seguida, uma garota da equipe espanhola que parecia determinada a me parar. Ela tentou me acertar com um soco, mas eu desviei, pegando seu pulso e torcendo-o para trás. Ela gritou de dor, e eu a empurrei contra a parede, derrubando-a com um chute no joelho.

Meu coração estava disparado, o sangue pulsando em meus ouvidos. A cada lutador que eu enfrentava, a raiva crescia dentro de mim. Não porque eles eram meu alvo, mas porque estavam me impedindo de chegar até Kwon. Eu precisava chegar até ele. Precisava protegê-lo.

Outro adversário tentou me atacar pelas costas, mas ouvi seus passos a tempo. Me abaixei, desviando de seu golpe, e girei o corpo, acertando uma rasteira que o fez cair com força. Antes que ele pudesse se levantar, desferi um chute direto em seu rosto, deixando-o inconsciente.

Eu mal respirava. Meu corpo se movia no automático, cada golpe guiado pela urgência de chegar até Kwon. O som dos gritos e dos impactos ao meu redor se tornava cada vez mais abafado, como se o mundo inteiro estivesse se fechando ao meu redor.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, eu os alcancei.

Axel e Kwon ainda estavam lá, no meio de sua luta. O rosto de Axel estava sujo de sangue e suor, mas ele parecia incansável. Seus golpes eram rápidos, precisos, e havia um brilho de satisfação cruel em seus olhos. Ele estava aproveitando aquilo, e eu parecia estar diante de alguém que não conhecia. Ele estava cego pela raiva.

Kwon, por outro lado, parecia diferente. Ele estava lutando como um animal encurralado, movido por algo além da raiva. Era como se ele estivesse tentando provar algo, não apenas a Axel, mas a si mesmo.

Eu senti meu peito apertar ao vê-lo daquele jeito. Ele estava machucado, sangrando, mas não desistia. A cada golpe que recebia, ele se levantava de novo, avançando com ainda mais força. Mas eu sabia que ele não aguentaria por muito mais tempo.

— Parem! — Minha voz ecoou, mas foi como se ninguém tivesse ouvido.

Eles estavam completamente absortos um no outro, ignorando tudo ao redor. Eu precisava intervir ou eles iriam matar um ao outro.

Sem pensar, avancei em direção a eles, o coração na garganta e os punhos cerrados. Eu não sabia o que faria, mas sabia que não podia deixá-los continuar. Não quando Kwon estava se destruindo daquela forma.

O caos ao meu redor parecia se intensificar a cada segundo. Eu corri em direção a Kwon e Axel com todas as forças, meu coração disparado e minha mente focada apenas em alcançá-los antes que algo pior acontecesse. Foi quando nossos olhos se encontraram.

Os olhos de Kwon me encontraram por um instante, e ele congelou. Havia algo naquele olhar, dor, fúria e algo mais que eu não conseguia decifrar. Meu coração parou, e o ar ficou preso na minha garganta. Mas aquele momento foi o suficiente para Axel aproveitar.

Eu vi o soco antes mesmo de ele acertar. Axel desferiu um golpe direto no rosto de Kwon, e o impacto foi tão forte que ele cambaleou para trás, quase caindo. Meu grito saiu antes que eu pudesse pensar.

NÃO!

Minha voz cortou o caos, mas ele não teve chance de reagir. O sangue escorria do canto de sua boca, e Axel parecia pronto para desferir outro golpe. Eu não pensei. Corri em direção a Axel, meu corpo movido por puro instinto, pronta para atacá-lo.

Mas antes que eu pudesse alcançá-lo, senti algo ao redor da minha cintura. Fui erguida do chão de repente, meu corpo sendo puxado para longe como se eu fosse uma boneca. Gritei, esperneei, tentando me soltar, mas a mão que me segurava era firme, forte.

– O que diabos você está fazendo? Me solta!

Meu grito saiu tão alto que senti minha própria garganta arder. Me virei, tentando ver quem estava me segurando, e o rosto que encontrei fez meu sangue gelar. Sensei Wolf.

– Silver quer vê-la, garota – Ele disse, a voz grave e fria. Seus olhos eram tão implacáveis quanto eu me lembrava, carregados com aquela mesma crueldade que sempre me dava calafrios.

– Eu não vou a lugar nenhum! – Gritei, lutando contra ele, tentando me soltar.

Mas ele apenas riu, como se minha resistência fosse algo engraçado para ele.

– Não torne isso mais difícil do que precisa ser, Calista.

– Me solta agora!

Minhas pernas se debateram, e eu consegui acertar um chute em seu peito, o suficiente para que ele me soltasse. Assim que meus pés tocaram o chão, me virei para ele, erguendo os punhos, com o coração disparado e o sangue fervendo.

– Eu não vou a lugar nenhum, Wolf. Se Silver quer me ver, ele que venha aqui.

Ele ergueu uma sobrancelha, como se achasse aquilo um desafio infantil.

– Eu não vou brigar com você, garota. Isso não seria justo.

Eu dei de ombros, sentindo a raiva tomar conta de mim.

– Que pena. Porque eu vou brigar com você.

Antes que ele pudesse responder, avancei. Meu soco foi direto e rápido, mirando em seu rosto. Ele desviou com facilidade, mas eu não parei. Meu corpo se movia como se estivesse em chamas, e a raiva me guiava. Acertei um chute lateral que ele bloqueou com o antebraço, mas aproveitei a abertura para girar e desferir outro chute em sua perna.

O impacto o fez recuar um passo, mas ele não parecia abalado. Em vez disso, sorriu, como se estivesse se divertindo.

– Você é boa, garota. Mas não o suficiente.

Ele se moveu com uma velocidade que me pegou de surpresa, desferindo um soco em meu ombro que me fez perder o equilíbrio por um momento. Mas me recuperei rápido, recuando alguns passos para criar espaço.

– Isso é tudo o que você tem? – Perguntei, minha voz cheia de sarcasmo e carregada de um ódio descabido em meu peito.

Ele riu novamente, como se minha provocação fosse um jogo para ele.

– Você vai descobrir, garota.

Ele avançou dessa vez, desferindo uma série de socos que mal consegui bloquear. Seus golpes eram rápidos, precisos e carregados de força. Cada impacto fazia meu corpo estremecer, mas eu não recuei. Desviei de um soco direto e aproveitei para me abaixar, girando o corpo e desferindo uma rasteira.

Ele tropeçou, mas não caiu. Antes que eu pudesse me levantar, ele chutou em minha direção. Rolei para o lado, me esquivando por pouco, e saltei de volta para os pés.

A dor em meu ombro latejava, mas eu a ignorei. Avancei novamente, acertando um soco em seu estômago e, em seguida, um chute giratório que finalmente o fez recuar. Mas ele ainda estava de pé, ainda sorrindo.

– Você tem potencial, garota. Mas ainda tem muito a aprender.

Minhas mãos estavam tremendo, e minha respiração estava descompassada, mas eu não ia desistir. Não enquanto ele estivesse entre mim e Kwon. Eu me preparei para outro ataque, cerrando os punhos e sentindo o sangue pulsar em meus ouvidos. Essa luta ainda não tinha acabado.

Wolf parecia ter decidido que não ia mais pegar leve. Seu sorriso sádico sumiu, dando lugar a uma expressão sombria e determinada. Quando ele avançou novamente, sua velocidade me surpreendeu. Antes que eu pudesse reagir, senti o impacto de seu punho no meu ombro, o que me fez cambalear para trás.

A dor disparou pelo meu corpo, mas eu me recusei a recuar. Engoli um gemido e avancei novamente, girando o corpo para desferir um chute. Ele o bloqueou com facilidade, mas eu aproveitei para tentar outro ataque, um soco direto em seu rosto. Ele desviou, rápido como uma serpente, e revidou com um chute em minha costela que quase me tirou o fôlego.

Eu tropecei, mas me recuperei rapidamente. Eu não podia desistir. Não agora. Não quando Kwon estava lá do outro lado, precisando de mim, precisando de alguém que o lembrasse sobre ter controle.

Wolf era muito mais experiente. Cada golpe que ele desferia era preciso, calculado. Ele sabia exatamente onde atacar para causar o máximo de dano. Mas eu não estava lutando apenas com técnica. Eu estava lutando com raiva, determinação, e algo que ele não podia entender. Eu estava lutando por Kwon.

Ele tentou me acertar com outro soco, mas eu me abaixei no último segundo, girando o corpo e desferindo uma rasteira. Dessa vez, ele não foi rápido o suficiente para se equilibrar. O impacto de seu corpo contra o chão foi alto, e eu aproveitei o momento.

Sem perder tempo, corri na direção de Kwon.

– Kwon! – Gritei, minha voz ecoando pelo espaço.

Eu precisava chegar até ele. Meu coração parecia que ia explodir a cada passo, e minha visão estava turva com as lágrimas que ameaçavam cair. Mas eu não podia parar. Não agora.

Quando finalmente os avistei, meu estômago deu um nó. Axel e Kwon estavam lutando com uma brutalidade que me fez congelar por um segundo. Não era mais uma luta. Era uma tentativa de se destruir.

Axel estava ensanguentado, o rosto inchado e com vários cortes, mas ele parecia incansável. Havia algo em seus olhos, uma mistura de ciúme, raiva e algo mais sombrio, como se ele estivesse se afogando em suas próprias emoções.

Kwon, por outro lado, parecia irreconhecível. Seu rosto também estava ferido, com sangue escorrendo do nariz e de um corte acima da sobrancelha. Mas seus olhos estavam tomados por uma fúria que eu nunca tinha visto antes. Era como se ele estivesse completamente cego pela raiva.

Axel avançou com um soco direto, mas Kwon desviou e revidou com um chute no joelho, que fez Axel cambalear para trás. Sem dar tempo para ele se recuperar, Kwon desferiu uma sequência de socos em seu estômago e rosto, cada golpe mais forte do que o anterior.

– Kwon, por favor! – Gritei, minha voz quase se perdendo no meio do caos.

Ele não ouviu. Ou talvez tenha ignorado. Axel conseguiu revidar com um chute lateral, que acertou as costelas de Kwon, fazendo-o recuar por um momento. Mas Kwon não desistiu. Ele avançou novamente, como uma tempestade, desferindo um soco direto no rosto de Axel que o fez cair no chão.

Kwon! – Gritei novamente, minha voz quase desesperada.

Eu corri em direção a eles, tentando alcançá-los antes que algo pior acontecesse. Axel estava tentando se levantar, mas Kwon o segurou pela camisa, pronto para desferir outro golpe. O olhar em seus olhos me assustou. Não havia nada além de raiva e dor.

– Por favor, pare... – Minha voz falhou, quase um sussurro.

Kwon congelou por um segundo, seus olhos encontrando os meus novamente. Havia algo ali, algo que me fez sentir um aperto ainda maior no peito. Mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Axel aproveitou a abertura e acertou um soco no rosto de Kwon.

A visão de Kwon cambaleando para trás, o sangue escorrendo ainda mais pelo rosto, foi o suficiente para me fazer avançar com tudo.

Eu me joguei entre eles, erguendo os braços para bloquear Axel.

– Já chega, seu grande idiota! – Gritei, minha voz finalmente saindo com toda a força que eu tinha.

Axel tentou avançar novamente, mas eu o empurrei com toda a força que tinha.

Chega, Axel! Isso não vai resolver nada, você não vê o que está fazendo? A que ponto chegou?

Ele me olhou, seus olhos ainda fervendo de raiva, mas recuou por um momento. Meu corpo estava tremendo, e minhas mãos estavam cerradas em punhos, mas eu não recuei. Virei para Kwon, que estava respirando com dificuldade, o olhar ainda fixo em Axel.

– Acabou. Por favor, Kwon. Me diz que acabou.

Ele finalmente abaixou os punhos, mas a dor em seu rosto era evidente. Eu sabia que essa batalha não era só física. Era algo muito mais profundo, algo que eu não conseguia alcançar. E isso me quebrava ainda mais por dentro.

O caos ao meu redor parecia se intensificar a cada segundo, cada som, cada movimento se misturando em um redemoinho que ameaçava me engolir. Kwon estava parado, respirando pesado, enquanto Axel o encarava com uma expressão de pura provocação.

– O que foi, Kwon? Vai se esconder atrás da sua namoradinha agora? – Axel disse, com um sorriso cínico.

Eu vi o rosto de Kwon mudar. Ele deu uma risada alta, cheia de sarcasmo e fúria, mas havia algo perigoso naquela risada. Antes que eu pudesse gritar para ele parar, Axel avançou, desferindo um chute brutal na lateral do rosto de Kwon.

Kwon caiu no chão, a dor evidente em seu rosto, mas ele não ficou ali por muito tempo. Quando voltou a se levantar, sua mão encontrou algo próximo ao chão, a faca. A faca de Kreese.

Eu vi quando ele tirou a lâmina do suporte, os olhos brilhando com algo que me fez estremecer.

– Agora você vai sentir, Axel – Kwon disse, sua voz baixa e carregada de uma raiva que parecia sufocante.

Ele começou a correr na direção de Axel, a faca brilhando sob as luzes oscilantes do local. Meu coração parou.

NÃO – Gritei, mas minha voz foi abafada pelos gritos e sons de luta ao redor.

Antes que eu pudesse me mover, senti uma mão agarrar meu cabelo com força, puxando minha cabeça para trás. Um grito escapou de meus lábios enquanto eu tentava me soltar, mas a garota que me segurava era forte.

– Quem diabos você pensa que é? – Ela rosnou, antes de tentar me dar um soco.

Instintivamente, bati meu cotovelo no rosto dela, o impacto forte o suficiente para fazê-la recuar. Mas isso só a deixou mais irritada. Ela avançou novamente, desferindo um soco que eu mal consegui bloquear.

Eu estava dividida. Parte de mim lutava contra a garota, mas a maior parte estava fixada em Kwon e Axel. Meu peito apertava cada vez mais enquanto os via se enfrentando, golpes sendo trocados com uma brutalidade que me dava náuseas. Kwon ainda segurava a faca, e Axel parecia determinado a provocá-lo ainda mais.

A garota me acertou um chute na lateral do corpo, me jogando para o lado. A dor foi aguda, mas não o suficiente para me parar. Eu me levantei, respirando pesado, e dei um chute giratório que a acertou no rosto. Ela caiu no chão, desacordada.

Sem perder tempo, corri na direção de Kwon.

– Kwon, não pode continuar com isso! — Gritei, empurrando qualquer um que estivesse no meu caminho. — SOLTA ESSA DROGA DE FACA!

Os dois ainda estavam trocando golpes, mas havia algo ainda mais selvagem na forma como lutavam agora. Axel conseguiu acertar um chute no estômago de Kwon, que recuou um passo antes de pular para desferir um chute. Axel, rápido, deu um chute em seu pé, desequilibrando-o.

Eu vi quando Kwon caiu no chão, ainda segurando a faca.

Meu corpo se moveu antes que minha mente pudesse processar. Eu corri na direção deles, meu fôlego curto, meu peito apertado. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, como se o chão estivesse se desfazendo sob mim.

E enquanto Kwon parecia cair lentamente, a lâmina brilhava quando ele ergueu a mão, e eu sabia que tinha que agir. Eu não podia permitir que isso continuasse.

Meu corpo se lançou para frente com tudo que eu tinha, minha mente focada apenas na faca. Minhas mãos tocaram o cabo, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, tudo ao meu redor ficou preto.

O som se foi. O caos desapareceu. E eu fui engolida pela escuridão.


Obra autoral ©

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