19. Man, am i the greatest?



⋆౨˚ ˖

The Greatest - Billie Eilish

O Sekai Taikai era um mar de barulhos e luzes, mas minha mente estava mergulhada num caos ainda maior. As palavras de Silver ecoavam como um tambor incessante. "Destrua o que estiver à sua frente." "Compaixão é para fracos." Era como se minha dor física e mental tivesse sido moldada em uma arma que ele queria que eu usasse. Minha mão latejava. A bandagem apertada tentava conter o sangue e a dor, mas ela estava ali, pulsando como um lembrete constante. Meus olhos traíram minha resolução por um segundo e encontraram Kwon. Ele estava no tatame, implacável, devastando seus adversários com precisão e fúria. Cada golpe parecia uma declaração, um grito mudo que eu não queria ouvir. Era impressionante, sim, mas assistir aquilo só fazia o nó no meu peito apertar. Orgulho, dor, e algo que eu não queria admitir.

"Foco, Calista", me repreendi mentalmente, desviando o olhar. Eu não podia me dar ao luxo de vacilar, não outra vez, não quando havia muito em jogo.

— Iron Dragons! — A voz grave do apresentador ecoou, chamando-nos ao tatame. Era a nossa vez.

Axel, Zara e eu nos posicionamos lado a lado. O nome da nossa equipe rugia pelos alto-falantes, aclamado pela torcida, mas tudo o que eu ouvia era o som abafado da minha própria respiração. Não era só a luta. Era o que essa luta simbolizava. Não apenas vencer, mas esmagar qualquer vestígio de dúvida, seja em mim, em Silver, ou em qualquer um que questionasse o que eu era capaz de fazer.

Os oponentes eram habilidosos, mas hoje não havia espaço para hesitação.

A primeira luta começou com Axel. Ele enfrentou um oponente com um estilo de luta misto, rápido e estratégico, mas Axel estava em seu ápice de motivação, aparentemente. Ele bloqueava os ataques com facilidade, mantendo o corpo leve e em constante movimento. Com um salto ágil, ele aplicou um chute lateral giratório, acertando o estômago do oponente com força suficiente para derrubá-lo. Axel era um estrategista nato, e ao ver a guarda aberta, finalizou com um uppercut rápido e eficiente. Primeiro ponto, Iron Dragons.

Zara foi a próxima, sua expressão era séria, mas os olhos brilhavam com determinação. Ela enfrentou uma oponente igualmente agressiva. Zara se moveu como uma dançarina, desviando dos ataques e lançando contra-golpes precisos. Após uma esquiva elegante, ela acertou um chute direto no queixo da garota, desestabilizando-a. Antes que a adversária pudesse reagir, Zara girou, desferindo um chute em gancho que a derrubou com brutalidade. Segundo ponto nosso.

E então foi a minha vez.

O terceiro oponente entrou no tatame. Ele era maior, com uma postura firme, emanando confiança. Não importava. Minha mão latejava, mas minha raiva queimava ainda mais forte. Aparentemente, tudo parecia ser uma constante afronta à mim, como um oponente mais alto, mais forte, mas isso só servia para fortalecer minha determinação. Eu não perderia.

O juiz deu o sinal, e ele avançou rápido, tentando um soco direto. Inclinei-me para o lado, desviando por pouco, e devolvi com um chute frontal, acertando seu peito e o afastando. Ele tentou recuperar o equilíbrio e atacou com um chute lateral, mas eu girei no eixo, aplicando um chute giratório inverso que acertou sua costela com um estalo audível.

Ele cambaleou, mas não caiu. Ótimo. Eu queria que ele sentisse o impacto. Quando ele avançou novamente, seus movimentos eram mais desesperados. Bloqueei um soco com o antebraço e agarrei seu pulso, puxando-o para perto de mim e aplicando um chute ascendente que acertou seu rosto.

Sangue escorreu do nariz dele. Eu o havia machucado de verdade. Por um momento, hesitei, mas então as palavras de Silver ecoaram em minha mente.

"Destrua o que estiver à sua frente."

Minha hesitação se dissipou. Avancei com força total, aplicando uma sequência de golpes que culminou em um chute giratório alto, que o derrubou com um impacto seco no tatame. O árbitro ergueu minha mão, mas eu quase não registrei. Meu coração batia como um tambor ensurdecedor, minhas mãos tremiam, e minha respiração estava pesada, eu havia desmaiado o garoto, e não sei se há muito nisso que eu queira me orgulhar.

Eu olhei de relance para a arquibancada. Silver tinha um sorriso satisfeito no rosto. Aquela visão me enojava, mas também me incendiava. Eu não estava ali para agradá-lo, e sim para provar que eu era inquebrável, apesar dele, apesar de tudo.

Meus olhos vagaram até Kwon. Ele estava olhando para mim. Aquele olhar que parecia me atravessar. Mas eu desviei. Não agora. Eu não podia me dar ao luxo de fraquejar.

⋆౨˚ ˖

O barulho do ônibus sendo ligado ao fundo parecia distante quando senti um puxão firme na minha mão. Meu corpo travou por instinto, o coração disparando no peito antes mesmo de olhar para trás. Era Kwon. Claro que era. Seu olhar estava fixo no meu, uma tempestade misturada de raiva e preocupação que parecia me prender no lugar. Ele sempre tinha maneiras surpreendentes de abordagens, mas acho que estava começando a me acostumar com elas. Kwon é invasivo e incoveniente, mas também parece se importar, o que quase apaga tudo o que já sofri em suas mãos.

— O que você tá fazendo? — Perguntei baixo, olhando rapidamente para o ônibus, onde Silver já tinha subido. Eu o encarei com confusão explícita no olhar, cruzando os braços ao me afastar de seu aperto.

Ele não respondeu. Apenas tomou-me pela mão novamente, e começou a me puxar pelo corredor ao lado do prédio. Não era agressivo, mas era determinado. E eu segui. Não sabia por quê. Talvez por estar exausta demais para resistir. Talvez porque, no fundo, queria ouvir o que ele tinha a dizer.

Paramos na parte de trás do prédio, onde o silêncio era quase sufocante. Ele se virou para mim de uma vez, segurando minha mão de novo, mas com muito mais cuidado agora. Seus dedos se fecharam ao redor dos meus, o calor invadindo a pele sensível onde o curativo improvisado cobria o ferimento.

Quem fez isso com você? — Perguntou, o tom sério, quase grave. Seus olhos foram da minha mão para o meu rosto, penetrantes.

Eu fiquei em silêncio. Tentando encontrar uma resposta que fosse suficiente, algo que afastasse ele do que eu sabia que estava prestes a fazer.

— Calista, quem foi? Foi Silver, não foi? — A voz dele ficou um pouco mais alta, as palavras cuspidas como se o nome queimasse sua língua.

— Isso não é da sua conta. — Tentei puxar minha mão, mas ele segurou com mais firmeza.

— É da minha conta sim! — Ele rebateu, aproximando-se um passo, me forçando a olhar diretamente para ele. — Você acha que pode esconder isso? Você acha que tá tudo bem alguém fazer isso com você? Porque eu não acho, Calista.

— Kwon, para. Você não sabe o que tá acontecendo, então só... Para de tentar entender! — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, mas ele não recuou. Pelo contrário, deu outro passo na minha direção, os olhos cheios de uma intensidade que me deixou sem ar.

— Eu sei o suficiente. Sei que ele está te usando, sei que ele te machucou. E sei que você acha que isso é culpa sua, mas não é! — Ele pegou minha mão novamente, os dedos passando sobre o curativo. — Ele fez isso pra te quebrar, Calista. Pra te controlar. E você está deixando. Por quê?

— Você acha que é fácil? — Perguntei, a raiva finalmente escapando. — Você acha que dá pra simplesmente sair desse jogo? Porque não dá, Kwon! Isso não é sobre você ou sobre o que você acha certo ou errado. É algo muito maior e muito... Complicado.

Ele balançou a cabeça, a mandíbula trincando de frustração.

— Não é sobre mim. É sobre você. E sobre o que ele vai fazer com você se você continuar deixando. Você não vê que isso só vai piorar?

— Você acha que eu quero estar nessa situação? — Eu senti as lágrimas ameaçando cair, mas as engoli. — Você acha que é fácil lidar com tudo isso? Com ele, com o torneio, com... Você?

A última palavra escapou antes que eu pudesse segurá-la. Vi o rosto dele mudar, os olhos se estreitando um pouco, como se eu tivesse acabado de acertá-lo com um golpe direto no peito.

— Comigo? — Ele repetiu, a voz baixa, quase um sussurro.

Eu queria fugir, queria arrancar minha mão da dele e sair correndo, mas não conseguia. Ele não me soltava, e a forma como me olhava fazia com que minhas pernas parecessem de pedra. Eu sentia que estava prestes a desabar, como se todos os sentimentos confliantes tomassem as rédeas e me trouxessem o completo caos, do qual eu perderia total controle.

— Kwon, eu não... Eu só... — As palavras morriam antes de formar qualquer sentido.

Ele deu um passo ainda mais perto, sua voz grave agora em um tom quase calmo, mas carregado de intensidade.

— Se é sobre mim... Então me diz. Olha nos meus olhos e me diz que você quer que eu vá embora. Que você quer que eu pare, mesmo que eu não queira fazer isso.

Eu não consegui. O silêncio entre nós era ensurdecedor. Eu sentia as lágrimas queimando, uma pressão atrás dos olhos que ameaçava desmoronar minha fachada. Tudo em mim gritava para que eu me segurasse, para que não me deixasse cair de novo em um momento de vulnerabilidade na frente dele. Mas a intensidade nos olhos de Kwon fazia meu controle desmoronar, tijolo por tijolo.

— Eu te perdoo, Kwon. Por tudo. — Minhas palavras saíram rápidas, como um escudo que eu precisava erguer entre nós. Minhas mãos estavam cerradas ao lado do corpo, a dor da mão ferida quase inexistente em comparação à confusão dentro de mim. — Mas isso... Isso não nos torna mais próximos.

Ele piscou, como se minhas palavras o tivessem atingido fisicamente. Sua expressão se contorceu por um instante, mas logo se firmou.

— E por quê? — A voz dele era grave, com um tom de desafio, mas havia algo mais profundo, algo quase suplicante. — Por que você insiste em me afastar de você constantemente? Acho que eu já deixei claro que isso é quase insuportável, e que eu simplesmente não posso permitir.

Eu respirei fundo, tentando acalmar o coração que martelava descontrolado no peito. Não queria olhar diretamente para ele, mas não conseguia evitar.

— Porque isso só vai nos prejudicar. — Minha voz tremeu, mas eu a mantive firme o suficiente para soar convicta. — Dentro e fora do torneio. Não quero ser a razão pela qual você... — Eu pausei, procurando as palavras certas. — Pela qual você perca tudo o que construiu.

Ele deu um passo à frente, os olhos fixos em mim como se quisesse me desarmar apenas com o olhar.

— Não é você que está me prejudicando. É ele. Silver. — A raiva transpareceu no tom de Kwon, e ele passou a mão pelos cabelos, frustrado. — E eu sei que ele está envolvido nisso.

Meu coração pulou, mas eu permaneci imóvel, apenas observando-o.

— E Kreese também. — Ele deu um meio sorriso cínico, que logo desapareceu. — Ele tentou fazer a minha cabeça ontem. Disse que eu devia acabar com você.

Meu corpo inteiro congelou.

— O quê? — Sussurrei, minha voz mal saindo, mas ele continuou, sem hesitar.

— Disse que eu devia te destruir. Que você era uma distração, que estava no meu caminho. — Ele respirou fundo, como se tentar explicar aquilo fosse tão exaustivo quanto viver. — Mas eu não vou fazer isso.

O peso das palavras dele caiu sobre mim como uma avalanche. Ele parecia preso entre a raiva e algo mais suave, algo que eu não sabia se queria decifrar. E eu senti pela primeira vez, entre nós, eu era a única que não conseguia organizar a bagunça da própria mente, deixando isso me afetar de uma forma quase visceral.

— Não posso fazer isso. Não vou. — Ele hesitou por um momento, como se não tivesse certeza se queria continuar, mas então sua voz ganhou firmeza. — Eu estou disposto a quebrar as regras, Calista. A arriscar tudo, o que quer que seja, pra estar perto de você.

Eu senti meu coração parar. As palavras dele ecoavam na minha cabeça como se fossem um sonho distante, mas os olhos dele estavam tão perto, tão sinceros, que me atingiram como uma pancada.

— Você não pode... — Balbuciei, sentindo minha voz falhar. — Você não pode falar essas coisas.

Ele deu um meio sorriso amargo.

— Então me manda parar. Me diz que você quer que eu vá embora. Que tudo que eu sinto por você não importa. — Ele deu um passo à frente, a proximidade me deixando tonta. Ele não estava mais deixando implícito, e isso só parecia me enloquecer ainda mais. — Diz, Calista.

Eu fiquei em silêncio. Queria falar, mas minha garganta parecia fechada. Não sabia se sentia raiva dele ou de mim mesma, porque a verdade era que eu não queria que ele fosse embora. E isso me destruía.

— Eu... Eu só tô cansada. — Minha voz finalmente saiu, um sussurro quebrado. As lágrimas que eu tanto tentava segurar começaram a escorrer, ardendo na minha pele. — Cansada de me machucar. De me sentir assim e acabar simplesmente da mesma maneira, fugindo de tudo, fugindo de você.

Sem pensar, eu dei um passo à frente e o abracei com toda a força que me restava. Minhas mãos pressionaram suas costas, e eu senti o calor dele contra mim. Por um momento, o mundo parou, e a única coisa que existia era o som do meu choro abafado contra o peito dele. Kwon pareceu paralisado por um instante, mas então, lentamente, seus braços me envolveram. Não era o abraço de alguém triunfante por ter vencido uma discussão, mas de alguém tão perdido quanto eu.

— Eu só... Eu só quero que tudo isso pare, porque dói muito. — Minha voz saiu abafada, e eu sabia que ele podia sentir minhas lágrimas molhando sua camisa.

Ele não respondeu. Apenas apertou o abraço, como se aquele momento fosse mais uma batalha para ele. E, de alguma forma, isso me fez sentir menos sozinha.

Os braços dele apertaram ao redor do meu corpo com uma força inesperada, mas não era sufocante. Era como se, naquele abraço, ele estivesse segurando não só a mim, mas todos os pedaços quebrados que eu tentava esconder. Eu podia sentir seu coração batendo contra o meu, forte, constante, quase como se tentasse dizer que estava ali por mim, mesmo quando as palavras falhavam. A respiração dele era pesada, quase entrecortada, e seu queixo tocava de leve o topo da minha cabeça. Eu me sentia pequena, quase frágil, mas também segura de um jeito que não me lembrava de ter sentido antes. Meu rosto estava enterrado em seu peito, e as lágrimas que continuavam a escorrer manchavam o tecido de sua camisa. Eu não me importava. Pela primeira vez, em tanto tempo, eu não estava me importando com nada além do momento. Pela primeira vez, engoli todo o orgulho e chorei feito uma criança, mesmo diante de alguém que eu jurei que jamais demonstraria qualquer fraqueza.

— Eu estou aqui. — A voz dele soou rouca, baixa, como se as palavras tivessem dificuldade de sair, mas ainda assim carregadas de uma sinceridade esmagadora. — Eu estou aqui, Calista.

Eu queria acreditar. Queria mais do que tudo que essas palavras fossem verdadeiras, que não fossem apenas mais uma ilusão, mais um jogo de manipulação. Mas, no fundo, uma parte de mim sabia que ele não estava mentindo.

— Eu... — Minha voz falhou, e eu fechei os olhos com força, tentando afastar o nó que parecia crescer na minha garganta. — Eu não consigo mais, Kwon. Eu tô tão cansada de lutar.

Ele se inclinou ligeiramente, como se quisesse me puxar ainda mais para perto, como se achasse que isso pudesse aliviar a dor que eu sentia.

— Então não luta sozinha. — As palavras dele saíram rápidas, quase desesperadas. — Me deixe lutar com você.

Eu tremi, sentindo o peso de tudo o que ele dizia. Era insano, era irracional, e era perigoso. Mas também era exatamente o que eu precisava ouvir, por mais que não quisesse admitir.

— Você não entende... — Sussurrei, a voz quebrada. — Isso não é só sobre mim, nem sobre você. É sobre tudo. Silver, Kreese, o torneio...Eles não vão parar até nos destruir, tudo porque querem destruir um ao outro.

Ele afastou a cabeça ligeiramente, o suficiente para olhar para mim, mas sem soltar o abraço. Eu ergui os olhos com hesitação, vendo a intensidade queimar nos dele.

— Então a gente não deixa. — Ele apertou os lábios, como se lutasse para encontrar as palavras certas. — Eles podem tentar de tudo, Calista, mas eu não vou desistir. De você. Da gente. Do que quer que essa situação estranha entre nós seja.

Eu senti algo se partir dentro de mim, e, ao mesmo tempo, algo se remendar. Era como se as paredes que eu tinha construído começassem a desmoronar, tijolo por tijolo, e eu não tivesse mais forças para tentar segurá-las de pé.

— Kwon... — Comecei, mas ele balançou a cabeça, interrompendo-me.

— Eu sei que isso é loucura. Que eu sou um idiota por pensar que posso fazer alguma diferença. — Ele fez uma pausa, os olhos brilhando com uma mistura de determinação e vulnerabilidade, suas palavras soavam tão maduras que me faziam quase suspirar em um orgulho profundo. — Mas eu não vou deixar você enfrentar isso sozinha. Não importa o que aconteça, eu estou com você agora.

As palavras dele eram como um golpe direto no meu peito, mas, ao invés de me derrubarem, elas me levantaram. Era assustador, mas também era libertador. E eu me permiti encostar novamente em seu peito, fechando os olhos e respirando fundo, tentando absorver aquele momento. Ele não parecia estar com pressa de me soltar, e, por mais que soubesse que isso não resolveria nossos problemas, eu não queria que acabasse.

— Obrigada. — Minha voz era baixa, quase inaudível, mas eu sabia que ele tinha ouvido. — Só... Obrigada. Não quero pensar em nada agora, só fique aqui por um momento.

Ele não respondeu, mas apertou o abraço ligeiramente, como se aquela fosse sua maneira de dizer que estava tudo bem, que ele entendia. Por um momento, nós dois ficamos ali, presos em um espaço onde nada mais importava. Nem Silver, nem Kreese, nem o torneio. Era só nós dois, tentando encontrar um pouco de paz em meio ao caos.

No entanto, o momento de calma foi quebrado abruptamente.

Eu estava prestes a falar, algo pesado e difícil já pairando na ponta da minha língua, mas então ouvi o som de passos firmes e pesados se aproximando. Meus músculos enrijeceram no mesmo instante. Eu me afastei ligeiramente de Kwon, que virou a cabeça na direção do som, e ali estava ele, Terry Silver. Sua figura alta e imponente parecia bloquear a luz atrás de si, o olhar predador fixado em nós como uma lâmina prestes a ser cravada. Ele não disse nada de imediato, apenas cruzou os braços, observando com aquele sorriso frio que fazia a espinha gelar.

— Interessante. — A voz dele finalmente cortou o silêncio como um chicote, carregada de desprezo. — Eu imaginava que você pudesse tentar algo estúpido, Calista, mas isso... — Ele apontou de leve para Kwon com um gesto desdenhoso. — Isso é patético até para você.

Meu coração disparou, mas antes que eu pudesse responder, Kwon deu um passo à frente, ficando entre mim e Silver como se quisesse me proteger.

— Cuidado com o que diz. — A voz dele saiu firme, mas havia uma ponta de raiva contida. — Não é ela quem está agindo como um monstro.

Silver arqueou uma sobrancelha, a expressão neutra, mas o brilho em seus olhos era de pura ameaça.

— Um monstro, é? — Ele inclinou a cabeça levemente, quase curioso. — Interessante vindo de alguém que foi moldado por Kreese. Você não é tão diferente de mim, garoto. A única diferença é que eu tenho controle, e você... — Ele deu um pequeno riso de escárnio. — Você é só mais um peão perdido no tabuleiro.

— Eu não sou um peão. — Kwon rebateu, o tom ácido. — E não vou ficar parado enquanto você destrói ela.

Eu podia sentir a tensão no ar ficando cada vez mais pesada. Silver deu um passo à frente, ignorando a proximidade de Kwon como se ele fosse irrelevante, e seus olhos se fixaram diretamente nos meus.

— Calista. — Ele disse, o tom agora baixo e quase persuasivo, mas com uma borda cortante. — Eu te avisei, não avisei? Te disse para manter o foco, para cortar qualquer coisa que pudesse te distrair. E o que você faz? Corre direto para os braços do inimigo.

— Ele não é meu inimigo. — As palavras saíram antes que eu pudesse pensar, a voz mais firme do que eu esperava.

Silver riu. Não um riso leve, mas um som sombrio que fez o estômago revirar.

— Não é? — Ele gesticulou para Kwon como se fosse óbvio. — Ele é um Cobra Kai, garota. Ele foi ensinado a destruir tudo no caminho dele, inclusive você. E, pelo que sei, ele é muito bom nisso.

— Chega disso! — Kwon explodiu, a voz alta ecoando pelo espaço vazio. Ele deu mais um passo à frente, o rosto cheio de raiva. — Não fale dela como se fosse alguma peça descartável no seu jogo doentio.

Silver girou levemente o rosto para ele, e por um momento, o ar pareceu congelar. Ele esteve observando tudo à distância, como uma ave de rapina, planejando a maneira como nos derrubaria. Ele sabia sobre todos os eventos entre eu e Kwon, e tentaria jogar isso contra nós, principalmente contra Kwon, que certamente parecia mais abalado com esses eventos do que eu até então.

— Cuidado com seu tom, garoto. — A voz dele era perigosa, baixa, mas afiada como uma faca. — Você pode ter sobrevivido ao Kreese, mas não a mim.

Eu finalmente consegui me mexer, colocando uma mão no braço de Kwon como uma tentativa de acalmá-lo.

— Kwon, por favor. — Minha voz tremia, mas eu precisava evitar que aquilo escalasse ainda mais. — Não faça isso, ele não é apenas um mero oponente no torneio, vai acabar se machucando. Muito.

Ele olhou para mim, a expressão suavizando por um instante, mas a raiva ainda estava ali, queimando sob a superfície.

— Você não precisa aguentar isso. — Ele disse, quase implorando, por mais que uma raiva estivesse enraizada em seu tom. Não raiva de mim, mas sim, de Silver.

— Ela não precisa aguentar? — Silver repetiu, com uma ironia cortante. — Você não entende, não é? Eu a treinei para ser mais do que isso. Para ser implacável. E ela não vai jogar tudo fora por causa de um... De um o que? Mero capricho adolescente?

Eu senti a raiva fervendo dentro de mim, finalmente se sobrepondo ao medo.

— Pare! — Gritei, a voz alta e firme, surpreendendo a mim mesma. — Vocês dois, parem com essa droga.

Os dois se calaram, mas continuaram me encarando com intensidades diferentes. Eu olhei para Silver, com o peito ainda arfando.

— Eu sou quem decide o que fazer, Terry. Não você, e não o torneio. E se você acha que vai continuar me manipulando assim, está muito enganado.

Silver estreitou os olhos, mas não disse nada de imediato. Ele me avaliou, como se pesasse cada palavra que eu tinha dito, e então deu um pequeno passo para trás.

— Acredite, garota. — Ele disse, o tom mais frio do que nunca. — Você ainda vai entender que estou certo. E nem pense que vai entrar no mesmo ônibus até que decida de que lado realmente quer lutar.

Com isso, ele se virou e começou a se afastar, mas não sem antes lançar um último olhar para Kwon, cheio de promessas silenciosas. Suas palavras foram como pequenos cortes, em cada ferida que já estava aberta, apenas as fazendo sangrar mais. Eu tinha uma escolha difícil a se fazer, mas não queria sequer pensar nela agora.

E quando ele desapareceu de vista, eu finalmente senti meu corpo relaxar, mas o peso emocional ainda estava lá, esmagador.

— Calista... — Kwon começou, mas eu balancei a cabeça.

— Só... Me deixe pensar. — Minha voz estava baixa, exausta. — Eu preciso de um minuto.

Ele hesitou, mas assentiu, respeitando meu pedido, e me deixou ali, em silêncio, com os destroços de mais uma batalha emocional. Eu precisava sair dali. Cada fibra do meu corpo gritava por algum tipo de escape, algo que me afastasse do caos que Silver parecia carregar consigo e que Kwon, de alguma forma, amplificava dentro de mim. Ainda estava em choque pelas palavras trocadas, pela intensidade daquele abraço e pela confusão que me dominava. Não queria lidar com mais nada.

— Preciso voltar para o hotel. — Minha voz saiu quase como um sussurro, mas foi suficiente para Kwon ouvir.

Ele franziu as sobrancelhas, hesitando por um momento.

— Eu vou com você.

— Não precisa. — Retruquei automaticamente, levantando a mão como se quisesse barrar sua insistência antes que começasse. — Eu sei o caminho sozinha.

— Não me importa. — Ele cruzou os braços, o tom firme como uma rocha. — Não vou deixar você sozinha.

Suspirei pesadamente, sabendo que ele não cederia. E, para ser honesta, uma parte de mim estava grata por isso. Eu estava muito abalada para enfrentar Silver ou qualquer outra coisa sozinha. Sem dizer mais nada, comecei a caminhar, e ele me seguiu, mantendo-se ao meu lado como uma sombra constante.

⋆౨˚ ˖

O caminho até o hotel foi silencioso, quase sufocante. Eu sentia Kwon me observando ocasionalmente, provavelmente tentando medir o quanto eu estava destruída, mas ele respeitou meu espaço, pelo menos por enquanto. Minhas emoções estavam um caos absoluto, um redemoinho de raiva, tristeza, confusão e... Talvez, só talvez, uma pequena centelha de alívio por ele estar ali.

E assim que finalmente entramos no hotel, pensei que ele fosse simplesmente se despedir ou, no mínimo, me deixar em paz. Mas Kwon, sendo Kwon, tinha outros planos. Antes que eu pudesse tomar o caminho até o meu quarto, senti sua mão firme segurando meu antebraço. Ele me puxou para mais perto, sua expressão carregada de determinação.

— Nós vamos para o meu quarto.

Pisquei, surpresa pela firmeza da afirmação, quase deixando uma risada nervosa escapar, mas me contive, tentando não demonstrar o quanto sua afirmação parecia ter me desarmado.

— Desculpa, o quê? — Minha voz saiu cheia de incredulidade.

— Você me ouviu. — Ele arqueou uma sobrancelha, como se isso fosse óbvio. — Você precisa cuidar dessa mão direito, e eu vou ajudar.

Eu ri, mas era um riso seco, sem humor.

— Ah, claro. E você acha que eu vou entrar sozinha no quarto de um cara que é meu oponente? — Cruzei os braços, tentando soar desafiadora, mesmo que minha voz carregasse uma ponta de cansaço.

Ele revirou os olhos, como se minha provocação fosse um leve incômodo.

— Para de ser dramática. — Ele deu um pequeno passo para mais perto, o que só aumentou minha irritação. — Eu só quero cuidar da sua mão. Você claramente não fez isso direito.

— Como você sabe que não fiz? — Retruquei, estreitando os olhos para ele.

— Porque te conheço. — Ele deu um pequeno sorriso sarcástico. — Você é teimosa demais para aceitar ajuda, mas é ainda pior em esconder quando algo te machuca.

Fiquei sem palavras por um momento, sentindo uma mistura de irritação e... Algo que parecia perigoso demais para ser identificado. Ele estava completamente obececado? Porque o fato de que parecia saber mais sobre mim, do que eu mesma, estava começando a se tornar quase sufocante.

— Não preciso da sua ajuda, Kwon. Já resolvi isso sozinha.

Ele suspirou, balançando a cabeça como se eu fosse a pessoa mais frustrada do mundo.

— Resolvido, é? — Ele apontou para minha mão enfaixada, um olhar que claramente dizia que ele não acreditava em mim. — Olha, você pode continuar sendo teimosa, mas não vai me convencer. Então, vamos logo.

Antes que eu pudesse responder, ele já estava caminhando em direção ao elevador, me forçando a seguir atrás dele. Não que eu tivesse muitas opções, Kwon era persistente de um jeito quase irritante, e sabia exatamente como dobrar minha resistência.

Quando chegamos ao quarto dele, a porta se abriu revelando um espaço surpreendentemente organizado. Uma cama grande no centro, uma mesa com algumas garrafas de água e energéticos, além de equipamentos de treino que ele claramente trazia consigo.

Parei na entrada, hesitante.

— Relaxa. — Ele disse, percebendo meu desconforto, mas também não perdendo a oportunidade de provocar. — Eu não mordo.

— Não é isso. — Retruquei rapidamente, embora eu mesma não tivesse certeza se acreditava.

Ele deu um meio sorriso, como se entendesse algo que eu não queria admitir.

— Só senta ali. — Ele apontou para a cama enquanto procurava algo em uma pequena bolsa.

Eu obedeci, mais porque estava exausta do que por realmente querer. Ele voltou com um pequeno kit de primeiros socorros e se ajoelhou na minha frente, pegando minha mão antes que eu pudesse protestar.

— Isso é desnecessário. — Resmunguei, tentando soar firme, mas minha voz não tinha energia suficiente.

— Cala a boca e vê se fica parada. — Ele murmurou, focado no que fazia.

Era estranho. Kwon não era exatamente o tipo de pessoa que eu imaginaria sendo cuidadosa, mas ali estava ele, limpando a ferida com uma delicadeza quase irritante. Eu o observei por um momento, a intensidade de sua concentração me desarmando de uma forma que não conseguia entender.

— Por que você está fazendo isso? — Perguntei finalmente, minha voz saindo baixa.

Ele parou por um segundo, levantando os olhos para me encarar.

— Porque eu quero. — Sua resposta foi direta, sem espaço para discussão.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu não discuti. Mas fora inevitável observá-lo com mais atenção, sua expressão suave, apesar de uma profunda preocupação, mesclada com um foco, tudo parecia torná-lo mais atraente aos meus olhos, algo que parecia difícil demais para se admitir, e quando nossos olhos se encontraram, eu fiz menção de desviar o olhar, tentando mascarar a latente queimação que estava começando a sentir em minha pele.

E por um breve momento, o silêncio pairava no quarto, pesado, quase sufocante. Eu observava Kwon enquanto ele terminava de ajustar a bandagem na minha mão. Seus movimentos eram precisos, mas havia algo estranho neles, uma delicadeza que parecia contradizer a pessoa arrogante que conheci semanas atrás. Era surreal pensar que aquele era o mesmo Kwon com quem eu discutira no elevador, o mesmo que me provocava com sorrisos cínicos e palavras afiadas. Agora, ele estava ali, cuidando de mim com uma atenção que me deixava desconfortavelmente confusa.

Meu olhar vagou para o rosto dele. Ele parecia tão concentrado, mas também distante, como se estivesse em outro lugar. Não pude evitar.

— Você está bem? — Minha voz quebrou o silêncio, soando mais suave do que eu esperava.

Kwon franziu o cenho, erguendo os olhos para mim como se minha pergunta fosse absurda.

— O quê?

Antes que ele pudesse continuar, me apressei em completar.

— Quero dizer... Eu sei como Kreese pode ser cruel. Sei que ele joga pesado, e... Bem, eu também sei que você carrega suas próprias dores, Kwon. Você não demonstra, mas estão aí. — Fiz uma pausa, sentindo meu coração acelerar. — Você já viu as minhas fraquezas, acho que é justo que me mostre as suas.

Por um momento, ele ficou imóvel, os olhos fixos nos meus. Era como se eu tivesse atingido algum ponto sensível, algo que ele nunca esperava que fosse exposto. Seus lábios se apertaram, como se estivesse decidindo se valia a pena me deixar entrar naquele pedaço sombrio de si mesmo. E no momento em que ele terminou a nova bandagem, que, para minha surpresa, ficou impecável, ele se endireitou e, sem dizer uma palavra, levantou a camisa.

Minha respiração travou.

As cicatrizes eram profundas, atravessando sua pele como marcas de batalhas antigas. Elas corriam por toda a extensão das costas dele, algumas longas e finas, outras mais curtas, mas igualmente visíveis. O quarto, de repente, pareceu pequeno demais.

— O pior sensei que eu já tive... — Ele começou, sua voz carregada de algo sombrio. — Foi o meu pai.

Minha garganta apertou. Eu não sabia o que dizer, não sabia se ele esperava uma resposta, mas, antes de me conter, minha mão se moveu por conta própria. Toquei uma das cicatrizes com a ponta dos dedos, minha palma deslizando suavemente sobre a pele marcada.

Kwon se arrepiou.

Foi um movimento quase imperceptível, mas senti o corpo dele reagir sob meu toque. Ele fechou os olhos por um momento, como se estivesse tentando se controlar, e eu também hesitei. Meu coração batia forte, e a sensação de estar tão próxima de algo tão doloroso, tão vulnerável, era avassaladora. Eu pensei que ele fosse apenas me contar algumas coisas, mas isso, parecia muito mais profundo e pessoal. E eu sequer sabia como processar as informações, mas parecia doer em mim.

— Sinto muito. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

Ele abaixou a camisa rapidamente, como se quisesse proteger aquela parte de si que tinha acabado de expor. Ficou de pé, cruzando os braços e evitando meu olhar.

— Não sinta. — Sua voz era dura, mas tinha uma nota de cansaço. — Não muda nada.

Eu não respondi de imediato, mas algo dentro de mim mudou naquele instante. Ver aquelas cicatrizes, ouvir suas palavras... De repente, Kwon não era apenas o adversário que eu estava acostumada a enfrentar. Ele era alguém tão ferido quanto eu, carregando suas próprias batalhas internas, talvez até mais profundas.

— Você não merecia isso. — Finalmente quebrei o silêncio, tentando controlar a emoção na minha voz.

Ele riu baixinho, mas sem humor.

— E quem merece, Calista? — Ele se virou, finalmente me encarando. Seus olhos tinham uma intensidade que parecia atravessar minha alma. — Todo mundo tem suas cicatrizes, você, eu... Ninguém sai ileso. E acho que eu também fui cruel, você sabe disso.

Eu engoli em seco, sem saber como responder. Por mais que soubesse que ele estava certo, era difícil aceitar a resignação em sua voz, como se ele já tivesse aceitado aquilo como parte inevitável de sua vida.

— Mesmo assim... — Eu sussurrei, sem conseguir terminar a frase.

Ele me olhou por mais alguns segundos antes de balançar a cabeça, soltando um suspiro pesado.

— Vamos, já está tarde. Você precisa descansar.

A conversa parecia encerrada, mas as cicatrizes que vi e as palavras que ouvi continuariam comigo. Kwon estava de costas para mim, mexendo na cama com movimentos rápidos e precisos, como se estivesse distraído em um tipo de tarefa que não combinava em nada com o cara orgulhoso e combativo que eu conhecia. Ele empilhava travesseiros, ajeitava o lençol e até sacudia o edredom, como se estivesse criando um espaço perfeitamente simétrico. A cena era surreal.

Eu cruzei os braços, estreitando os olhos enquanto o observava. Por um momento, achei que fosse algum tipo de brincadeira, mas ele estava tão sério, tão focado, que fiquei ainda mais intrigada. Não pude evitar a pergunta, carregando a voz de sarcasmo.

— O que você tá fazendo? Não me diga que acha que eu vou passar a noite aqui.

Ele se virou na mesma hora, me encarando com uma firmeza que me pegou desprevenida.

— Sim, é exatamente o que eu acho.

A resposta foi tão direta que precisei de alguns segundos para processá-la. Minhas sobrancelhas se arquearam, e o sarcasmo rapidamente deu lugar à perplexidade.

— O quê? — Foi tudo o que consegui dizer.

Kwon largou o travesseiro que segurava e cruzou os braços, como se estivesse preparado para uma discussão.

— Você não vai voltar pro quarto que te lembre qualquer coisa sobre Silver, não depois de tudo o que aconteceu hoje.

Minha mente parecia girar em mil direções. Ele estava falando sério? Quem ele pensava que era para decidir isso? Como eu bem sabia, estava sendo insistente, e incoveniente, de novo.

— Kwon, eu não vou ficar aqui. — Minha voz saiu mais cortante do que eu pretendia, mas ele sequer piscou.

— Vai, sim. — Ele disse com aquela calma perigosa, que carregava mais obstinação do que qualquer grito. — Nem que eu tenha que trancar a porta.

Eu soltei uma risada incrédula, mas algo na maneira como ele me olhava não tinha nada de humorístico.

— Você tá brincando comigo, não tá?

— Não, não estou.

Ele deu um passo em minha direção, o suficiente para fazer meu coração dar um salto involuntário. Seus olhos escuros estavam fixos nos meus, uma intensidade que fazia o quarto parecer menor.

— Calista, você tá exausta. Machucada. — Ele gesticulou em direção à minha mão enfaixada. — Não estou pedindo pra você ficar. Estou falando que você vai, simples.

Eu queria revidar, queria dizer algo que mostrasse que ele não tinha direito algum de me dizer o que fazer, mas, estranhamente, não consegui. Não era pela autoridade na voz dele, era o que vinha por trás dela. A preocupação, a determinação em garantir que eu estivesse segura, longe de Silver, longe de qualquer coisa que pudesse me ferir.

— Eu sei que você é teimosa. — Ele continuou, a voz abaixando um tom, mas mantendo a mesma firmeza. — Mas, por uma vez, só uma vez, deixa alguém cuidar de você, tá?

As palavras dele atingiram algo dentro de mim que eu não queria admitir que existia. Me senti desconfortavelmente vulnerável, como se ele tivesse tocado em uma ferida que eu mal sabia que tinha. Zara, Kenny, Axel, e agora... Kwon. Sempre que a dor de estar perto de Silver me atingia com força, eles apareciam como forma de iluminar a escuridão incessante em meu peito.

Desviei o olhar, cruzando os braços mais apertados, tentando manter uma fachada de resistência.

— E se eu disser que não?

Ele deu de ombros, relaxando um pouco os braços, mas o olhar ainda carregado de uma determinação quase irritante.

— Você vai ficar irritada comigo, provavelmente vai gritar ou jogar alguma coisa na minha cabeça, mas, no final, ainda vai dormir aqui.

Eu quis rir pela audácia, mas estava tão cansada, tão emocionalmente drenada, que o riso nem veio. Só suspirei, esfregando a testa e tentando decidir se valia a pena gastar energia brigando com ele.

— Isso é ridículo.

— Talvez. — Ele disse, voltando a ajeitar os travesseiros, como se a discussão já estivesse encerrada. — Mas é o melhor pra você agora.

Fiquei olhando para ele, perplexa, confusa e, de uma forma que eu nunca admitiria em voz alta, um pouco grata. Porque, por mais que eu quisesse lutar contra, parte de mim sabia que ele estava certo. Eu precisava de uma pausa, de um momento em que não tivesse que carregar tudo sozinha.

— Tá, tudo bem. — Murmurei, cruzando os braços ainda mais apertados, mantendo uma compostura relutante. — Mas só porque eu não estou afim de brigar agora. E você, vai dormir no chão.

— Claro. — Ele respondeu, mas o pequeno sorriso de canto que surgiu em seu rosto dizia que ele sabia que tinha vencido.

Imagem fofinha dos meus dengos, porque nesse capítulo eles estão calminhos 😌 (Bônus do Yoon de vela na foto).

Obra autoral ©

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