14. I miss you, i'm sorry

Desci as escadas devagar, o som dos meus passos ecoando no corredor vazio. O ar parecia pesado, quase sufocante, e eu evitei olhar para trás. Depois do caos no elevador há algumas noites atrás, eu não sei se queria arriscar me sentir presa novamente, nem fisicamente, e muito menos emocionalmente.

Ao sair do prédio, fui recebida por um vento cortante, carregado com o cheiro de sal do mar. O céu estava encoberto, um cinza uniforme que parecia refletir a tempestade dentro de mim. Pequenos indícios de chuva pairavam no ar, mas não era suficiente para me fazer recuar. Eu puxei os braços para mais perto do corpo, tentando me proteger do frio, enquanto meus passos afundavam levemente na areia úmida.

A praia estava quase deserta, exceto por alguns turistas teimosos que caminhavam pela beira d'água. O mar estava agitado, as ondas quebrando com força e enviando um spray de água salgada no ar. Tudo parecia tenso, como se o clima fosse um espelho do que eu sentia.

Meu coração batia forte, como se quisesse escapar do meu peito. O frio não era suficiente para acalmar o calor que subia pelo meu corpo, fruto da mistura de ansiedade e antecipação. Fiquei parada ali, olhando para as ondas por alguns minutos, tentando organizar meus pensamentos antes que ele chegasse. Mas então, vi uma silhueta familiar ao longe, vindo em minha direção. Meu peito apertou imediatamente. Axel.

Ele vinha com um andar descontraído, mas havia algo em sua postura que denunciava tensão. Quando ele chegou perto o suficiente para que eu visse os traços do seu rosto, notei a preocupação em seus olhos. Ele parecia cansado, como se tivesse passado a noite pensando no que aconteceu.

— Calista, você tá bem? — Ele perguntou, sem rodeios, era sempre a primeira pergunta que ele fazia assim que me via, e minha resposta é quase sempre a mesma, uma afirmação mentirosa, quando sempre que conversamos eu sempre esteja quebrada.

Eu respirei fundo, sentindo o peso das palavras que precisava dizer. Axel sempre foi tão direto, tão honesto. Era a única maneira que eu poderia tratá-lo também.

— Eu precisava conversar com você, Axel. Sobre tudo.

Ele parou de andar e ficou de frente para mim, cruzando os braços. Um vento forte passou entre nós, levantando areia, mas ele não desviou o olhar.

— Então fala.

Olhei para o chão por um momento, reunindo coragem. Quando finalmente ergui os olhos, minhas palavras saíram rápidas, como se eu precisasse me livrar delas antes que perdesse a chance.

— Eu não quero que as coisas fiquem esquisitas entre a gente. — Afirmei seriamente, como se tirasse esse peso de minhas costas — Você é meu amigo, Axel. Um dos melhores que eu já tive. Mas... É só isso que vejo entre nós.

O silêncio que se seguiu foi sufocante. Ele piscou algumas vezes, como se estivesse processando, e depois soltou um suspiro longo, olhando para o horizonte.

— Eu meio que já sabia. — Sua voz era baixa, quase resignada.

— Sabia? — Minha pergunta saiu sem força, mais surpresa do que qualquer coisa.

Ele deu de ombros, mas não havia desdém no gesto. Apenas um toque de tristeza.

— Você sempre foi mais atraída pelo perigo, Calista.

Minha testa franziu, confusa.

— O que isso quer dizer?

Axel virou-se para mim, seus olhos carregando um peso que eu não esperava.

— Quer dizer que eu vi como você e Kwon se olham. Mesmo que você negue.

Senti meu corpo inteiro congelar por um instante, e isso quase me tirou uma risada de indignação, Ele não poderia estar realmente falando sério, isso não teria cabimento algum.

— Eu e Kwon? — Minha voz soou alta, quase indignada. — Axel, isso é ridículo. Eu nunca... Eu jamais...

Ele ergueu a mão, como se estivesse pedindo para eu parar.

— Eu sei que você odeia admitir, Calista. — Ele deu de ombros, cruzando os braços. Ele parecia mais sério do que de costume, e isso era em partes, preocupante — Mas tem algo ali. Algo que você talvez ainda nem tenha percebido.

Minha mente estava uma bagunça. As palavras dele rodopiavam, me fazendo sentir um misto de raiva e desespero, um de nós certamente estava de fato enloquecendo. Ele, por estar falando essas coisas, ou eu, por estar ouvindo coisas fora da realidade.

— Kwon é arrogante, cruel, egoísta. E ele me machucou, Axel! — Eu ri exageradamente, jogando as mãos para o alto — Você acha que eu poderia sentir algo por alguém assim?

— Talvez não conscientemente — Ele respondeu, com um tom calmo que só piorava minha irritação. — Mas você também não teria tanta raiva dele se ele não significasse nada.

Engoli em seco, sentindo meu rosto esquentar.

— Isso não faz sentido.

— Faz, sim. Você só não quer ver.

Axel deu um passo para trás, como se estivesse se afastando não só fisicamente, mas emocionalmente também. Ele me olhou por alguns segundos antes de continuar, e isso estava me massacrando por dentro de formas que eu sequer conseguia mensurar.

Abri a boca para retrucar, mas as palavras ficaram presas. O que eu poderia dizer? Que Kwon era um idiota, alguém que me machucava sempre que tinha a chance? Era verdade. Mas também era verdade que ele ocupava um espaço na minha mente que eu não sabia como apagar.

Axel suspirou, passando a mão pelo cabelo, e seu tom suavizou um pouco.

— Olha, Calista, eu só quero que você seja feliz. Mas, se tem uma coisa que eu sei sobre o Kwon, é que ele não sabe lidar com sentimentos. Ele é imprevisível, e você não merece isso.

— Eu sei. — Minha voz saiu quase um sussurro, mais para mim do que para ele.

O silêncio caiu entre nós, o som das ondas quebrando ao longe preenchendo o vazio. Eu cruzei os braços, tentando afastar o frio que começava a se intensificar, enquanto Axel parecia pensar em algo mais para dizer, e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ele passou seu casaco por meu ombro, com um gesto tão simples que só parecia tornar minhas palavras mais difíceis de serem ditas.

— Calista, eu só... Queria que fosse diferente. Entre nós.

Olhei para ele, e havia tanta sinceridade em seus olhos que meu peito apertou.

— Eu também queria que fosse mais simples, Axel. — Eu abri um sorrisinho, dando um passo em sua direção — Mas eu não quero perder o que temos. Sua amizade significa muito pra mim.

Ele deu um meio sorriso, mas era carregado de melancolia.

— E significa muito pra mim também. Então acho que só temos que aceitar como as coisas são, né?

Assenti, sentindo uma mistura de alívio e culpa. Axel sempre foi o tipo de pessoa que me fazia sentir segura, e eu odiava a ideia de machucar ele de alguma forma. E então, eu me aproximei para um abraço apertado. Ele envolveu suas mãos em minhas costas e deu uma risadinha soprada. Eu me sentia minúscula dentro de seu abraço, com sua altura imensa, realmente agora ficava nitidamente discrepante. E logo que eu me afastei, afirmei com todas as letras e carregada de sinceridade.

— Obrigada por ser tão incrível.

Ele apenas assentiu em silêncio, a expressão mascarando uma dor que eu sabia que ele estava carregando, a dor da rejeição. Eu me odiava por ter de fazer isso, mas sei que só intensificaria sua dor e acabaria com nossa amizade se eu continuasse a alimentar esperanças nele. ISso sim, seria cruel.

⋆౨˚ ˖

Ficamos ali por mais tempo do que eu esperava. A conversa mudou de tom depois disso, ficando mais leve. Falamos sobre o torneio, as competições, e até sobre Zara e suas aventuras com o chileno. Por alguns momentos, quase esqueci do peso que me acompanhava desde a noite anterior. Mas então o céu começou a escurecer de verdade, anunciando que já era tarde. O vento estava ainda mais gelado, e eu cruzei os braços, arrepiada.

— Acho que é melhor voltarmos. Está ficando frio.

Axel concordou com um aceno, colocando as mãos nos bolsos da calça enquanto começávamos a caminhar de volta para o hotel. Quando chegamos ao saguão, ele olhou para mim com um sorriso tranquilo, mas havia algo não dito naqueles olhos.

— Boa noite, Calista.

— Boa noite, Axel.

E então seguimos por corredores opostos, cada um indo na direção de seu próprio quarto. O peso da conversa ainda estava comigo, mas havia algo mais ali também. Uma sensação estranha, como se uma parte do quebra-cabeça tivesse sido colocada no lugar, mas outra ainda estivesse completamente fora de ordem. Entrei no elevador sentindo o peso do dia inteiro nos meus ombros, eu estava cansada demais para tentar as escadas de novo, então arriscaria novamente o elevador, por mais que profundamente não quisesse. Só queria chegar ao meu quarto, me jogar na cama e apagar por algumas horas. E quando a porta metálica começou a fechar, eu me permiti um suspiro de alívio. No entanto, no último segundo, uma mão surgiu, impedindo a porta de fechar completamente. Eu gelei.

Quando ele entrou, meu coração afundou. Kwon.

Por um momento, ficamos em silêncio. O espaço pequeno do elevador parecia ainda menor com ele ali, sua presença sufocante. Meus olhos encontraram os dele, e havia algo naquele olhar que fazia meu estômago revirar. Não era raiva, não era dor. Era algo no meio disso tudo, algo que me deixava ainda mais irritada.

Respirei fundo, tentando manter a calma, mas minha voz saiu cortante quando finalmente falei.

— O que você pensa que está fazendo, Kwon?

Ele abriu a boca para responder, mas antes que conseguisse dizer qualquer coisa, o elevador deu um tranco violento. As luzes piscaram, e o som do motor se calou.

Eu ri, incrédula, quase histérica. Era uma risada amarga, cheia de indignação, acho que eu deveria ter escutado meus próprios conselhos e não ter dado ouvidos à preguiça.

— Sério? Sério que isso tá acontecendo? — Bati as mãos na porta de metal, tentando inutilmente forçá-la. — Claro que isso tinha que acontecer justo agora.

Kwon, parado no outro canto, parecia desconfortavelmente calmo, mas havia algo em sua postura, algo nos seus ombros tensos, que indicava que ele sabia mais do que estava deixando transparecer.

— Foi eu quem pediu para pararem o elevador.

Eu me virei para ele tão rápido que quase tropecei nos meus próprios pés.

— O quê?! — Minha voz saiu em um grito de descrença. — Você perdeu a noção, Kwon?

Ele cruzou os braços, o olhar fixo em mim, carregado de determinação.

— Essa era a única maneira de fazer você me ouvir.

Minha boca se abriu e fechou algumas vezes, mas nenhuma palavra saiu, eu não sabia se ria de nervoso ou se socava a cara dele. A raiva subiu pelo meu corpo como fogo, queimando cada pedacinho de autocontrole que eu ainda tinha.

— Ouvir você? — Minha voz era uma mistura de ironia e fúria. — Depois de tudo que você fez? Você realmente acha que tem alguma coisa pra me dizer que eu queira ouvir?

Ele deu um passo à frente, as mãos apertadas em punhos ao lado do corpo.

— Sim. Porque eu sei que você me odeia agora. Sei que eu sou a última pessoa que você quer ver, mas... Calista, eu preciso falar com você.

Eu ri de novo, amarga, balançando a cabeça enquanto me afastava ainda mais para o canto do elevador. Talvez antes eu quisesse ouvir o seu perdão, mas agora meu coração havia se fechado, e não sei se já era tarde demais para querer lhe dar ouvidos.

— Você não precisa de nada. — Cuspi as palavras de maneira ríspida — Você quer. Porque, como sempre, tudo é sobre o que você quer, Kwon.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, as palavras pesando no ar. Quando ele falou de novo, sua voz estava mais baixa, quase quebrada.

— Você acha que eu não sei disso? Que eu não sei o tipo de pessoa que eu sou?

Minha raiva vacilou por um momento, mas não cedi.

— Então por que está aqui? Por que não faz o que eu pedi e me deixa em paz?

Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, como se tentasse encontrar as palavras certas.

— Porque eu não consigo. Não depois do que eu fiz. Não depois de ver a dor nos seus olhos.

Eu engoli em seco, mas minha voz continuou dura.

— Você quer redenção? Um pedido de desculpas mágico que vai apagar tudo? Não funciona assim, Kwon.

Ele balançou a cabeça, a frustração clara em seu rosto.

— Eu não tô pedindo pra você me perdoar, — Ele gesticulava continuamente com as mãos, demonstrando um nítido nervosismo, que vindo dele, parecia bastante impressionante. Então algo realmente o intimidava, e era o fato de ter que assumir a própria culpa — Calista. Eu só quero... Que você saiba que eu sei o quanto errei. Que eu sei que você nunca deveria ter passado pelo que passou por minha causa.

Houve um momento de silêncio, apenas o som do vento batendo contra o prédio do lado de fora. Senti meu peito apertar, uma mistura de emoções tão confusas que era difícil discernir o que era raiva, o que era dor e o que era... Outra coisa.

— Você não sabe como é, Kwon — Falei finalmente, minha voz tremendo, mas firme. — Você não sabe como é sentir que alguém arrancou algo de você, e depois ter que encarar essa pessoa como se nada tivesse acontecido.

Ele deu um passo à frente, mas eu ergui a mão, impedindo que ele chegasse mais perto.

— Não. Não tente. Não diga que entende, porque você não entende.

Ele parou, respeitando o espaço, mas seu olhar era intenso, fixo em mim como se tentasse quebrar as barreiras que eu erguia.

— Eu só quero consertar as coisas, Calista.

Dei um sorriso amargo, as lágrimas ameaçando cair, mas segurei firme.

— Talvez algumas coisas não possam ser consertadas, Kwon.

O silêncio voltou, e o peso daquelas palavras parecia sufocante. Fiquei ali, parada, encarando a porta do elevador como se fosse minha única saída, enquanto ele permanecia no canto oposto, tão distante fisicamente quanto emocionalmente. E eu não sabia se queria fugir ou enfrentar tudo aquilo de vez. Mas, naquele momento, tudo que eu sabia era que estar naquele espaço com ele era como encarar todas as minhas feridas abertas. E eu não sabia se tinha força para isso.

A raiva subiu pelo meu corpo como um incêndio incontrolável. Eu não conseguia mais suportar. Aquele olhar de Kwon, aquele tom quase suplicante na voz dele... Tudo isso só aumentava a pressão dentro de mim. E sem pensar, avancei em sua direção, empurrando-o com as duas mãos. Ele bateu contra a parede do elevador, mas sua expressão permaneceu firme, como se estivesse se preparando para aguentar o impacto.

— Você quer que eu te ouça? Quer que eu entenda? — Gritei, cada palavra carregada de frustração, como se enfim pudesse descarregar tudo o que eu estava suportando internamente. — Pois bem, Kwon, fala! Diga o que tem a dizer e vê se some da minha vida de uma vez por todas!

Tentei empurrá-lo novamente, mas dessa vez ele segurou meus pulsos, firme o suficiente para me impedir, mas sem machucar.

— Calista, me escuta...

— Me solta! — Eu gritei, puxando os braços com força. Minha voz ecoava pelo pequeno espaço do elevador. Eu tentei chutá-lo, tentando qualquer coisa para afastá-lo, mas ele segurou meus ombros, tentando me manter parada.

— Eu não tô aqui pra te machucar! — Ele disse, a voz subindo um pouco, mas ainda carregada de uma calma forçada, ele estava dando o máximo de si para simplesmente não explodir e acabar errando pela terceira vez na mesma semana, o que seria um recorde e tanto. — Eu só preciso que você me escute, só dessa vez!

Aquela frase foi a gota d'água. Como ele podia falar em me machucar depois de tudo? Depois do que ele tinha feito? Minha visão ficou turva, tomada pela fúria e pelas lágrimas que ameaçavam cair.

— Me escuta? Me escuta?! Você não merece que eu escute nada! — Minha voz era um misto de dor e ódio. E, com todas as forças que eu tinha, consegui me soltar de suas mãos e o chutei na lateral do corpo.

Kwon cambaleou para o lado, o espaço do elevador mal permitindo que ele recuasse. Ele perdeu o equilíbrio e caiu no chão, apoiando-se com as mãos para não bater com mais força. Eu respirei pesado, o peito subindo e descendo rapidamente enquanto encarava ele ali, no chão, os olhos fixos nos meus. Havia algo no olhar dele que eu odiava, algo que parecia vulnerável. E isso só aumentava minha raiva.

— Você acha que umas palavras vão mudar alguma coisa? — Cuspi, minha voz afiada. — Você me machucou, Kwon. Você me fez sentir... — Minha voz falhou, e eu engoli em seco, lutando contra o nó na garganta. — Me fez sentir pequena, indefesa. E agora quer que eu ouça você? Que eu entenda?

Ele tentou se levantar, mas permaneceu sentado, como se tivesse escolhido não reagir à minha explosão. Seu rosto estava sério, mas não havia nenhum sinal de raiva nele. Apenas cansaço.

— Eu não tô tentando justificar nada, Calista — Ele disse, a voz mais baixa agora. — Eu sei o que fiz. E eu odeio isso mais do que qualquer coisa.

— Odeia? — Ri, sem acreditar. — Você não faz ideia do que é odiar algo que fizeram com você, Kwon. Você não faz ideia de como isso destrói a gente por dentro.

O silêncio caiu entre nós de novo, mas eu não conseguia parar de respirar pesado, o som dos meus próprios pensamentos abafando qualquer outra coisa. Ele permaneceu ali, no chão, encarando-me como se não soubesse o que dizer. E, por um momento, eu não sabia o que era pior, a raiva que eu sentia por ele ou o fato de que, no fundo, uma parte de mim ainda queria que ele explicasse, que ele fizesse tudo desaparecer. E isso... Isso me fazia odiá-lo ainda mais.

— Não aja como se soubesse tudo de mim... — Ele vociferou baixo, mas não havia aparente irritação em sua voz, então ele se levantou, respirando fundo e mantendo o olhar fixo ao meu — Eu ouvi conselhos que jamais deveria ter colocado em prática, e acredite, não houve prejuízo apenas para você, mas como também para toda a minha equipe. Eu sequer tenho dormido desde o ocorrido e meu desempenho tem decaído ladeira abaixo, graças a tudo isso.

— Então está dizendo que é culpa minha o fato de sua equipe estar perdendo? — Perguntei, dando uma risada descrente, e ele revirou os olhos, passando a mão enraivecidamente no rosto.

— Mas que droga, Calista, eu não disse isso! — Afirmou agora mais alto, dando um passo em minha direção e abaixando as mãos. Eu insistitivamente, recuei um passo para trás — Só... Me desculpa, por tudo. Eu acho que eu só estava com raiva porque você tem ocupado minha mente vinte quatro horas por dia.

O silêncio que seguiu aquelas palavras dele parecia esmagador. Eu fiquei parada, encarando Kwon, tentando absorver o que ele acabava de dizer. A fúria e a indignação ainda queimavam dentro de mim, mas algo naquela última frase me desarmou, como um golpe que eu não esperava.

— O quê? — Perguntei, a voz saindo mais baixa do que eu pretendia.

Ele respirou fundo, como se tivesse que reunir cada fragmento de coragem para repetir.

— Você tem ocupado minha mente. O tempo todo. Desde... — Ele parou, desviando o olhar por um momento, antes de voltar a me encarar com uma intensidade que me deixou desconfortável. — Desde que começamos com essa maldita competição, você não sai da minha cabeça. E eu não sei lidar com isso.

Eu ri, sem acreditar no que estava ouvindo. Era uma risada amarga, quase dolorida, enquanto balançava a cabeça.

— Então é isso? Você me machuca, me faz sentir a pior pessoa do mundo, e agora quer usar isso como desculpa? Porque está "confuso"? — Perguntei, cruzando os braços. Meu tom era ácido, carregado de ironia, mas também de dor.

— Não é uma desculpa — Ele disse, mais baixo, embora ainda firme. — Eu sei que nada justifica o que eu fiz. Sei que estraguei tudo e que você provavelmente nunca vai querer me ver de novo, e eu mereço isso. Mas... — Ele passou a mão pelo cabelo, claramente frustrado consigo mesmo. — Mas eu precisava te dizer isso, porque está me destruindo por dentro.

Eu o encarei, sentindo o peito apertar. Parte de mim queria acreditar que ele estava sendo sincero, que aquelas palavras não eram apenas uma tentativa desesperada de se livrar da culpa. Mas outra parte, a parte ferida e humilhada, simplesmente não conseguia.

— Você acha que dizer isso vai mudar alguma coisa? — Perguntei, tentando manter a voz firme, embora ela tremesse levemente. — Que vai apagar o que você fez?

Ele balançou a cabeça, um sorriso amargo surgindo em seus lábios.

— Não. Eu não espero que mude nada. Só... — Ele parou, fechando os olhos por um momento, antes de abrir novamente, me encarando com um olhar que parecia mais vulnerável do que eu jamais tinha visto. — Só precisava que você soubesse.

Fiquei em silêncio, as palavras presas na garganta. Eu queria gritar com ele, dizer que isso não era suficiente, que nada seria suficiente. Mas ao mesmo tempo, sentia uma confusão esmagadora dentro de mim.

— Kwon... — Comecei, mas parei, sem saber como continuar.

— Só mais uma coisa, Calista. — Ele deu um passo à frente, e eu não recuei dessa vez, embora meu corpo estivesse rígido. — Você não é culpada por nada disso. A culpa é toda minha. Eu fui idiota, segui conselhos errados e deixei minha raiva e o álcool controlarem minhas ações.

— Você acha que isso apaga o que aconteceu? — Retruquei, mas minha voz estava mais fraca agora.

— Não. — Ele balançou a cabeça novamente, a expressão derrotada. — Mas eu precisava que você soubesse.

O elevador permaneceu em um silêncio quase ensurdecedor depois disso, apenas o som de nossas respirações preenchendo o espaço. Eu o encarei por mais alguns segundos antes de desviar o olhar, tentando processar tudo o que ele havia dito. Mas mesmo com suas palavras ecoando na minha mente, a dor e a raiva ainda estavam lá, latejando como uma ferida aberta. E eu sabia que não seria tão fácil apagá-las.

Meu peito subia e descia lentamente, mas dentro de mim parecia que havia uma tempestade prestes a explodir. As palavras de Kwon ecoavam como um eco indesejado, repetindo-se em ciclos, como uma música que não conseguia ser desligada. Eu sabia que ele me observava, mas evitava olhar de volta. Não podia. Não depois de tudo o que ele acabara de dizer.

Me encostei na parede do elevador, cruzando os braços sobre o peito, como se pudesse construir uma barreira física entre nós. Meu olhar vagou pelo painel de botões iluminado, pelas paredes metálicas, qualquer coisa que não fosse o rosto dele. Mas mesmo sem vê-lo diretamente, eu sentia o peso do olhar dele. Um olhar quase tenso, cheio de expectativa, como se esperasse alguma reação minha.

— Então é isso? — Murmurei, mais para mim mesma do que para ele, a voz baixa, rouca. — Você joga tudo isso no ar e espera o quê, exatamente? Que eu te desculpe? Que acredite em você?

O silêncio dele me incomodava mais do que qualquer resposta. Eu não conseguia interpretar o que ele estava pensando, e isso me deixava ainda mais inquieta. Pressionei as mãos contra meus braços, como se pudesse aliviar o aperto no peito. Uma parte de mim queria gritar, confrontá-lo, exigir explicações. Outra parte, talvez a mais confusa, queria fugir. Fugir daquele elevador, daquele momento, daquela conversa que eu nunca tinha pedido para ter. Mas o que mais me deixava nervosa, o que fazia meu coração bater mais rápido e meu estômago revirar, era o jeito como ele falou. A vulnerabilidade na voz dele, algo tão diferente do Kwon arrogante e cruel que eu conhecia. Algo que parecia... Real.

Por que isso me afetava tanto?

Eu balancei a cabeça, tentando afastar o pensamento. Não podia me permitir ser enganada novamente. Não podia me deixar levar pelas palavras dele, por mais sinceras que parecessem. Mas mesmo assim, o conflito em meu peito não diminuía.

— Calista... — Ele finalmente quebrou o silêncio, sua voz baixa e hesitante. — Eu não espero que você acredite em mim. Nem acho que você deveria.

Fechei os olhos, apertando-os com força por um momento. Ele continuava falando, mas eu não sabia se queria ouvir. Cada palavra parecia um golpe, não porque ele estava me ferindo novamente, mas porque, de alguma forma, parecia que ele estava tentando se desnudar diante de mim.

— Mas eu só precisava dizer isso. — Sua voz era quase um sussurro agora, carregada de algo que eu não conseguia identificar. Arrependimento? Dor?

Não olhei para ele. Não podia. Em vez disso, respirei fundo, tentando acalmar a confusão dentro de mim. Ele tão de repente, parecia ter se tornado um homem maduro, o que só tornava tudo mais embaraçoso e difícil de se acreditar, eu só esperava fortemente que isso não fosse parte de seu golpe para me destruir, como ele já havia me prometido antes, quando ao menos nossas brigas só ficavam nas palavras e provocações infantis.

— Eu não sei o que você espera de mim, Kwon. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Mas eu não consigo processar tudo isso agora.

Eu ainda não conseguia olhar para ele, mas sentia a tensão no ar, como se minhas palavras tivessem atingido algum ponto sensível.

— Não espero nada, Calista. — A resposta dele veio rapidamente, quase como se ele temesse minha reação. — Não preciso de qualquer resposta.

Finalmente, levantei os olhos, mas apenas por um segundo. O suficiente para ver algo no rosto dele que me incomodou ainda mais. Não era o mesmo Kwon que eu conhecia. Não era o mesmo Kwon que eu odiava. E isso só tornava tudo mais difícil. E eu afastei o olhar novamente, fixando-o no teto do elevador enquanto tentava organizar a bagunça na minha mente.

— Que seja, Kwon — Murmurei, sem energia para discutir mais. — Que seja.

O elevador permaneceu em silêncio novamente, exceto pelo som de nossas respirações. E naquele pequeno espaço, a distância entre nós parecia ao mesmo tempo curta demais e infinitamente longa. O silêncio parecia durar uma eternidade, tão denso que era quase palpável. Cada segundo esticado parecia uma tortura enquanto eu tentava processar tudo aquilo. Mas, no fundo, eu sabia que precisava dizer algo. Qualquer coisa. E, como de costume, minha boca acabou sendo mais rápida que meu bom senso.

— Então... — Comecei, o tom sarcástico deslizando pela minha voz. Cruzei os braços, olhando para ele de canto. — De todos os lugares onde você poderia ter me arrastado para uma conversa, você escolheu o elevador. Sério mesmo?

Kwon ergueu o olhar, surpreso pelo meu tom mais leve, embora a tensão em sua expressão ainda estivesse evidente.

— Eu... Precisava de um lugar onde você não pudesse fugir. — Ele deu de ombros, tentando justificar.

— Fugir? — Eu ri, uma risada seca e sem humor. — Você acha que sou do tipo que foge?

— Não é isso que eu quis dizer... — Ele passou a mão pelo cabelo, claramente desconfortável. — Só... Você nunca me ouviria de outra forma, e você é incrivelmente teimosa. Aqui não tem escapatória, teria que me encarar de uma vez.

— Ah, claro, porque parar o elevador foi a maneira mais madura e racional de lidar com isso — Retruquei, arqueando uma sobrancelha. — Por que não invadiu o meu quarto também? Já que estamos nesse nível de invasão de privacidade.

Ele suspirou, e por um breve momento, quase pareceu divertido, embora o peso ainda estivesse em seus olhos.

— Não é como se você estivesse disposta a ouvir de qualquer jeito.

Revirei os olhos, mas, no fundo, ele não estava exatamente errado. Ainda assim, eu não estava prestes a dar esse gostinho para ele.

— Talvez porque você seja péssimo com palavras? — Rebati, inclinando a cabeça. — Ou porque nada do que você diz parece fazer sentido?

Kwon soltou uma risada baixa, algo entre sarcasmo e cansaço.

— Você não facilita, não é?

— Não é meu trabalho facilitar para você. — Cruzei os braços novamente, olhando para ele com firmeza.

Por um momento, pensei que ele fosse retrucar, mas ele apenas me encarou, e aquele olhar... Era diferente. Havia algo ali, uma mistura de frustração, arrependimento e, talvez, algo mais profundo que eu não conseguia identificar. Então o silêncio voltou a se instalar entre nós, mas dessa vez não parecia tão sufocante. Ainda tenso, mas quase... Suportável.

— Só por curiosidade, como você convenceu o pessoal do hotel a parar o elevador? — Perguntei, quebrando o silêncio de novo. Minha voz saiu mais leve, embora ainda carregasse um tom de sarcasmo.

Ele deu um meio sorriso, quase tímido, o que era impressionante e quase divertido, mas então desviou o olhar por um segundo.

— Digamos que eu sou muito persuasivo.

— Persuasivo? — Ergui as sobrancelhas, incrédula. — Isso é só um jeito bonito de dizer que você foi um idiota.

— Talvez. — Ele deu de ombros, ainda com aquele meio sorriso que parecia não combinar com o Kwon que eu conhecia.

Por mais que a tensão ainda pairasse no ar, senti algo mudar. Não era exatamente conforto, mas uma pequena trégua momentânea, como se, por um breve instante, pudéssemos respirar sem tanto peso. Mesmo assim, eu sabia que aquilo estava longe de ser resolvido.

— Olha, Kwon... — Comecei, o tom mais sério agora. — Não sei o que você espera que eu faça com tudo isso que você acabou de dizer, mas não significa que...

— Eu sei. — Ele me interrompeu, o tom calmo, mas determinado. — Eu só precisava que você soubesse.

Respirei fundo, desviando o olhar novamente. As paredes metálicas do elevador pareciam um refúgio seguro para meus olhos enquanto eu tentava organizar meus pensamentos.

— Certo, então agora eu sei. — Respondi finalmente, sem muita emoção, enquanto olhava para os números parados no painel.

Ele ficou em silêncio, e dessa vez eu não tentei preenchê-lo. Talvez porque, pela primeira vez, o silêncio parecia necessário. Um espaço para tentar entender tudo o que tinha acabado de acontecer naquele pequeno cubículo metálico. E de repente, o silêncio estava começando a me enlouquecer. Depois de tudo o que ele tinha dito, depois de tudo o que aconteceu, ficar ali, confinada com ele, era como uma forma de tortura emocional. Meus dedos tamborilavam incessantemente no corrimão metálico do elevador, um som seco e ritmado que parecia amplificar minha impaciência a cada segundo.

Finalmente, não consegui segurar mais.

— Então, quanto tempo você pretende me manter presa aqui? — Perguntei, a voz carregada de exasperação.

Ele me olhou de lado, o rosto tão irritantemente sereno que me fez querer dar um soco naquela expressão.

— Eu já tentei sinalizar para o cara das câmeras — Disse ele, indicando com o queixo o pequeno dispositivo no canto do elevador. — Mas, pelo jeito, ele deve ter pegado no sono ou algo assim.

Fiquei boquiaberta por um momento, incapaz de acreditar no que estava ouvindo.

— Pegado no sono? — Repeti, incrédula, minha voz subindo uma oitava. — Você está me dizendo que o plano genial era depender de um cara que, com toda certeza, está cochilando numa cadeira enquanto isso?

Ele deu de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo.

— É um hotel, Calista. As coisas não são tão... Rápidas de resolver como você gostaria.

Passei as mãos pelo rosto, frustrada, quase querendo arrancar os próprios cabelos.

— Então, o que você está sugerindo? — Rerguntei, encarando-o com olhos estreitos. — Que nós passemos a noite inteira presos nessa droga de elevador?

Ele soltou um suspiro pesado, cruzando os braços enquanto se encostava na parede metálica oposta à minha.

— Não foi exatamente isso que eu planejei, mas, se for necessário...

— Se for necessário?! — Explodi, jogando as mãos para o alto, ele realmente estava enloquecendo. Será que estava embriagado de novo? Isso justificaria suas palavras quase dóceis. — Você perdeu completamente a noção do ridículo?

— Olha, você quer gritar comigo ou quer me ajudar a sair daqui? — Ele rebateu, o tom irritantemente calmo, o que só me deixou mais furiosa.

— Ajudar você? — Dei uma risada sarcástica, apontando para mim mesma. — Eu nem deveria estar aqui, Kwon! Essa é toda a sua bagunça, então, adivinha só? Você que resolva.

Ele ergueu as mãos em rendição, o que só alimentou minha irritação.

— Certo, certo. Você está com raiva. Eu entendi.

— Ah, entendeu? — Perguntei, o sarcasmo escorrendo pelas minhas palavras. — Porque eu não sei se você realmente entende o quanto isso aqui é...

— É o que, Calista? — Ele deu um passo à frente, interrompendo-me. — Irritante? Frustrante? Injusto? Porque, adivinha só, eu estou no mesmo barco.

A maneira como ele me olhou naquele momento fez meu sangue gelar. Não havia raiva ou provocação nos olhos dele, apenas... Cansaço. Uma espécie de exaustão que parecia ir além do físico, como se ele estivesse carregando algo muito mais pesado do que aparentava.

Cruzei os braços, tentando ignorar a pontada de algo que poderia ser culpa.

— Então, qual é o plano, gênio? — Perguntei, a voz mais baixa, mas ainda com um toque de irritação, o apelido proferido por mim fez ele abrir um sorriso discreto. — Vamos simplesmente esperar até alguém lembrar que a gente existe?

Ele deu de ombros novamente, e eu tive que lutar contra o impulso de gritar.

— Basicamente, sim. — Ele disse, quase com um tom de provocação, o canto da boca se curvando num meio sorriso.

Suspirei, afundando no chão do elevador com um baque suave, encostando as costas contra a parede metálica.

— Você é inacreditável, Kwon. — Murmurei, balançando a cabeça.

Ele riu baixo, mas não disse nada, apenas se sentou na parede oposta, espelhando minha posição. E ali ficamos, encarando o nada, presos não apenas no elevador, mas na tensão desconfortável que parecia preencher cada centímetro do espaço.

Bati palmas, o som agudo reverberando no pequeno espaço do elevador, e me levantei de repente, sentindo uma onda de frustração subindo pela minha garganta. Já não podia mais suportar ficar ali, esperando que algo, ou alguém, aparecesse para nos tirar daquela situação. O clima estava carregado demais para continuar em silêncio.

— Vamos fazer alguma coisa, seu leite azedo — Insisti, apontando para o canto superior, onde as tubulações do sistema de emergência estavam visíveis. — Olha ali, a saída! Isso foi o que fizemos da última vez, certo? Por que não repetir a história e sair logo daqui? Não aguento mais ficar presa com você nesse inferno de caixa metálica.

Kwon me olhou com uma expressão de ceticismo, a boca ligeiramente torcida, e seus olhos brilhavam com um misto de irritação e, talvez, exaustão.

— Ah, claro, dinamite. Vamos escalar pelas tubulações de novo. Isso soa como um plano maravilhoso... — Ele falou, a ironia evidente em sua voz. — O que, você acha que agora vai ser mais fácil porque já fez uma vez? Ou está só tentando fugir da nossa conversa?

Fiquei congelada por um segundo, encarando-o. Não pude evitar o sorriso sarcástico que se formou em meus lábios, a sensação de que a situação não poderia piorar, então por que não continuar com o jogo?

— Não sou eu quem está tentando fugir, Kwon. Você é o gênio que resolveu travar o elevador para "conversar", lembra? — Retruquei, os olhos estreitos em desafio. — E não, não estou tentando escapar, estou tentando não morrer aqui dentro de tédio e raiva.

Ele revirou os olhos, um suspiro pesado escapando de seus lábios.

— Eu sou o gênio? Pois é, você está realmente se saindo muito melhor, não é? — Ele se aproximou um pouco, a voz mais baixa e com um tom que não sabia se era de provocação ou frustração. Aparentemente, as coisas estavam voltando ao normal, por mais que eu não tivesse apagado ainda suas palavras e suas ações. — Está me acusando de querer uma conversa, mas você também é o grande motivo de eu estar agindo feito um bobo perdido.

Eu senti um aperto no peito. Mas tentei manter a postura, não querendo dar o braço a torcer. Ele parecia admitir coisas que soavam surreais saindo de sua boca. Um bobo perdido? Esse o tipo de situação que se acontece quando se sente algo além do ódio, eu presumo, apesar de querer admitir para mim mesma que é só mais um pensamento intrusivo o qual eu não posso dar espaço para invadir minha mente.

— Você é insuportável, Kwon. Só se toque e me ajude aqui, ao invés de ficar falando asneira. — Fui direta, sem mais rodeios, apontando uma última vez para a tubulação. — Acha que estou com tempo para jogar essa conversinha inútil? Eu só quero sair daqui.

Ele me olhou por um momento, e houve um silêncio tenso no ar. Depois de um suspiro, ele balançou a cabeça, aparentemente desistindo do debate, e se aproximou das tubulações.

— Vai ser assim, né? Eu vou te ajudar, mas só porque você não vai parar de gritar até conseguir o que quer. — Ele disse, com um tom de resignação misturado com um pouco de sarcasmo.

Eu revirei os olhos, mas não podia deixar de admitir que ele estava certo. Eu estava cansada, e talvez um pouco desesperada. Não dava mais para esperar e me torturar ali com ele.

— Vamos logo, então. — Falei, meu tom de voz mais baixo, mas a impaciência ainda presente.

Enquanto tentávamos encontrar uma maneira de sair dali, eu ainda sentia a tensão entre nós. Ele estava ali, e eu não conseguia esquecer tudo o que havia acontecido. Mas naquele momento, não me restava muito a fazer além de seguir em frente, tentar não olhar para ele e, principalmente, não pensar em como ele fazia meu coração acelerar, mesmo no meio de toda a raiva que ainda estava dentro de mim.

Eu respirei fundo, tentando me concentrar no que tinha que ser feito, ao invés de me perder nos pensamentos ou no que acabara de acontecer. A sensação do elevador ainda parado e claustrofóbico me incomodava, e a ideia de passar mais tempo ali me deixava ainda mais ansiosa.

— Ok, vou primeiro, então. — Falei, a voz um pouco mais fria, embora tentasse parecer tranquila. Não queria demonstrar o quanto estava desconfortável, mas havia algo estranhamente tenso no ar, algo que eu não conseguia ignorar.

Eu me aproximei da grade do teto, e antes que pudesse agir, Kwon se moveu rapidamente para me ajudar a subir. Era óbvio que ele estava hesitante, como se soubesse que qualquer movimento errado poderia piorar a situação. Ele se posicionou ao meu lado, e, quando se inclinou para me erguer, suas mãos foram parar na minha cintura de forma inesperada.

O toque foi... Estranho, mas eu dei abertura para que o fizesse, já que era necessário. Ele não parecia querer me segurar mais do que o necessário, mas ao mesmo tempo a forma como suas mãos se ajustaram ao meu corpo não me deixou indiferente. Minha respiração ficou suspensa por um segundo, o desconforto imediato estampado no meu rosto. Não me lembro de ter sido tão ciente do espaço entre nós, do calor da pele dele, como se estivesse em um campo minado, pronto para explodir a qualquer momento.

Ele percebeu o meu desconforto e deu uma risada forçada, tentando suavizar a tensão.

— Acredito que você já tenha mais de um motivo para me odiar, mas agora estou te ajudando. Isso tem que valer algum crédito, né? — Ele falou com sarcasmo, como se quisesse desviar o foco do toque, mas foi claro que as palavras não conseguiram esconder a irritação que ele também estava sentindo.

— Só se você achar que estou adorando essa "ajuda", Kwon. — Respondi, forçando um sorriso, tentando mascarar a estranheza que sentia com o toque dele. Eu estava em pé sobre o corrimão do elevador agora, tentando me equilibrar enquanto ele ainda segurava minha cintura, e parecia que, se eu fosse um pouco mais sensível, poderia perceber o quanto ele estava tenso também. Ele se afastou ligeiramente, mas suas mãos ainda estavam ali, prontas para me apoiar enquanto eu subia.

Quando consegui me segurar na grade e começar a puxá-la para cima, o momento ficou ainda mais... Estranhamente íntimo. Ele me observava, como se quisesse evitar olhar diretamente para o que estava acontecendo, mas a tensão entre nós só aumentava. Eu sabia que ele estava sentindo o mesmo desconforto. A provocação de ambos parecia uma maneira de lidar com a situação, de esconder o que estava realmente acontecendo. Não queria admitir que havia algo ali, mas não podia deixar de notar a distância que se tornava mais difícil de ignorar.

— Acho que estou precisando de um prêmio por fazer isso — Kwon falou, mas sua voz estava mais baixa, mais sem paciência do que antes. Ele puxou a grade com força, tentando parecer desinteressado, mas eu sabia que ele estava tão consciente do que estava acontecendo quanto eu.

Finalmente, a grade estava aberta, e eu dei um leve salto para cima, finalmente saindo do elevador. Mas, antes de me afastar, não pude deixar de sentir que, naquele pequeno momento, havia algo que nem eu nem Kwon poderíamos ignorar. A proximidade, o calor do toque dele, e a sensação de que, mesmo que tentássemos fugir, algo mais estava se construindo ali, algo que nenhum de nós estava preparado para enfrentar.

⋆౨˚ ˖

Engatinhar por aquele espaço apertado e abafado parecia pior do que ficar presa no elevador. Cada movimento era seguido pelo som metálico das mãos e joelhos raspando contra a superfície das tubulações, e o silêncio só tornava tudo mais incômodo. Eu podia ouvir a respiração de Kwon atrás de mim, lenta e controlada, como se ele estivesse escolhendo cuidadosamente como se mover ou, talvez, o que dizer.

Por um instante, pensei que ele preferisse manter o silêncio, mas ele logo provou o contrário.

— Essa blusa que você tá usando... — Ele começou, a voz baixa, mas carregada de algo que eu não consegui identificar de imediato. — É do Axel, não é?

Aquilo me pegou de surpresa. Eu parei por um momento, olhando por cima do ombro para ele, mas sua expressão estava oculta na penumbra do espaço estreito. Uma pergunta tão aleatória e, ao mesmo tempo, tão desconfortável de se ouvir dele.

— E se for? — Retruquei, a voz levemente irritada pela confusão se formando em minha mente. Eu me virei um pouco mais, apoiando as mãos no metal para me equilibrar enquanto o encarava, ou pelo menos tentava. — Por que isso importa pra você, Kwon? O que tem a ver com a sua vida?

O silêncio foi a única resposta que obtive. Ele apenas me olhava, como se estivesse ponderando o que dizer, mas nenhum som saía. Era irritante. Eu esperava uma provocação, um comentário ácido ou até mesmo alguma tentativa de justificativa, mas não... Nada. Aquilo mexeu comigo de um jeito inesperado.

— Ah, claro... — Respondi por ele, minha voz mais afiada agora, tentando preencher o vazio que ele deixara. — Você gosta de fazer perguntas sem sentido e depois se calar como se não tivesse dito nada, né? É tão... Típico de você.

Eu me virei de volta e continuei a engatinhar, tentando ignorar o calor inexplicável que subia pelo meu rosto. A ausência de uma resposta me deixava inquieta, como se ele estivesse deliberadamente deixando algo suspenso entre nós. Por que ele havia perguntado aquilo? O que ele queria ouvir de mim?

— Não importa, então. — Ele disse finalmente, sua voz mais baixa do que antes. Havia algo em seu tom que quase me fez parar de novo, mas eu continuei em frente. O som de seus movimentos atrás de mim parecia mais lento agora, como se ele estivesse hesitando em seguir.

Não consegui deixar de me perguntar por que aquele detalhe — uma simples blusa — parecia ter atingido um nervo tão sensível nele. E, mais do que isso, por que eu também me importava tanto em entender?

Kwon desceu primeiro, caindo com um baque suave no chão do corredor. Ele se ajeitou rapidamente, erguendo as mãos para me ajudar a descer. Respirei fundo, mais para me preparar emocionalmente do que fisicamente, e deslizei pela abertura com cuidado.

As mãos dele se fecharam em torno da minha cintura para me apoiar, firmes e quentes, enquanto ele me guiava até o chão. Por um instante, quando meus pés tocaram o chão e ele ainda segurava minha cintura, não me movi. Nem ele. Nossos corpos estavam colados, a respiração dele tão próxima que eu podia sentir seu ritmo vacilante contra minha pele. Havia algo elétrico no silêncio que se seguiu, uma tensão que fez meu peito apertar como se faltasse ar.

Eu queria me afastar, deveria ter me afastado imediatamente, mas, por algum motivo, fiquei ali. O olhar de Kwon sobre mim era intenso, quase como se ele estivesse tentando decifrar algo que nem ele sabia ao certo. E esse silêncio... Esse maldito silêncio dele estava me destruindo por dentro. Não era só desconforto, era algo mais. Algo que eu não queria admitir.

Com um movimento rápido, empurrei suas mãos para longe da minha cintura, como se precisasse recuperar o controle do momento.

— Obrigada, mas eu posso me virar agora — Murmurei, minha voz soando mais fria do que eu esperava. Sem olhar para ele, dei alguns passos pelo corredor, tentando me concentrar no ambiente em vez do caos que ele parecia sempre trazer para minha mente.

Eu olhei ao redor, tentando reconhecer onde estávamos. Nada parecia familiar. As portas dos quartos tinham numerações diferentes das que eu já havia passado antes. Franzi o cenho e parei diante de uma das placas na parede.

— Que ótimo... — Resmunguei para mim mesma, cruzando os braços. — Parece que estamos em um andar que nenhum de nós conhece. É sério que isso está acontecendo? Parece até piada. — Perguntei, mais para o universo do que para ele, mas Kwon, claro, respondeu com aquele tom calmo e repentino que estava me deixando genuinamente irritada.

— Bem, foi sua ideia sair pelo teto, lembra? — Ele estava logo atrás de mim, e sua voz tinha aquela provocação velada que parecia ser sua assinatura. — Eu só estou seguindo o plano brilhante da senhorita Dinamite.

Revirei os olhos, me virando parcialmente para encará-lo, mas evitando olhar diretamente para seus olhos.

— Pelo menos eu fiz algo em vez de ficar esperando que alguém nos tirasse de lá, gênio. — Retruquei, tentando esconder o embaraço que ainda me assombrava desde aquele momento constrangedor de proximidade.

Ele ergueu as mãos em um gesto de rendição, um meio sorriso brincando em seus lábios.

— Ok, ok, ponto para você, — disse ele, recuando um passo. — Então, qual é o próximo movimento, dona da razão?

Suspirei profundamente, passando as mãos pelo cabelo, enquanto olhava para os corredores que se estendiam à nossa frente. Eu não sabia o que era pior, estar perdida em um andar desconhecido ou sentir que estava cada vez mais perdida em relação ao que Kwon significava para mim.

Eu enfim cruzei os braços, firme, tentando manter a postura de que não precisava dele.

— Eu vou encontrar meu quarto sozinha. Não preciso de você pra isso. — Minha voz saiu decidida, mas lá no fundo eu sabia que não queria prolongar essa interação mais do que o necessário.

Ele inclinou a cabeça, cruzando os braços também, como se me desafiasse.

— Ah, claro, porque vagar sozinha por um andar que você claramente não conhece é uma ideia brilhante. — Ele apontou para o corredor vazio. — Acha que vai magicamente aparecer um mapa dizendo "Calista, siga por aqui"?

Eu revirei os olhos, já perdendo a paciência. Ele tinha um jeitinho único de esgotar minha paciência em questão de segundos.

— Eu dou conta, tá? — Retruquei, virando-me para começar a caminhar, mas ele simplesmente me seguiu, sem a menor cerimônia.

— Isso só vai demorar mais, e eu não estou com a menor vontade de perder mais tempo do que já perdemos, — Ele disse, ajustando o passo ao meu lado. — Então, você querendo ou não, eu vou junto.

Suspirei profundamente, frustrada. Não valia a pena discutir, mas a presença dele ao meu lado só tornava tudo mais insuportável. Caminhamos em silêncio pelos corredores, um silêncio tão denso que era quase palpável. Eu evitava olhar para ele, mas podia sentir sua presença como se fosse uma sombra constante.

E depois de um tempo, encontramos uma placa indicando os andares. Estávamos dois níveis acima de onde nossos quartos ficavam. Soltei um suspiro pesado, minha frustração aumentando.

— Ótimo. Estamos longe pra caramba — Murmurei, já me sentindo exausta de tudo isso.

— Pelo menos sabemos onde estamos agora — Kwon respondeu, subindo a gola da jaqueta como se quisesse se proteger do frio inexistente do corredor.

Descemos as escadas lado a lado, ainda em silêncio. O som de nossos passos ecoava pelas paredes estreitas, criando uma espécie de tensão que eu não conseguia ignorar. Eu tentava não pensar no fato de que ele estava tão próximo, mas cada movimento dele parecia amplificado, cada respiração dele parecia gritar para minha atenção.

— Você sempre anda assim tão rápido? — Ele perguntou de repente, quebrando o silêncio.

Eu olhei para ele de relance, irritada.

— Você sempre reclama de tudo? — Rebati, acelerando o passo só para provar meu ponto.

Ele soltou um suspiro exagerado, mas não respondeu. Quando finalmente chegamos ao andar certo, parei no início do corredor, tentando lembrar qual direção era a correta para o meu quarto. Ele ficou atrás de mim, como se estivesse esperando que eu tomasse a decisão. Eu me forcei a ignorá-lo, mas a sensação de que ele ainda tinha algo a dizer não me deixava em paz, antes de quaisquer palavras, eu dei um passo a frente.

— Isso... — Falei apontando para mim e depois para ele, com um tom firme, apesar de profundamente ressentido — Ainda não acabou.

Ele suspirou profundamente, pela primeira vez, não ousando retrucar, e eu apenas me afastei, seguindo em sua direção oposta, sentindo o peso esmagador de minhas próprias palavras e de como tudo ainda estava tão mal resolvido, mas sei que passaria a noite em claro, remoendo cada detalhe único e confuso sobre essa noite.

Obs: Eu dei a vida nesse capítulo e no último edit que postei lá no TikTok. Por favor, vão lá dar uma olhada e ajudar com as curtidas 😭🫶🏻.

Obra autoral ©

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